Assuntos difíceis fáceis de ler

Conversas

'A opinião é livre, mas a burrice é imperdoável', argumenta Pedro Ribeiro

Jornalista analisa papel crítico da opinião na democracia e alerta que radicalismo e burrice são riscos imperdoáveis.

Tempo previsto
17/10/2025

Sgarbe: Pedro, nós conversamos há tanto tempo, e há tanto tempo jamais nos vimos pessoalmente, que tenho a impressão que voltamos aos anos 90, com a ideia do web-amigo — risos. Algo que nos une frequentemente, de volta à realidade deste um artigo de opinião, é o jornalismo, especialmente, que ironia, os artigos de opinião. Isso me faz lembrar do ídolo Gladimir Nascimento. Ele nos impedia, iniciantes que éramos, de colocar opiniões de ouvintes no ar sem um critério de respeito ao indivíduo que emitiria a opinião e ao que a ouviria. Algo como os filhos de Noé cobrindo o velhinho que tinha se passado com bebida. Em tendo introduzido o assunto da pior maneira, pergunto se você acha que a imprensa de 2022 faz bem ou mal de deixar passar tanta gente jegue no papel de colunistas, entrevistados, etc. Não seria o caso da gente evitar expor esses irmãos ao ridículo?

Pedro Ribeiro: Caro jornalista Vinícius Sgarbe. Ao falar com você, este velho sobrevivente das letras, ou da pena, como diz Nilson Monteiro, se sente gratificado e na certeza de que sairá daqui com aprendizado e conhecimento. Ao ser homenageado como uma das “Vozes do Paraná”, na coleção de personalidades paranaenses do professor Aroldo Murá, e agora falando com você, até acho que tenho um pouco de importância ou história no nosso jornalismo, onde comecei na Gazeta do Povo há 45 anos. Um pouco. Só.Artigos de opinião! Você não tem ideia de quantos chegam para mim por dia no Paraná Portal. Cada um de arrepiar. Por isso, depois de um filtro, os que acho interessante, coloco no rodapé: este artigo não representa, necessariamente, a opinião deste jornal e é de pura responsabilidade de seu autor. Hoje, caro Sgarbe, com as redes sociais e o chamado jornalismo cidadão, todo mundo tem contribuído, de uma forma ou outra, com “opinião”, para a construção da democracia e na esfera pública. Cada um tem sua razão. São artigos que, em muitos casos, suscitam debates, radicais ou não, e geram muitas polêmicas. Cada um que escreve um artigo, tem plena confiança de que a sua opinião está correta e, as vezes, temos exemplos dogmáticos. Não podemos, jamais, confundir artigos de opinião com reportagens jornalísticas, pois, para mim, o jornalismo, embora seja um espaço de contraponto, seu compromisso é com a verdade, com a reportagem dos fatos, devidamente investigados. É neutro. Tem seus valores de liberdade, dignidade, respeito e abertura ao contraditório. Jornalismo, para mim, meu caro amigo, é o pilar da democracia. Sem jornais não existe democracia. É difícil você ter que, por exemplo, dizer a um colega, que o artigo dele não passa de um release de interesse pessoal ou patronal. Ele pode se ofender. Prefiro, dizer que “o conselho de redação vai avaliar” (risos).

Sgarbe: Hoje, eu encontrei um desses cortes de podcast em que um homem diz “burro é quem não muda de opinião”. Até me lembra o anúncio do cigarro Free. Penso que aquele homem está certo. Podemos redecidir uma opinião com base em novos fatos. Estou lendo um livro ótimo do Bion, “Aprender da experiência”, um texto psicanalítico. Eu me pergunto frequentemente, diariamente, o que aprendi, afinal. Uma das coisas e que o sarcasmo pode fazer muito mal às relações interpessoais. Com essas relações prejudicadas, fica mais difícil transferir conhecimento. Considero que o sarcasmo pode até mesmo ser um empecilho para quem está procurando por uma verdade. O que argumento é que não podemos, nós, jornalistas, suportar o peso de um único ponto de vista, temos de sair da escravidão da “lacrolândia”. Uma opinião forte é bem-vinda — muito diferentemente dos comentários bobos que âncoras podem fazer porque não têm o que dizer. Para uma opinião forte se requer um indivíduo forte, uma “mulher inteira”, um “homem inteiro”. Parece difícil para o jornalista de 2022 entender que ele não precisa, que continua não precisando, salvar a lavoura da mídia, que os papéis comerciais e editoriais estão muito bem sedimentados. Ele tem de fazer o trabalho dele, ser amado pelas pessoas da própria família, pelos amigos, mas que não precisa implorar por sucesso quando noticia.

Pedro Ribeiro: Deixar um pensamento radical, intolerante e mudar com convicção, não é vergonha, pelo contrário, é saber reconhecer que a terra é redonda e não plana, que a fila anda. É saudável, faz bem para a alma. Fazer uma reflexão e autocrítica sobre pontos de vistas oxigena nosso cérebro e nos faz seguir um caminho verdadeiro. Nosso país, uma das maiores democracias do mundo, exige isso. É um país que experimenta e respira liberdade, pelo menos no jornalismo pós-ditadura. O que vemos são algumas coisas pontuais como intolerância sobre urnas eletrônicas, tentativas de golpe, coisas pequenas que não chegar a arranhar o sistema democrático. Nada violento. A opinião é livre, mas a burrice é imperdoável, porque você tem tempo para aprender e inovar. Como jornalista que escreve editoriais (artigos de opinião própria e da linha de pensamento do jornal), eu erro e procuro corrigir meus erros e, às vezes, mudando de opinião. Isto não é vergonhoso para mim. Muitos amigos me perguntam: você vai votar no ladrão? Respondo com peito estufado de jornalista não engajado que voto em quem é o melhor e, no nosso caso, hoje, em quem é menos ruim. O ladrão, pode ter aprendido no pau de arara, com chicotadas nas costas, mas o burro, o radical é pior. Esta é minha “opinião” e posso mudá-la se alguém me provar que teremos, do outro lado, um programa econômico e social para nosso país que privilegie a camada fina da sociedade e não os poucos mais de 500 congressistas e outros 55 mil autoridades que tem foro privilegiado. Orçamentos secretos, dinheiro a rodo do Fundo Eleitoral. Isto não combina com minha linha de pensamento jornalístico. Neste caso, sou até radical e as vezes exagero na mão. Mas não dobro os joelhos. Vejo muitos colegas jornalistas de hoje que têm uma linha correta e rezam pela cartilha do bom jornalismo como aquele que jura com a mão na Bíblia ou diante da Justiça, em dizer a verdade, somente a verdade. Nosso país está carente de lideranças. O Brasil, hoje, é o retrato do seu próprio retrovisor, ou espelho. Um abraço, Sgarbe.

Sgarbe: Obrigado pela aula, Pedro! Abraço.

Reformar o povo é autoritário, e reformar as eleições é necessário

João Arruda defende reforma política ao invés de tentar "reformar o eleitor" e critica atuais mecanismos eleitorais.

Tempo previsto
17/10/2025

Sgarbe: João, a gente se conheceu falando mal do MDB. Ambos eram (são) filiados. Algo que me ligou a você foi a capacidade de autocrítica, tenho chamado essa disposição de “pessimismo sereno”. Mas, eu olho as candidatas e os candidatos à Câmara dos Deputados e à Assembleia, e penso assim: não conseguem sequer criticar a si mesmos, que dirá o próprio partido, ou a política nacional. Onde temos errado na “seleção” de pessoas para a vida pública? Não lhe parece que o pessoal é curva de rio?

João Arruda: O problema está em quem escolhe. Dirigentes de partido se perpetuam à frente das agremiações, e, com o controle dos delegados e do fundo eleitoral, fica praticamente impossível tira-los do poder. É um cartório! Hoje, o presidente de partido ganha um bom salário e exerce a função como profissão. Poderia aproveitar a oportunidade para melhorar a qualidade dos seus quadros, capacitar e formar líderes capazes de transformar o país, mas não é o que acontece na prática. Outro problema é o desinteresse da população. O que dá retorno eleitoral? Uma boa proposta ou fakenews nas redes sociais? Um projeto ou dinheiro? Ideais ou popularidade a qualquer custo? Princípios ou um prefeito no cabresto? Sem votos, o maior quadro da política mundial não sobrevive, e não coloca nada do que aprendeu em prática. Vai, no máximo, escrever e debater com amigos e outros quadros. Tudo que escrevi aqui, dirigentes de má qualidade, desafios para que o eleitor preste mais atenção, só se resolve de uma maneira: uma reforma eleitoral radical, e bem pensada, através de plebiscito. Toda reforma que seja aprovada no Congresso só vai beneficiar senadores e deputados que já estão lá, que querem permanecer pra sempre.

Sgarbe: Temos uma advogada conhecida em comum, mas esqueci o nome dela, que defende a “reforma do povo”. Uma reforma no eleitor. Comentei o assunto em um grupo de jornalistas, e logo alguém disse que a ideia é de Bolsonaro. Bem, finalmente chegamos a uma ideia nem tão ruim do presidente. Quando me refiro ao “povo”, tem a ver com um tipo de mudança que não se pode ter de uma eleição para outra. Na Itália, a primeira mulher a governar o país é apaixonada por Mussolini. Supondo que Mussolini não tivesse matado aproximadamente um milhão de pessoas, deveria haver pelo menos um constrangimento em dar apoio a um homem que supostamente matou um milhão de pessoas. Mas não há. É quando penso no seu último parágrafo, nos “caciques” que escolhem bandeiras do entretenimento sádico para garantir a cadeira, concluo que a política está muito cheia de “indivíduos”, de histórias pessoais mal resolvidas, de dores de alma agarradas à vingança, à autodestruição, à poluição. Quando eu for o Líder Supremo do Brasil, vou decretar pelo menos seis meses de terapia para os candidatos antes do registro de candidatura.

João Arruda: Tem doido pra tudo! Outro dia, minha irmã me disse que quem vota no Bolsonaro é fascista, racista, e não gosta de pobres. Perguntei a ela: “você já parou para pensar que é julgada como corrupta porque vota em Lula? Cada pessoa faz a escolha que quer, e encontra suas razões pra votar. Você acha existe má intenção quando fazem isso, mesmo quando votam em um bandido?”. Já me decepcionei muito no passado, mas,hoje, procuro compreender as razões pelas quais alguém vota num canalha. Reformar o eleitor é mais ou menos o que alguns tentam fazer. Talvez o Mussolini, Hitler, e outros ditadores pensariam em uma alternativa como essa.  Ou quem sabe a alternativa mais moderna seria “a cura do eleitor que não sabe votar”, algo como a “cura gay” do Feliciano. Mas, investigando as razões por que uma pessoa boa vota em alguém que não presta, chego à conclusão de que a reforma tem que ser eleitoral, e não pessoal. Tudo tem a ver com acesso a informação e conhecimento, com as bolhas da internet (fakenews), estruturas de divulgação (grana de campanha), desvios nas responsabilidades constitucionais de quem exerce o mandato, imprensa, pesquisas, tempo de TV, produção de material, tempo de campanha, reeleição, e muito mais... Ah! Mas você não fala da empatia do eleitor pelo candidato? A relação eleitor-candidato é construída pelo sistema, ou,melhor, pelos erros do sistema. Vamos evoluir, e ter muito mais consciência política, quando nos interessarmos de verdade. Um sistema decente poderá, inclusive, despertar mais interesse pela política. Enquanto isso, vamos continuar com canalhas explorando a ignorância alheia. Ou você acha que o voto da pessoa que não tem conhecimento ou é facilmente manipulada vale menos do que o voto do intelectual politizado? O debate é duro e precisamos evoluir, mas aceitando nossas falhas e agindo com ações revolucionárias.

