‘Troca de calçada’: o sertanejo feminista e a ‘puta pobre’

Música de Marília Mendonça expõe realidades femininas marginalizadas na sociedade e questiona papel da mulher no sertanejo.

Vinícius Sgarbe
5 min read

Faz uns anos, fui ao Superagui, no litoral do Paraná, para passar ano novo. Naquele época, a ilha ficava cheia de pessoas engraçadas. Tem cada história daquelas vezes. Mas uma que voltou com bastante força agora é a da mulher de cabelo azul.

Estávamos na praça principal da comunidade, uma área não maior que a sala de estar da maior parte das pessoas ricas que encontrei na vida. Bebíamos cerveja e cataia (uma pinga horrorosa que tem fama de ser alucinógena – mas é alucinógena mais por ser pinga do que pelas folhas acrescidas à receita).

Reduto de artistas, jornalistas e gente que não se aborrece com as condições simplíssimas de hospedagem e alimentação, não raro estavam ali quem escreveu com Paulo Leminski, outro que compôs com Ivo Rodrigues, uma infinidade de poeta domésticos, sempre alguém no violão. Foi quando, falando com desconhecidos, de novo, claro, disse que não gostava de música sertaneja. “Dessas novas”, recortei.

Uma mulher alta, magra, trinta e poucos, cabelo bem curtinho azul, às gargalhadas respondeu: “você sabia que o ‘fio de cabelo’ do paletó era um pelo íntimo?”. A gente riu bastante. Na sequência, ela, muito festivamente, contou sobre a música sertaneja, na opinião dela, ter um enquadramento exclusivamente masculino. “O homem é o protagonista o tempo todo. Se a mulher o rejeita, ele não respeita, vai atrás dela mesmo assim”.

Sertanejo feminista

Para a mulher de cabelo azul, as mulheres fazerem música no espaço que era exclusivamente dos homens era uma coisa boa, mesmo que, vá lá, as letras não sejam um ideal de beleza.

Guardei comigo. Eu precisava pensar sobre o assunto.

Anos mais tarde, nestes dias, caiu a ficha do quanto a música das mulheres faz um bem enorme para as minhas emoções, para minhas percepções de mundo. Quando ouvi “Troca de calçada”, de Marília Mendonça, lembrei de duas coisas.

Primeiro, das prostitutas da Visconde de Guarapuava, em Curitiba, que trabalham em uma calçada. Depois, do livro A ralé brasileira (SOUZA, 2009) que trata da “puta pobre”.

‘Troca de calçada’

IA e objetivos globais

Leia insights sobre a interação de humanos com modelos de linguagem de IA, e sobre os ODS no Brasil. Lab Educação 2050 Ltda, que mantém este site, é signatária do Pacto Global das Nações Unidas.

Cores digitais e empoderamento musical

Plataformas online amplificam vozes feministas, estimulando reflexão e inclusão cultural.

ODS 5: igualdade de gênero na arte

Mulheres reconfiguram o espaço sertanejo, promovendo respeito e expressão feminina.

“AI is not replacing lawyers—it's empowering them. By automating the mundane, enhancing the complex, and democratizing access, AI is paving the way for a legal system that’s faster, fairer, and more future-ready.”

Micheal Sterling
CEO - Founder @ Echo

Improving Access to Justice

The integration of AI into the legal industry is still in its early stages, but the potential is immense. As AI technology continues to evolve. We can expect even more advanced applications, such as:

Law Solutions

Accessible to individuals and small businesses.

Chatbots

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Avanço da IA desafia o trabalho humano e impõe nova curva de aprendizagem

O crescimento acelerado da inteligência artificial exige adaptação profissional e novas habilidades comunicacionais.

Tempo previsto
16/4/2025

A discussão relacionada aos avanços da inteligência artificial, especialmente quanto aos riscos de substituição do trabalho humano por robôs e ao potencial criativo que pode ofender quem se considera uma espécie de coroa da criação, parece afetada pelo fenômeno da polarização.

Reconheço que esta análise é simplista no que diz respeito aos fatos. De um lado, percebe-se a inquietação causada por uma nova corrida lunar empreendida pelo mercado em busca de prestígio e futura rentabilidade, o que inevitavelmente influencia a pesquisa acadêmica. Se antes a pesquisa era feita com softwares gratuitos, hoje torna-se cada vez mais dependente de recursos pagos. Do outro lado, em uma postura que ignora deliberadamente a cibernética, parte da comunidade intelectual oferece resistência aos avanços do desenvolvimento comunicacional.

