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Prática profissional

Gestores mais velhos em restaurantes são mais avessos ao risco, aponta estudo

Pesquisa da UFSC revela que experiência prolongada influencia gestores a optarem por medidas conservadoras.

Tempo previsto
23/4/2025

Um estudo recente publicado na Revista Turismo, Visão e Ação (RTVA) revelou que gestores mais velhos e com maior tempo de serviço em restaurantes tendem a ser mais avessos ao risco em suas decisões corporativas. A pesquisa, conduzida por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), analisou dados de mais de 2 mil restaurantes na Europa entre 2014 e 2016.

A pesquisa, intitulada "Influência das Características da Equipe de Gestão sobre a Tomada de Decisão de Risco: Evidências do Ramo de Restaurantes", utilizou a base de dados Amadeus e aplicou o método dos mínimos quadrados para analisar a relação entre as características dos gestores – idade, tempo de serviço, gênero e tamanho da equipe – e o nível de alavancagem financeira das empresas, usado como indicador de tomada de risco.

Os resultados mostraram uma correlação negativa significativa entre a idade e o tempo de serviço dos gestores e a propensão ao risco. Gestores mais velhos e aqueles que ocupavam o mesmo cargo há mais tempo demonstraram preferência por decisões mais conservadoras, optando por manter o status quo em vez de adotar estratégias inovadoras ou arriscadas.

Contrariando algumas expectativas, o estudo não encontrou relação significativa entre o tamanho da equipe de gestão ou a participação feminina e a tomada de risco. Embora pesquisas anteriores tenham sugerido uma possível influência desses fatores, os dados analisados não confirmaram essa hipótese no contexto específico da indústria de restaurantes.

Os autores sugerem que a aversão ao risco demonstrada por gestores mais experientes pode estar relacionada à priorização da estabilidade e da reputação construída ao longo da carreira. A familiaridade com o setor e a preocupação em preservar os ganhos obtidos podem levá-los a evitar decisões que representem potenciais ameaças ao negócio.

Implicações para o setor

As descobertas do estudo têm implicações importantes para a gestão de restaurantes. A pesquisa sugere que a composição da equipe gestora pode influenciar diretamente a estratégia e o desempenho das empresas. Restaurantes com gestores mais jovens podem estar mais dispostos a inovar e assumir riscos, enquanto aqueles liderados por gestores mais experientes podem priorizar a estabilidade e a segurança financeira.

Próximos passos

Os pesquisadores destacam a necessidade de estudos adicionais para aprofundar a compreensão da relação entre as características dos gestores e a tomada de decisão em restaurantes. A investigação de fatores psicológicos, como a tolerância ao risco individual, e a análise de dados de um período mais amplo poderiam enriquecer a discussão e fornecer insights mais precisos para o setor.

Suítes no jornalismo se relacionam com queda da confiança

Ausência de atualizações e de contexto em notícias contínuas afeta credibilidade e confiança dos leitores.

Tempo previsto
11/4/2025

Uma suíte jornalística é a continuidade de uma notícia em novas matérias que atualizam as anteriores. Algo como "Duas pessoas ficaram feridas em um acidente"; depois, "Homens que ficaram feridos em acidente fazem cirurgia"; ainda, "Homens que se feriram em acidente recebem alta"; e, ainda, "Empresa responsável por acidente com feridos é multada". Todas essas manchetes fantasiosas têm a ver com um mesmo fato originário.

Não é todo tipo de notícia que merece uma continuidade. Alguns acontecimentos e realizações têm fôlego para uma única aparição. Seja como for, para estar uma ou várias vezes no jornal, a "coisa" tem de ser verdadeiramente uma notícia, o que, basicamente, significa que não é publicidade ou propaganda – mas isso é assunto para outra oportunidade.

Em termos de formato, uma suíte não é nada diferente de uma notícia nova. Até porque só se tem uma continuação quando um novo fato é revelado. Mas é no estilo, pelo que notei, que a marmita das suítes azedou – no sentido de por que perderam o fôlego nos últimos anos.

Vamos tomar por exemplo uma investigação policial. O jornalismo de boa e de má qualidade têm interesse em pautas criminais. Porém, nos dois tipos de qualidade fica um sabor de vício, quem sabe originário do prazer de se "furar" (quando um jornalista é o primeiro em noticiar algo). É uma pressa que mais atrapalha que ajuda: não raro, são apresentadas versões que colaboram com uma história que se quer contar, que pode não ter nada a ver com o que aconteceu de verdade.

Contar toda a história

No caso de Homem armado ameaça jovem negro em SP, e policial se recusa a agir por estar 'de folga'; veja vídeo, por exemplo. É uma história que rapidamente conquistou a atenção dos jornalistas e do público, porque um vídeo comprova não somente a omissão de uma policial como também a agressão dela contra um jovem. Aqui, não está em discussão se a policial acertou ou errou. Ao mesmo tempo, faltou, pela ausência de suítes, a ampliação do contexto do vídeo de três minutos.

Uma história contada por sua característica intrigante pode render minutos de audiência, e um aumento de visitantes no site. Porém, sem continuidade, é um tiro no pé. Em 2023, o Digital News Report do Reuters Institute identificou que a confiança dos brasileiros no jornalismo é de 43%, uma diminuição de 19 pontos percentuais desde 2015. Estatisticamente, a tendência de queda pode marcar 41% em 2024. Nesse cenário, todos os recursos de inteligência e de integridade são bem-vindos para melhorar esses números.

As suítes são uma oportunidade para garantir ao público que as escolhas de pauta representam, ainda que contramajoritariamente, o compromisso do veículo com uma história contada do começo ao fim, com todas as nuances. Para isso, a linha editorial como um todo, e mais ainda os repórteres e editores, têm de encarar a atividade investigativa com o desprendimento de contar as coisas como elas são, e não como deveriam ser.

Analistas vendem transformações, enquanto impostores lucram com ilusões

A busca genuína pela coerência e transformação pessoal contrasta com promessas vazias e ilusórias do mercado.

Tempo previsto
23/4/2025

O convite para uma transformação pode ter inúmeras motivações. Em termos empresariais, por exemplo, pode partir da necessidade dos fundadores ou gestores de, ao criar um ambiente propenso à felicidade, aumentar a produtividade e, por consequência, os lucros. Em iniciativas governamentais, impulsionar os servidores e parceiros, pela percepção deles de segurança e reconhecimento, é um jeito de ampliar a criatividade, e de fazer os projetos andarem ainda mais rápido. Essas são motivações legítimas. Mas esses planos tendem a fracassar miseravelmente, apesar das excelentes intenções, se o emissor do convite não der provas de que se submeteu às mesmas transformações que propõe, e que essas o aproximaram de uma vida boa.

O termo “vida boa” pode ser observado a partir de muitos pontos de vista, da sabedoria ao teórico. Ele pode ser explorado pelas perspectivas da filosofia, democracia, teoria crítica (Habermas está frequentemente associado a tal pesquisa), mas nos importa sua versão acessível e carregada de humanidade: uma vida que encontrou um caminho suficientemente bom para diminuir o sofrimento. Uma vida que sofre menos é uma vida boa.

A maturidade, que evidentemente pouco tem a ver com a idade, pede sempre mais coerência. A coerência poupa energia, poupa tempo. O universo, coerente, usa seu poder para criar luzes, estrelas pequenas e distantes. A natureza, coerente, não pensa duas vezes antes de derramar o mar sobre o continente, quando isso deve fazer. Não se dialoga com o ciclone, com a erupção. Quem foi capaz de marcar uma reunião com as profundezas do subsolo e cancelar um terremoto? O aparente caos do ambiente é, a bem da verdade, a coerência da vida.

Nós, uma humanidade frágil diante da natureza e dos sofrimentos causados pelos outros, aprendemos, então, que a coerência é uma aliada da vida. É coerente, para o indivíduo que acredita sobre si mesmo que é menor que os outros, que emita sinais que organizem a consumação de suas percepções. É coerente que quem acredita, erroneamente, claro, que é maior ou melhor que os outros construa cenários que provem a ele que tem razão. Moral da história é: toda e qualquer vida humana, sábia até as últimas consequências, organiza o mundo para continuar viva. Se o único jeito de viver que aprendeu foi submetido, humilhado, mendigo de afetos, é coerente continuar assim, justamente para continuar vivo.

A defesa civil, entretanto, envia SMS quando os riscos de temporais são perigosos. Receber um convite para uma transformação é como um alerta da defesa civil. É um alerta de que as crenças e comportamentos estão prestes a causar mais um dano. Se é possível impedi-lo? Pela coerência: muito provavelmente não. Mas é possível criar planos de emergência, planos de futuro. É possível desocupar áreas perigosas da alma, mudar para paisagens mais altas, sóbrias, e refrescantes.

Quanto a mim (nos próximos parágrafos, decido não usar a tradicional primeira pessoa do plural freudiana), não ouso, não mais, convidar qualquer irmão (como chamo outros humanos) a algo que possa atrasar ou interromper o caminho dele.

Muito antes de acreditar em melhoras na qualidade da análise, da pesquisa, da técnica, tenho devoção pela liberdade humana. Ela pode ir para onde quiser, e terá, sempre que eu tiver condições, e for apropriado, minha companhia.

Se eu tivesse uma verdade universal, eu a apresentaria e, sem qualquer necessidade de convencimento, seria amplamente aceita. Jamais é o caso, porque o que compreendo por verdade pode não fazer o menor sentido para meu irmão. Mas tenho uma verdade ou outra não universal que às vezes é boazinha.