A imprensa se divorciou dos conservadores, entende jornalista

Cândido Machado analisa relação entre mídia e conservadores, criticando distância da imprensa das pautas populares.

Tempo previsto
15/10/2025

O jornalista Cândido Machado Neto e eu nos formamos na PUCPR, à época de descobrir a política. Nas eleições para o Centro Acadêmico de Comunicação e para o Diretório Central dos Estudantes, encontramos corrupções. Urnas fraudadas inclusive. Cândido, a quem minha família e amigos próximos chamamos Kiko, é reconhecidamente uma opinião conservadora. Tem um alcance notável entre jovens conservadores. Jamais paramos de conversar sobre política, e não entendemos por que as pessoas brigam por causa dela. Nesta publicação, experimentamos um formado do jornal americano The New York Times para colunas de opinião.

Sgarbe: Kiko, poucos homens no mundo são mais carinhosos comigo que você. Talvez o Padre Paulo. Há anos, discutimos política. Lembro de falarmos sobre o papel do homem no mundo, se maior, menor, ou igual ao do golfinho. Isso lá no DCE da PUCPR. Você tem ideia do quanto você modifica meu ponto de vista?

Machado Neto: Nem imagino, meu querido amigo. Continuo tendo problemas com golfinhos. O meu ponto nestes textos pró-democracia é que eles não são democracia de verdade. Vou falar uma frase bem chula, mas que explica bem o que é a “democracia” na boca de tanta gente. “Democracia é igual piroca, todo mundo que tá com ela na boca, uma hora ou outra enfia na bunda”. Sou autor dessa bela reflexão que explica bem. As cartas pró-democracia são assinadas por pessoas que não só defendem ditaduras, mas agiram ativamente no financiamento delas. Com dinheiro público. Como é que essas pessoas podem falar de democracia? Mas não precisamos ir ao extremo, vamos falar dos coleguinhas jornalistas. Falam de democracia, mas aplaudem prisões arbitrárias, inquéritos fora de qualquer regra jurídica, perseguições e cancelamentos. Todos os dias algum apoiador do Bolsonaro ou tem conta bloqueada, ou leva alguma multa pelo simples motivo de ser apoiador. Você conheceu a Érica, que era uma professorinha de escola municipal e foi protestar em Brasília. Acabou presa por cinco meses na Papuda. Enquanto isso, em 2014 (pode pesquisar), o MST tentou invadir o STF durante uma sessão, com foice e facão, e nada, nada, aconteceu com qualquer líder. Posso citar o deputado que dentro da prerrogativa de foro foi preso. Algo inadmissível na nossa Constituição. Uma ex-presidente impeachmada que não teve os direitos políticos dela suspensos (como diz a Constituição) porque o presidente do STF na época não quis. Isso é democracia? Juízes ditando como agricultores devem plantar a soja. Aconteceu semana passada. Quem o presidente deve ou não nomear para a PF. Juízes derrubando decretos de impostos. Mexendo em matéria econômica de prerrogativa do Legislativo. E eu nem comento a pandemia, onde literalmente pessoas foram arrancadas a força das ruas, lojas soldadas com chumbo para não abrirem. Passaporte vacinal etc. Não vivemos em uma democracia mais. Quem fala isso, quem defende esta “democracia”, está apenas defendendo a sua própria ditadura. Que um dia vai morder eles também, porque o monstro do autoritarismo jurídico é insaciável.

Sgarbe: Entendi que está reagindo ao texto do Pedro Ribeiro sobre democracia e a minha pergunta. Vou deixar claro, então. Você me modifica. Acho que tem a ver com nosso grau de sinceridade. Há alguns meses, entrevistei uma mulher que hoje é candidata a deputada federal. Tem um currículo fodão. Mas ela me disse algo do tipo “a gente tem de estudar para poder tomar meia garrafa de vinho e duvidar de tudo que fez”. Ela combina com a gente. Sobre a Érica. Tive a oportunidade de falar sobre ela durante uma aula na universidade. Contei a história de um jeito que até mesmo eu me surpreendi. Você sabe que estou ao lado da liberdade. Mas voltando à política. Bolsonaro é uma espécie de Tiririca? Ele é computado como um palhaço? É razoável que alguém o veja como “um voto contra o sistema”. Parece coerente para mim. Mas uma parte da comunicação fica interrompida, logo inservível para “todos”, quando se defende que tem o suficiente para ser um presidente.

Machado Neto: Entendo seu ponto. Lembro que você falou que contou sobre a Érica na Federal. Bolsonaro não é Tiririca, nem palhaço. Bolsonaro é teu pai, meu pai, uma pessoa comum. Ele não é, e é por isso que a imprensa tem nojo dele, um social-democrata, um socialista. Porque o fetiche do socialismo é o maior fetiche da nossa imprensa. Eu vou dar um exemplo para você. Toda a imprensa disse que ele imitou, tirando sarro, uma pessoa morrendo sem ar, de Covid. Inclusive a Renata falou isso. Qual a verdade? Então assim. Temos uma mídia que é fetichista. Que acha que presidente não é o que é, mas é o que parece. A não ser que este presidente seja um simulacro de líder esquerdista como é o Lula. Uma imprensa que caga e anda para o que o povo pensa. Esses dias, olhe o absurdo. O Paulo Martins, candidato do Bolsonaro ao Senado aqui do Paraná, foi à RPC. Aí pergunta vai, pergunta vem. Uma jornalista lá falou que no referendo de 2005 o povo votou contra o comércio de munições e armas de fogo. O Paulo disse que não, que o povo votou a favor, e foi uma votação alta ainda. Ela contestou e ficou brava. No outro dia estava fazendo errata, dizendo que o [candidato a] senador estava certo. Errar não é problema aqui. O problema é a repórter ser tão descolada da realidade, tão absurdamente fora de qualquer discussão política. Enfiada em uma bolha elitista tão grande. Que ela não sabia que o povo foi a favor das armas. Sabe por que ela não sabia? Porque ela não consegue conceber na mente do Shopping Novo Batel dela uma sociedade que é conservadora. Que defende famílias, armamento civil, é contra aborto. “É um absurdo isso ser assim, são apenas extremistas”. Logo, o povo só poderia votar contra as armas, ué. Entende? O tamanho do divórcio que nossos colegas têm da população real?

Sgarbe: Acho Bolsonaro um parlamentar. Ele tinha de ter continuado no Legislativo, no meu jeito de ver. É bem o palco para muitos temas dele. Mas considero que a Presidência tenha uma função dupla, a chefia do Estado e o “coach“ do povo — risos. Eu não tenho vontade de “lutar” pelo Brasil de Ciro Nogueira, de Silas Malafaia, eu sequer acho que o Brasil seja tão importante assim, desde que Bolsonaro é presidente. Uma jornalista não soube entrevistar o Paulo Martins? Não me surpreende. O jornalismo de televisão está um tipo de morto-vivo, não sabe se é Story do Instagram, se é a maior emissora do país, se é diário de uma vida que saúda a “belíssima foto” ridícula de uma telespectadora que achou a lua bonita. Até os repórteres experientes estão perdendo a paciência com “âncoras” medíocres. Mas é esse jornalismo que estava ok com a Lava Jato. A cada flato de Moro no gabinete se fazia uma manchete. 😂

Machado Neto: Acho que Bolsonaro não é ideal em nada. Não é líder de massa, nem parece com aqueles líderes de massa intelectuais dos anos 30 tanto no fascismo quanto no comunismo. E é exatamente a vantagem dele. Bolsonaro, se fosse uma pessoa maliciosa com o tamanho da influência que ele tem sobre uma gigantesca parcela da população, se ele fosse uma pessoa ruim como diz o jornalista do sobrenome gringo genérico, ele já teria feito deste país uma ditadura. Mas quem tem feito deste país uma ditadura são justamente aqueles que dizem querer proteger a democracia. “Vamos proteger a democracia nem que tenhamos de implantar uma ditadura”, dizem.

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Desarmamento e fraternidade no último sorriso de Francisco

O Papa que se despede enfrentou tsunamis de ódio, e deixou lições amorosas. Seus conselhos foram breves e profundos.

Tempo previsto
22/4/2025

Francisco foi um excelente pai para a Igreja. Chamo-o assim, pelo primeiro e único nome, porque deixou em seu testamento que deveria ser a inscrição em seu túmulo: “Franciscus”.

Escrito na metade de 2022, o texto oferece o “sofrimento que esteve presente na última parte” da vida do Papa ao “Senhor, pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos”. Infere‑se que, desde então, a despedida esteve em suas preocupações.

É coerente sentir estranheza diante de um líder que telefonava para o pároco de Gaza, e que não se esquivou de pedir o desarmamento e o fim da guerra. Naquilo que chamava de “globalização da indiferença”, os homens passaram a consumir os horrores da natureza violenta sem tomar qualquer providência.

Certamente ele foi atingido pelos tsunamis de ódio que cobriram a comunidade humana nos últimos anos. Nesse sentido, nunca vi tanto descompasso entre católicos. Porém, não me surpreende em nada. Afinal, quem não está perdido?

O riso de Francisco vai fazer muita falta. Seu jeito simples de oferecer conselhos, e de ensinar a dar conselhos. Para ele, um sermão não deveria passar de oito minutos. Que respeito aos ouvidos, e ao tempo dos outros! “O senso de humor é um certificado de sanidade”, defendeu.

Pergunta-se, com razoável preocupação, o quanto as lições de caridade ensinadas por ele estão aprendidas, quanto internalizadas. Para que nenhuma geada queime a lavoura de novos cristãos, os cardeais têm agora o trabalho de escolher um Papa que nos ame.

Uns dias antes de morrer, no fim do ano passado, meu avô Jorge ouviu Ravel comigo. Dedico essa memória.

Da paixão de Cristo à dor em Gaza: violência, responsabilidade e civilização

Reflexão psicanalítica sobre culpa, violência e identidade coletiva, unindo a simbologia cristã ao drama palestino atual.

Tempo previsto
20/4/2025

Quando, às três da tarde da sexta-feira, Jesus suspira e entrega seu espírito a Deus, passamos a nos perguntar “o que fizemos?”. Para um distraído, deve ser nada além de uma culpa a mais para a coleção. Nós, freudianos, porém, compreendemos tal pergunta como a origem da civilização.

É uma questão de geolocalização, se é que me entende.

Onde estamos, exatamente, depois de termos assassinado o Criador? Se estivermos entre os que fazem a si mesmos aquela pergunta, tal qual no mito do parricídio, muito que bem. Algo assim tem potencial de nos deschucralizar. Mas se estivermos para além da fronteira da responsabilidade, estamos perdidos.

É neste último lugar que o indivíduo vibra com um Jesus que “senta o chicote” nos ladrões — sem se dar conta de que ele mesmo é o ladrão mencionado nas Escrituras. Vibra com o ultraje aos líderes fariseus, sem se dar conta de que o Mestre o ultraja no instante da leitura.

Escrevi sobre esse fenômeno, em um capítulo denominado “narcisismo das pequenas diferenças” (é um conceito psicanalítico). Em resumo, o ódio é ainda mais talentoso que o amor quando o assunto é unir seres humanos, formar exércitos, igrejas, e torcidas organizadas.

