Pesquisa da UFSC revela que experiência prolongada influencia gestores a optarem por medidas conservadoras.
Texto critica exageros emocionais de âncoras na TV e sugere retorno às boas práticas clássicas do jornalismo.
Sou audiência de um canal francês, o Franceinfo, que, para mim, supera a BBC em termos visuais, quando não editoriais. Fico atento ao que estão fazendo (inclui terem usado para uma vinheta a mesma trilha que eu no projeto da graduação).
Aqui no Paraná, a RPC inovou, durante a pandemia, ao exibir todas as tentativas de contato com a fonte que não respondeu: algo para se usar como padrão internacional de qualidade. José Wille na Band é um alívio. O canal Paraná Turismo está cada vez melhor em cenas de pontos turísticos do interior. O que ficou um pouco ruim nestes dias foi o narrador dizer “própia” em vez de “própria”.
Mas algo que me perturba nos canais locais é a carência dos apresentadores — salvo raras e nomináveis exceções. Reservo-me, porém, a escrever que os que se mantêm bons em jornalismo pertecem a escolas mais “conservadoras” (lead, análise razoável, comentários pertinentes).
Como integrante da comunidade de jornalistas, longe do meu gosto pessoal, reafirmo a carência dos apresentadores.
É claro como o cristal que as linguagens se modificam, e que é preciso falar o idioma fluente de cada ano. Por essas razões, passamos a apresentar o jornal em pé, passamos a falar “clica lá” no lugar do correto “clique lá”. E também passamos a implorar para sermos aceitos pelo espectador.
O repórter mencionar o que “sente" em relação a um assunto deve ser uma vez a cada morte de papa. Um episódio da natureza, uma multidão faminta, o estado de alerta depois de um bombardeio. Mas informar que se tem uma “triste notícia” para algo inevitável, como um acidente de carro, é apelação detectada pela audiência, e que envergonha a construção histórica do jornalismo.
Presumo que haja influências de múltiplas direções. Uma é do jeito da internet de criar novos “famosos”. Mas, querido repórter, o senhor já tem a marca da emissora. E fazer toda a encenação de ser um “cara legal” não tem ajudado a marca, e nem mesmo a percepção da audiência sobre o jornalismo. Logo, voltemos à recomendação de Ivor Yorke.
Para Yorke, o jornalista apresentador de televisão tem de “ostentar certa soberba”. A tradução é uma tragédia, porque a palavra “soberba” pega mal. Arrisco, porém, esta paráfrase: “o jornalista de televisão não pode perguntar à audiência o que ela quer saber. Ele é que deve saber o que a audiência precisa saber”.
Vou poupar os “jornalistas” de um determinado canal de terem um diálogo ao vivo transcrito neste post que prova por A + B que a televisão — embora não precisasse — está deixando a desejar no assunto repertório, inteligência e comportamento.
Leia insights sobre a interação de humanos com modelos de linguagem de IA, e sobre os ODS no Brasil. Lab Educação 2050 Ltda, que mantém este site, é signatária do Pacto Global das Nações Unidas.
Exagerar na proximidade do público degrada a confiança e o valor do jornalismo.
A solidez editorial reforça instituições e promove transparência, base para a paz social.
Pesquisa da UFSC revela que experiência prolongada influencia gestores a optarem por medidas conservadoras.
Um estudo recente publicado na Revista Turismo, Visão e Ação (RTVA) revelou que gestores mais velhos e com maior tempo de serviço em restaurantes tendem a ser mais avessos ao risco em suas decisões corporativas. A pesquisa, conduzida por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), analisou dados de mais de 2 mil restaurantes na Europa entre 2014 e 2016.
A pesquisa, intitulada "Influência das Características da Equipe de Gestão sobre a Tomada de Decisão de Risco: Evidências do Ramo de Restaurantes", utilizou a base de dados Amadeus e aplicou o método dos mínimos quadrados para analisar a relação entre as características dos gestores – idade, tempo de serviço, gênero e tamanho da equipe – e o nível de alavancagem financeira das empresas, usado como indicador de tomada de risco.
Os resultados mostraram uma correlação negativa significativa entre a idade e o tempo de serviço dos gestores e a propensão ao risco. Gestores mais velhos e aqueles que ocupavam o mesmo cargo há mais tempo demonstraram preferência por decisões mais conservadoras, optando por manter o status quo em vez de adotar estratégias inovadoras ou arriscadas.
