Pesquisa da UFSC revela que experiência prolongada influencia gestores a optarem por medidas conservadoras.
Autor alerta sobre banalização e emocionalismo excessivo no jornalismo diário, risco que pode enfraquecer a profissão.
Quando fui jovem, ouvi falar de gerentes que chutavam portas, gritavam com subordinados, levavam emoção e personalidade demais para o trabalho. Não fui gerenciado por ninguém assim. E torço (e me preparo) para não ser esse cara horrível, embora às vezes aconteça na forma de sarcasmo, de ridículo.
Acredite, porém, que quando estou sendo ridículo não deixo nenhuma dúvida, contorno o ridículo bem contornadinho, com pouca ou nenhuma chance de ruído. É o caso, neste post. Confirmo a ideia do psicanalista Wilfred Bion: a risada tem um poder corrosivo (no excelente sentido de enfraquecer as ferrugens de preconceito e ódio, por exemplo).
No papel de jornalista, encaro inúmeros dilemas morais e éticos, o que não me abala. Fui treinando para isso na universidade, no trabalho, no desenvolvimento profissional que jamais parou. Uma notícia precisa ser realmente muito ruim para me deixar fora de prumo. Quando é o caso, tendo a resolver na terapia individual. Faço perguntas a mim mesmo, tais como "como isso é importante para mim?" (e evito o "por que é importante para mim", na ideia de melhorar a qualidade da investigação). Essas são minhas credenciais de repórter e documentarista.
Agora, voltemos ao ridículo. Há alguns anos, lembro de uma repórter da televisão ofegantemente fazer uma "entrada ao vivo" para contar do horror que tinha vivenciado na rua. Ela tinha visto um homem descer do carro para ameaçar outro com uma barra de ferro. Não sei em que mundo a repórter vivia para se estarrecer com "mais um dia de trabalho".
No jornal matinal desta manhã, e veja que agora estou fazendo um exercício para não ser esnobe, para não perseguir, para não, sei lá, chutar cachorro morto?, em um jornal desta manhã o apresentador parou o noticiário para dizer que as notícias eram muito ruins, que era muito difícil viver em um mundo tão cruel, e que eles (a pior parte é esta: ele estava falando em nome da marca, em nome de uma equipa inteira que madruga) estavam fazendo o trabalho incrível de aliviar o peso daquelas notícias terríveis. Eram informações sobre acidentes de carro.
Aproveito esta oportunidade de texto para perguntar: o que define um "grave" acidente? É um acidente com morte? É um acidente com mais de um ferido? É um acidente que congestiona o trânsito por x tempo, por y distância? Se todo acidente é "grave", nenhum é grave.
É brincadeira!
Leia insights sobre a interação de humanos com modelos de linguagem de IA, e sobre os ODS no Brasil. Lab Educação 2050 Ltda, que mantém este site, é signatária do Pacto Global das Nações Unidas.
As ferramentas digitais potencializam a força corrosiva do riso, ampliando visões de mundo.
Abordar dilemas jornalísticos e terapia reforça a busca pela qualidade de vida para todos.
Pesquisa da UFSC revela que experiência prolongada influencia gestores a optarem por medidas conservadoras.
Um estudo recente publicado na Revista Turismo, Visão e Ação (RTVA) revelou que gestores mais velhos e com maior tempo de serviço em restaurantes tendem a ser mais avessos ao risco em suas decisões corporativas. A pesquisa, conduzida por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), analisou dados de mais de 2 mil restaurantes na Europa entre 2014 e 2016.
A pesquisa, intitulada "Influência das Características da Equipe de Gestão sobre a Tomada de Decisão de Risco: Evidências do Ramo de Restaurantes", utilizou a base de dados Amadeus e aplicou o método dos mínimos quadrados para analisar a relação entre as características dos gestores – idade, tempo de serviço, gênero e tamanho da equipe – e o nível de alavancagem financeira das empresas, usado como indicador de tomada de risco.
Os resultados mostraram uma correlação negativa significativa entre a idade e o tempo de serviço dos gestores e a propensão ao risco. Gestores mais velhos e aqueles que ocupavam o mesmo cargo há mais tempo demonstraram preferência por decisões mais conservadoras, optando por manter o status quo em vez de adotar estratégias inovadoras ou arriscadas.