Quem abre uma bíblia impressa nos anos setenta, oitenta — traduzida por João Ferreira de Almeida, miolo rosa, cortado por um índice tátil — encontra a Palestina na seção de mapas.

Quer dizer. Até “ontem”, ninguém tinha qualquer dúvida quanto ao Jesus que matamos ser palestino. O que nos fez mudar de lado, além do dinheiro?

A filosofia de René Girard coincide com a prática cristã, quando da formação de uma religião a partir da violência, tanto quanto essa mesma violência gera a humanidade civilizada para os freudianos. Mas esse autor provoca particularmente quando o morto é Jesus. Desde que matamos um inocente, a roda da violência gira no vazio.

Se a Páscoa renova nos cristãos a esperança da ressurreição, que pudesse também renovar em todos nós alguma garantia de que, pelo menos uma vez por ano, perguntamos “o que fizemos?”.

Imagem da paixão

A fotografia deste artigo, registrada por Mohammed Salem da agência Reuters e divulgada pela World Press Photo, foi a vencedora do prêmio World Press Photo do Ano. A imagem retrata Inas Abu Maamar, palestina de 36 anos, em um momento de dor profunda ao abraçar o corpo de sua sobrinha Saly, de apenas 5 anos, que perdeu a vida em um bombardeio israelense. A cena ocorreu no hospital Nasser, localizado em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, em 17 de outubro de 2023.

Cultura rumo ao vazio? Ensaios de Mario Vargas Llosa e o papel da religião

Livro de ensaios do escritor peruano questiona raízes religiosas e políticas por trás da decadência cultural moderna.

Tempo previsto
20/10/2025

Ainda que tenha visto o filme Pantaleão e as visitadoras (divertido e indicado!), pouco conheço dos romances de Mario Vargas Llosa, Nobel da literatura — escritor peruano que despediu-se neste dia 13.

Gostava dele! Me recomendaram fortemente uma vez A casa verde — curiosamente um professor americano. Porém, este livro da foto, repleto de ensaios, reflexões e provocações, que ganhei em 2013, li e me foi bem marcante.

Um papo-cabeça aqui: como geralmente em cursos de comunicação a gente estuda Escola de Frankfurt, aprende-se que a culpa, por assim dizer, do esvaziamento poético visto nas artes ao longo da história, da decadência estética do que se entende por belo, bem como o fim da chamada "alta cultura", seria resultado da produção em série, da busca pelo lucro em escala, da indústria cultural: em suma uma consequência do capitalismo.

Pra minha supresa, este livro me revelou um ponto de vista diferente: a questão é política, que envolve a herança de um revanchismo contra o gosto da aristocracia (ou das altas classes) desde as revoluções.

Trata-se de um repúdio crescente à sociedade tradicional, após as grandes guerras mundiais, e, na sua essência, sobretudo: de fundo religioso — afinal, na origem de todas as civilizações, em todos os tempos, justamente dos ritos religiosos advieram e se desenvolveram as manifestações artísticas.

Parte-se da busca pelo sublime, das experiências místicas, que posteriormente formaram as bases do que entendemos por culturas. Um elo que virou apenas um eco na vida ocidental contemporânea, isto quando não totalmente banido, execrado, num mundo que, ao seu ver, culturalmente, caminha rumo ao nada.

Ou, como já observamos agora, para o conteúdo gerado por inteligência artificial.

A fisionomia apavorante do jogo de poder

Entenda como o jogo político transforma pessoas comuns em reféns da desinformação e líderes manipuladores.

Tempo previsto
19/10/2025

A fisionomia do jogo de poder é feia, feita de esgares e berros molhados de cuspe. A gramática de comunicação do jogo de poder é a mentira, a imposição, o grito, a insanidade. A visão do jogo de poder é opaca, concentrada nos próprios objetivos umbilicais.

Os seres que buscam o poder do controle, que buscam com frenesi conduzir os não pensantes, aumentam o tom de voz e distorcem seus gestos e semblantes – para amedrontar seus passivos seguidores, trazendo para palavras e gestos o horror do poder que ambicionam. Mimetizam-se de monstros externamente para combinar com o que habita o subterrâneo das suas não-almas.

A ação deliberada de manipulação leva multidões ao delírio, à paranoia, levando-os a acionar gatilhos de mutação de homens e mulheres comuns em seguidores surdos, cegos – massa de manobra. Bonecos de ventríloquo, animados à distância, que replicam (na ilusão de que são seus) opiniões e julgamentos do controlador.

Como consequência imediata, a dissonância cognitiva individual: justifica-se o injustificável. Um impacto sequente previsível é a dissonância cognitiva coletiva – em pouco tempo, há milhões de pessoas reféns de um ecossistema organizado de desinformação.

O choque de realidade pode mitigar, neutralizar ou anular. Quem sabe, uma sequência de desvelamento da realidade pudesse fazer acontecer o desengajamento da loucura.

O verdadeiro líder se sacrifica em nome da causa. O manipulador sacrifica a causa em nome dos seus objetivos narcísicos. O líder orienta e empodera as pessoas rumo à autonomia. O manipulador sacrifica qualquer pessoa para se safar.

Gerar ondas constantes e consistentes de informação e conscientização pode ser algo possível. Contudo, com efeitos lentos diante da celeridade da ganância dos jogadores de poder.

Enquanto isso, resta abençoar uma fugidia sorte representada pelos pensamentos e ações erráticos de alguns dos jogadores do Jogo de Poder.

Avanço da IA desafia o trabalho humano e impõe nova curva de aprendizagem

O crescimento acelerado da inteligência artificial exige adaptação profissional e novas habilidades comunicacionais.

Tempo previsto
20/10/2025

A discussão relacionada aos avanços da inteligência artificial, especialmente quanto aos riscos de substituição do trabalho humano por robôs e ao potencial criativo que pode ofender quem se considera uma espécie de coroa da criação, parece afetada pelo fenômeno da polarização.

Reconheço que esta análise é simplista no que diz respeito aos fatos. De um lado, percebe-se a inquietação causada por uma nova corrida lunar empreendida pelo mercado em busca de prestígio e futura rentabilidade, o que inevitavelmente influencia a pesquisa acadêmica. Se antes a pesquisa era feita com softwares gratuitos, hoje torna-se cada vez mais dependente de recursos pagos. Do outro lado, em uma postura que ignora deliberadamente a cibernética, parte da comunidade intelectual oferece resistência aos avanços do desenvolvimento comunicacional.

Nesse contexto, quem deseja acompanhar efetivamente o progresso tecnológico dos modelos de linguagem como GPT e Gemini precisa encarar uma curva de aprendizagem que certamente tirará seu sossego. Não será surpresa se, em breve, cada indivíduo passar a operar seu próprio modelo linguístico. Serviços como o Vertex AI do Google já possibilitam a criação de robôs altamente personalizados para as mais diversas tarefas.

Contudo, considerando especificamente a língua portuguesa, percebe-se que modelos de linguagem como os mencionados têm pouca habilidade para captar subjetividades e nuances linguísticas. Afinal, se nem mesmo um ser humano é capaz de compreender plenamente o que usuários publicam na internet, que dirá o pobre robô.

Recentemente, enquanto passava de carro pela rua Brigadeiro Franco, em Curitiba, vi cinco funcionários da prefeitura cortando a grama que ladeia o passeio. Um deles segurava o cortador mecânico, enquanto os demais serviam como postes móveis, sustentando uma tela ao redor do jardineiro. Pensei, naquele instante, nos últimos 300 mil anos de evolução humana sintetizados na escassez de suportes móveis, reduzindo a extraordinária máquina corporal humana a um mero suporte de telas.

É preciso reconhecer, portanto, que certas atividades de rotina — como resumos e geração de textos a partir de vídeos ou áudios — devem, obrigatoriamente, utilizar soluções de inteligência artificial. Caso contrário, desperdiça-se a inteligência corporal e emocional de seres humanos em trabalhos nada recompensadores. Somente alguém que já teve de decupar horas de programas de televisão ou rádio teria autoridade para desprezar a ajuda da IA nessas tarefas, embora isso revelasse inclinação ao martírio.

Há uma última reflexão que me parece importante e diz respeito a uma frequente distorção técnica. Não é correto generalizar toda a inteligência artificial tomando como referência exclusiva um modelo de linguagem específico — especialmente suas versões gratuitas. Usar o ChatGPT não é o mesmo que utilizar diretamente o modelo GPT. Da mesma forma, usar o chat do Gemini difere de explorar todas as potencialidades do modelo de linguagem Gemini. A extração máxima do potencial desses sistemas exige uma execução personalizada, sendo justamente esse um dos trabalhos que desenvolvemos no Lab Digital 2050.

Inteligência Artificial Geral pode causar conflitos entre EUA e China

Disputa pela Inteligência Artificial Geral aumenta risco de escalada militar e ataques cibernéticos globais.

Tempo previsto
20/10/2025

Um ex-assessor da Casa Branca alertou sobre os potenciais perigos do desenvolvimento da Inteligência Artificial Geral (AGI) e o risco de uma corrida armamentista com a China. Segundo ele, a busca pelo controle da AGI pode levar a conflitos internacionais. Especialistas temem que a China possa reagir agressivamente a uma tentativa dos EUA de monopolizar a tecnologia.

As informações foram publicadas pelo UOL em 9 de março de 2025, no artigo A Inteligência Artificial Geral está chegando? É difícil ter certeza. O artigo cita um documento publicado por especialistas, incluindo o ex-assessor, detalhando as preocupações com a corrida armamentista em IA.

A Inteligência Artificial Geral difere das IAs atuais por sua capacidade de realizar qualquer tarefa intelectual humana. Esse avanço tecnológico representa um potencial salto no desenvolvimento de diversas áreas, mas também traz preocupações sobre seu uso indevido, especialmente em cenários de conflito.

O documento sugere que uma tentativa dos EUA de controlar exclusivamente a AGI poderia provocar uma resposta agressiva da China, como um ataque cibernético em larga escala. Os especialistas argumentam que a competição pela AGI pode desestabilizar as relações internacionais e aumentar a probabilidade de conflitos.

A preocupação reside na possibilidade da AGI ser utilizada para o desenvolvimento de armas autônomas e ciberataques sofisticados, o que poderia escalar rapidamente para um confronto direto. Os especialistas defendem a cooperação internacional para garantir o desenvolvimento seguro e ético da AGI.

Gestores mais velhos em restaurantes são mais avessos ao risco, aponta estudo

Pesquisa da UFSC revela que experiência prolongada influencia gestores a optarem por medidas conservadoras.

Tempo previsto
23/4/2025

Um estudo recente publicado na Revista Turismo, Visão e Ação (RTVA) revelou que gestores mais velhos e com maior tempo de serviço em restaurantes tendem a ser mais avessos ao risco em suas decisões corporativas. A pesquisa, conduzida por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), analisou dados de mais de 2 mil restaurantes na Europa entre 2014 e 2016.

A pesquisa, intitulada "Influência das Características da Equipe de Gestão sobre a Tomada de Decisão de Risco: Evidências do Ramo de Restaurantes", utilizou a base de dados Amadeus e aplicou o método dos mínimos quadrados para analisar a relação entre as características dos gestores – idade, tempo de serviço, gênero e tamanho da equipe – e o nível de alavancagem financeira das empresas, usado como indicador de tomada de risco.