O certo é que costumo confessar a meus críticos intelectuais e políticos que estou em busca de um mapa de coerência. E não vejo a hora de mudar de ideia no que se pode mudar de ideia! De todo modo, realizei a façanha de ser relevante para mim mesmo, o que é muita coisa. Isso me poupa de de cair na lábia dos impostores.

Com isso, espero ter deixado claro que não posso, nem hoje e nem no futuro, prometer que tenho a revelação de um segredo, um jeito infalível, um milagre que pode render gargalhadas e dinheiro. Deixo essas promessas para quem tem experiência com elas: os que iludem e os que são iludidos (quase sempre pagam, em dinheiro, por isso). Isso não me desqualifica como vendedor, entretanto. Sob condições éticas, no papel de teleatendente, fui o melhor em vender débito automático na Tim Sul S/A, em algum mês de 2004, um ano antes de começar minha vida profissional no jornalismo.

Quando você me contratar, vai me remunerar pelo que posso fazer pela transformação que procura para si mesmo e para seus negócios. E será sempre muito mais caro do que os que iludem. Se a coerência é um diferencial de vida, que dirá de mercado.

Sou um pouco mais livre, e um pouco mais feliz, hoje do que fui ontem. Minha observação realista (embora eu seja um pessimista sereno) da vida é um suspiro desiludido. Quando, aos 15 anos, sofri amargamente o término de um namoro que tinha sido a melhor coisa de toda minha vida, e que jamais se repetiria, porque aquela era a minha única oportunidade de felicidade, e naquele momento só me restava viver em luto até minha morte solitária, um amigo que poderia ser meu bisavô me disse: “Vine, sabe qual é a vantagem de estar desiludido? É não estar iludido”.

No começo, deixar de acreditar em promessas deixa a gente incomodado. Depois, vai se tornando um estilo de vida tão sincero, tão honesto, tão coerente. Deixei de exigir dos outros que sejam o que eu espero deles. E não estou nem aí quando me exigem ser o que não sou. Entra por um ouvido e sair pelo outro. Ainda sofro, mas em uma vida boa, que sofre menos. No fim das contas, quem diria, eu sou um homem feliz, na medida do possível.

Seminário da Comunicação da UFPR é ágil em temas políticos

Evento acadêmico da UFPR aborda Bolsonaro, Lava Jato e mídia digital com pesquisas aprofundadas e atuais.

Tempo previsto
11/4/2025

A relação entre o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e a desconfiança sobre as urnas eletrônicas é o primeiro trabalho apresentado no Seminário de Dissertação 2023 da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele é realizado pela pesquisadora Isadora Raquel Rupp, sob orientação da Profª. Dra. Luciana Panke. O Seminário é uma apresentação pública anual que começa nesta segunda (26), presencialmente, na sede da Comunicação da Federal, em Curitiba (Rua Bom Jesus, 650), e vai até quarta-feira (28). Nesta terça e quarta, a realização é on-line, pelo canal do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM). O professor Dr. Rodrigo Eduardo Botelho-Francisco é o responsável, junto ao Dr. Carlos Marciano.

Dr. Carlos Marciano faz estágio pós-doutoral na UFPR.

São 14 trabalhos ao todo, das linhas Cultura, e Política. Isso significa bastante variedade de premissas, objetos de pesquisa, e métodos.

Baixe a Caderno de Programação

As investigações "Cultura é política? Política é cultura? Análise do enquadramento noticioso dos temas no período pré ao pós-eleições de 2022", da pesquisadora Sharon Jeanine Abdalla; "Jornalismo de fachada: estratégias retóricas sobre a saúde no programa 'Os pingos nos is'", da pesquisadora Karina Pierin Ernsen Alves; e "A Lava Jato na conversação política: análisede comentários do canal Gazeta do Povo no YouTube", deste repórter, são, junto à apresentação de estreia, da linha Comununicação Política. As orientações são da Profª. Dra. Carla Candida Rizzotto, Profª. Dra. Kelly Cristina de Souza Prudencio, e Prof. Dr. Rafael Cardoso Sampaio, respectivamente.

Baixe as fotos, para imprimir, para redes e para sites

Gestores atentos à realidade das equipes têm mais sucesso

Conhecer profundamente a própria equipe possibilita comunicação eficaz e impulsiona resultados empresariais reais.

Tempo previsto
14/4/2025

Os apresentadores advogado-sócio da Vanzin & Penteado, Kael Moro, e CEO da Lexnautas, Bruno Nassar, entrevistaram o analista e pesquisador Vinícius Sgarbe, para o videocast Conexão Empreendedorismo. Abaixo estão trechos da conversa convertidos em artigo.

O que é comunicação

Comunicação é uma ciência relativamente nova (quanto à constituição de campo de pesquisa acadêmica), mas está presente em todas as áreas da vida. Nós acreditamos que a definição dela pode variar, pelo papel que o definidor ocupa. Para a medicina, haverá um viés, para o direito, outro, e assim por diante.

Contudo, concordamos que a comunicação ocorre no momento presente, entre seres humanos. Isso se dá por palavras, gestos, e por elementos de um conjunto amplíssimo de expressões. Em nosso ponto de vista, a comunicação não é propriedade dos comunicólogos, mas sim de todos nós.

Além disso, destacamos que a comunicação, embora ciência de criação recente (escrevemos sobre jornalismo no Século 17, e de opinião pública no Século 20), ela é fruto de outros campos aprimorados há séculos, como a filosofia e a ciência política. De toda sorte, consideramos que mais importante que uma epistemologia da comunicação, é o ouvir as experiencias dos usuários da comunicação. Desde o livro, cinema, televisão e rádio, todos da concepção de distribuição de massa, até o interlocutor da inteligência artificial, os usuários são os “donos” da comunicação.

Acreditamos que se trata de uma ciência fundamental para a compreensão das interações sociais, o que inclui as limitações dessas interações. O conhecimento e aprimoramento dessa ciência são essenciais para melhorar os resultados das relações humanas que se convertem em “vida boa”.

Autoconhecimento para o empreendedor

Nós entendemos que uma parte significativa da atividade empresarial está suscetível a comportamentos automatizados. Em outras palavras, o que é comunicado nessa condição foge às inteligências racional e emocional do indivíduo.

Por mais que insistamos – e às vezes com argumentos convincentes, brilhantes em retórica – que estamos agindo de forma livre, muitíssimas vezes não passa de looping de experiencias não assimiladas. É o caso do empreendedor que, no fim do dia, chega à conclusão: “aconteceu de novo exatamente o que eu não queria que acontecesse”.

É nesse contexto que o autoconhecimento entra em cena: ao nos conhecermos, colocamos luz nas áreas escuras de nossa vida. Isso é invariavelmente sair do automático e, com um pouco mais de trabalho, tomar as rédeas do negócio e do sucesso.

Empreendedores autônomos (do ponto de vista da liberdade de vida) são reconhecidos por pares, e capazes gerenciar equipes. Quando nos preocupamos com coisas que não podem ser resolvidas (por serem problemas fantasiosos ou irrelevantes, por exemplo), diminuímos a felicidade e o rendimento das equipes. Quando temos um olhar analítico, em detrimento de uma performance de liderança enfeitada, tornamo-nos capazes de dizer: “todos os meus planos se tornam sucessos”.

Herótodo Barbeiro abre série de entrevistas do Lab Jornalismo 2050®

Ícone do jornalismo brasileiro fala sobre desafios e perspectivas da profissão em projeto que debate futuro da mídia.

Tempo previsto
14/4/2025

Em entrevista ao projeto Lab Jornalismo 2050®, o jornalista Heródoto Barbeiro responde à pergunta: “o que é jornalismo?”. A live foi transmitida pelo canal da produtora Outras Terras Filmes, na última sexta-feira (3). Ele foi entrevistado por mim, Sgarbe. As dez perguntas e respostas estão também cortadas nesta playlist.

Heródoto foi professor de história do Brasil por mais de duas décadas, antes de se tornar uma mente brilhante do jornalismo. Ele foi um dos fundadores da primeira rádio all-news do Brasil, a CBN. Apresentou também, dentre outros programas, a sabatina Roda Viva, da TV Cultura.

Nota de um fã

A voz de Heródoto soa familiar para mim, e provavelmente para uma maioria de leitores desta matéria. A admiração perene e serena que tenho por ele completa a maioridade, neste ano. Em 2005, eu o ouvia diariamente no noticiário nacional, enquanto preparávamos o jornal estadual da CBN. Ainda hoje, ele conta que faz dez entrevistas por dia. Quer dizer. Entrevistá-lo é como rezar a Missa para o Papa.

O espirito de Heródoto me lembra o de Luiz Geraldo Mazza, antigo comentarista de política da CBN local. Mazza dizia, sobre tecnologia, que tinha pouco, que tinha que ter mais pessoas fazendo lives de acontecimentos. Ambos parecem, de um modo vitoriano e heróico, não se perturbar com os progressos das plataformas.

‘Direto ao Ponto’ completa um mês em cinco emissoras FM do Paraná

Apresentado por Ogier Buchi e Vinícius Sgarbe, programa promove conversas transparentes e estimula reflexão política.

Tempo previsto
14/4/2025

Hoje, o programa Direto ao Ponto faz aniversário de um mês. De segunda a sexta-feira, das 18h as 19h, Ogier Buchi e eu falamos de política "nas ondas do rádio" (Curitiba FM 92,9; Londrina FM 95,7). O programa é simples e honesto. A gente vem criando um ambiente gostoso de ouvir.

Ogier e eu temos muito mais pontos de convergência que de divergência: consideramos que, sobretudo, quem acompanha o programa merece nossa atenção máxima com as informações e opiniões. Raramente chegamos a uma "palavra final" sobre um assunto, o que deixamos para o ouvinte.