Contrariando algumas expectativas, o estudo não encontrou relação significativa entre o tamanho da equipe de gestão ou a participação feminina e a tomada de risco. Embora pesquisas anteriores tenham sugerido uma possível influência desses fatores, os dados analisados não confirmaram essa hipótese no contexto específico da indústria de restaurantes.
Os autores sugerem que a aversão ao risco demonstrada por gestores mais experientes pode estar relacionada à priorização da estabilidade e da reputação construída ao longo da carreira. A familiaridade com o setor e a preocupação em preservar os ganhos obtidos podem levá-los a evitar decisões que representem potenciais ameaças ao negócio.
As descobertas do estudo têm implicações importantes para a gestão de restaurantes. A pesquisa sugere que a composição da equipe gestora pode influenciar diretamente a estratégia e o desempenho das empresas. Restaurantes com gestores mais jovens podem estar mais dispostos a inovar e assumir riscos, enquanto aqueles liderados por gestores mais experientes podem priorizar a estabilidade e a segurança financeira.
Os pesquisadores destacam a necessidade de estudos adicionais para aprofundar a compreensão da relação entre as características dos gestores e a tomada de decisão em restaurantes. A investigação de fatores psicológicos, como a tolerância ao risco individual, e a análise de dados de um período mais amplo poderiam enriquecer a discussão e fornecer insights mais precisos para o setor.
Ausência de atualizações e de contexto em notícias contínuas afeta credibilidade e confiança dos leitores.
Uma suíte jornalística é a continuidade de uma notícia em novas matérias que atualizam as anteriores. Algo como "Duas pessoas ficaram feridas em um acidente"; depois, "Homens que ficaram feridos em acidente fazem cirurgia"; ainda, "Homens que se feriram em acidente recebem alta"; e, ainda, "Empresa responsável por acidente com feridos é multada". Todas essas manchetes fantasiosas têm a ver com um mesmo fato originário.
Não é todo tipo de notícia que merece uma continuidade. Alguns acontecimentos e realizações têm fôlego para uma única aparição. Seja como for, para estar uma ou várias vezes no jornal, a "coisa" tem de ser verdadeiramente uma notícia, o que, basicamente, significa que não é publicidade ou propaganda – mas isso é assunto para outra oportunidade.
Em termos de formato, uma suíte não é nada diferente de uma notícia nova. Até porque só se tem uma continuação quando um novo fato é revelado. Mas é no estilo, pelo que notei, que a marmita das suítes azedou – no sentido de por que perderam o fôlego nos últimos anos.
Vamos tomar por exemplo uma investigação policial. O jornalismo de boa e de má qualidade têm interesse em pautas criminais. Porém, nos dois tipos de qualidade fica um sabor de vício, quem sabe originário do prazer de se "furar" (quando um jornalista é o primeiro em noticiar algo). É uma pressa que mais atrapalha que ajuda: não raro, são apresentadas versões que colaboram com uma história que se quer contar, que pode não ter nada a ver com o que aconteceu de verdade.
No caso de Homem armado ameaça jovem negro em SP, e policial se recusa a agir por estar 'de folga'; veja vídeo, por exemplo. É uma história que rapidamente conquistou a atenção dos jornalistas e do público, porque um vídeo comprova não somente a omissão de uma policial como também a agressão dela contra um jovem. Aqui, não está em discussão se a policial acertou ou errou. Ao mesmo tempo, faltou, pela ausência de suítes, a ampliação do contexto do vídeo de três minutos.
Uma história contada por sua característica intrigante pode render minutos de audiência, e um aumento de visitantes no site. Porém, sem continuidade, é um tiro no pé. Em 2023, o Digital News Report do Reuters Institute identificou que a confiança dos brasileiros no jornalismo é de 43%, uma diminuição de 19 pontos percentuais desde 2015. Estatisticamente, a tendência de queda pode marcar 41% em 2024. Nesse cenário, todos os recursos de inteligência e de integridade são bem-vindos para melhorar esses números.
As suítes são uma oportunidade para garantir ao público que as escolhas de pauta representam, ainda que contramajoritariamente, o compromisso do veículo com uma história contada do começo ao fim, com todas as nuances. Para isso, a linha editorial como um todo, e mais ainda os repórteres e editores, têm de encarar a atividade investigativa com o desprendimento de contar as coisas como elas são, e não como deveriam ser.