Os resultados mostraram uma correlação negativa significativa entre a idade e o tempo de serviço dos gestores e a propensão ao risco. Gestores mais velhos e aqueles que ocupavam o mesmo cargo há mais tempo demonstraram preferência por decisões mais conservadoras, optando por manter o status quo em vez de adotar estratégias inovadoras ou arriscadas.

Contrariando algumas expectativas, o estudo não encontrou relação significativa entre o tamanho da equipe de gestão ou a participação feminina e a tomada de risco. Embora pesquisas anteriores tenham sugerido uma possível influência desses fatores, os dados analisados não confirmaram essa hipótese no contexto específico da indústria de restaurantes.

Os autores sugerem que a aversão ao risco demonstrada por gestores mais experientes pode estar relacionada à priorização da estabilidade e da reputação construída ao longo da carreira. A familiaridade com o setor e a preocupação em preservar os ganhos obtidos podem levá-los a evitar decisões que representem potenciais ameaças ao negócio.

Implicações para o setor

As descobertas do estudo têm implicações importantes para a gestão de restaurantes. A pesquisa sugere que a composição da equipe gestora pode influenciar diretamente a estratégia e o desempenho das empresas. Restaurantes com gestores mais jovens podem estar mais dispostos a inovar e assumir riscos, enquanto aqueles liderados por gestores mais experientes podem priorizar a estabilidade e a segurança financeira.

Próximos passos

Os pesquisadores destacam a necessidade de estudos adicionais para aprofundar a compreensão da relação entre as características dos gestores e a tomada de decisão em restaurantes. A investigação de fatores psicológicos, como a tolerância ao risco individual, e a análise de dados de um período mais amplo poderiam enriquecer a discussão e fornecer insights mais precisos para o setor.

Médiuns sem escuta e espíritos subempregados mantêm pateta

Reflexão provocativa relaciona comunicação, espiritualidade e ruído como caminho para clareza e entendimento.

Tempo previsto
19/10/2025

Falho repetidamente. Agora mesmo, falhei no propósito de ir para a cama às 21h30. Por alguma razão parecida com “puta que pariu! Eu não durmo mais que quatro horas mesmo”, entreguei-me à deriva da escuridão.

Temo que uma autoridade severa chore para me disciplinar: “não é hora de ir ao banheiro”. Atividades em geral. Os chats da madrugada chegaram ao fim, cobertos de areia, desintegrados por um choque, incinerados. Dá aquele dózinho. Toda aquela literatura caótica que me trouxe tantos amigos enlouqueceu, e fala sozinha nos posts do Mark.

O livro que Maku me enviou é bem escrito, claro, mas é lido em supercâmera lenta. A personagem começa a se revelar a partir da vontade de morrer. Não se encontra gente honesta assim com facilidade. Como torradas com cream cheese e geleia de frutas vermelhas. Foi a caixa, o pote. Troquei por nata. Nata não tem erro.

Esse fractal, então: a morte e a vida se explicando pouco, falando rápido e alto, tal qual turistas brasileiras de batom vermelho e bolsas tiracolo encantando o mundo com uma malcriação sorridente. Minha análise, a seguir, é sofisticada.

Há desafinações da vida que são, é preciso repetir, forças da natureza. Desafinações, neste texto, são metaforicamente Meryl Streep interpretando Florence Foster Jenkins no cinema, ou qualquer instrumento que deveria vibrar um sublime “ooowooowooow”, mas acaba por materializar a Vó Jephinha se aventurando fora do tom, sem melodia.

Gosto da água porque ela não perde tempo com pedra ou muro; desvia, aceita um bom túnel, mas, se precisar, arrebenta com tudo. A água toma para si terrenos que nem vocação para piscina tinham, repousando ali uma inundação calamitosa.

As regiões do mundo que estão para desaparecer precisam de suporte intelectual para resolver questões de propriedade, repatriação e o retorno de burocracias previsíveis. Não se pode erguer uma ilha na parte de cima de um sobrado; nem mesmo catedrais japonesas de drenagem fazem diferença no oceano. Perigos assim equiparam nossa inteligência a nada. A natureza é uma das três fontes notáveis de desprazer na psicanálise freudiana.

“E de todo esse instrumento desafinado eu nunca fui aprendiz.” Há esse verso numa letra de Gabrielle Seraine. E na música dela também, quando se canta “[desa]finado”, quando se canta exatamente “finado”, a harmonia se despedaça por um instante, como uma criança filha da puta assoprando uma flauta de plástico. É o vale antes do topo, o “dark before the dawn”.

Espírito de Flusser

Quando o indivíduo desafinado — o “médium” (de mídia, não de falar com mortos) — emite ruídos, a comunicação fica mais nítida. Vamos usar a palavra “comunicação” como um sinônimo futuro para “espírito”, uma belíssima concepção de Flusser.

Nas religiões que lidam com “espíritos”, note-se a similaridade na condução das intenções: portas são abertas e fechadas, pessoas são estimuladas a movimentar a psique, e até mesmo pedidos banais que não passam de burocracias previsíveis. Pede-se, promete-se, agradece-se, expulsa-se, infunde-se — tudo pela conjuração de palavras humanas e inteligíveis.

Aceitar a Jesus, renunciar à maçonaria, declarar a vitória, tomar posse da bênção, fazer macumba para a Dona Ida morrer (criança é muito inventiva) — tudo isso requer falar. Do feitiço do Pai Grego à corrente de oração Sete Batidas na Porta da Graça do pessoal da Janine. Comunicação. Fala. Escuta.

Em alguns cultos evangélicos, diante de uma comunicação insatisfatória, é provável que alguém passe a fazer o papel de endemoniado em favor do grupo. A missa católica tem tantos recursos de comunicação que uma parte do sermão acaba guardada.

Os “espíritos” são assunto antigo, primitivo. Foi o jeito de manter os mortos por perto. Depois, esses mortos viraram demônios. A história registra em termos antropológicos; tenho aqui um original do Frazer que ganhei de Luca. Meu ponto é: se os espíritos “nascem” de mortos domésticos, é natural que, antes de se comprometerem com eventos fora de casa — falando em reuniões espíritas, fazendo vento — estejam disponíveis no inventário da família.

Poderosos porém patetas

Há poder na psicanálise, na Análise Transacional, nos Narcóticos Anônimos. Mas esses empreendimentos precisam de muito mais tempo, especialização e oportunidades para erros do que se pode alcançar em família, quando uma família está disponível. Família, claro, entenda-se amplamente.

Uma família que tenha compreendido a perenidade do amor, que tenha deixado as lutas por reconhecimento para práticas comunitárias, tem mais chances de sucesso na invocação de espíritos poderosos.

O poderoso espírito do criador, para aqueles que creem assim, tem de fazer alguma diferença. Deus está morto? Não se engane. Escrevo sobre comunicação. Sobre conjurar, invocar, boa comunicação. Na última linha do ruído, “tomar posse da bênção”, como bem observado por Nina.

Em português, “espíritos” são comunicação pelo menos desde 1976, quando Cartola compôs: “De cada morto herdará só o cinismo”. A partir do meu tensionamento, Flusser nos oferece uma simplificação: é muita “batalha espiritual” para pouco “conversar igual gente”.

Voltemos. A relação do desafinado, do finado — propriamente a palavra em questão, ruído, essa coisa que perturba o sono — com a nitidez não é somente poesia. A física e a engenharia de computação que sustentam a geração de imagens procedem da utilização de duas etapas bem básicas que não prejudicam uma à outra.

Para melhorar a pele de alguém em uma fotografia, é preciso primeiro o carinho do embaçar, como um hipermetrope sem óculos. Depois, tem de adicionar ruído, algo parecido com a TV antiga sem sinal. E então se pode ver melhor.

Assim, minha sugestão para o grupo — risos — é uma apreciação do ruído, junto a uma observação atenta dos conteúdos das perturbações. Quando acabar essa pilha, com mais nitidez, sejamos arrogantes em nossas pretenções de dignidade,

Só que eu ia escrever sobre algo completamente diferente. Vou fazer outro post.

Suítes no jornalismo se relacionam com queda da confiança

Ausência de atualizações e de contexto em notícias contínuas afeta credibilidade e confiança dos leitores.

Tempo previsto
17/10/2025

Uma suíte jornalística é a continuidade de uma notícia em novas matérias que atualizam as anteriores. Algo como "Duas pessoas ficaram feridas em um acidente"; depois, "Homens que ficaram feridos em acidente fazem cirurgia"; ainda, "Homens que se feriram em acidente recebem alta"; e, ainda, "Empresa responsável por acidente com feridos é multada". Todas essas manchetes fantasiosas têm a ver com um mesmo fato originário.

Não é todo tipo de notícia que merece uma continuidade. Alguns acontecimentos e realizações têm fôlego para uma única aparição. Seja como for, para estar uma ou várias vezes no jornal, a "coisa" tem de ser verdadeiramente uma notícia, o que, basicamente, significa que não é publicidade ou propaganda – mas isso é assunto para outra oportunidade.

Em termos de formato, uma suíte não é nada diferente de uma notícia nova. Até porque só se tem uma continuação quando um novo fato é revelado. Mas é no estilo, pelo que notei, que a marmita das suítes azedou – no sentido de por que perderam o fôlego nos últimos anos.

Vamos tomar por exemplo uma investigação policial. O jornalismo de boa e de má qualidade têm interesse em pautas criminais. Porém, nos dois tipos de qualidade fica um sabor de vício, quem sabe originário do prazer de se "furar" (quando um jornalista é o primeiro em noticiar algo). É uma pressa que mais atrapalha que ajuda: não raro, são apresentadas versões que colaboram com uma história que se quer contar, que pode não ter nada a ver com o que aconteceu de verdade.

Contar toda a história

No caso de Homem armado ameaça jovem negro em SP, e policial se recusa a agir por estar 'de folga'; veja vídeo, por exemplo. É uma história que rapidamente conquistou a atenção dos jornalistas e do público, porque um vídeo comprova não somente a omissão de uma policial como também a agressão dela contra um jovem. Aqui, não está em discussão se a policial acertou ou errou. Ao mesmo tempo, faltou, pela ausência de suítes, a ampliação do contexto do vídeo de três minutos.

Uma história contada por sua característica intrigante pode render minutos de audiência, e um aumento de visitantes no site. Porém, sem continuidade, é um tiro no pé. Em 2023, o Digital News Report do Reuters Institute identificou que a confiança dos brasileiros no jornalismo é de 43%, uma diminuição de 19 pontos percentuais desde 2015. Estatisticamente, a tendência de queda pode marcar 41% em 2024. Nesse cenário, todos os recursos de inteligência e de integridade são bem-vindos para melhorar esses números.

As suítes são uma oportunidade para garantir ao público que as escolhas de pauta representam, ainda que contramajoritariamente, o compromisso do veículo com uma história contada do começo ao fim, com todas as nuances. Para isso, a linha editorial como um todo, e mais ainda os repórteres e editores, têm de encarar a atividade investigativa com o desprendimento de contar as coisas como elas são, e não como deveriam ser.

Ridículo e coragem são bem-vindos para ser quem se é

Ser autêntico exige superar medos e estar disposto a enfrentar os julgamentos externos com coragem e verdade.

