Pesquisa da UFSC revela que experiência prolongada influencia gestores a optarem por medidas conservadoras.
Afetividade e equilíbrio emocional são essenciais para distinguir jornalistas diante dos avanços tecnológicos.
Ainda nos anos 2010, o jornalista parnanguara Luiz Geraldo Mazza comentou em uma emissora de rádio, em Curitiba: “tem é pouca informação, precisa de mais”. Inteligente e descolado, ele faz noticiário desde os anos 50 – e está em pé feito uma araucária. Na ocasião, ele se referia a um tipo de reportagem que era substituível. Isto é, como uma descrição de repórter poderia ser melhor do que uma transmissão em vídeo, ao vivo?
As pedras do passeio público sabem que as câmeras de monitoramento e aquelas que são acopladas ao celular mudaram nossa maneira de consumir notícias, porque os vídeos dessas câmeras ilustram, recorrentemente, as capas dos sites e o horário nobre da televisão.
Integração tem a ver com relações interpessoais e um senso de abastecimento interior suficiente para atravessar momentos delicados.
Mas, nem tão depressa. Não se trata do fim da atividade como aconteceu com a cobrança pelo tíquete do estacionamento. O repórter desta década é ainda mais necessário do que foi na anterior, já que os sonhos de Mazza se concretizaram. Um dos desafios mais proeminentes é o de permanecer relevante para si mesmo, para os propósitos que o levaram a marcar na inscrição do vestibular: “Jornalismo”.
Um repórter multimídia não é necessariamente um repórter integrado. Uma redação multimídia não é sinônimo absoluto de redação integrada. Multimídia é gravar para o vídeo, escrever para o blog, fotografar com alguma qualidade. Integração tem a ver com relações interpessoais e um senso de abastecimento interior suficiente para atravessar momentos delicados.
Nas primeiras páginas do livro “O que você diz depois de dizer olá?”, o psiquiatra Eric Berne apresenta três tipos do que chamou “estados do ego”. A gente tende a lembrar de teorias análogas, em busca de paralelos. Por outro lado, eu te convido, leitor, a ficar no “aqui e agora”, como uma maneira de colocar em prática o que a análise transacional (nome da principal teoria de Berne) propõe. Quando nos comunicamos a partir do “estado do ego adulto”, analisamos o ambiente objetivamente (enquanto nos estados “pai” e “criança” a cabeça está em referências passadas).
Longe de precisar de dez páginas de introdução, mais vinte sobre metodologia e trinta que ninguém mais quer ler, a análise transacional oferece uma abordagem para se aplicar imediatamente. É uma simplicidade sofisticada que serve de parâmetro para cada frase pronunciada por um repórter. É quando se pode colocar no espelho a velha prática de “separar o joio do trigo, e publicar o joio”. Ela serve ao ofício como um todo, como filosofia de vida indicada para jornalistas.
No mundo das lives e das redações competitivas, há também a delicada questão da pós-verdade. Chamo de delicada porque, de algum modo, a concepção dessa ideia é embaraçosa. É como se o renomado “jornalismo burguês”, chamado assim pela Escola de Frankfurt, perdesse o rebolado frente à comunicação de “rede”, em vez de “feixe”. E tal rede, como muitos de nós que interagimos sem nenhuma necessidade de um estímulo matriz, como uma manchete, por exemplo, está mais enfocada em como se sente em relação ao que consome do que com o grau de acuidade da apuração.
A academia de comunicação tem olhado para a questão da afetividade e chama de “troca dupla” a relação entre orientadores e pesquisadores. Mas isso são palavras de artigos, mais ou menos como bandanas no homem invisível. Uma potente e criativa tradição de sucessão sempre houve nas relações de aprendizagem – de um modo mais ou menos útil. Conta-se que no passado, ao estagiário que acabava de chegar à tevê, era pedido que fosse à emissora concorrente pedir uma “régua de colorbar” emprestada. Nunca vi isso acontecer de verdade, mas é um tipo de humilhação que, mesmo imaginada, faz parte do folclore corporativo.
Quando se sai da redação com uma ideia fixa de pauta, não existe relação com a fonte. Existe o risco da ficção, da superficialidade e, por que não, do mau-caratismo.
Com a profissão de jornalista a tiracolo, o indivíduo repórter tem as próprias transações potencializadas. É dele o relacionamento com o cliente do conteúdo patrocinado, com o editor com quem discutirá o que é ou não notícia, com o entrevistado. Neste ponto, leitor, é que a saúde intelectual e emocional do repórter tem a ver com aquele pessoal da rede do parágrafo acima que quer sentir as coisas e não colecioná-las.
Quando se sai da redação com uma ideia fixa de pauta, não existe relação com a fonte. Existe o risco da ficção, da superficialidade e, por que não, do mau-caratismo. Um repórter preparado para as tecnologias emergentes é, primeiro, consciente de si mesmo e da vocação que tem. Depois ele pode mexer no Instagram – e mostrar a diferença que faz um jornalista profissional .
Publicado originalmente em Orbis Media Review.
Leia insights sobre a interação de humanos com modelos de linguagem de IA, e sobre os ODS no Brasil. Lab Educação 2050 Ltda, que mantém este site, é signatária do Pacto Global das Nações Unidas.
O jornalista evolui com audiovisual e rede, mantendo a essência humana.
Informação confiável fortalece instituições e promove sociedades pacíficas.
Pesquisa da UFSC revela que experiência prolongada influencia gestores a optarem por medidas conservadoras.