Existe pouca ou nenhuma utilidade em apagar as luzes para figuras públicas. Quanto mais luz melhor. É claro que eventualmente *aquela* pergunta pode ser esquecida, mas nosso exercício, hoje, é prestar  atenção a falas mais longas, dar atenção às sutilezas.

No fim do dia, o que temos é um programa que parece ter voltado à academia depois de uma temporada de férias e sobremesas. Estamos nos acostumando aos aparelhos, e ainda levantamos menos peso do que vamos conseguir em um mês.

Nossa audiência, predominantemente conservadora (entendemos assim até agora), reage bem a estímulos contrários, com uma ou outra exceção. Quem sabe seja nosso jeito de incluir o outro (para ser habermasiano). Brigar não. Se é para ver o pau comer, tem sites bons desse conteúdo.

Na última edição, entrevistamos o vereador de Curitiba Pastor Marciano Alves. Ele é famoso no site da Câmara, por projetos no mínimo provocativos: proibição do gênero neutro, lei contra a cristofobia, etc. O convidado disse que estava com medo da impresa. A que ponto chegamos!

Primeiro, Pastor Marciano trouxe chimarrão (e um muito bom), e, depois, a conversa ao vivo revelou que aquele homem pode pensar a seu próprio modo, que inclusive ganhou um mandato por pensar exatamente como pensa, sem perseguir ninguém, do ponto de vista comunicacional.

Considero que esse resultado seja fruto de uma obstinação de Ogier e minha, qual seja a de que é preciso voltar a abrir o microfone, desfazer fantasias e imaginações, para voltar a tratar do que é efetivamente público. Daí até chegarmos ao "bem comum" tem muito chão.

Análise Transacional como estilo de vida tem a ver com verdade

Método desenvolvido por Eric Berne auxilia pessoas e empresas no desafio de se reinventar encarando suas verdades internas.

Tempo previsto
14/4/2025

Quando Eric Berne tornou a Análise Transacional popular, apresentou, dentre uma porção de novidades teóricas e práticas, a possibilidade de acelerar processos voluntários de mudança. Isto é, diante de uma posição ok para o cliente e ok para o analista, tornar reais intenções de melhoria. Há alguns dias, ouvi de um mentor: “você jamais vai se arrepender de ser amável”. Ou, ainda, de um supervisor: “no fim das contas, fica a relação entre duas pessoas, entre dois seres humanos”.

Mas apesar disso, sessões de Análise Transacional podem e provavelmente vão bagunçar um pouco as coisas antes de ajudar a solucioná-las. Minha perspectiva sobre esse assunto é de que a simples ação de ordenar o pensamento e a ação; o simplíssimo movimento de reposicionar o que é mais ou menos importante; olhar para a divisão de um dia como um retrato de como se está a dividir a vida; esses elementos já dão bastante trabalho. Mexer na ordem das coisas é parecido com bombardear nuvens e provocar chuva. A verdade, essa que nos impulsiona a ser a melhor versão de gente, é uma força da natureza, tal qual a chuva.

Não se pode dialogar com enchentes e desmoronamentos, pedir ao vulcão que espere mais um pouco porque não terminamos de construir a barreira. Não se combina com o vendaval que demore mais um pouco, para que recolhamos as roupas do varal. Não se pode segurar o choro diante da criança yanomami com as costelas famintas à mostra. A verdade tem a índole das tragédias naturais. Ela não pede licença para ser verdade. Ela nos mostra a vida tal qual ela é, o mundo tal qual ele é, mostra você e eu tal qual somos quando estamos sozinhos em nossos caminhos. Aquela treva toda que são os medos do abandono, da agressão, das palavras vis, toda aquela treva que nos faz menos divinos na relação com o próximo, toda aquela escuridão é dissipada pela verdade.

Ao longo da vida, conheci alguns criminosos (do ponto de vista legal). Uma vez, perguntei a um deles: “por que você decidiu ir para a cadeia?”. Ele ficou atento, respondeu que precisava achar essa resposta. Nossa amizade começou naquele momento. A mim não mentem, e eu a eles tampouco. Com isso, estamos protegidos um do outro. A verdade força da natureza muda a paisagem, limpa o “rastro viscoso e sujo que deixaram os semeadores impuros do ódio” (ESCRIVÁ DE BALAGUER, 2019, p. 25).

Quando a verdade se manifesta, sobre ela se pode esperar uma quantidade impressionante chuvas ácidas e trovões, tal qual uma violenta erupção, ou uma sereníssima brisa junto ao voar de um dente de leão. Mas, seja como for, ela ocupará o espaço apropriado e mudará a paisagem de maneira definitiva. Melhorar é encarar essa força, amá-la, fazer novena pedindo que ela venha logo.

Quer saber mais sobre como sessões de Análise Transacional podem ajudar você, sua família e seus negócios a encontrar finalmente o que estão procurando? Se este for realmente seu momento de coragem, agende um horário para falarmos do assunto.

Philomena Cunk é uma documentarista ignorante, porém equipada

Sucesso no humor britânico, Philomena Cunk expõe com ironia a fragilidade intelectual presente até no jornalismo sério.

Tempo previsto
11/4/2025

Há alguns anos, Dra. Cida Stier me levou com ela a um treinamento de comunicação para policiais rodoviários federais. Ao fim de uma das fases teóricas, ela propôs um roleplay (uma espécie de “teatro” que simula situações). O “elenco” era um policial com um repórter, em sendo eu o repórter. E o caso era: “um motorista de caminhão morreu em um tombamento, há interrupção de trânsito”. Em frente a uma turma numerosa, seguimos assim:

—Bom dia, tudo bem o senhor? Meu nome é Vinícius, sou repórter. Qual é seu nome?

Papo vai, papo vem, ele chega ao ponto de me contar:

—Uma carreta tombou. Mas temos poucas informações, porque estamos a caminho. — Eu pergunto: —O motorista está bem? — Ao que ele responde: —Ele não está morto? — Nem mesmo o policial conseguiu concluir a frase sem uma gargalhada honesta. A partir disso, todos rimos, porque, digamos, os atores se bateram um pouco com o texto.

Lembro desse episódio quando assisto à personagem inglesa Philomena Cunk (Diane Morgan), produdiza pela BBC. Philomena é uma documentarista ignorante, porém equipada. Como é apresentadora de televisão, tem os diálogos com os entrevistados gravados em vídeo. A postura dela é absolutamente exemplar: voz, roupa, gestos. Mas apesar disso, é burra como uma porta. Os episódios são memoráveis.

Em um deles, ela confunde “Camelot” de Rei Artur com “cum a lot”. Em outro, ela grava em volta de Davi de Michelangelo e se pergunta se, pela ausência na escultura, as pessoas daquela época tinha ânus. Neste a seguir, ela fala sobre as previsões de George Orwell no livro “1984”. Ela reforça que tais previsões foram feitas no livro usando “nada além de palavras” – risos.

Ao que pese a BBC ser uma das mais proeminentes marcar de jornalismo do mundo, junto à ABC dos Estados Unidos, à TV Globo do Brasil, à Deutsche Welle da Alemanha, ao Franceinfo da França, a existência de Philomena a mim não parece mero formato cômico. É, sobretudo, um convite à aprendizagem de rir de nós mesmos.

Há alguns anos, em visita a uma agência de Goiânia, o publicitário Renato Monteiro me contou que a primeira coisa que faziam diante da chegada de um novo projeto de anúncio era passar dias criando as mais óbvias intervenções. Se campanha para um seguro fúnebre, “os preços estão pela hora da morte”, “compre antes que seja tarde”, “quem vai se preocupar os pregos da chuteira”. Naquela ocasião, o trabalho que devia ir à TV era a venda de um plano de saúde para pequenas empresas, com no mínimo sete empregados. Depois do processo de criação, fizeram a Branca de Neve contratar o plano. Uma peça genial!

No jornalismo de televisão há muitas variáveis, como é comum em todos os empregos sujeitos a enormes pressões e instabilidades. Considero que um dos grandes desafios quanto à atração e retenção de talentos seja a habilidade de organização dos repórteres. O que consegue acordar diariamente às 4h, para uma hora depois começar a preparação de um jornal que vai ao ar às 6h, e repete essa atividade diariamente por meses ou anos, tem grande chance de ocupar o posto de âncora. Só por esse motivo já se teria encontrado um funcionário exemplar. Por outro lado, quando a variável ordem está dura demais, o trabalho criativo pode ficar minguado às vezes. “Jornalismo é metade negócios, metade show”, defendia o jornalista Gladimir Nascimento.

Sem penúria, sem narcisismo demasiado, sem jogos de poder ou psicológicos fora de controle, com humor para rir de si, o jornalismo de televisão pode ter sobrevida intelectual.

Você pode assistir à Philomena no site da BBC, e em uma série que acaba de estrear na Netflix. A hashtag #philomenacunk no Instagram tem trechos bons.

Conversar com todos é formação do jornalista

Após polarização eleitoral, jornalistas são desafiados a superar bolhas sociais e dialogar com realidades diversas.

Tempo previsto
11/4/2025

Diante daquele presidente eleito, seja ele quem for, daqui a duas semanas, teremos superado uma das “desculpas” para procrastinar talvez a mais importante prática jornalística, a de conversar com absolutamente todos que nos apareçam. Do jeito que o país está dividido – o que não se aplica ao Paraná, haja vista a reeleição do governador, e a votação do antipetismo para a Presidência –, caímos fácil na falácia de que é melhor deixar aquele assunto controverso para lá, para depois disso, para além daquilo.