Tempo previsto
11/4/2025

Os ares de novidade que uma virada de ano traz parecem com os efeitos de uma renovação de votos. É, digamos, uma oportunidade. A título de analogia, uma cerimonia de bodas por si mesma é impotente para realizar mudanças no casal, no sentido de ampliações de confiança e de reciprocidade, e da consequente felicidade dessas ampliações. Uma cerimônia em si não é nada, mas a concentração da dupla para uma aquisição de consciência melhor é sim. Com o ano novo é muito parecido.

É completamente compreensível desprezar a contagem do tempo pelo calendário comercial, quando o que se intenciona é uma vida livre e frutífera. Uma história pessoal não poderia estar (mas frequentemente está) sujeita à mecânica do trabalho exaustivo: férias, recessos, e feriados. Coisas dessa categoria são muito bem-vindas, é claro, mas correspondem quase sempre à lógica da indústria e do consumo. Daí entra aquele provérbio: “quanto mais você tem, menos você é”.

Nesses contextos, comprar uma roupa nova para o réveillon pode ser uma atitude ambivalente. Em uma mão está a obrigação da compra, da competição que se estabelece com os outros convidados da festa. Na outra está uma legítima disposição para o autocuidado, e para que a parte externa corresponda à novidade do eu mais íntimo.

Para mudar de ano dentro de si é requerido um certo ridículo. Isto é, cruzar a linha do ridículo. Em vez de uma fantasia, vestir-se com o que realmente corresponde ao que se é. Não é fantasiar-se de ser, é ser em essência. Algo interessante é o fato de que aquilo que se deseja ser no futuro somente pode ser verdade se o for agora mesmo. Essa é uma ideia muito básica da filosofia. É também verdade que se algo deixou de ser é porque jamais o foi.

O que chamei de ridículo anteriormente poderia ser também chamado de coragem. Calçar os próprios sapatos, abrir o peito: pensar, falar, agir, e festejar a partir do que se é verdadeiramente, que sempre o foi, e será para sempre. Mas a coragem está menos no aspecto comportamental, que até mesmo um ator canastrão poderia interpretar com toda covardia, e muito mais em uma permissão para que o espírito individual comunique ao mundo o que veio fazer.

Ilusão e mentira são origem de nossa apatia com o genocídio

Indiferença diante do sofrimento humano decorre de mentiras históricas e ilusões sobre o alcance de nossa empatia.

Tempo previsto
17/10/2025

Este artigo não é exatamente esperançoso, se lido às pressas. Ele tende a fazer mais sentido quando, pela conversa difícil, conquistamos alguma liberdade para pensar e agir sobre as guerras sem a interferência dos exércitos. Afinal, não há nada que os que promovem a guerra possam fazer pela paz.

Lembro de minhas primeiras aulas sobre Segunda Guerra. Bem, como esquecê-las. À época, achava nem um pouco atraente saber em que anos ela tinha começado e terminado. Considero que as datas faziam pouco sentido para mim devido minha inexperiência de relacionar eventos. Além do mais, minha pouca idade não diferenciava o que cabe em um, dez, ou cem anos.

Em linhas gerais, e para efeito de prova, a Segunda tinha vindo depois da Primeira. E se chamava mundial porque aqueles que a chamaram assim consideravam que o mundo inteiro se resumia a eles. Conhecimento de Ensino Fundamental que vale para a atualidade.

Abre parênteses. Quem passou pelos anos noventa sabe que, em termos de IML, gente atropelada, esfaqueada, cadáveres em putrefação, a televisão nos abasteceu abundantemente com imagens violentas. Na cidade onde eu cresci, uma mulher afogou os dois filhos em um poço, e depois se jogou também. No programa do almoço, assisti aos corpinhos que boiavam. Outro caso foi o da filha que, com a ajuda da namorada, matou a mãe, e a vó. Sem contar o estupro, assassinato e roubo empreendidos contra uma idosa que morava sozinha na Rua XV.

No fim das contas, os que morriam e os que matavam tinham algum parentesco com alguém próximo. Eram, de todo modo, degenerados, não contavam exatamente como gente. Isso sem contar os casos nacionais, Chacina da Candelária, Daniella Perez, Índio Galdino. Fecha parênteses. Este é meu argumento: fica difícil impressionar uma criança brasileira.

Aqueles homicidas comuns, embora perigosíssimos, tinham praticado seus crimes de sorrate. Foram descobertos, e, depois, televisionados, presos, linchados, ou mortos pela polícia. Mas o que nos contavam sobre os campos de extermínio era totalmente diferente, e muitas vezes mais assustador. Tinha algo de errado em multidões assassinadas à luz do dia.

Jeito que ficou

O que sabemos sobre o genocídio de judeus está marcado em preto e branco em nossas memórias, tanto pelas fotos quanto pela brilhante obra cinematográfica A lista de Schindler (1993) dirigida por Steven Spilberg. Graças às novas tecnologias, parte dessas memórias podem nos tocar ainda mais profundamente. A partir da reunião de recursos digitais, eu mesmo colori uma foto de crianças sobreviventes de Auschwitz tirada por Alexander Vorontsov.

"Um grupo de crianças sobreviventes atrás de uma cerca de arame farpado no campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polônia, no dia da libertação do campo pelo Exército Vermelho, em 27 de janeiro de 1945" (Getty Images). Tradução nossa.

É difícil olhar para elas e dizer: “nós desprezamos suas famílias ao máximo, escolhemos quem seria escravizado e quem seria morto e incinerado em nossas quatro câmaras de gás com crematórios”. Porque foi exatamente o que, no papel de humanos, fizemos. Tomar a responsabilidade por aquela desgraça é uma dor para a toda a vida, e não acho que haja qualquer outro jeito de lidar com ela senão carregá-la, com vergonha e arrependimento, até o último dia.

Encarar a inumamidade não é, porém, o mesmo que estagnar para a lamúria. É exatamente o contrário. E, para andarmos o mínimo necessário, temos de nos desfazer de duas ilusões convenientes. A primeira é de que toda responsabilidade pode ser atribuída ao Führer. Sejamos, ainda que isso nos incomode em níveis quase insuportáveis, coerentes. Nenhum homem seria capaz de empreender sem ajuda o Terceiro Reich. Em 1935, o Partido Nazista promulgou as leis de discriminação racial, e o Sr. Bigode não estava sozinho – como se pode comprovar pela filmagem oficial.

"Judeus húngaros a caminho das câmaras de gás. Auschwitz-Birkenau, Polônia, maio de 1944" (Enciclopédia do Holocausto). Colorido por Vinícius Sgarbe.

A outra ilusão clássica é a de que o “mundo” da Segunda Guerra Mundial não impediu o genocídio simplesmente porque não sabia de nada. Ora. Ao pensar melhor, nem acho mais que se trate de uma ilusão – uma vez que nem toda ilusão é necessariamente um equívoco – , mas de uma mentira deslavada. Com a ilusão, conquistamos certo alívio psíquico, que frequentemente se converte em prazer orgulhoso: “eu jamais teria feito algo assim”. Com a mentira, mantivemos a ideia de que temos um poder que, em verdade, não temos.

Mentira

Desde a Guerra do Golfo, mais um ridículo dos anos noventa, conflitos militares internacionais passaram a ser também programas de televisão. Não se trata de uma figura de linguagem. Literalmente, as guerras são simultaneamente programas de televisão. É preciso ter pouca inteligência – às vezes nem essa eu alcanço – para compreender que as imagens que consumimos são realizações de uma pessoa. Alguém segura a câmera, escolhe quando apertar REC, quando parar, em que posição se verá o que ele vê, o que entra ou não no quadro. No caso de uma geração por inteligência artificial, alguém terá de escrever o prompt.

Desse jeito, o produto midiático da guerra integra o arsenal geral da guerra. Quem tem mais ou menos recursos para criar e propagar estórias tem, por consequência, mais ou menos poder bélico. É justo perguntar qual é o alcance de destruição de uma arma dessa estirpe. Desde a constituição espontânea de uma esfera pública, e sua progressiva e irreversível decadência, a opinião pública é utilizada para legitimar ou não as ações do Estado. Se convenço o Brasil de que sou “do bem” e que o outro é “do mal”, então os brasileiros tendem a pressionar seus governantes numa direção específica, cujo produto varia de apoio nas redes sociais digitais a proposições no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Contar a melhor estória, porém, não tem nada a ver com contar a história mais precisa. Esse critério de qualidade está restrito a cidadãos que não se comovem facilmente com os apelos das massas – gente que, em cada círculo social, pode ser contada nos dedos de uma mão.

A caminho dos finalmente. Então, se o mundo soubesse do aniquilamento de humanos na Segunda Guerra teria agido para proteger os judeus. Garanto que com uma mente limpa, e três ou quatro vídeos do apocalipse na Palestina, pode-se garantir com cem por cento de acerto que se trata de uma mentira.

Fraqueza

Nem mesmo os termos adequados para tratar os crimes de guerra na Palestina têm sido usados adequadamente, em diferentes parlamentos do mundo. A colunista do The Washigton Post Jennifer Rubin escreveu que “quanto mais perto se olha, mais Netanyahu se parece com Trump”, no pior sentido. O artigo afirma que “cerca de oitenta por cento dos israelenses culpam o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu governo de coalizão pela catástrofe do Hamas, de acordo com uma pesquisa do jornal hebraico Maariv”.

"Pelo menos mil crianças palestinianas foram mortas em Gaza desde que Israel lançou a sua campanha de bombardeamentos na região" (Fars News Agency, 17.out.23). Tradução nossa.

No Brasil, a deputada que nasceu para jumenta e jamais chegará a égua Carla Zambelli publicou a imagem de uma águia estadunidense e israelense sobre um rato palestino. Estou persuadido por mim mesmo a não esperar que esse projeto de pessoa seja capaz de compreender o tamanho da própria bestialidade.

Diante de listas nominais de milhares de civis mortos por Israel, a resposta do “mundo” é tão fraca, lânguida, frouxa. Quem sabe seja o momento desta consciência: somos incapazes de impedir a violência pelo mero conhecimento de que a violência existe. Estou avisando você agora: nas próximas horas, crianças palestinas vão ser brutalmente assassinadas, ou mutiladas, e as que sobreviverem terão visto suas famílias e amigos explodirem. Saber disso não muda absolutamente nada.

Há algumas horas, um menino palestino foi buscar uma bola, quando houve um bombardeio bem atrás dele. As costas de seu sobrinho foram feridas. Mas o sobrinho está melhor que Saleh al Qaraan, que teve a cabeça desfeita na explosão.

Acostumado a encontrar posts com animais no Instagram todos os dias, vi um gatinho malhado pular no colo de palestino, no qual repousava o corpo pálido de uma criança morta. O gatinho se aninhou, e fechou os olhos. Sem contar a mãe que, com o bebê morto embrulhado em pano branco, recusava-se a parar de beijá-lo. Ou ainda os incontáveis vídeos de crianças em ataques de pânico dentro de hospitais.

Na dimensão individual, meu trabalho ou o seu contra a guerra e nada parecem bastante. Não podemos contar, pelo menos não agora, que a prudência dos sábios consiga uma hora na agenda dos líderes do mundo. Mas defender os civis palestinos ou não, agora, em toda e qualquer oportunidade, diz sobre o que aprendemos sobre nossa maldade.

Novas considerações contemporâneas sobre a guerra e a morte

Reflexão propõe nova consciência histórica e sociológica para romper ciclos de violência religiosa e nacionalista.

