A paz exige muitas renúncias e muitas conversas com nacionalistas

Reflexão propõe diálogos necessários, denunciando perigos do nacionalismo exacerbado e buscando caminhos para a paz.

Vinícius Sgarbe
5 min read

Tivemos, pelo menos eu tive muita, esperança de que um milagre nos fosse concedido (haja fé, meu bem!), a saber: viver sem guerra, sem derramamento de sangue. Da parte da história do mundo científico, há um registro especial (para mim) dessa esperança, quando Einstein e Freud trocaram cartas sob o título “Por que a guerra?”. Em linhas gerais e específicas, concluíram, a partir de uma provocação da Liga das Nações (que viria a se tornar a Organização das Nações Unidas – “comunistas malditos!”), que a origem da guerra é o patriotismo.

Quando falo desse assunto, de uma escolha por ser pacifista, encontro resistência da parte de pessoas de diferentes linhas de pensamento. Quer seja um homem simples, quer um esclarecido, é trabalhoso sustentar o argumento de que a paz depende de uma porção numerosa de renúncias pequenas e grandes, e de que hastear uma bandeira de país e chamá-lo de maior que os outros é um risco.

Mais que rapidamente surge o dado de realidade Ucrânia-Rússia, pelo qual se poderia perguntar “mas e se um país invade o seu território?”, e caímos no que chamo “mirar no bispo para acertar o padre”, que é continuar a afirmar: o patriotismo é a origem da guerra. Ou não foram sob alicerces nacionalistas que cometemos erros vergonhosos contra a vida? Alemanha acima de tudo! Judeus abaixo da terra! Quantos milhões de mortos na Europa durante a Segunda Guerra? Em uma conta simples, foram cerca de três bilhões de quilos de carne humana que apodreceram.

Na Ucrânia de hoje, vocês também viram pela televisão corpos sendo jogados em valas comuns? Cheguei a pensar, nessa ocasião, “deve ser imagem de arquivo da Segunda Guerra”.

No Brasil, um “nacionalismo” mais sofisticado, e com a anuência da medicina psiquiátrica, assassinou sessenta mil pessoas em Barbacena (MG). Três milhões de quilos de carne humana que apodreceram. Dos mortos no hospital Colônia, cerca de 70% sequer tinham diagnóstico de doença mental. Morreram porque eram pobres, porque eram rebeldes, porque engravidaram de alguém que não podia decepcionar a própria família conservadora. Os corpos eram vendidos para faculdades de medicina, depois de falecerem sobre feno sujo de urina e fezes humanas.

Mas apesar de todas essas coisas, teremos de conversar todos os dias (inclusive com os nacionalistas).

No início deste texto, eu me referi a uma esperança. Eu tinha em mente o que foi um tipo de fantasia coletiva, provavelmente há um nome apropriado para o ocorrido, mas eu não sei qual, de que o primeiro turno das eleições nos livraria do ultraje que é o palco público brasileiro de 2022.

Aí com seu pessoal, conte-me, tem encontrado deprimidos, ansiosos, pessoas perdendo cabelos? É consequência da pandemia? É consequência da polarização política? O fato é que “as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo / A saudade de seus homens”. Fosse lá o que fosse, ou quem tivesse sido mais ou menos responsável, a gente queria que tivesse terminado. Essa era a nossa esperança sincera.

Ocorre que não foi assim. Nós do jornalismo havemos de conversar diariamente sobre as mudanças substanciais no palco público. Lição básica de filosofia: se uma mudança é substancial, azedou mesmo a marmita para quem esperava reviver a grandiosidade plástica dos noticiários de antigamente. Agora, meu bem, “pega lá” o que vai ser divertido: nós obrigatoriamente vamos superar este momento difícil.

IA e objetivos globais

Leia insights sobre a interação de humanos com modelos de linguagem de IA, e sobre os ODS no Brasil. Lab Educação 2050 Ltda, que mantém este site, é signatária do Pacto Global das Nações Unidas.

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A guerra e o patriotismo extremo trazem miséria e pedem trocas mais compassivas.

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Conversar diariamente sobre mudanças substanciais fortalece a paz e o senso de comunidade.

“AI is not replacing lawyers—it's empowering them. By automating the mundane, enhancing the complex, and democratizing access, AI is paving the way for a legal system that’s faster, fairer, and more future-ready.”

Micheal Sterling
CEO - Founder @ Echo

Improving Access to Justice

The integration of AI into the legal industry is still in its early stages, but the potential is immense. As AI technology continues to evolve. We can expect even more advanced applications, such as:

Law Solutions

Accessible to individuals and small businesses.

Chatbots

Bridging gap by providing affordable solutions.

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Gestores mais velhos em restaurantes são mais avessos ao risco, aponta estudo

Pesquisa da UFSC revela que experiência prolongada influencia gestores a optarem por medidas conservadoras.

Tempo previsto
23/4/2025

Um estudo recente publicado na Revista Turismo, Visão e Ação (RTVA) revelou que gestores mais velhos e com maior tempo de serviço em restaurantes tendem a ser mais avessos ao risco em suas decisões corporativas. A pesquisa, conduzida por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), analisou dados de mais de 2 mil restaurantes na Europa entre 2014 e 2016.