Contrariando algumas expectativas, o estudo não encontrou relação significativa entre o tamanho da equipe de gestão ou a participação feminina e a tomada de risco. Embora pesquisas anteriores tenham sugerido uma possível influência desses fatores, os dados analisados não confirmaram essa hipótese no contexto específico da indústria de restaurantes.
Os autores sugerem que a aversão ao risco demonstrada por gestores mais experientes pode estar relacionada à priorização da estabilidade e da reputação construída ao longo da carreira. A familiaridade com o setor e a preocupação em preservar os ganhos obtidos podem levá-los a evitar decisões que representem potenciais ameaças ao negócio.
As descobertas do estudo têm implicações importantes para a gestão de restaurantes. A pesquisa sugere que a composição da equipe gestora pode influenciar diretamente a estratégia e o desempenho das empresas. Restaurantes com gestores mais jovens podem estar mais dispostos a inovar e assumir riscos, enquanto aqueles liderados por gestores mais experientes podem priorizar a estabilidade e a segurança financeira.
Os pesquisadores destacam a necessidade de estudos adicionais para aprofundar a compreensão da relação entre as características dos gestores e a tomada de decisão em restaurantes. A investigação de fatores psicológicos, como a tolerância ao risco individual, e a análise de dados de um período mais amplo poderiam enriquecer a discussão e fornecer insights mais precisos para o setor.
Ausência de atualizações e de contexto em notícias contínuas afeta credibilidade e confiança dos leitores.
Uma suíte jornalística é a continuidade de uma notícia em novas matérias que atualizam as anteriores. Algo como "Duas pessoas ficaram feridas em um acidente"; depois, "Homens que ficaram feridos em acidente fazem cirurgia"; ainda, "Homens que se feriram em acidente recebem alta"; e, ainda, "Empresa responsável por acidente com feridos é multada". Todas essas manchetes fantasiosas têm a ver com um mesmo fato originário.
Não é todo tipo de notícia que merece uma continuidade. Alguns acontecimentos e realizações têm fôlego para uma única aparição. Seja como for, para estar uma ou várias vezes no jornal, a "coisa" tem de ser verdadeiramente uma notícia, o que, basicamente, significa que não é publicidade ou propaganda – mas isso é assunto para outra oportunidade.
Em termos de formato, uma suíte não é nada diferente de uma notícia nova. Até porque só se tem uma continuação quando um novo fato é revelado. Mas é no estilo, pelo que notei, que a marmita das suítes azedou – no sentido de por que perderam o fôlego nos últimos anos.
Vamos tomar por exemplo uma investigação policial. O jornalismo de boa e de má qualidade têm interesse em pautas criminais. Porém, nos dois tipos de qualidade fica um sabor de vício, quem sabe originário do prazer de se "furar" (quando um jornalista é o primeiro em noticiar algo). É uma pressa que mais atrapalha que ajuda: não raro, são apresentadas versões que colaboram com uma história que se quer contar, que pode não ter nada a ver com o que aconteceu de verdade.
No caso de Homem armado ameaça jovem negro em SP, e policial se recusa a agir por estar 'de folga'; veja vídeo, por exemplo. É uma história que rapidamente conquistou a atenção dos jornalistas e do público, porque um vídeo comprova não somente a omissão de uma policial como também a agressão dela contra um jovem. Aqui, não está em discussão se a policial acertou ou errou. Ao mesmo tempo, faltou, pela ausência de suítes, a ampliação do contexto do vídeo de três minutos.
Uma história contada por sua característica intrigante pode render minutos de audiência, e um aumento de visitantes no site. Porém, sem continuidade, é um tiro no pé. Em 2023, o Digital News Report do Reuters Institute identificou que a confiança dos brasileiros no jornalismo é de 43%, uma diminuição de 19 pontos percentuais desde 2015. Estatisticamente, a tendência de queda pode marcar 41% em 2024. Nesse cenário, todos os recursos de inteligência e de integridade são bem-vindos para melhorar esses números.
As suítes são uma oportunidade para garantir ao público que as escolhas de pauta representam, ainda que contramajoritariamente, o compromisso do veículo com uma história contada do começo ao fim, com todas as nuances. Para isso, a linha editorial como um todo, e mais ainda os repórteres e editores, têm de encarar a atividade investigativa com o desprendimento de contar as coisas como elas são, e não como deveriam ser.