A psicanálise não reclama uma cadeira na universidade. Isso não quer dizer que não seja assunto de pesquisa. Não à toa, a filosofia brasileira da psicanálise tem escuta em muitas partes do mundo. Agora mesmo, em um seminário sobre teologia pública na Universidade de Edimburgo.
Mas o que tem a ver teologia pública com psicanálise? Bem, essa é uma história que pode ser contada de muitas maneiras. Antes, seria preciso definir o que é teologia pública, ou até mesmo uma teologia democrática. Basicamente, temos de olhar para o uso político da religião.
Sem escrúpulos desnecessários, sejamos diretos já. O caso brasileiro que é destaque na Escócia passa pelo levante evangélico na defesa de Bolsonaro. Entendemos que a religião, muito longe de ter sido substituída por um primado da razão, como queria Freud, é parte inextinguível.
Ocorre que duas coisas, digamos, conflitantes, têm origem mais ou menos na mesma época do pós-Primeira-Guerra. Uma é a versão psicodélica do cristianismo protestante, cujos seguidores acreditam que o mundo vai acabar depois de um "arrebatamento". E outra é a psicanálise.
Essas duas visões de mundo são propostas de solução para o problema da morte. Ambas são motivadas pela mesma coisa, o medo da morte, embora cheguem a conclusões totalmente diferentes, e, repitamos, conflitantes.
Para um evangélico daquela estirpe, é razoável dizer a uma criança sobre masturbação ser pecado, ao mesmo que Freud e a psicanálise são malditos. E, confessemos nossos pecados, irmãos e irmãs, um psicanalista terá dificuldade de levar um evangélico a sério. Preconceito recíproco.
Mas apesar disso, em 2023, é fácil atribuir voto de confiança ao grupo que está menos errado.