Reflexão psicanalítica sobre culpa, violência e identidade coletiva, unindo a simbologia cristã ao drama palestino atual.
Seminário internacional debate impacto religioso em eleições brasileiras e relação entre poder político e fé.
Teologia pública é o tema de um seminário internacional da Universidade de Edimburgo. Ele é conduzido pelo Dr. Ulrich Schmiedel. O caso brasileiro do uso da religião para fins políticos é abordado pelos pesquisadores Dra. Magali Cunha e Dr. Rudolf von Sinner. Destaco uma fala dela que combate o preconceito contra protestantes. Tidos por alguns segmentos como operadores principais da contaminação entre estado e religião no Brasil, há registros históricos de que tal contaminação existe antes das igrejas evangélicas.
Professora assistente de estudos religiosos da Universidade das Religiões de Qom, no Irã, a pesquisadora Dra. Fatima Tofigui trata da diferença entre "influência profética" e califado. Para a primeira, a relação com mundo invisível é principal, enquanto para o segundo, embora sediado em palavras proféticas, o resultado da vivência é o poder material.
O debate central da apresentação de Dra. Fatima é legitimação da autoridade política baseada em palavras proféticas. Um dos autores trazidos por ela, Mohammed Iabal, defende o islamismo como “experiência religiosa” similar a outras fora do islã. Seu significado, portanto, estaria restrito a uma experiência individual. Esse ponto tornaria a manutenção de uma democracia inspirada no divino mais difícil.
Nos anos 60, autores chegaram a escrever sobre teologia e a Causa Palestina, o que cessou de lá para cá.
Minha contribuição para o seminário é a seguinte. Provocado pelo Dr. Schmiedel, experimentei uma definição do que poderia ser “teologia pública”. Traduzo para o português, logo abaixo.
Public theology can be described as the amalgamation of the concepts of State, democracy, and spirituality. Nevertheless, it is crucial to inquire about the aspects that differentiate public theology from a theocratic state. In countries where religion holds a dominant position in the government, the term "public theology" may not be applicable as the prevailing theology is intrinsically associated with a specific religion. Hence, such theology cannot be categorized as public. Consequently, public theology belongs simultaneously to the State and the various spiritual experiences. Moreover, public theology is intimately connected to collective sentiment, which concerns the establishment of communities and the regulations that govern these communities (revisado por Karine Porto Lopes Ono).
A teologia pública pode ser descrita como a fusão dos conceitos de estado, democracia e espiritualidade. No entanto, é crucial indagar sobre os aspectos que diferenciam a teologia pública de um estado teocrático, por exemplo. Em países onde a religião detém uma posição dominante no governo, o termo “teologia pública” pode não ser aplicável, pois a teologia prevalecente está intrinsecamente associada a uma religião específica. Portanto, tal teologia não pode ser categorizada como pública. Consequentemente, teologia pública pertence simultaneamente ao Estado e às diversas experiências espirituais. Além disso, a teologia pública está intimamente ligada ao sentimento coletivo, que diz respeito ao estabelecimento de comunidades e aos regulamentos que governam essas comunidades.
As professoras Dra. Kelly Prudencio e Dra. Carla Rizzoto, em 2017, promoveram o seminário "Mobilização da opinião pública", na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Nele, a Teoria do Reconhecimento e suas derivações levaram a discussões imprescindíveis à pesquisa em comunicação que antecedeu os fenômenos políticos de 2018. Foi uma espécie de último fôlego racional antes da quebradeira que teve inúmeras vezes centralidade na religião.
Qual é a religião de Jair Bolsonaro, por exemplo? É sabido que o ex-presidente tomou um lado para si, e o salientou pela performance da ex-primeira-dama Michelle.
De quem é a responsabilidade pela contenção da violência contra a mulher senão dos homens? De quem é a responsabilidade contra o racismo senão dos brancos? De quem é a responsabilidade contra o fascismo senão dos fanáticos? E como persuadir homens, brancos, e fanáticos senão falando com eles? Esse é, para mim, o dilema do meu século.
Considero os seguintes versos de Vinicius de Moraes apropriados para este artigo.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso reconquistar a vida.
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso1.
Há alguns dias, ouvi de um bolsonarista: "estou para acreditar que o bolsonarista é pior que o petista". Ao que respondi, "com certeza o petista é pior".
Leia insights sobre a interação de humanos com modelos de linguagem de IA, e sobre os ODS no Brasil. Lab Educação 2050 Ltda, que mantém este site, é signatária do Pacto Global das Nações Unidas.
Religião e Estado se unem, ampliando cidadania e impulsionando desenvolvimento.
