Mulher morre ao tentar mudar o mundo no grito

Reflexão associa fatalidade por estresse emocional à política contemporânea, alertando para limites das paixões.

Vinícius Sgarbe
5 min read

Uma mulher que conheci morreu por não conseguir controlar os nervos. Na noite mórbida, discutiu até perder o fôlego, gravou a briga com o celular, foi para o hospital em uma ambulância, e o coração parou. O nome dela virou uma lápide. Por uma vida, não pôde se curar da neurose.

Sinto uma pena triste quando lembro dela, e do papel que ocupa nesta história. Ser lembrada, imaginem, pelo grau mortífero de obstinação, por levar às últimas consequências a pertinácia de conformar o mundo fora dela ao mundo dentro dela. Fracassou miseravelmente.

A política me faz lembrar desse comportamento, em um bom sentido e em um mau. Bom quando se quer que padrões individuais melhores sejam expandidos para nossas famílias, e comunidades. Muito mau quando o mundo da gente é uma porcaria e o queremos validar a qualquer preço.

As eleições não vão nos trazer a paz que buscamos tão incansavelmente (ainda que aparentemente ajamos em sentido contrário a maior parte do tempo). Lula e Bolsonaro são, digamos, porta-vozes de mensagens que seguramos para ter o que dizer, defender, indignar. E depois?

Nosso vórtice político precisaria deixar de ser um vórtice, para se tornar um ar fresco que nos alivia a vida em comunidade. A vida cultural, na qual está a política, existe para nos protegermos das forças da natureza, e para constranger os preguiçosos.

Quanto a nós que trabalhamos, haveria pouco que nos interessasse na vida dos outros que não a escolha de personagens psíquicas, matrimoniais, ou variações. Porém, fazemo-nos reféns de nossas violências, e não temos solução para o fenômeno. Somos iguais a um Deus controverso.

Esse pequeno animal que vive dentro de cada um de nós, essa memória primitiva quer morder, estraçalhar, matar, quer discutir até morrer do coração. Nossa paz não pode depender de política, tampouco de medicina, ou de filosofia. A paz, eu acho, é muito parecida com a fé.

IA e objetivos globais

Leia insights sobre a interação de humanos com modelos de linguagem de IA, e sobre os ODS no Brasil. Lab Educação 2050 Ltda, que mantém este site, é signatária do Pacto Global das Nações Unidas.

Neurose e relações sociais

A obstinação que não cede fere laços humanos e impede o desenvolvimento de todos.

ODS 16: paz além da política

É preciso equilibrar instintos e convivência, promovendo harmonia e respeito mútuo.

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Micheal Sterling
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The integration of AI into the legal industry is still in its early stages, but the potential is immense. As AI technology continues to evolve. We can expect even more advanced applications, such as:

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Quando, às três da tarde da sexta-feira, Jesus suspira e entrega seu espírito a Deus, passamos a nos perguntar “o que fizemos?”. Para um distraído, deve ser nada além de uma culpa a mais para a coleção. Nós, freudianos, porém, compreendemos tal pergunta como a origem da civilização.

É uma questão de geolocalização, se é que me entende.

Onde estamos, exatamente, depois de termos assassinado o Criador? Se estivermos entre os que fazem a si mesmos aquela pergunta, tal qual no mito do parricídio, muito que bem. Algo assim tem potencial de nos deschucralizar. Mas se estivermos para além da fronteira da responsabilidade, estamos perdidos.

É neste último lugar que o indivíduo vibra com um Jesus que “senta o chicote” nos ladrões — sem se dar conta de que ele mesmo é o ladrão mencionado nas Escrituras. Vibra com o ultraje aos líderes fariseus, sem se dar conta de que o Mestre o ultraja no instante da leitura.

Escrevi sobre esse fenômeno, em um capítulo denominado “narcisismo das pequenas diferenças” (é um conceito psicanalítico). Em resumo, o ódio é ainda mais talentoso que o amor quando o assunto é unir seres humanos, formar exércitos, igrejas, e torcidas organizadas.

Quem abre uma bíblia impressa nos anos setenta, oitenta — traduzida por João Ferreira de Almeida, miolo rosa, cortado por um índice tátil — encontra a Palestina na seção de mapas.

Quer dizer. Até “ontem”, ninguém tinha qualquer dúvida quanto ao Jesus que matamos ser palestino. O que nos fez mudar de lado, além do dinheiro?

A filosofia de René Girard coincide com a prática cristã, quando da formação de uma religião a partir da violência, tanto quanto essa mesma violência gera a humanidade civilizada para os freudianos. Mas esse autor provoca particularmente quando o morto é Jesus. Desde que matamos um inocente, a roda da violência gira no vazio.

Se a Páscoa renova nos cristãos a esperança da ressurreição, que pudesse também renovar em todos nós alguma garantia de que, pelo menos uma vez por ano, perguntamos “o que fizemos?”.

Imagem da paixão

A fotografia deste artigo, registrada por Mohammed Salem da agência Reuters e divulgada pela World Press Photo, foi a vencedora do prêmio World Press Photo do Ano. A imagem retrata Inas Abu Maamar, palestina de 36 anos, em um momento de dor profunda ao abraçar o corpo de sua sobrinha Saly, de apenas 5 anos, que perdeu a vida em um bombardeio israelense. A cena ocorreu no hospital Nasser, localizado em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, em 17 de outubro de 2023.

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Ainda que tenha visto o filme Pantaleão e as visitadoras (divertido e indicado!), pouco conheço dos romances de Mario Vargas Llosa, Nobel da literatura — escritor peruano que despediu-se neste dia 13.

Gostava dele! Me recomendaram fortemente uma vez A casa verde — curiosamente um professor americano. Porém, este livro da foto, repleto de ensaios, reflexões e provocações, que ganhei em 2013, li e me foi bem marcante.

Um papo-cabeça aqui: como geralmente em cursos de comunicação a gente estuda Escola de Frankfurt, aprende-se que a culpa, por assim dizer, do esvaziamento poético visto nas artes ao longo da história, da decadência estética do que se entende por belo, bem como o fim da chamada "alta cultura", seria resultado da produção em série, da busca pelo lucro em escala, da indústria cultural: em suma uma consequência do capitalismo.

Pra minha supresa, este livro me revelou um ponto de vista diferente: a questão é política, que envolve a herança de um revanchismo contra o gosto da aristocracia (ou das altas classes) desde as revoluções.

TRata-se de um repúdio crescente à sociedade tradicional, após as grandes guerras mundiais, e, na sua essência, sobretudo: de fundo religioso — afinal, na origem de todas as civilizações, em todos os tempos, justamente dos ritos religiosos advieram e se desenvolveram as manifestações artísticas.

Parte-se da busca pelo sublime, das experiências místicas, que posteriormente formaram as bases do que entendemos por culturas. Um elo que virou apenas um eco na vida ocidental contemporânea, isto quando não totalmente banido, execrado, num mundo que, ao seu ver, culturalmente, caminha rumo ao nada.

Ou, como já observamos agora, para o conteúdo gerado por inteligência artificial.