Tempo previsto
10/10/2025

Nós poderíamos, com sobras de justificativa, passar o resto de nossas miseráveis vidas lamentando profundamente as guerras. Isso sequer pareceria inadequado. Qualquer ser humano que se incomode com assassinatos tem uma grande chance de ser uma pessoa decente, mesmo que seja ranzinza. Eu proponho ainda outra opção: deixar o papel de resignação para aqueles que se aposentaram do trabalho de criar o mundo.

É ingênuo pensar que a criação é uma tarefa concluída. Há quase tudo a ser feito, especialmente no que diz respeito à consolidação da paz entre os povos. Pode ser que este texto contenha mais ou menos elementos do que o necessário para uma sustentação clara. Então, antecipo-me e garanto que estou aberto a discuti-lo. Vou evitar referências e compartilhar apenas o que está vivo em mim.

O linchamento do inocente Jesus é, sem qualquer dúvida, uma prova de amor. É a partir desse ato fundador da paz que a roda da violência tem girado no vazio há dois milênios. Se havia, em nós, humanos, a necessidade de dilacerar um corpo para a execução de um rito de passagem, esse desejo foi realizado. Se a civilização ocidental está fundamentada nesse ato, e está, então podemos progredir para a consciência decorrente desse ato: “o que fizemos?”.

Tenho pouca ou nenhuma vontade, na verdade, nenhuma, de submeter minha razão às interpretações religiosas dos textos religiosos. Na minha concepção de Deus, sequer está na índole dele promover coisas pequenas ou privilegiar pequenos grupos. Com isso, espero ter explicitado minha conclusão de que, independentemente da vertente religiosa, se o sacrifício humano de Cristo está presente, então não podemos — sob nenhuma emenda — compactuar com o assassinato. É, aqui, uma questão mais sociológica e histórica que mística.

Abraão e seus dois filhos. Gerado por IA.

A cisão abraâmica entre judeus e islâmicos é também uma questão sociológica e histórica, embora não somente isso. Pai Abraão, o que foi que o senhor fez? Delegar completamente essa questão civilizatória aos domínios da religião é o mesmo que abdicar do progresso civilizatório como um todo. Cem por cento dos pontos de vista sobre a guerra fundamentados no transcendente individual são inválidos para uma solução de paz.

Para nós, cristãos, fumar o cachimbo deixou nossa boca torta. Foram tantos sermões e músicas com o nome Israel destinado a ocupar um certo tipo de origem de nossa fé que agora, quando um país com o mesmo nome está no centro de uma disputa geopolítica, somos tentados a solucionar a interpretação com base em promessas de nossa religião.

Se a Bíblia tem qualquer validade para católicos e protestantes, em especial, e tem, recomendo uma leitura atenta do livro de Hebreus — meu favorito tanto pela literatura de excelente qualidade quanto pela contribuição à fé. Basicamente, o texto trata do sistema humano de contenção da violência que fracassou miseravelmente e apresenta uma perspectiva de elevação espiritual pela qual todo sistema religioso se desfaz a partir de um sacrifício final. É quando o deus étnico, regional, dos israelenses do Velho Testamento coloca em prática seu plano universal. Com o deus étnico morrem também os métodos ineficazes de solucionar o sofrimento humano, substituídos pelo amor.

Essa questão deve ser observada quando se trata da constituição de uma interpretação brasileira para a guerra no Oriente Médio. A influência de nossas crenças religiosas sobre a esfera pública política ficou ainda mais notável nas duas últimas eleições presidenciais. Se quisermos avançar minimamente na pauta da paz, devemos ser hábeis para redirecionar nossas emoções individuais para compartimentos mais adequados. Nesse passo, aquilo que é da experiência inegável e transcendental deve ser submetido a uma prova de relevância: minha perspectiva acarreta assassinatos? Se sim, tal perspectiva deve ser acolhida, respeitada interiormente, mas desconsiderada para sustentação racional e pública. Não se dialoga com o assassinato. “Matarás?”. “Não matarás”. Assunto encerrado.

A culpa decorrente do assassinato, problema que tentamos solucionar pela submissão ao plano divino da graça e outros recursos civilizacionais, pode ser inexistente dependendo do contexto em que a morte ocorre. Nas guerras, o homicida está integrado a uma formação artificial de massa, ou seja, o exército. Nessa adesão ao exército, o indivíduo renuncia ao seu padrão moral individual, que é substituído pela moral do grupo. Nesse caso, ele poderá matar à vontade, sem que se pergunte por que diabos está fazendo aquilo. As massas são formações perigosas, e suas vantagens, como o folclore, são as mesmas que nada na comparação com seus danos.

Estamos impregnados de violência há pelo menos trinta e nove anos, desde que cheguei ao mundo. Para não perder a sensibilidade, comecei a contabilizar a morte pelo sistema métrico internacional. Em minhas contas, tivemos que enterrar cerca de noventa e oito toneladas de carne humana fornecida pelo Hamas ao mundo. Competitivo, Israel foi ainda mais generoso em seu banquete, servindo-nos 450 toneladas de cadáveres — muitos ainda insepultos. Soluções completas para o futuro da humanidade, que estavam nessas pessoas, foram reduzidas à depressão alastrante, quando o cérebro apaga a luz.

Vendedor no deserto. Gerado por IA.

As pedras do Passeio Público sabem que a origem nacionalista e religiosa da guerra rapidamente se transformou em um grande negócio. Agora, valem as regras do mercado. Jamais se tratou de uma Nações Unidas enfraquecida. É a habilidade de negociação dos povos que está enfraquecida, de modo que a diplomacia nos serve de índice. O patético veto dos Estados Unidos à Resolução do Brasil que previa ajuda humanitária, seguido pelo patético oferecimento de uma nova Resolução pelos mesmos Estados Unidos, levou ao veto da Rússia e da China. O embaixador israelense pediu a renúncia do secretário-geral da organização. Temos Estados Unidos e Israel conversando apenas entre eles, enquanto o resto do mundo espera atônito.

A constituição básica de uma esfera pública se dá por pessoas privadas que discutem com base em razões. A rebeldia não é uma razão. A submissão não é uma razão. A intuição não é uma razão. O impulso não é uma razão. É cedo para estimar uma data, mas não para afirmar que, diante de uma derrota tão humilhante, a diplomacia mundial terá que evoluir suas práticas comunicacionais e deliberativas. Teremos que elevar nomes acima de nós que traduzam nossa confiança na resolução de problemas — líderes inteligentes, éticos e, sobretudo, criativos em suas proposições.

Israel tem o direito de se defender? Não, tem o dever. O Hamas é um docinho de coco? Não parece diferente de uma milícia carioca, exceto pelo planejamento, pelas armas melhores e por uma mágoa ancestral. São instituições equivalentes? No que diz respeito à constituição formal, não. Mas no caráter decrépito de assassinar, seus resultados não são diferentes, exceto pela quantidade jorrada de sangue.

A história registra que os judeus foram objeto de ódio irresponsável perpetrado por inúmeras instituições. Esse ódio se manifestou de diferentes maneiras. Embora tenha atingido seu ápice no Holocausto, desenvolveu-se de maneiras mais sofisticadas — por que não dizer civilizadas — sem perder sua característica de ódio. A criação de um estado para esse povo, longe de ser um mero beneplácito da comunidade internacional, não esconde o verdadeiro propósito dos países de manterem os judeus afastados de seus territórios.

Mulheres em Auschwitz. Polônia, 1945.

Sob a perspectiva da filosofia contemporânea, o que se compreende como luta por reconhecimento termina, de maneira lamentável, no judeu. Os extermínios dirigidos a pretos, estrangeiros desinibidos e toda sorte de gente não submetida, simbolicamente, se destinariam ao judeu. Essa interpretação é compartilhada por autores que chegaram a ela de maneira independente. O judeu da Bíblia, do Holocausto e da comédia, porém, não é a autoridade israelense contemporânea. Tal autoridade não é uma unanimidade nem mesmo entre os próprios israelenses, quanto mais na comunidade internacional. Além disso, o israelense nascido no Israel de hoje sequer é necessariamente judeu.

Se temos a liberdade de questionar o conteúdo histórico do Pentateuco e de outros compêndios judeus, e temos, podemos chegar rapidamente à constatação de que suas abordagens favorecem de forma desproporcional um povo messiânico que se autodenomina escolhido por Deus para governar sobre seus irmãos. Em linhas gerais e específicas, um judeu fundamentalista, à semelhança do fundamentalista islâmico, acredita ter licença para fazer o que quiser, pois Deus não somente o autoriza, como o ordena. Toda a obra salvífica que se consolida, para os cristãos, na morte de Cristo não tem nenhuma validade para esses fundamentalistas, então, para eles, a roda da violência gira em seu umbigo especial. Se não devemos constranger a crença religiosa do outro, e não devemos, mas essa crença transgride o código civilizatório, então poderíamos contar com a adesão do outro à discussão do código civilizatório, pelo menos.

O governo atual de Israel tem a aparência de um estado: tem um primeiro-ministro, eleições, mas suas ações demonstram que não se trata de um estado democrático suficientemente desenvolvido em relação às suas interações com o mundo. Isso se manifesta em uma recusa ao diálogo. É necessário observar os aspectos emocionais da relação entre Israel e o mundo. Ainda que as motivações intrinsecamente ligadas ao deus étnico e à prática de conquista de territórios ordenada por tal deus tenham sido superadas, restam os vestígios emocionais dessas experiências. É compreensível, embora lamentável, que o Israel atual esteja conectado à beligerância de seu passado histórico.

Quanto à Palestina, ela é o novo judeu — considerando a filosofia do reconhecimento mencionada anteriormente. Levada às últimas consequências, a ideia de que o abusado tem um enorme potencial para se tornar um abusador poderia se aplicar a um grupo, ou mesmo a um comportamento de massa. Daqui a dez anos, quando eu lembrar desta guerra, a menos que algo ainda pior me surpreenda, em minha mente haverá a imagem de uma mãe palestina que, aos gritos, reclamava que seus filhos estavam com fome quando foram assassinados. O povo palestino é subalternizado de muitas maneiras e por muitos interesses. As informações sobre esse povo, apresentadas neste artigo, estão disponíveis como anexo no canal do YouTube Outras Terras Filmes (http://outrasterras.com.br).

Fracos contra fim do mundo, poderosos fazem comércio de almas

Reflexão inquietante sobre a tragédia palestina, o papel da comunidade internacional e os limites morais da humanidade.

Tempo previsto
12/4/2025

Um tempo atrás, procurei pela Palestina no Google Maps, e a encontrei no meio do oceano. À época, concluí que o mundo tinha terminado, pelo menos um projeto de mundo, ao encontrar um povo que tanto me ama e é amado por mim afogado no ódio em que alguém em algum lugar o afogou.

Hoje, depois do assassinato de centenas (o número é impreciso, mas impressionante) de palestinos que estavam em um hospital, eu me dei conta de que o mundo terminou para eles, que o apocalipse, o fim dos tempos, chegou para aqueles humanos. Viram a vergonha, a fome, e morreram.

Imagine comigo. De repente, uma autoridade estrangeira ordena que você saia da sua casa. Ao fugir sem carregar nada, sua jornada é de sede e fome. Depois, veem-se escombros, poeira, amigos e família estirados no chão, uns decepados, outros sem sepultura. Então você também morre.

Se isso, que é verdadeiro, não torna também verdadeiro que chegamos ao fim do mundo, então o que viria a ser o fim do mundo? Desastres naturais, por piores que sejam, pelo menos são honrosos. Ninguém poderá culpar o vulcão. Genocídio com apoio de grupos religiosos é fim do mundo.