Nós, jornalistas, talvez nos tenhamos dado ao luxo de escolhas elitistas. Quando a palavra “elite” emerge nos artigos científicos de comunicação política, um pequeno demônio sussurra em nossos ouvidos de gatekeepers: “você venceu na vida, fez por merecer, você é elite”. Não necessariamente o demônio está errado, frequentemente nos diz coisas mais razoáveis que o psiquiatra. Fazer-se ou ser-se elite, porém, conferiria a nós um papel pouco flexível, mais de Rainha Elizabeth que de Winston Churchill. De qualquer modo, quem vai falar com os que não entram no palácio?

Durante as eleições, coberturas de desastres, de carnavais, e toda sorte de assuntos falsamente urgentes, somos tentados ou coagidos a sacrificar o trabalho antropológico, de investigação, de perguntar “como isso que você está me contando acontece?”.

As perguntas do lead, o famoso “o quê, quem, como, quando, onde e por quê”, podem ser respondidas por inteligências artificiais bem treinadas. Algumas atividades da redação são tão mecanizadas que sites avançados substituíram repórteres por robôs – o que acho muito bom. Bem tensionada, a teoria Newsmaking pode dar conta dessa mudança. Mas isso não atende a necessidade de reconhecimento e participação das pessoas que nos leem ou assistem. O palco público que nos esforçamos para manter em pé não tem pernas que não sejam as nossas, ouvidos e inteligências que não sejam as nossas.

A primeira tarefa a ser concluída, depois das eleições, como queiram, é visitar todos, todos, aqueles tios do zap do grupo da família, insuportáveis no digital e amáveis feito a Santa Maria quando presentes em carne. É preciso atender aos telefonemas deles, deixá-los nos explicar por que acreditam que o Supremo Tribunal Federal trabalha para destruir a vida, por que acreditam que aquele terreninho mixuruca a dezessete quadras da praia vai ser “invadido” pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), mas, principalmente, por que não acreditam mais no que você e eu escrevemos, gravamos ou apresentamos. E quando nos disserem que é porque “a mídia está toda comprada”, perguntaremos: “não fique chateado, tio, mas como isso acontece?”.

Deixem-me escrever um pouco em tom solene de Bíblia.

Filhinhos, não pratiquem culto à falta de tempo. Isso é próprio de profissões menos importantes e menos prestigiadas que a de vocês. Jamais respondam “hoje, não posso ir ao Basset Lanches com os amigos dos meus amigos”, e jamais evitem ouvir pela quinquagésima vez a mesma história. Se uma história resiste a cinquenta repetições é poque deve ser boa. É abominável, de qualquer modo, que o sucesso profissional termine em indisponibilidade para se ir à universidade, à exposições de arte, ou para sentar em uma roda diferente onde não se é o dono da verdade.

Fim do desafio bíblico.

Daí complica, sentar em uma roda diferente onde não se é o dono da verdade, porque, em alguma medida, somos obrigados a ampliar nossos quadros de referência. E isso nos faria perder o papel de “juiz da notícia”. É preciso reconhecer o pequeno Sergio Moro que mora em cada um de nós, para impedi-lo de errar a mão, impedi-lo de se alimentar e realizar a Operação Lava Jato 2. Temos de nos proibir terminantemente de comer o Estado com farinha. No fim, o tio do zap e nós jornalistas temos pelo menos isto em comum: não gostamos de nos sentir enganados ou subestimados.

Quando me refiro a jornalistas, escrevo sobre o grupo que considero minha comunidade profissional. Escrevo, pelo testemunho de sobriedade, a partir de mim. Porque eu somente poderia criticar no “outro” (para ser um pouco habermasiano) o que tivesse consciência de ser criticável, ou, ainda, minha crítica poderia partir de meus defeitos pessoais. Ou várias outras variações. Mas com ou sem autocrítica, sem ou com o melhor jeito de comunicar aos pares que essas críticas são um remédio amargo para nosso futuro profissional, estamos no mesmo Titanic do noticiário.

No lá e no então do passado, dizia-se a cada geração de repórteres: “lugar de repórter é na rua”. A ideia era de que a notícia estava onde havia vida, onde tinha ônibus e postes atrapalhando as vidas dos contribuintes, nas muvucas das manifestações políticas ou sindicais. A gente sai para escrever sobre uma colônia de férias, e volta sujo de barro fazendo vivo de enchente. Que demais essa profissão!

No aqui e no agora, reforço: lugar de repórter é em todas as ruas, em qualquer espaço que se possa entrar. Por que o cachorro entrou na igreja? Porque a porta estava aberta. Onde houver gente, onde houver conversas sobre dificuldade para dormir, sobre níveis de colesterol, onde se estiver falando sobre pintura em aquarela, sobre a influência das medidas das ondas do mar na formação das conchas, bem ali onde estiverem os “extremos” (amáveis como Santa Maria), na discussão acadêmica, na internet, claro, nas festas de família, há de haver um jornalista que se interessa pela vida humana. Se um apresentador consegue resolver um imbróglio familiar, aguenta qualquer coisa no ar.

Este texto é um convite a um dos fundamentos da formação de jornalistas, às relações interpessoais. É ouvindo sem preconceitos que a gente rearranja o caleidoscópio do mundo, que sentimos aquele ar fresco e perfumado do que é novo, que nos livramos das bolhas com cheiro de jaula. É entre pares que testamos as ideias em nossas cabeças, encontramos as primeiras resistências ou oposições claras, amadurecemos o que não está maduro o suficiente.

A paz exige muitas renúncias e muitas conversas com nacionalistas

Reflexão propõe diálogos necessários, denunciando perigos do nacionalismo exacerbado e buscando caminhos para a paz.

Tempo previsto
11/4/2025

Tivemos, pelo menos eu tive muita, esperança de que um milagre nos fosse concedido (haja fé, meu bem!), a saber: viver sem guerra, sem derramamento de sangue. Da parte da história do mundo científico, há um registro especial (para mim) dessa esperança, quando Einstein e Freud trocaram cartas sob o título “Por que a guerra?”. Em linhas gerais e específicas, concluíram, a partir de uma provocação da Liga das Nações (que viria a se tornar a Organização das Nações Unidas – “comunistas malditos!”), que a origem da guerra é o patriotismo.

Quando falo desse assunto, de uma escolha por ser pacifista, encontro resistência da parte de pessoas de diferentes linhas de pensamento. Quer seja um homem simples, quer um esclarecido, é trabalhoso sustentar o argumento de que a paz depende de uma porção numerosa de renúncias pequenas e grandes, e de que hastear uma bandeira de país e chamá-lo de maior que os outros é um risco.

Mais que rapidamente surge o dado de realidade Ucrânia-Rússia, pelo qual se poderia perguntar “mas e se um país invade o seu território?”, e caímos no que chamo “mirar no bispo para acertar o padre”, que é continuar a afirmar: o patriotismo é a origem da guerra. Ou não foram sob alicerces nacionalistas que cometemos erros vergonhosos contra a vida? Alemanha acima de tudo! Judeus abaixo da terra! Quantos milhões de mortos na Europa durante a Segunda Guerra? Em uma conta simples, foram cerca de três bilhões de quilos de carne humana que apodreceram.

Na Ucrânia de hoje, vocês também viram pela televisão corpos sendo jogados em valas comuns? Cheguei a pensar, nessa ocasião, “deve ser imagem de arquivo da Segunda Guerra”.

No Brasil, um “nacionalismo” mais sofisticado, e com a anuência da medicina psiquiátrica, assassinou sessenta mil pessoas em Barbacena (MG). Três milhões de quilos de carne humana que apodreceram. Dos mortos no hospital Colônia, cerca de 70% sequer tinham diagnóstico de doença mental. Morreram porque eram pobres, porque eram rebeldes, porque engravidaram de alguém que não podia decepcionar a própria família conservadora. Os corpos eram vendidos para faculdades de medicina, depois de falecerem sobre feno sujo de urina e fezes humanas.

Mas apesar de todas essas coisas, teremos de conversar todos os dias (inclusive com os nacionalistas).

No início deste texto, eu me referi a uma esperança. Eu tinha em mente o que foi um tipo de fantasia coletiva, provavelmente há um nome apropriado para o ocorrido, mas eu não sei qual, de que o primeiro turno das eleições nos livraria do ultraje que é o palco público brasileiro de 2022.

Aí com seu pessoal, conte-me, tem encontrado deprimidos, ansiosos, pessoas perdendo cabelos? É consequência da pandemia? É consequência da polarização política? O fato é que “as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo / A saudade de seus homens”. Fosse lá o que fosse, ou quem tivesse sido mais ou menos responsável, a gente queria que tivesse terminado. Essa era a nossa esperança sincera.

Ocorre que não foi assim. Nós do jornalismo havemos de conversar diariamente sobre as mudanças substanciais no palco público. Lição básica de filosofia: se uma mudança é substancial, azedou mesmo a marmita para quem esperava reviver a grandiosidade plástica dos noticiários de antigamente. Agora, meu bem, “pega lá” o que vai ser divertido: nós obrigatoriamente vamos superar este momento difícil.

Tem um tanto de espaço numa campanha eleitoral

Reflexões sobre bastidores das eleições trazem questionamentos sobre propósito político, amizade e futuro digital.

Tempo previsto
11/4/2025

Que campanha fizemos, pelo que “lutamos”, o que aprendemos? Meu pessimismo sereno me leva a fazer essas e outras muitas perguntas que levam ao livro de Eclesiastes. Quando Salomão, hypothetically speaking, concluiu que não havia nada novo debaixo do sol, tinha se cansado da glória da sabedoria. Logo, fizemos mais do mesmo, lutamos coisa nenhuma, aprendemos mais jeitos de manter nosso ponto de vista. Mas, um minuto, senhoras e senhores. Não é assim que vejo, hoje, apesar das evidências.