A reflexão religiosa equilibrada fortalece a democracia e inclui vozes minoritárias.
Reflexão psicanalítica sobre culpa, violência e identidade coletiva, unindo a simbologia cristã ao drama palestino atual.
Quando, às três da tarde da sexta-feira, Jesus suspira e entrega seu espírito a Deus, passamos a nos perguntar “o que fizemos?”. Para um distraído, deve ser nada além de uma culpa a mais para a coleção. Nós, freudianos, porém, compreendemos tal pergunta como a origem da civilização.
É uma questão de geolocalização, se é que me entende.
Onde estamos, exatamente, depois de termos assassinado o Criador? Se estivermos entre os que fazem a si mesmos aquela pergunta, tal qual no mito do parricídio, muito que bem. Algo assim tem potencial de nos deschucralizar. Mas se estivermos para além da fronteira da responsabilidade, estamos perdidos.
É neste último lugar que o indivíduo vibra com um Jesus que “senta o chicote” nos ladrões — sem se dar conta de que ele mesmo é o ladrão mencionado nas Escrituras. Vibra com o ultraje aos líderes fariseus, sem se dar conta de que o Mestre o ultraja no instante da leitura.
Escrevi sobre esse fenômeno, em um capítulo denominado “narcisismo das pequenas diferenças” (é um conceito psicanalítico). Em resumo, o ódio é ainda mais talentoso que o amor quando o assunto é unir seres humanos, formar exércitos, igrejas, e torcidas organizadas.
Quem abre uma bíblia impressa nos anos setenta, oitenta — traduzida por João Ferreira de Almeida, miolo rosa, cortado por um índice tátil — encontra a Palestina na seção de mapas.
Quer dizer. Até “ontem”, ninguém tinha qualquer dúvida quanto ao Jesus que matamos ser palestino. O que nos fez mudar de lado, além do dinheiro?
A filosofia de René Girard coincide com a prática cristã, quando da formação de uma religião a partir da violência, tanto quanto essa mesma violência gera a humanidade civilizada para os freudianos. Mas esse autor provoca particularmente quando o morto é Jesus. Desde que matamos um inocente, a roda da violência gira no vazio.
Se a Páscoa renova nos cristãos a esperança da ressurreição, que pudesse também renovar em todos nós alguma garantia de que, pelo menos uma vez por ano, perguntamos “o que fizemos?”.
A fotografia deste artigo, registrada por Mohammed Salem da agência Reuters e divulgada pela World Press Photo, foi a vencedora do prêmio World Press Photo do Ano. A imagem retrata Inas Abu Maamar, palestina de 36 anos, em um momento de dor profunda ao abraçar o corpo de sua sobrinha Saly, de apenas 5 anos, que perdeu a vida em um bombardeio israelense. A cena ocorreu no hospital Nasser, localizado em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, em 17 de outubro de 2023.
Livro de ensaios do escritor peruano questiona raízes religiosas e políticas por trás da decadência cultural moderna.
Ainda que tenha visto o filme Pantaleão e as visitadoras (divertido e indicado!), pouco conheço dos romances de Mario Vargas Llosa, Nobel da literatura — escritor peruano que despediu-se neste dia 13.
Gostava dele! Me recomendaram fortemente uma vez A casa verde — curiosamente um professor americano. Porém, este livro da foto, repleto de ensaios, reflexões e provocações, que ganhei em 2013, li e me foi bem marcante.
Um papo-cabeça aqui: como geralmente em cursos de comunicação a gente estuda Escola de Frankfurt, aprende-se que a culpa, por assim dizer, do esvaziamento poético visto nas artes ao longo da história, da decadência estética do que se entende por belo, bem como o fim da chamada "alta cultura", seria resultado da produção em série, da busca pelo lucro em escala, da indústria cultural: em suma uma consequência do capitalismo.
Pra minha supresa, este livro me revelou um ponto de vista diferente: a questão é política, que envolve a herança de um revanchismo contra o gosto da aristocracia (ou das altas classes) desde as revoluções.
TRata-se de um repúdio crescente à sociedade tradicional, após as grandes guerras mundiais, e, na sua essência, sobretudo: de fundo religioso — afinal, na origem de todas as civilizações, em todos os tempos, justamente dos ritos religiosos advieram e se desenvolveram as manifestações artísticas.
Parte-se da busca pelo sublime, das experiências místicas, que posteriormente formaram as bases do que entendemos por culturas. Um elo que virou apenas um eco na vida ocidental contemporânea, isto quando não totalmente banido, execrado, num mundo que, ao seu ver, culturalmente, caminha rumo ao nada.
Ou, como já observamos agora, para o conteúdo gerado por inteligência artificial.