A postura da comunidade internacional é insuficiente. A humanidade está demasiadamente paralisada na reação às guerras, os poderosos não são verdadeiramente poderosos. Não passam de homens do mercado! E de um mercado de almas, descrito lá no Apocalipse de João.

Analistas vendem transformações, enquanto impostores lucram com ilusões

A busca genuína pela coerência e transformação pessoal contrasta com promessas vazias e ilusórias do mercado.

Tempo previsto
23/4/2025

O convite para uma transformação pode ter inúmeras motivações. Em termos empresariais, por exemplo, pode partir da necessidade dos fundadores ou gestores de, ao criar um ambiente propenso à felicidade, aumentar a produtividade e, por consequência, os lucros. Em iniciativas governamentais, impulsionar os servidores e parceiros, pela percepção deles de segurança e reconhecimento, é um jeito de ampliar a criatividade, e de fazer os projetos andarem ainda mais rápido. Essas são motivações legítimas. Mas esses planos tendem a fracassar miseravelmente, apesar das excelentes intenções, se o emissor do convite não der provas de que se submeteu às mesmas transformações que propõe, e que essas o aproximaram de uma vida boa.

O termo “vida boa” pode ser observado a partir de muitos pontos de vista, da sabedoria ao teórico. Ele pode ser explorado pelas perspectivas da filosofia, democracia, teoria crítica (Habermas está frequentemente associado a tal pesquisa), mas nos importa sua versão acessível e carregada de humanidade: uma vida que encontrou um caminho suficientemente bom para diminuir o sofrimento. Uma vida que sofre menos é uma vida boa.

A maturidade, que evidentemente pouco tem a ver com a idade, pede sempre mais coerência. A coerência poupa energia, poupa tempo. O universo, coerente, usa seu poder para criar luzes, estrelas pequenas e distantes. A natureza, coerente, não pensa duas vezes antes de derramar o mar sobre o continente, quando isso deve fazer. Não se dialoga com o ciclone, com a erupção. Quem foi capaz de marcar uma reunião com as profundezas do subsolo e cancelar um terremoto? O aparente caos do ambiente é, a bem da verdade, a coerência da vida.

Nós, uma humanidade frágil diante da natureza e dos sofrimentos causados pelos outros, aprendemos, então, que a coerência é uma aliada da vida. É coerente, para o indivíduo que acredita sobre si mesmo que é menor que os outros, que emita sinais que organizem a consumação de suas percepções. É coerente que quem acredita, erroneamente, claro, que é maior ou melhor que os outros construa cenários que provem a ele que tem razão. Moral da história é: toda e qualquer vida humana, sábia até as últimas consequências, organiza o mundo para continuar viva. Se o único jeito de viver que aprendeu foi submetido, humilhado, mendigo de afetos, é coerente continuar assim, justamente para continuar vivo.

A defesa civil, entretanto, envia SMS quando os riscos de temporais são perigosos. Receber um convite para uma transformação é como um alerta da defesa civil. É um alerta de que as crenças e comportamentos estão prestes a causar mais um dano. Se é possível impedi-lo? Pela coerência: muito provavelmente não. Mas é possível criar planos de emergência, planos de futuro. É possível desocupar áreas perigosas da alma, mudar para paisagens mais altas, sóbrias, e refrescantes.

Quanto a mim (nos próximos parágrafos, decido não usar a tradicional primeira pessoa do plural freudiana), não ouso, não mais, convidar qualquer irmão (como chamo outros humanos) a algo que possa atrasar ou interromper o caminho dele.

Muito antes de acreditar em melhoras na qualidade da análise, da pesquisa, da técnica, tenho devoção pela liberdade humana. Ela pode ir para onde quiser, e terá, sempre que eu tiver condições, e for apropriado, minha companhia.

Se eu tivesse uma verdade universal, eu a apresentaria e, sem qualquer necessidade de convencimento, seria amplamente aceita. Jamais é o caso, porque o que compreendo por verdade pode não fazer o menor sentido para meu irmão. Mas tenho uma verdade ou outra não universal que às vezes é boazinha.

O certo é que costumo confessar a meus críticos intelectuais e políticos que estou em busca de um mapa de coerência. E não vejo a hora de mudar de ideia no que se pode mudar de ideia! De todo modo, realizei a façanha de ser relevante para mim mesmo, o que é muita coisa. Isso me poupa de de cair na lábia dos impostores.

Com isso, espero ter deixado claro que não posso, nem hoje e nem no futuro, prometer que tenho a revelação de um segredo, um jeito infalível, um milagre que pode render gargalhadas e dinheiro. Deixo essas promessas para quem tem experiência com elas: os que iludem e os que são iludidos (quase sempre pagam, em dinheiro, por isso). Isso não me desqualifica como vendedor, entretanto. Sob condições éticas, no papel de teleatendente, fui o melhor em vender débito automático na Tim Sul S/A, em algum mês de 2004, um ano antes de começar minha vida profissional no jornalismo.

Quando você me contratar, vai me remunerar pelo que posso fazer pela transformação que procura para si mesmo e para seus negócios. E será sempre muito mais caro do que os que iludem. Se a coerência é um diferencial de vida, que dirá de mercado.

Sou um pouco mais livre, e um pouco mais feliz, hoje do que fui ontem. Minha observação realista (embora eu seja um pessimista sereno) da vida é um suspiro desiludido. Quando, aos 15 anos, sofri amargamente o término de um namoro que tinha sido a melhor coisa de toda minha vida, e que jamais se repetiria, porque aquela era a minha única oportunidade de felicidade, e naquele momento só me restava viver em luto até minha morte solitária, um amigo que poderia ser meu bisavô me disse: “Vine, sabe qual é a vantagem de estar desiludido? É não estar iludido”.

No começo, deixar de acreditar em promessas deixa a gente incomodado. Depois, vai se tornando um estilo de vida tão sincero, tão honesto, tão coerente. Deixei de exigir dos outros que sejam o que eu espero deles. E não estou nem aí quando me exigem ser o que não sou. Entra por um ouvido e sair pelo outro. Ainda sofro, mas em uma vida boa, que sofre menos. No fim das contas, quem diria, eu sou um homem feliz, na medida do possível.

Intuição bem treinada refina análise a preço emocional

Descubra como o Estado do Ego "Professorzinho" da Análise Transacional afeta nossa intuição e relações interpessoais.

Tempo previsto
12/4/2025

Em Análise Transacional (AT), a "pulga atrás da orelha" é chamada de Estado do Ego Pequeno Professor. Uma tradução contemporânea poderia ser "Professorzinho". Essa versão soa coerente com o propósito de Eric Berne de fazer com que a AT seja compreendida por crianças.

Quando o Professorzinho está cheio de catexia, de energia psíquica, passamos a saber sobre algo que não está explícito. Diante do fato psíquico, podemos dizer: "Acho que você precisa de um abraço." E o outro responde: "Nossa, eu esperava por isso há muitos dias".

Como se trata da mente humana, há um sem número de elementos que concorrem para uma análise. Quero deixar claro que a mera existência de um dispositivo de leitura subjetiva, desse Estado do Ego, não é garantia de que a avaliação da circunstância seja a adequada, ou sequer real.

Tenho repetido uma frase arrogante de um jornalista de política que é: "É muito bom dar opinião, mas estar certo é melhor ainda." Quando o escrúpulo mínimo da condição humana existe e é ouvido pelo menos às vezes, a capacidade, digamos, profética, fica enriquecida. Tem um preço.

"O desconforto é visitante assíduo", explica minha supervisora em AT, Maku de Almeida. Conforme a qualidade das observações cresce e se descobre que o Professorzinho tinha razão desde o começo, é doloroso admitir que pessoas tão amadas ainda vivam miseravelmente.

'Que Natal mais lazarento, Pedro!', e histórias de São José

A memória afetuosa e bem-humorada do convívio entre vizinhos revela alegrias, conflitos e ironias de outros Natais.

Tempo previsto
11/4/2025

Compadre Pedro é o nome composto do saudoso vizinho Pedro Zotto. Ele e meu avô Jorge Camargo, por sua vez Compadre Jorge, ergueram suas casas em uma área desurbanizada de São José dos Pinhais, a partir dos anos 1950. Foram tão amigos que, além das casas em esquinas do mesmo cruzamento da Avenida das Torres, compraram mausoléus lado a lado para a aposentadoria. Compadre Pedro mudou-se para o último endereço há alguns anos.

Enquanto os maridos se davam muito bem, as esposas travaram guerra permanente. Embora comadres, não perderam nenhuma única oportunidade de causar as mais divertidas confusões. "Vizinhas Muito Loucas", na sua Sessão da Tarde. Eram brigas tão banais que sempre tivemos a impressão de que acima de tudo ficava o cômico. Comadre Ida também mudou-se para o último endereço.

Ambas as famílias passaram pelas dificuldades características daquelas que são pobres e têm qualquer dignidade. Foram saqueadas, principalmente, por ideias religiosas, por ilusões terríveis. Tentaram, por uma vida, resolver as coisas com feitiços. Velas, correntes de oração, junto a bastante intolerância religiosa. Quem jamais se deixou afetar por essas bobagens foram os compadres. E as então crianças.

Uma das brincadeiras daquelas crianças que eu adoraria ter filmado era o casamento. Havia noivos, mãe e pai dos noivos, padrinhos e, claro, o padre. Juarez pegava escondido o vestido preto da Comadre Ida para fazer de batina. Também realizavam cultos de exorcismo. Certa feita, o pai de uma criança do bairro viu que o filho interpretava um endemoniado e soltou a cinta em cima do menino. Sem contar a “macumba para morrer”, que juntava pedras e um pouco de mato. A liberdade infantil muito rapidamente se converteu em imposição cultural, e as brincadeiras acabaram.

Contam os mortos, não poucos, que em mim deixam saudade e também raiva. Uma das minhas neuroses é culpar os mortos por suas mortes, não os perdoo por terem me deixado sem eles.

No último Natal, a bisneta de Compadre Pedro esteve no colo do Compadre Jorge. Íntegro feito um carvalho de tronco grosso, Jorge chorou duas vezes ao ver a antiga casa dos Zotto demolida. E outra vez chorou quando segurou a bisneta que também é dele.

Há cerca de trinta anos, quando a festa de Natal era a mesma para aquelas famílias do coração, e a degenerescência da vida estava em pleno vapor, um parente de Compadre Pedro disse a ele a frase que se repete várias vezes ao ano até hoje:

—Que Natal mais lazarento, Pedro!

Natalia Pasternak é a Mara Maravilha da psicanálise

Autora polêmica em tempos de pandemia veste papel midiático ao questionar status científico da psicanálise.

Tempo previsto
11/4/2025

Natalia Pasternak era uma mulher ruiva que falava de coronavírus, pelo que me lembro da época da pandemia. Nos anos que em que esteve no ar, faltou-lhe o cuidado de adquirir uma câmera e um microfone adequados. Foi uma fonte do jornalismo amoldada em personagem de televisão, o que é regra geral das relações estendidas com a TV (Drauzio Varella, o médico benevolente; Caco Barcellos, o jornalista infalível; Gil do Vigor, o ex-BBB-economista estrambólico).

Não acho que aquela senhora tenha percebido que estava sendo usada no papel de professora megera (que parece desempenhar muito bem). Ela foi útil enquanto concedeu selos imaculados de “ciência” a qualquer coisa contrária a Bolsonaro (embora toda ajuda contra a ignorância daquele presidente fosse muito bem-vinda, de qualquer modo).