Nesta sexta-feira, terminamos as jornadas de propaganda partidária, de alianças partidárias, de formação de grupos políticos, de distribuição de fundos, de propaganda eleitoral, de impressão de papéis. Partimos, até domingo, para o momento que se está no ar depois de um pulo olímpico. O que se deu de impulso, o que se deu de movimentos corporais, o que se deu de preparação, deram-se. Agora, tem o vento do noticiário, a gravidade das igrejas, uma ou outra sinapse destinada à proteção dos órgãos vitais.

Encontrei, no conjunto eleitoral de 2022, mais especificamente nos candidatos e correlatos, um homem inteiro, uma mulher inteira, quem sabe mais alguns, mas muitos mortos-vivos. Isto é, gente que precisa de um amigo. Há alguns anos, há quase vinte, diante de uma reunião formal com artistas da cidade, ri tanto de uma piada que cuspi vinho tinto em cima de pessoas bem-vestidas, móveis, e até no cachorro. Foi quando Dudson disse “você precisa de um amigo” enquanto me ajudava a limpar a sujeira me tirava rapidamente de circulação por um instante.

Não julgo que eu tenha deixado de precisar de um amigo. Não somente preciso como tenho o suficiente para ser esse amigo a outros. Vocês podem me perguntar “o que cuspiram em você, Sgarbe?”. E não foi nada ácido ou mortal, mas um hálito de talco de velha. Particularmente, adoro o cheiro de velhas bem-cuidadas, meu Deus, como uma coroa arrumada me inspira! Mas me refiro a um certo cheiro de guardado, a mofo grosso, a uma colônia de bactérias que pode suceder a um pedaço velho de beterraba, a cada ideia do tempo do êpa. Esse foi o trecho ruim de correr. Mas, então, olhei para cima.

Poucas horas depois do Webb nos enviar imagens de estrelas, eu passava no breu da fazenda de Fabio em direção à beira do Rio Ivaí. Por incentivo do amigo, olhei para cima. E me senti totalmente sozinho diante do Universo, a não ser pela profunda consciência de Deus. Os pontos brilhantes e multicoloridos do telescópio estavam reproduzidos bem ali, diante de um pescoço flácido que se espichava para o céu, a olho nu. Foi quando entendi qual seria meu papel na comunicação eleitoral deste ano. Fabio propõe, dentre outras coisas, que o Paraná incentive e patrocine a abertura de lojas de produtos regionais no metaverso. Da velha política fétida ao futuro digital, em uma ida despretensiosa para o Norte.

Apresentadores de televisão, voltem à literatura do jornalismo

Texto critica exageros emocionais de âncoras na TV e sugere retorno às boas práticas clássicas do jornalismo.

Tempo previsto
11/4/2025

Sou audiência de um canal francês, o Franceinfo, que, para mim, supera a BBC em termos visuais, quando não editoriais. Fico atento ao que estão fazendo (inclui terem usado para uma vinheta a mesma trilha que eu no projeto da graduação).

Aqui no Paraná, a RPC inovou, durante a pandemia, ao exibir todas as tentativas de contato com a fonte que não respondeu: algo para se usar como padrão internacional de qualidade. José Wille na Band é um alívio. O canal Paraná Turismo está cada vez melhor em cenas de pontos turísticos do interior. O que ficou um pouco ruim nestes dias foi o narrador dizer “própia” em vez de “própria”.

Mas algo que me perturba nos canais locais é a carência dos apresentadores — salvo raras e nomináveis exceções. Reservo-me, porém, a escrever que os que se mantêm bons em jornalismo pertecem a escolas mais “conservadoras” (lead, análise razoável, comentários pertinentes).

Como integrante da comunidade de jornalistas, longe do meu gosto pessoal, reafirmo a carência dos apresentadores.

É claro como o cristal que as linguagens se modificam, e que é preciso falar o idioma fluente de cada ano. Por essas razões, passamos a apresentar o jornal em pé, passamos a falar “clica lá” no lugar do correto “clique lá”. E também passamos a implorar para sermos aceitos pelo espectador.

O repórter mencionar o que “sente" em relação a um assunto deve ser uma vez a cada morte de papa. Um episódio da natureza, uma multidão faminta, o estado de alerta depois de um bombardeio. Mas informar que se tem uma “triste notícia” para algo inevitável, como um acidente de carro, é apelação detectada pela audiência, e que envergonha a construção histórica do jornalismo.

Para onde ir

Presumo que haja influências de múltiplas direções. Uma é do jeito da internet de criar novos “famosos”. Mas, querido repórter, o senhor já tem a marca da emissora. E fazer toda a encenação de ser um “cara legal” não tem ajudado a marca, e nem mesmo a percepção da audiência sobre o jornalismo. Logo, voltemos à recomendação de Ivor Yorke.

Para Yorke, o jornalista apresentador de televisão tem de “ostentar certa soberba”. A tradução é uma tragédia, porque a palavra “soberba” pega mal. Arrisco, porém, esta paráfrase: “o jornalista de televisão não pode perguntar à audiência o que ela quer saber. Ele é que deve saber o que a audiência precisa saber”.

Vou poupar os “jornalistas” de um determinado canal de terem um diálogo ao vivo transcrito neste post que prova por A + B que a televisão — embora não precisasse — está deixando a desejar no assunto repertório, inteligência e comportamento.

Há riscos na indignação, e o principal é não sermos ouvidos

Indignação sem equilíbrio pode comprometer comunicação eficaz e reduzir nossas chances de ser realmente ouvidos.

Tempo previsto
11/4/2025

A indignação é um motor importante, embora eu chegue à conclusão pela vida prática. Quando estou diante de uma injustiça ou de uma desqualificação, fico puto da cara. É o “convitão” (DE ALMEIDA, Maku) para cair na posição existencial “menos-mais”, e sair jogando psicologicamente.

Embora a psicanálise e a comunicação política tenham alguma razoabilidade quanto aos temas do mal-estar, desilusão e formulação de ameaças, é na análise transacional que encontro o primeiro mapa para entender o que é a indignação. Minha intenção é nos desindignar um pouco.

A posição existencial “menos-mais”, descrita por Berne, tem a ver com o indivíduo que acha que está em prejuízo nas relações. “O outro ganha mais!”, “Mas é porque ele é mais bonito!”, “O trabalho pesado sempre fica comigo!”, e por aí vai. E se o outro é “mais”, então sou “menos”.

Pergunto: por que a gente “odeia” uma “ideologia” contrária ou a corrupção? Tudo bem, há vários erros possíveis. Diante de um flagrante equívoco dos outros, a gente faz o quê? Grita? Impõe violentamente? Ora, claro que não. E esse é o “problema” da indignação.

Indignados, pensamos estar com um passe-livre para a baixaria. E é aí que o “perseguidor” dos jogos psicólogos entra em cena, para “falar a verdade!”, “Mandar uma real!”, “Vocês vão ter que me engolir!”. Qual a chance de um “indignado” ser ouvido? Baixa. Bem baixa.

Pouco importa quanto a mensagem é importante, se ela não tem o jeito certo de chegar ao outro. Aliás, o “jeito certo” é o jeito que o outro vai entender. “Comunicação é o que o outro entende”.

Contra ou não o assunto a, elegeu como causa o assunto b, foi chamado a clarear o c? É possível e necessário. Por favor, não pare de participar. A gente pode falar sobre absolutamente tudo sem erguer a voz, nem fazer mal para os irmãos achando que estamos fazendo o bem.

Resiliência das coisas próprias à reportagem

Pandemia impõe ao jornalismo desafios inéditos, acelerando digitalização e ampliando rotinas remotas das redações.

Tempo previsto
11/4/2025

O processo de transformação digital se impôs às redações jornalísticas com mais força desde o início da pandemia. Gestores enfrentam mudanças empresariais junto ao desafio de noticiar um período político e sanitário singular.

A plataformização como estratégia de negócio, em substituição ao antigo pipeline, vinha sendo implementado, ainda que com outros nomes, desde a criação dos sites de notícias dos jornais e emissoras. Os publishersentenderam com razoável rapidez que as redes digitais populares tinham, do ponto de vista dos negócios, um comportamento parasita, e que não seria possível distribuir a partir delas. Além disso, o orçamento da publicidade mudou de tabela, em desfavor das publicações tradicionais. Isso levou a uma mudança significativa na maneira de oferecer conteúdo.

Quando chegou a Covid-19, no começo de 2020, as variáveis do fazer jornalismo oscilaram violentamente. A partir daí, além da necessidade de levar a audiência à condição de assinante, houve um chamado à resiliência das coisas próprias da reportagem. Máximas ao estilo “lugar de repórter é na rua”, que vinham perdendo força, tombam completamente. O desafio é manter o negócio, entregar uma cobertura com periodicidade, continuidade e plástica coerentes com os padrões da emissora, com praticamente tudo feito no home officedos jornalistas.

Em entrevista ao Orbis Media Review, a diretora de redação do grupo RPC, do Paraná, Luciana Marangoni, diz que “certamente é a cobertura mais desafiadora do jornalismo desde a invenção da televisão”. A rica discussão dos editores com repórteres em meio às baias da firma já não acontece. Aliás,as instalações estão isoladas e as equipes, divididas por cores, com contato físico restrito ao essencial do essencial, com trocas de turno marcadas pela assepsia de superfícies e equipamentos.