Nesse contexto, quem deseja acompanhar efetivamente o progresso tecnológico dos modelos de linguagem como GPT e Gemini precisa encarar uma curva de aprendizagem que certamente tirará seu sossego. Não será surpresa se, em breve, cada indivíduo passar a operar seu próprio modelo linguístico. Serviços como o Vertex AI do Google já possibilitam a criação de robôs altamente personalizados para as mais diversas tarefas.

Contudo, considerando especificamente a língua portuguesa, percebe-se que modelos de linguagem como os mencionados têm pouca habilidade para captar subjetividades e nuances linguísticas. Afinal, se nem mesmo um ser humano é capaz de compreender plenamente o que usuários publicam na internet, que dirá o pobre robô.

Recentemente, enquanto passava de carro pela rua Brigadeiro Franco, em Curitiba, vi cinco funcionários da prefeitura cortando a grama que ladeia o passeio. Um deles segurava o cortador mecânico, enquanto os demais serviam como postes móveis, sustentando uma tela ao redor do jardineiro. Pensei, naquele instante, nos últimos 300 mil anos de evolução humana sintetizados na escassez de suportes móveis, reduzindo a extraordinária máquina corporal humana a um mero suporte de telas.

É preciso reconhecer, portanto, que certas atividades de rotina — como resumos e geração de textos a partir de vídeos ou áudios — devem, obrigatoriamente, utilizar soluções de inteligência artificial. Caso contrário, desperdiça-se a inteligência corporal e emocional de seres humanos em trabalhos nada recompensadores. Somente alguém que já teve de decupar horas de programas de televisão ou rádio teria autoridade para desprezar a ajuda da IA nessas tarefas, embora isso revelasse inclinação ao martírio.

Há uma última reflexão que me parece importante e diz respeito a uma frequente distorção técnica. Não é correto generalizar toda a inteligência artificial tomando como referência exclusiva um modelo de linguagem específico — especialmente suas versões gratuitas. Usar o ChatGPT não é o mesmo que utilizar diretamente o modelo GPT. Da mesma forma, usar o chat do Gemini difere de explorar todas as potencialidades do modelo de linguagem Gemini. A extração máxima do potencial desses sistemas exige uma execução personalizada, sendo justamente esse um dos trabalhos que desenvolvemos no Lab Digital 2050.

Inteligência Artificial Geral pode causar conflitos entre EUA e China

Disputa pela Inteligência Artificial Geral aumenta risco de escalada militar e ataques cibernéticos globais.

Tempo previsto
11/4/2025

Um ex-assessor da Casa Branca alertou sobre os potenciais perigos do desenvolvimento da Inteligência Artificial Geral (AGI) e o risco de uma corrida armamentista com a China. Segundo ele, a busca pelo controle da AGI pode levar a conflitos internacionais. Especialistas temem que a China possa reagir agressivamente a uma tentativa dos EUA de monopolizar a tecnologia.

As informações foram publicadas pelo UOL em 9 de março de 2025, no artigo A Inteligência Artificial Geral está chegando? É difícil ter certeza. O artigo cita um documento publicado por especialistas, incluindo o ex-assessor, detalhando as preocupações com a corrida armamentista em IA.

A Inteligência Artificial Geral difere das IAs atuais por sua capacidade de realizar qualquer tarefa intelectual humana. Esse avanço tecnológico representa um potencial salto no desenvolvimento de diversas áreas, mas também traz preocupações sobre seu uso indevido, especialmente em cenários de conflito.

O documento sugere que uma tentativa dos EUA de controlar exclusivamente a AGI poderia provocar uma resposta agressiva da China, como um ataque cibernético em larga escala. Os especialistas argumentam que a competição pela AGI pode desestabilizar as relações internacionais e aumentar a probabilidade de conflitos.

A preocupação reside na possibilidade da AGI ser utilizada para o desenvolvimento de armas autônomas e ciberataques sofisticados, o que poderia escalar rapidamente para um confronto direto. Os especialistas defendem a cooperação internacional para garantir o desenvolvimento seguro e ético da AGI.