Psicanálise e fundamentalismo protestante não se misturam

Visões opostas sobre a vida e a morte afastam protestantismo fundamentalista e teoria psicanalítica no Brasil.

Vinícius Sgarbe
5 min read

A psicanálise não reclama uma cadeira na universidade. Isso não quer dizer que não seja assunto de pesquisa. Não à toa, a filosofia brasileira da psicanálise tem escuta em muitas partes do mundo. Agora mesmo, em um seminário sobre teologia pública na Universidade de Edimburgo.

Mas o que tem a ver teologia pública com psicanálise? Bem, essa é uma história que pode ser contada de muitas maneiras. Antes, seria preciso definir o que é teologia pública, ou até mesmo uma teologia democrática. Basicamente, temos de olhar para o uso político da religião.

Sem escrúpulos desnecessários, sejamos diretos já. O caso brasileiro que é destaque na Escócia passa pelo levante evangélico na defesa de Bolsonaro. Entendemos que a religião, muito longe de ter sido substituída por um primado da razão, como queria Freud, é parte inextinguível.

Ocorre que duas coisas, digamos, conflitantes, têm origem mais ou menos na mesma época do pós-Primeira-Guerra. Uma é a versão psicodélica do cristianismo protestante, cujos seguidores acreditam que o mundo vai acabar depois de um "arrebatamento". E outra é a psicanálise.

Essas duas visões de mundo são propostas de solução para o problema da morte. Ambas são motivadas pela mesma coisa, o medo da morte, embora cheguem a conclusões totalmente diferentes, e, repitamos, conflitantes.

Para um evangélico daquela estirpe, é razoável dizer a uma criança sobre masturbação ser pecado, ao mesmo que Freud e a psicanálise são malditos. E, confessemos nossos pecados, irmãos e irmãs, um psicanalista terá dificuldade de levar um evangélico a sério. Preconceito recíproco.

Mas apesar disso, em 2023, é fácil atribuir voto de confiança ao grupo que está menos errado.

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Reflexão psicanalítica sobre culpa, violência e identidade coletiva, unindo a simbologia cristã ao drama palestino atual.

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Quando, às três da tarde da sexta-feira, Jesus suspira e entrega seu espírito a Deus, passamos a nos perguntar “o que fizemos?”. Para um distraído, deve ser nada além de uma culpa a mais para a coleção. Nós, freudianos, porém, compreendemos tal pergunta como a origem da civilização.

É uma questão de geolocalização, se é que me entende.

Onde estamos, exatamente, depois de termos assassinado o Criador? Se estivermos entre os que fazem a si mesmos aquela pergunta, tal qual no mito do parricídio, muito que bem. Algo assim tem potencial de nos deschucralizar. Mas se estivermos para além da fronteira da responsabilidade, estamos perdidos.

É neste último lugar que o indivíduo vibra com um Jesus que “senta o chicote” nos ladrões — sem se dar conta de que ele mesmo é o ladrão mencionado nas Escrituras. Vibra com o ultraje aos líderes fariseus, sem se dar conta de que o Mestre o ultraja no instante da leitura.

Escrevi sobre esse fenômeno, em um capítulo denominado “narcisismo das pequenas diferenças” (é um conceito psicanalítico). Em resumo, o ódio é ainda mais talentoso que o amor quando o assunto é unir seres humanos, formar exércitos, igrejas, e torcidas organizadas.

Quem abre uma bíblia impressa nos anos setenta, oitenta — traduzida por João Ferreira de Almeida, miolo rosa, cortado por um índice tátil — encontra a Palestina na seção de mapas.

Quer dizer. Até “ontem”, ninguém tinha qualquer dúvida quanto ao Jesus que matamos ser palestino. O que nos fez mudar de lado, além do dinheiro?

A filosofia de René Girard coincide com a prática cristã, quando da formação de uma religião a partir da violência, tanto quanto essa mesma violência gera a humanidade civilizada para os freudianos. Mas esse autor provoca particularmente quando o morto é Jesus. Desde que matamos um inocente, a roda da violência gira no vazio.

Se a Páscoa renova nos cristãos a esperança da ressurreição, que pudesse também renovar em todos nós alguma garantia de que, pelo menos uma vez por ano, perguntamos “o que fizemos?”.

Imagem da paixão

A fotografia deste artigo, registrada por Mohammed Salem da agência Reuters e divulgada pela World Press Photo, foi a vencedora do prêmio World Press Photo do Ano. A imagem retrata Inas Abu Maamar, palestina de 36 anos, em um momento de dor profunda ao abraçar o corpo de sua sobrinha Saly, de apenas 5 anos, que perdeu a vida em um bombardeio israelense. A cena ocorreu no hospital Nasser, localizado em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, em 17 de outubro de 2023.

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Livro de ensaios do escritor peruano questiona raízes religiosas e políticas por trás da decadência cultural moderna.

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Ainda que tenha visto o filme Pantaleão e as visitadoras (divertido e indicado!), pouco conheço dos romances de Mario Vargas Llosa, Nobel da literatura — escritor peruano que despediu-se neste dia 13.

Gostava dele! Me recomendaram fortemente uma vez A casa verde — curiosamente um professor americano. Porém, este livro da foto, repleto de ensaios, reflexões e provocações, que ganhei em 2013, li e me foi bem marcante.

Um papo-cabeça aqui: como geralmente em cursos de comunicação a gente estuda Escola de Frankfurt, aprende-se que a culpa, por assim dizer, do esvaziamento poético visto nas artes ao longo da história, da decadência estética do que se entende por belo, bem como o fim da chamada "alta cultura", seria resultado da produção em série, da busca pelo lucro em escala, da indústria cultural: em suma uma consequência do capitalismo.

Pra minha supresa, este livro me revelou um ponto de vista diferente: a questão é política, que envolve a herança de um revanchismo contra o gosto da aristocracia (ou das altas classes) desde as revoluções.

TRata-se de um repúdio crescente à sociedade tradicional, após as grandes guerras mundiais, e, na sua essência, sobretudo: de fundo religioso — afinal, na origem de todas as civilizações, em todos os tempos, justamente dos ritos religiosos advieram e se desenvolveram as manifestações artísticas.

Parte-se da busca pelo sublime, das experiências místicas, que posteriormente formaram as bases do que entendemos por culturas. Um elo que virou apenas um eco na vida ocidental contemporânea, isto quando não totalmente banido, execrado, num mundo que, ao seu ver, culturalmente, caminha rumo ao nada.

Ou, como já observamos agora, para o conteúdo gerado por inteligência artificial.