Redação familiar

Na vida digital, são estabelecidos contratos de convivência de muitas pontas ou, mais recentemente, discutem-se “campos de convivência”. A ideia passa pela permeabilidade das relações. “Já contamos histórias muito sensíveis, como a queda de um prédio em Guaratuba, ou os desmoronamentos e enchentes em Antonina e Morretes. Mas a Covid-19 tem a ver com nossas famílias, com riscos para a saúde de todos”, anota Luciana. Antes, o ofício de jornalista  bem que poderia ficar da porta do lar para fora, mas agora não.

A editora-chefe do jornal e do portal Bem Paraná, Josianne Ritz, sente falta do fuzuê da redação. “Estou bem adaptada. O que era ruim no começo não é mais. Eu me sinto segura. E, assim, não montei espaço especial, para manter o clima de fuzuê. Fico na sala, com todos”.

Nos veículos editados por Josianne, a produção aumentou desde as medidas de isolamento, resultado que também é consequência, para ela, do tempo de casa dos profissionais. “Eu temia que a parte do fechamento do impresso, por causa da diagramação, poderia complicar [pelo trabalho on-line]. Mas estamos fechando até mais cedo. O entrosamento é meio atípico, porque trabalhamos há muito tempo juntos. A maioria [está] há mais de 20 anos”, registra.

Questões da vida não deixaram de existir

O G1 Paraná foi a primeira extensão do portal da TV Globo em uma afiliada. Em fevereiro, fez aniversário de dez anos, com a marca de mais de um bilhão de pageviews. A editora-executiva Bibiana Dionísio, que está lá desde o primeiro dia de operação, organizou um escritório na sala de casa. “Entendi que a vida continua, que é preciso cuidar da alimentação, dos exercícios, da cabeça. Esta é a realidade do mundo agora, e o que eu posso fazer? Cuidar da minha família, trabalhar, claro, mas eu me matriculei em um curso de comunicação e marketing da USP, para aprender coisas novas”.

Segundo Bibiana, a necessidade por notícias cresceu por ocasião da praga, mas também porque o G1 ganhou relevância e protagonismo. “Todos os dias fazemos o exercício de eleger prioridades. Tal notícia é melhor que a outra? Quando decidimos por temas que fogem da tragédia, temos boa resposta da audiência. É um jeito de colaborar com outros aspectos da vida as pessoas”.

Quando a pandemia começou, a bebê de Bibiana, Luísa, tinha um ano e três meses. “A força vem de maneira esparsa. Tem semanas em que é possível imprimir um ritmo satisfatório, que as coisas andam mais leves. Mas há também momentos de esgotamento físico e emocional”. Luísa requer uma lista de acompanhamentos especializados, como fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia, “e isso é vivido junto com o trabalho, com as questões da família, da vida, que não deixaram de existir”.

Em um ano de medidas extremas, não houve um contágio sequer a partir da sede da RPC.

Longe de ser simples ou fácil, a resiliência no exercício do jornalismo durante a pandemia tornou-se uma forma de sobrevivência.

Burraldos no ar e o risco de grave acidente no jornalismo

Autor alerta sobre banalização e emocionalismo excessivo no jornalismo diário, risco que pode enfraquecer a profissão.

Tempo previsto
11/4/2025

Quando fui jovem, ouvi falar de gerentes que chutavam portas, gritavam com subordinados, levavam emoção e personalidade demais para o trabalho. Não fui gerenciado por ninguém assim. E torço (e me preparo) para não ser esse cara horrível, embora às vezes aconteça na forma de sarcasmo, de ridículo.

Acredite, porém, que quando estou sendo ridículo não deixo nenhuma dúvida, contorno o ridículo bem contornadinho, com pouca ou nenhuma chance de ruído. É o caso, neste post. Confirmo a ideia do psicanalista Wilfred Bion: a risada tem um poder corrosivo (no excelente sentido de enfraquecer as ferrugens de preconceito e ódio, por exemplo).

No papel de jornalista, encaro inúmeros dilemas morais e éticos, o que não me abala. Fui treinando para isso na universidade, no trabalho, no desenvolvimento profissional que jamais parou. Uma notícia precisa ser realmente muito ruim para me deixar fora de prumo. Quando é o caso, tendo a resolver na terapia individual. Faço perguntas a mim mesmo, tais como "como isso é importante para mim?" (e evito o "por que é importante para mim", na ideia de melhorar a qualidade da investigação). Essas são minhas credenciais de repórter e documentarista.

Agora, voltemos ao ridículo. Há alguns anos, lembro de uma repórter da televisão ofegantemente fazer uma "entrada ao vivo" para contar do horror que tinha vivenciado na rua. Ela tinha visto um homem descer do carro para ameaçar outro com uma barra de ferro. Não sei em que mundo a repórter vivia para se estarrecer com "mais um dia de trabalho".

No jornal matinal desta manhã, e veja que agora estou fazendo um exercício para não ser esnobe, para não perseguir, para não, sei lá, chutar cachorro morto?, em um jornal desta manhã o apresentador parou o noticiário para dizer que as notícias eram muito ruins, que era muito difícil viver em um mundo tão cruel, e que eles (a pior parte é esta: ele estava falando em nome da marca, em nome de uma equipa inteira que madruga) estavam fazendo o trabalho incrível de aliviar o peso daquelas notícias terríveis. Eram informações sobre acidentes de carro.

Aproveito esta oportunidade de texto para perguntar: o que define um "grave" acidente? É um acidente com morte? É um acidente com mais de um ferido? É um acidente que congestiona o trânsito por x tempo, por y distância? Se todo acidente é "grave", nenhum é grave.

É brincadeira!

Repórter, neste teu dia te lembro que aqui tá tudo mato

No Dia do Repórter, reflexão crítica alerta sobre empobrecimento da linguagem e desafios futuros da profissão.

Tempo previsto
11/4/2025

O post do jornalista Fernando Rodrigues é um belo de um refluxo no Dia do Repórter. Daqui para frente, integra meu cânone sagrado da profissão, tal qual uma carta paulina que tem lá suas dissonâncias.

O jornalismo, ainda que não se valha da Teoria Crítica, a partir da qual se pode nomear inúmeros fenômenos e comportamentos, ou de qualquer outra teoria, tem nele um olhar para o mundo que faz perguntas objetivas, dentre as quais “por que existimos?”.

O repórter do futuro, ao contrário do pornográfico (HAN, 2017), terá de, antes de discussões muito elaboradas, voltar-se para o vocabulário. É como se os icônicos vícios “veranistas” ou “foliões” tivessem saído do controle.

O acesso a produtos culturais modestos, como os oferecidos por influenciadores digitais, ou mesmo programas bem produzidos de televisão com hipérboles que não terminam jamais, ou as paupérrimas rimas sertanejas sobre um amor obstinado quando não violento, deve integrar o repertório. Mas, quando esses elementos são os únicos óculos para se ver o mundo, não há boa comunicação, que dirá jornalismo.

Quando U2 lançou o álbum “No Line On The Horizon“, comentei com uma amiga compositora que o tinha considerado triste, mais triste que o anterior, lá em 2008. A resposta dela me marcou: “não estamos melhorando”. "O dia da criação", de Vinicius de Moraes:

Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade

Nosso ofício requer de nós mais profundidade, e não menos. Requer mais empatia verdadeira, não uma fala superficial sobre um assunto que eu até nem concordo tanto mas te entendo (na verdade não entende nada).

Suicídio de idosos, superação do luto, depressão infantil, pornografia como doença, violência bancária são alguns dos temas que vão estar no agenda-setting, amanhã. E não devem ser tratados com trocadilhos bobos.

Mais assim: “Agora que sou um homem completo, estou cheio de vazios”.

Força, repórteres. Aqui continua tudo mato.

Objetividade marca redação do ‘Bem Paraná’, no teletrabalho

Editora-chefe do Bem Paraná relata eficácia da equipe com teletrabalho e crescimento da demanda por pautas de saúde.

Tempo previsto
11/4/2025

Ao ensinar que “lugar de repórter é na rua“, a professora de comunicação social Nadia Fontana abriu a primeira aula do curso de jornalismo da PUCPR, no segundo semestre de 2005. Os alunos que foram trabalhar em redações, especialmente as de rádio, logo perceberam que ela tinha razão. Não raro, as pautas estavam no caminho, não anotadas anteriormente.

Um dos prazeres da prática jornalística é, entretanto, a volta para a emissora. É quando se pode contar, da maneira mais simples e genuína, a experiência de campo. As percepções dos colegas contribuem para a escolha do que é principal.

A pandemia de Covid-19 mudou um pouco as coisas também para jornalistas, uma vez que alguns atuam de casa.

A editora-chefe do jornal Bem Paraná para as versões impressa e digital, Josianne Ritz, concedeu entrevista ao Lab Jornalismo 2030.

Vinícius Sgarbe: Quero entrevistar um jornalista em home que não esteja deprimido. Conhece algum (risos)?

Josianne Ritz: Olha, eu sinto falta do fuzuê. Mas tô bem adaptada. O que era ruim no começo não é mais. Eu me sinto segura. E, assim, não montei espaço especial, para manter o clima de fuzuê. Fico na sala, com todos.

Vinícius: Além dos assuntos da pandemia, tem algum tipo de pauta que você nota que entra agora e que não entrava antes?

Josianne: Acho que, de modo geral, a demanda de reportagens de saúde cresceram. Mas tudo meio acaba em pandemia, tipo dicas de home office, volta às aulas.

Vinícius: Alguma coisa mudou na sua relação com os repórteres?