Um estudo recente publicado na Revista Turismo, Visão e Ação (RTVA) revelou que gestores mais velhos e com maior tempo de serviço em restaurantes tendem a ser mais avessos ao risco em suas decisões corporativas. A pesquisa, conduzida por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), analisou dados de mais de 2 mil restaurantes na Europa entre 2014 e 2016.
A pesquisa, intitulada "Influência das Características da Equipe de Gestão sobre a Tomada de Decisão de Risco: Evidências do Ramo de Restaurantes", utilizou a base de dados Amadeus e aplicou o método dos mínimos quadrados para analisar a relação entre as características dos gestores – idade, tempo de serviço, gênero e tamanho da equipe – e o nível de alavancagem financeira das empresas, usado como indicador de tomada de risco.
Os resultados mostraram uma correlação negativa significativa entre a idade e o tempo de serviço dos gestores e a propensão ao risco. Gestores mais velhos e aqueles que ocupavam o mesmo cargo há mais tempo demonstraram preferência por decisões mais conservadoras, optando por manter o status quo em vez de adotar estratégias inovadoras ou arriscadas.
Contrariando algumas expectativas, o estudo não encontrou relação significativa entre o tamanho da equipe de gestão ou a participação feminina e a tomada de risco. Embora pesquisas anteriores tenham sugerido uma possível influência desses fatores, os dados analisados não confirmaram essa hipótese no contexto específico da indústria de restaurantes.
Os autores sugerem que a aversão ao risco demonstrada por gestores mais experientes pode estar relacionada à priorização da estabilidade e da reputação construída ao longo da carreira. A familiaridade com o setor e a preocupação em preservar os ganhos obtidos podem levá-los a evitar decisões que representem potenciais ameaças ao negócio.
As descobertas do estudo têm implicações importantes para a gestão de restaurantes. A pesquisa sugere que a composição da equipe gestora pode influenciar diretamente a estratégia e o desempenho das empresas. Restaurantes com gestores mais jovens podem estar mais dispostos a inovar e assumir riscos, enquanto aqueles liderados por gestores mais experientes podem priorizar a estabilidade e a segurança financeira.
Os pesquisadores destacam a necessidade de estudos adicionais para aprofundar a compreensão da relação entre as características dos gestores e a tomada de decisão em restaurantes. A investigação de fatores psicológicos, como a tolerância ao risco individual, e a análise de dados de um período mais amplo poderiam enriquecer a discussão e fornecer insights mais precisos para o setor.
Ausência de atualizações e de contexto em notícias contínuas afeta credibilidade e confiança dos leitores.
Uma suíte jornalística é a continuidade de uma notícia em novas matérias que atualizam as anteriores. Algo como "Duas pessoas ficaram feridas em um acidente"; depois, "Homens que ficaram feridos em acidente fazem cirurgia"; ainda, "Homens que se feriram em acidente recebem alta"; e, ainda, "Empresa responsável por acidente com feridos é multada". Todas essas manchetes fantasiosas têm a ver com um mesmo fato originário.
Não é todo tipo de notícia que merece uma continuidade. Alguns acontecimentos e realizações têm fôlego para uma única aparição. Seja como for, para estar uma ou várias vezes no jornal, a "coisa" tem de ser verdadeiramente uma notícia, o que, basicamente, significa que não é publicidade ou propaganda – mas isso é assunto para outra oportunidade.
Em termos de formato, uma suíte não é nada diferente de uma notícia nova. Até porque só se tem uma continuação quando um novo fato é revelado. Mas é no estilo, pelo que notei, que a marmita das suítes azedou – no sentido de por que perderam o fôlego nos últimos anos.
Vamos tomar por exemplo uma investigação policial. O jornalismo de boa e de má qualidade têm interesse em pautas criminais. Porém, nos dois tipos de qualidade fica um sabor de vício, quem sabe originário do prazer de se "furar" (quando um jornalista é o primeiro em noticiar algo). É uma pressa que mais atrapalha que ajuda: não raro, são apresentadas versões que colaboram com uma história que se quer contar, que pode não ter nada a ver com o que aconteceu de verdade.
No caso de Homem armado ameaça jovem negro em SP, e policial se recusa a agir por estar 'de folga'; veja vídeo, por exemplo. É uma história que rapidamente conquistou a atenção dos jornalistas e do público, porque um vídeo comprova não somente a omissão de uma policial como também a agressão dela contra um jovem. Aqui, não está em discussão se a policial acertou ou errou. Ao mesmo tempo, faltou, pela ausência de suítes, a ampliação do contexto do vídeo de três minutos.
Uma história contada por sua característica intrigante pode render minutos de audiência, e um aumento de visitantes no site. Porém, sem continuidade, é um tiro no pé. Em 2023, o Digital News Report do Reuters Institute identificou que a confiança dos brasileiros no jornalismo é de 43%, uma diminuição de 19 pontos percentuais desde 2015. Estatisticamente, a tendência de queda pode marcar 41% em 2024. Nesse cenário, todos os recursos de inteligência e de integridade são bem-vindos para melhorar esses números.
As suítes são uma oportunidade para garantir ao público que as escolhas de pauta representam, ainda que contramajoritariamente, o compromisso do veículo com uma história contada do começo ao fim, com todas as nuances. Para isso, a linha editorial como um todo, e mais ainda os repórteres e editores, têm de encarar a atividade investigativa com o desprendimento de contar as coisas como elas são, e não como deveriam ser.