Adeus, Professor, e um sábio a menos
Referência no jornalismo paranaense, Aroldo Murá deixa legado de inteligência, generosidade e compromisso ético.

Aroldo Murá, um tipo puro sangue do jornalismo, era pontiagudo com as questões da inteligência, sem qualquer paciência para erros de lógica ou de português. Foi implacável nesses pontos, até o último momento. Quando no jornal Indústria & Comércio, desprezava voluntariamente a habilidade jornalística dos novatos, a fim de construir histórias marcantes. Um ponto alto daquela trama foi ter contratado imediatamente um estagiário que escreveu um bom bilhete. O estagiário era Gladimir Nascimento.
Convencionou-se chamar o jornalista de Professor Aroldo Murá. Ele mesmo, não raro, chamava-se de “Professor”. “Não deixe o Professor na mão”, dizia ao encomendar alguma publicação para o blog. Em mais de 60 anos de prática de notícias, junto ao dom de si, era admirado por alunos, colegas de profissão, e guardava em seus editoriais desafetos clássicos e cômicos. O homem soube provocar muitas vezes, e muitas outras se consertou em público.
Aos colaboradores do próprio blog, dos quais se destaca o jornalista André Nunes, um escudeiro e amigo presente, costumava reclamar de absolutamente todos os textos que levavam crítica explícita ou sutil a qualquer figura pública. E postava os textos mesmo assim, sem nenhuma modificação, ainda que aos gritos de “você vai me fazer perder todos os meus anunciantes!”.
No fim dos anos 2010, juntou-se às forças do administrador e ex-secretário do Planejamento do Estado Dr. Belmiro Valverde, do arquiteto Manoel Coelho, da jornalista Michelle Thomé, do fotógrafo Felipe Pinheiro, e outros nomes, e ajudou a erguer o Centro de Educação João Paulo II, em uma região vulnerável de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba. A escola, à época, era uma provocação institucional levada às últimas consequências, com educação de altíssimo nível, e em período integral. O custo por aluno era o mesmo da rede pública, mas com financiamento da filantropia dos Estados Unidos.
Uns anos atrás, ligou para uma lista grande de jornalistas e convidou: “vamos sabatinar Luiz Geraldo Mazza”. Recebeu a todos com uma fartíssima mesa, e naquela tarde as entranhas de Curitiba e do Paraná se abriram. Está tudo gravado em vídeo. Ficou comprovado que a capital é mesmo uma cidade pequena, com vivências muito nobres e muito infames, como convém a qualquer cidade habitada.
Durante a pandemia de Covid-19, por meio do Instituto Ciência e Fé, promoveu uma série de palestras on-line com representantes de diversas crenças religiosas. Teve de tudo, do menos conhecido ou popular, até o Santíssimo Sacramento. O respeito com que Professor tratou cada convidado e cada pergunta é uma lição de ética profissional e de sensibilidade humana.
O jornalismo do Paraná perde um sábio também generoso. Pai de uma infinidade de filhos, despedia-se deles sempre com uma bênção em forma de cruz. Agora, espera-se que, dadas as vantagens da proximidade, peça a Deus ajuda para o Paraná e o Brasil. E que interceda ao Criador pela vida do jornalismo.