Josianne: Transferimos o contato para online. Eu diria que o engajamento e produção aumentaram no home office. Não sei bem o porquê. Geralmente combinamos tudo on-line. Só em alguns casos mais complicados chego a ligar. Eu temia que a parte de fechamento do impresso, por causa da diagramação, poderia complicar. Mas estamos fechando até mais cedo. O entrosamento é meio atípico, porque trabalhamos há muito tempo juntos. A maioria há mais de 20 anos. O Rodolfo Kowalski, mais jovem, está há oito anos, entre estágio e reportagem. Isso facilita muito. Temos objetividade, entrosamento total.

Jornalismo pode falar de assuntos difíceis como a dor

Programa de rádio em Curitiba mostra que jornalismo pode abordar temas delicados como luto e depressão com leveza.

Tempo previsto
11/4/2025

No próximo dia 29, encerro um ciclo no papel de âncora de radiojornal. A convite do criador do “Saúde e bem estar” da Rádio Cidade 670 AM de Curitiba, João Arruda, marquei ponto no ar, de segunda a sexta-feira, das 10h ao meio-dia.

A experiência na rádio AM é linda, porque os ouvintes participam com mensagens de áudio enviadas pelo telefone, quando não entram ao vivo. Gostei de recebê-los com o simples “alô, quem fala?”.

Levamos ao estúdio, em parceria com o Conselho Regional de Psicologia do Paraná, profissionais para falar de luto e depressão. Mas se a ideia do programa é ser leve, como não aborrecer a audiência com temas que parecem cortar a polpa dos dedos com papel? Nossa resposta é: ir direto ao ponto, como a vida costuma ir.

Quando a conversa foi sobre perdas — que são várias, e em diferentes profundidades de dano — , Dayane Bubalo estava no estúdio. Dayane Bubalo, ativista da causa da pessoa com deficiência:

Fiquei cega em 40 minutos.

Uma semana antes, o oftalmologista do Hospital IPO Luiz Eduardo de Aguiar Marques havia expressado a preocupação dele com o silêncio da retinopatia diabética, a doença que cegou Dayane.

Misael perdeu um filho

Enquanto a psicóloga Mari Mansur falava sobre as etapas do luto, ligou o ouvinte “Misael” (entre aspas pela incerteza da grafia). Misael, ouvinte da Rádio Cidade.

Há um ano, perdi um filho. Nunca falei desse assunto em público, em redes sociais, nada, mas quis contar para vocês. Eu também perdi dois amigos para a Covid-19. Usem máscaras.

Com coragem para o simples

No programa sobre depressão, perguntei ao psicólogo Flávio Voight Komonski bem assim: “afinal de contas, o que acontece quando a gente vai à terapia, como que é?”.

Ele respondeu de maneira tão amigável que recebemos uma mensagem de voz que agradecia pelas palavras, “porque terapia não é só para quem está louco, não!”. Claro que colocamos no ar.

E não ficamos nisso. Deu tempo para discutir o que são abordagens em psicoterapia.

Notícia origina pesquisa sobre Louceiras do Maruanum

Reportagem inspira pesquisa acadêmica que valoriza tradição ceramista das mulheres quilombolas no Amapá.

Tempo previsto
11/4/2025

A notícia é uma forma incrível de popularizar assuntos, de simplificar o complexo, de expor temáticas variadas através de textos, imagens e sons. Essa é a magia do jornalismo, chegar onde não conseguimos e ecoar os acontecimentos.

Como uma ciência social, o jornalismo tem uma função social de popularizar as informações, e, assim, despertar a curiosidade nos receptores, ouvintes, telespectadores.

Isso aconteceu comigo, quando ainda não conhecia as Louceiras do Maruanum. Foi em uma reportagem que o click da curiosidade foi acionado. Lembro muito bem quando pela primeira vez ouvi falar sobre as Louceiras do Maruanum, logo decidi que precisava conhecê-las, e fui pesquisar.

Com o conhecimento teórico e visita de campo em 2011 estava decidido: iria pesquisar sobre o patrimônio cultural das Louceiras do Maruanum. Eu tinha acabado de ingressar no mestrado com uma proposta de pesquisa sobre a tradição do barro no Maruanum.

De uma reportagem surgiu a minha temática de pesquisa que por dois anos seria o centro, o objetivo a ser conquistado, com o foco no princípio da equidade intergeracional.

As louceiras do Maruanum são mulheres quilombolas, amazônidas e ceramistas que residem no Distrito do Maruanum pertencente ao município de Macapá no Estado do Amapá.

Elas receberam das gerações passadas a tradição do criar-saber-fazer das louças de barro, da cerâmica do Maruanum. Todas as etapas do fazer das louças de barro são realizadas de acordo com os ensinamentos intergeracionais baseados em rituais, crenças e com o profundo respeito à natureza.

Tese sobre Louceiras do Maruanum

Passado o mestrado, o desafio seria outro: o doutorado. A pesquisa sobre as Louceiras do Maruanum continuava por mais quatro anos. Como pesquisadora, desde esse tempo busco dar visibilidade ao patrimônio cultural das Louceiras do Maruanum.

Foi na tese doutoral que propus estratégias educacionais para a conservação da tradição ceramista do Maruanum. Desse modo, essa pesquisa científica teve um papel fundamental ao oferecer alternativas à resolução de uma problemática das comunidades detentoras desse patrimônio cultural.

Volto à defesa de que o jornalismo tem uma função social na divulgação da pesquisa em patrimônio cultural. Tanto que busco oportunidades na imprensa para que as Louceiras do Maruanum falem sobre a tradição ceramista, para que eu fale sobre a pesquisa e para que haja a reverberação do conhecimento ancestral matriarcal que é a louça do Maruanum. Pois, não basta pesquisar e defender a tese. A pesquisa científica assim como o jornalismo também tem uma função social com as comunidades envolvidas.

O que o rádio ensina sobre ganhar público

Lições do rádio mostram que periodicidade, repetição e qualidade estética são essenciais para conquistar audiência.

Tempo previsto
11/4/2025

Projetos de comunicação nascem da necessidade de contar alguma coisa a alguém, por isso se procura “como ganhar público”. Então, os tipos de publicação são vários. Nesse sentido, elas podem ser para um público restrito, no caso de um house organ, que é um “jornal da empresa”, para um nicho de assinantes, ou de broadcast, quando se vai às redes, rádio e televisão.

Contadores de piadas são invariavelmente bons comunicadores. Por isso, gosto de ficar em volta deles nos encontros de família. Quando eles floreiam o simples, capturam minha atenção. As melhores que ouvi são inverossímeis. “Uma freira estava na estrada segurando uma cesta de pintos…”

Por outro lado, ser bom com anedotas não significa ter sucesso perene em projetos pessoais ou empresariais de comunicação. Perfis famosos no YouTube e no Instagram tendem a ter prazo de validade quando não se profissionalizam.

Primeiramente, projetos de marcas, plataformas, ou políticos são de comunicação.

Além disso, as aulas de rádio da faculdade de jornalismo apresentam três aspectos fundamentais para a construção de público. Vamos emprestar a ideia do rádio, porque ela serve amplamente.

Como ganhar público

Em outras palavras, um projeto de comunicação precisa de oportunidade para aparecer.

Repetição

Vejo natimortos com frequência. São do tipo “vou postar a partir de hoje dicas de direito ambiental”, e o próximo post não existe. Um projeto marcante tem de dar as caras repetidamente.

Periodicidade

E não somente dar as caras repetidamente, tem de ter um intervalo razoável entre as publicações. Em outras palavras, uma newsletter enviada quinzenalmente tem mais chance de sucesso que uma enviada unicamente pela vontade do remetente.

Cada vez que se mantém a publicação viva, com periodicidade sagrada, é depositado um tantinho de confiança do público naquele projeto. Como ganhar público? De grão em grão…

Plástica

O professor de fotojornalismo André Zielonka brinca que “dominar a profundidade de campo é o que diferencia fotógrafos de mortais”. Estou com ele na ideia de que dominar a plástica faz diferença marcante entre projetinhos e projetos. Herbert Vianna:

Eu me vali deste discurso panfletário / Mas a minha burrice faz aniversário

Por fim, a roupa, a fala, a qualidade da câmera, do microfone, o cenário. Essas variáveis têm de ser controladas para um resultado satisfatório.

Automatização da notícia: o que os robôs fazem melhor

Automatização jornalística amplia eficiência, mas humanização e análises profundas continuam indispensáveis.

Tempo previsto
11/4/2025

Em 2009, sob o título “Eweb: jornalismo digital padronizado“, quatro estudantes de comunicação social da PUCPR (eu era um deles) fizeram uma série de vídeos para a internet, como projeto de conclusão de curso.

Na produção, a técnica de cinema é uma tragédia universitária com requintes de cópia pirata do 3D Max instalada em um computador de leitura.

É preciso menos de um minuto do primeiro vídeo para que “foco no usuário” apareça em destaque. À época de telefones BlackBerry serem a única rede criptografada, e de jornalistas e publicitários colonizarem no Twitter, chegar a tal conclusão pelo suporte de uma graduação em comunicação é no mínimo muito bom.

Hoje, o marketing digital e o modelo de plataformas de negócios sugerem que jornalistas continuem a fazer o que sempre fizeram eticamente e com inteligência.

Eu não vejo as pessoas procurando a internet para análises mais profundas, para algo que as faça refletir. O texto na internet vai saciar para aquela informação que atualize e que possa ser passada adiante.

Michelle Thomé, em entrevista ao Eweb, em 2009.

Michelle Thomé previa, com palavras próprias, os primeiros ensaios da pós-verdade e da política quântica. Ambas são, bem grosseiramente, quando opiniões e fatos têm o mesmo peso. É o “importa que eu me expresse”.