A pesquisa, intitulada "Influência das Características da Equipe de Gestão sobre a Tomada de Decisão de Risco: Evidências do Ramo de Restaurantes", utilizou a base de dados Amadeus e aplicou o método dos mínimos quadrados para analisar a relação entre as características dos gestores – idade, tempo de serviço, gênero e tamanho da equipe – e o nível de alavancagem financeira das empresas, usado como indicador de tomada de risco.

Os resultados mostraram uma correlação negativa significativa entre a idade e o tempo de serviço dos gestores e a propensão ao risco. Gestores mais velhos e aqueles que ocupavam o mesmo cargo há mais tempo demonstraram preferência por decisões mais conservadoras, optando por manter o status quo em vez de adotar estratégias inovadoras ou arriscadas.

Contrariando algumas expectativas, o estudo não encontrou relação significativa entre o tamanho da equipe de gestão ou a participação feminina e a tomada de risco. Embora pesquisas anteriores tenham sugerido uma possível influência desses fatores, os dados analisados não confirmaram essa hipótese no contexto específico da indústria de restaurantes.

Os autores sugerem que a aversão ao risco demonstrada por gestores mais experientes pode estar relacionada à priorização da estabilidade e da reputação construída ao longo da carreira. A familiaridade com o setor e a preocupação em preservar os ganhos obtidos podem levá-los a evitar decisões que representem potenciais ameaças ao negócio.

Implicações para o setor

As descobertas do estudo têm implicações importantes para a gestão de restaurantes. A pesquisa sugere que a composição da equipe gestora pode influenciar diretamente a estratégia e o desempenho das empresas. Restaurantes com gestores mais jovens podem estar mais dispostos a inovar e assumir riscos, enquanto aqueles liderados por gestores mais experientes podem priorizar a estabilidade e a segurança financeira.

Próximos passos

Os pesquisadores destacam a necessidade de estudos adicionais para aprofundar a compreensão da relação entre as características dos gestores e a tomada de decisão em restaurantes. A investigação de fatores psicológicos, como a tolerância ao risco individual, e a análise de dados de um período mais amplo poderiam enriquecer a discussão e fornecer insights mais precisos para o setor.

Suítes no jornalismo se relacionam com queda da confiança

Ausência de atualizações e de contexto em notícias contínuas afeta credibilidade e confiança dos leitores.

Tempo previsto
11/4/2025

Uma suíte jornalística é a continuidade de uma notícia em novas matérias que atualizam as anteriores. Algo como "Duas pessoas ficaram feridas em um acidente"; depois, "Homens que ficaram feridos em acidente fazem cirurgia"; ainda, "Homens que se feriram em acidente recebem alta"; e, ainda, "Empresa responsável por acidente com feridos é multada". Todas essas manchetes fantasiosas têm a ver com um mesmo fato originário.

Não é todo tipo de notícia que merece uma continuidade. Alguns acontecimentos e realizações têm fôlego para uma única aparição. Seja como for, para estar uma ou várias vezes no jornal, a "coisa" tem de ser verdadeiramente uma notícia, o que, basicamente, significa que não é publicidade ou propaganda – mas isso é assunto para outra oportunidade.

Em termos de formato, uma suíte não é nada diferente de uma notícia nova. Até porque só se tem uma continuação quando um novo fato é revelado. Mas é no estilo, pelo que notei, que a marmita das suítes azedou – no sentido de por que perderam o fôlego nos últimos anos.

Vamos tomar por exemplo uma investigação policial. O jornalismo de boa e de má qualidade têm interesse em pautas criminais. Porém, nos dois tipos de qualidade fica um sabor de vício, quem sabe originário do prazer de se "furar" (quando um jornalista é o primeiro em noticiar algo). É uma pressa que mais atrapalha que ajuda: não raro, são apresentadas versões que colaboram com uma história que se quer contar, que pode não ter nada a ver com o que aconteceu de verdade.

Contar toda a história

No caso de Homem armado ameaça jovem negro em SP, e policial se recusa a agir por estar 'de folga'; veja vídeo, por exemplo. É uma história que rapidamente conquistou a atenção dos jornalistas e do público, porque um vídeo comprova não somente a omissão de uma policial como também a agressão dela contra um jovem. Aqui, não está em discussão se a policial acertou ou errou. Ao mesmo tempo, faltou, pela ausência de suítes, a ampliação do contexto do vídeo de três minutos.

Uma história contada por sua característica intrigante pode render minutos de audiência, e um aumento de visitantes no site. Porém, sem continuidade, é um tiro no pé. Em 2023, o Digital News Report do Reuters Institute identificou que a confiança dos brasileiros no jornalismo é de 43%, uma diminuição de 19 pontos percentuais desde 2015. Estatisticamente, a tendência de queda pode marcar 41% em 2024. Nesse cenário, todos os recursos de inteligência e de integridade são bem-vindos para melhorar esses números.

As suítes são uma oportunidade para garantir ao público que as escolhas de pauta representam, ainda que contramajoritariamente, o compromisso do veículo com uma história contada do começo ao fim, com todas as nuances. Para isso, a linha editorial como um todo, e mais ainda os repórteres e editores, têm de encarar a atividade investigativa com o desprendimento de contar as coisas como elas são, e não como deveriam ser.