Lead americano

Mas algo tinha ficado de igual. O jornalista Luiz Oliveira cuidava da parte digital do jornal Gazeta do Povo, e, para ele, o texto na internet mantinha o formato criado pelos americanos.

O lead, amplamente apreciado pelas características de encadeamento das informações e otimização do tempo de leitura, responde às perguntas básicas:

o quê,
quem,
como,
quando,
onde, e
por quê
(como uma ou outra variação).

No ano seguinte à publicação de Eweb, Sharon Jeanine Abdalla pesquisou para a Universidade Federal do Paraná “Lead e pirâmide invertida: a influência do modelo americano sobre o jornalismo paranaense“. Ela entrevistou o jornalista Aroldo Murá G. Haygert.

Não adianta ter lead e essas técnicas direitinhas se o jornal for uma porcaria. (…) O jornal hierarquizava os títulos, eles tinham número de batidas, o que era muito difícil, na época. Quando você trabalha com tipografia é complicado, com o computador, hoje, é mais fácil fazer isso.

Jornalista Aroldo Murá G. Haygert.

Robôs podem escrever

Há mais de dez anos, Eweb discutia a tendência de automação do jornalismo, a partir do lead. Escritos e aprimorados os parâmetros, dados de realidade poderiam ser atualizados automaticamente, quer por motores de busca, quer por APIs (que são um tipo de conexão entre bancos de dados).

Um exemplo. A polícia rodoviária forneceria em tempo real o número de acidentes, multas, prisões no trânsito, etc. Os sites de notícias reproduziriam, por painéis temáticos, matérias, notificações, o que fosse, conteúdo que dispensa o trabalho intelectual. Robôs escreveriam:

“Duas pessoas foram presas por digirir sem carteira de habilitação, durante feriadão”;

“Fila na BR-277 tem fila de 2 km no sentido litoral, a partir do Jardim Botânico”;

“Emergência: neblina na entrada da Serra do Mar reduz visibilidade a 5 m”;

Fica para jornalistas

O repórter dispensado do link à beira da BR teria tempo para propor o que as máquinas não fariam de maneira inédita, como reportar sobre as consequências transgeracionais de mortes violentas. As famílias repetem o padrão de morrer na estrada?

Ou coisas rotineiras.

Quanto o governo investe em campanhas educativas?
Quanto tempo duram?
Como é medido o alcance?
Quais pesquisas são utilizadas para a criação?
O contribuinte pisa fundo por pagar pedágio?
Quem é multado por alta velocidade gosta de dirigir?
Quando as telefônicas vão instalar internet até a praia?

Copiados por franceses 😏

A trilha sonora utilizada em Eweb é do álbum “Deep Cuts“, lançado em 2003, dos irmãos suecos de “The Knife“. Em 2020, a televisão estatal francesa Franceinfo utilizou uma das músicas desse álbum para a chamada de um programa.

Para desistir do jornalismo é preciso mudar as concessões

Apesar das mudanças tecnológicas, futuro do jornalismo depende do papel público e ético das concessões de mídia.

Tempo previsto
11/4/2025

Não levo a internet a sério, agora. Antes, o espaço público de comunicação era mediado pela ética ou pela falta dela. Era o modelo “feixe” de emissoras. Para toda sorte, tinha um jornalista experiente que calculava o impacto da notícia para a empresa e para o repórter.

Ocorrem-me duas perspectivas. Na primeira, a inteligência artificial pode fazer coleta, tratamento e apresentação de dados. A figura do apresentador do tempo pode ser superada por apps, tanto quanto a redação de notas. Um robô bem ensinado escreve bem a partir de releases.

Depois, que o funeral do jornalismo terá de esperar uma mudança na legislação. Pelo IBGE, 87,9% dos lares brasileiros tem rádio, e 93% televisão. Apesar da receita de publicidade ter diminuído significativamente, uma TV brasileira lidera o mercado, à frente de Facebook e Google.

Obrigações no texto

É comum do patrão de comunicação social apregoar o terríveis os tempos de agora, desde o dia um do negócio. Ora, se a produção de noticiário profissional em 2021 é contemptível, tratemos de reorganizar as concessões. Pau que bate em Chico.

No Decreto de 1983, do último presidente da ditadura, João Figueiredo (o que preferia cheiro de cavalos a cheiro do povo): “não transmitir programas que atentem contra o sentimento público, expondo pessoas a situações que, de alguma forma, redundem em constrangimento”.

“Nem o papa, Maria da Graça, nem os santos, ninguém pode no mundo responder sem pestanejar à pergunta”: os jornalistas são mais capazes que publicitários e analistas de dados para limpar a sujeira das bolhas?

Afetividade: o diferencial do repórter da década de 2030

Afetividade e equilíbrio emocional são essenciais para distinguir jornalistas diante dos avanços tecnológicos.

Tempo previsto
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Ainda nos anos 2010, o jornalista parnanguara Luiz Geraldo Mazza comentou em uma emissora de rádio, em Curitiba: “tem é pouca informação, precisa de mais”. Inteligente e descolado, ele faz noticiário desde os anos 50 – e está em pé feito uma araucária. Na ocasião, ele se referia a um tipo de reportagem que era substituível. Isto é, como uma descrição de repórter poderia ser melhor do que uma transmissão em vídeo, ao vivo?

As pedras do passeio público sabem que as câmeras de monitoramento e aquelas que são acopladas ao celular mudaram nossa maneira de consumir notícias, porque os vídeos dessas câmeras ilustram, recorrentemente, as capas dos sites e o horário nobre da televisão.

Integração tem a ver com relações interpessoais e um senso de abastecimento interior suficiente para atravessar momentos delicados.

Mas, nem tão depressa. Não se trata do fim da atividade como aconteceu com a cobrança pelo tíquete do estacionamento. O repórter desta década é ainda mais necessário do que foi na anterior, já que os sonhos de Mazza se concretizaram. Um dos desafios mais proeminentes é o de permanecer relevante para si mesmo, para os propósitos que o levaram a marcar na inscrição do vestibular: “Jornalismo”.

Um repórter multimídia não é necessariamente um repórter integrado. Uma redação multimídia não é sinônimo absoluto de redação integrada. Multimídia é gravar para o vídeo, escrever para o blog, fotografar com alguma qualidade. Integração tem a ver com relações interpessoais e um senso de abastecimento interior suficiente para atravessar momentos delicados.

Os três estados do ego

Nas primeiras páginas do livro “O que você diz depois de dizer olá?”, o psiquiatra Eric Berne apresenta três tipos do que chamou “estados do ego”. A gente tende a lembrar de teorias análogas, em busca de paralelos. Por outro lado, eu te convido, leitor, a ficar no “aqui e agora”, como uma maneira de colocar em prática o que a análise transacional (nome da principal teoria de Berne) propõe. Quando nos comunicamos a partir do “estado do ego adulto”, analisamos o ambiente objetivamente (enquanto nos estados “pai” e “criança” a cabeça está em referências passadas).

Longe de precisar de dez páginas de introdução, mais vinte sobre metodologia e trinta que ninguém mais quer ler, a análise transacional oferece uma abordagem para se aplicar imediatamente. É uma simplicidade sofisticada que serve de parâmetro para cada frase pronunciada por um repórter. É quando se pode colocar no espelho a velha prática de “separar o joio do trigo, e publicar o joio”. Ela serve ao ofício como um todo, como filosofia de vida indicada para jornalistas.

No mundo das lives e das redações competitivas, há também a delicada questão da pós-verdade. Chamo de delicada porque, de algum modo, a concepção dessa ideia é embaraçosa. É como se o renomado “jornalismo burguês”, chamado assim pela Escola de Frankfurt, perdesse o rebolado frente à comunicação de “rede”, em vez de “feixe”. E tal rede, como muitos de nós que interagimos sem nenhuma necessidade de um estímulo matriz, como uma manchete, por exemplo, está mais enfocada em como se sente em relação ao que consome do que com o grau de acuidade da apuração.

Onde fica o repórter

A academia de comunicação tem olhado para a questão da afetividade e chama de “troca dupla” a relação entre orientadores e pesquisadores. Mas isso são palavras de artigos, mais ou menos como bandanas no homem invisível. Uma potente e criativa tradição de sucessão sempre houve nas relações de aprendizagem – de um modo mais ou menos útil. Conta-se que no passado, ao estagiário que acabava de chegar à tevê, era pedido que fosse à emissora concorrente pedir uma “régua de colorbar” emprestada. Nunca vi isso acontecer de verdade, mas é um tipo de humilhação que, mesmo imaginada, faz parte do folclore corporativo.

Quando se sai da redação com uma ideia fixa de pauta, não existe relação com a fonte. Existe o risco da ficção, da superficialidade e, por que não, do mau-caratismo.

Com a profissão de jornalista a tiracolo, o indivíduo repórter tem as próprias transações potencializadas. É dele o relacionamento com o cliente do conteúdo patrocinado, com o editor com quem discutirá o que é ou não notícia, com o entrevistado. Neste ponto, leitor, é que a saúde intelectual e emocional do repórter tem a ver com aquele pessoal da rede do parágrafo acima que quer sentir as coisas e não colecioná-las.

Quando se sai da redação com uma ideia fixa de pauta, não existe relação com a fonte. Existe o risco da ficção, da superficialidade e, por que não, do mau-caratismo. Um repórter preparado para as tecnologias emergentes é, primeiro, consciente de si mesmo e da vocação que tem. Depois ele pode mexer no Instagram – e mostrar a diferença que faz um jornalista profissional .

Publicado originalmente em Orbis Media Review.