Não é preciso ser um gênio da infectologia para afirmar que vermífugo não é muito bom contra vírus. Além disso, não se tratava de uma discussão intelectual ou técnica, mas do enfrentamento de uma crise sanitária simultaneamente biológica e psíquica. Os enquadramentos jornalísticos, é compreensível, porque todos fomos pegos de surpresa, foram quase o tempo todo uma doença a parte.

De todo modo, desafio alguém a me apresentar um convertido às ideias de Natalia (é uma figura de expressão, não perca tempo com isso). Existe quem tenha, pelo intermédio do oráculo (hm) da ciência (hm, 2) que falava no Jornal Nacional, deixado de tomar cloroquina, ou tido a dignidade de parar de defecar tratamento precoce pela boca?

Quando a ciência é colocada no papel de deus, cuja perfeição é atributo inseparável, ela tão somente muda a linguagem de uma vivência religiosa, e, fatalmente, vira uma religião e nega a si mesma. Espera-se que a ciência seja capaz de aprimorar as Leis de Newton em Teoria da Relatividade (nesse caso da física, trata-se de uma mudança substancial).

Diante da impossibilidade de criticar a “ciência” que nos obrigou às máscaras e ao distanciamento social (não ouso defender que estava certo ou errado), sem duvidar dela, a libertação pela racionalidade é diminuída a mais uma seita.

Tenho comigo o orgulho de ter sido humilhado publicamente quando contestei a “ciência” megera da pandemia. Sofri, pode rir comigo, uma transfiguração involuntária. Apareci diante de meus ouvintes de bigodinho quadrado e uniforme da Hugo Boss. Mas isso jamais houve, nem na pandemia, nem antes, nem jamais haverá, na companhia de verdadeiras pessoas da razão. Na companhia dessas pessoas sou incentivado a duvidar de minha sombra (que anda um pouco estranha nos últimos dias, por falar nisso).

Natalia deu o passo maior que perna quando pregou em seu púlpito (o último livro dela) que a psicanálise não é ciência. Não que seja, de qualquer modo. E menos ainda que a psicanálise faça qualquer questão disso. Exceto em programas muito específicos como os encontrados na Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), fica difícil imaginar a comunidade “científica”, uma Natalia da vida, dando-se ao trabalho de revisar a própria existência enquanto aplica psicanálise a um objeto de pesquisa (porque esse é um custo individual em uma pesquisa em filosofia da psicanálise).

O Brasil tem uma pesquisa em psicanálise observada internacionalmente. O país compartilha alguns fundamentos com os franceses. Faz cem anos que a tradição inglesa nega a condição de ciência à psicanálise. Essa tradição está tão inconformada que não parece haver qualquer intenção de parar de pesquisar – veja que ironia – cientificamente o que tem de ciência na psicanálise. Enquanto isso, a tradição alemã é corrigir o que considera insuficiências da psicanálise. Mas assim. Ou não aconteceu ou não está registrado um comportamento de megera.

O que se tem a escrever contra o preconceito esfomeado de Natalia está na última publicação do professor titular em Psicanálise e Psicopatologia da USP, Christian Dunker. É a última fofoca do mundo-científico-do-coronavírus. Esse grupo está para a ciência tanto quanto a cobertura da Lava Jato está para o jornalismo.

Natalia Pasternak é a Mara Maravilha da psicanálise.

Corte 'terrivelmente brasileira' dá fôlego à conversa política

Indicações ao STF reacendem debate público e exigem reflexão sobre religião e política na democracia brasileira.

Tempo previsto
11/4/2025

Quando ouvi, sob o governo do casal evangélico Bolsonaro e Michelle, sobre um ministro do Supremo Tribunal Federal “terrivelmente evangélico”, senti vergonha e medo. A vergonha se referia à prática religiosa utilitarista, pela qual grandes e pequenas teologias importantes são convertidas na abertura de mais uma sede única da última igreja mundial do bairro, ou em partido político.

Um dos resultados preliminares de minha última pesquisa em filosofia é de que os pentecostais brasileiros obtiveram "autorização" para participar do palco público, em sua forma “bancada da bíblia”, com a condição de que efetivamente não se integrem à cultura política senão no papel de base eleitoral.

Tal resultado se baseia no fato de que desde a Constituinte os discursos e textos patrocinados com o dinheiro do contribuinte brasileiro são utilizados para a promoção de pautas pouco ou nada expressivas, como a obstinação relacionada à liberdade sexual, e a pungente questão do fim do mundo.

O acordo com o poder político vigente é de que se pode pregar qualquer coisa no púlpito, a qualquer preço (seja verdadeiro ou mentiroso, realidade objetiva ou fantasia infantil, tanto faz), contanto que essa pregação favoreça a obtenção de votos.

Em 2023, muito tristemente, não se espera dos pentecostais com mandato ou empregados em gabinetes dessa estirpe que contribuam — no amplo, no geral — com a promoção de políticas públicas, e com a manutenção do diálogo. Menos ainda que nos surpreendam com qualquer exame de consciência que os faça refletir sobre o que fazem com o papel querido que a eles atribuímos. É impressionante que tenhamos tanto carinho pelos pentecostais enquanto nos desdenham.

Já o medo que senti era de que o “terrivelmente evangélico”, frase pela qual se explicitava uma postura arrogante e provocativa, viesse a piorar a qualidade do diálogo entre brasileiros, que naquela altura estava em níveis baixíssimos. Enquanto a vergonha tinha a ver com minha postura intelectual e pacifista (algo mais individual), o medo estava projetado no que se vive em termos de país. Como é esperado que o pior medo nos sobrevenha, as pontes comunicacionais entre os que ainda acreditam na vida em comunidade e os pentecostais estão escangalhadas.

Será preciso que os pentecostais, marcados por serem submetidos ao aprisionamento cultural, à escravidão da ignorância, e, por essas e outras razões, também submetidos a uma porção impressionante de violências de muitos tipos, deem um sinal de que estão dispostos a colaborar com um futuro equilibrado. Da nossa (minha) parte, a paciência se esgotou. Aliás, a paciência dos evangélicos com seus líderes se esgotou.

Enquanto isso, em termos de indicações, é importante lembrar das consequências daquele “terrivelmente evangélico”. Mais um ministro do STF foi nomeado por um presidente “satanizado” por fundamentalistas. É a nona indicação de Lula. Com as indicações e Dilma e Temer, são mais cinco. Isto é, há um colegiado terrivelmente brasileiro. Sem contar o ministro que está para chegar.

Democracia requer que eleitor esteja suscetível à tristeza do social

Psicanálise explica que envolvimento eleitoral depende da capacidade individual de lidar com o sofrimento coletivo.

Tempo previsto
11/4/2025

A palavra democracia aparece dia-sim-dia-sim no noticiário, e frequentemente vem junto ao dado de realidade de que se trata de algo problemático. Estamos de acordo com a visibilidade do assunto, bem como com o reforço de que “é o melhor modelo dentre todos os modelos políticos que, incluindo a democracia, são ruins”.

Quando pesquisamos sobre comunicação política no Brasil, estamos atentos à necessidade de criação de oportunidades para que os eleitores integrem o debate público, e que o topo dessa integração é o voto depositado na urna. Para que isso seja possível, é preciso, primeiro, que o Legislativo garanta um grau mínimo de confiança no processo democrático.

Mas investimento em dinheiro também é necessário. Isto é, a veiculação de campanhas estatais – desde as propagandas partidárias até os anúncios dos tribunais eleitorais – requerem pesquisa de ponta, produção midiática capaz de sensibilizar os brasileiros, e tudo isso custa uma boa grana. Mas os resultados aparecem. A taxa de abstenção no segundo turno da eleição para presidente de 2022 foi de 20,95%, o menor número em 16 anos.

Uma razão para não

Na psicanálise de Sigmund Freud, podemos encontrar uma razão aprofundada para o desinteresse pela política. Em O mal-estar na cultura (1930), o psicanalista de Viena escreve sobre os métodos pelos quais os seres humanos procuram evitar o sofrimento. Um deles é justamente abdicar das relações sociais. Essa decisão, porém, reduz drasticamente a quantidade de satisfação possível do indivíduo.

Em outras palavras, negar que o outro exista oferta, sim, algum grau de segurança contra a dor, ao mesmo tempo que os prazeres trazidos pelo outro, somente acessíveis quando reconhecemos que o outro é importante, ficam limitados.

A natureza é um risco para a vida humana – o aquecimento do planeta e a iminência do desaparecimento de algumas ilhas em Tonga dão prova disso. A ciência pode ajudar, nesse sentido. Nossos corpos, destinados à degeneração, também são causa de dificuldades. A ciência pode ajudar, nesse sentido. Mas nenhum desses sofrimentos, segundo Freud, é maior do que o causado por nosso contato com outras pessoas.

Ocorre que a prática da democracia exige o outro, requer deliberação. A ciência pode ajudar, nesse sentido.

Deputado Beto Preto tem até segunda-feira (17) para fechar acordo em processo de improbidade

Ex-secretário de Saúde do Paraná negocia com MP e pode evitar condenação que ameaça direitos políticos.

Tempo previsto
17/10/2025

O deputado federal pelo Paraná Beto Preto (PSD) tem até segunda-feira (17) para aceitar ou recusar um acordo com o Ministério Público (MP). A intimação foi ordenada pela 1ª Vara da Fazenda Pública de Apucarana (PR), relativa a um processo de improbidade administrativa.

Como condição para encerrar o processo, o MP propõe a Preto o ressarcimento de danos, e o pagamento de multa de R$ 25 mil. No processo, a promotoria aponta prejuízo aos cofres públicos causados por pregão fraudado em 2013, no valor de R$ 127.194,43.

Beto Preto comandou a pasta da Saúde no Paraná, durante a pandemia. Foi quando fez o próprio nome para eleição que o levou à Brasília. Ele está atualmente na lista de favoritos do governador Ratinho Júnior para a sucessão ao Palácio Iguaçu. Se condenado por ato de improbidade, pode ter os direitos políticos suspensos.

Entenda o caso

Segundo o Ministério Público, Beto Preto, à época presidente do Consórcio Intermunicipal do Vale do Ivaí (Cisvir), contribuiu para um esquema de fraude em licitações, ao auxiliar uma organização criminosa comandada pelo empresário morto Marcelo Cernescu.

O então presidente homologou um procedimento licitatório sem considerar diversas irregularidades. O esquema envolvia, conforme sustenta o MP, empresas de fachada, e a contratação de serviços considerados desnecessáriosporque deveriam ser prestados diretamente pela administração pública.

Argumentos

Na petição inicial, a promotoria descreve ilegalidades no pregão para a contratação de objeto descrito como “despiciendo [desnecessário], oneroso e flagrantemente ilegal”.

Ademais, os elementos angariados na investigação apontam que, para a consecução dos objetivos escusos, independentemente da municipalidade contratante, empregava-se semelhante modus operandi que consistia na comunhão de esforços entre agentes públicos e empresários do grupo para “montagem” de processos licitatórios para contratação de objeto despiciendo, oneroso e flagrantemente ilegal, cujos atos revestem-se de claros indícios de dissimulação.
—Petição inicial do Ministério Público

Chama atenção

Para o MP, os itens da licitação não justificam a contratação de empresa particular, e se trata de mero artifício “inequivocamente criado para o desvio de dinheiro dos cofres públicos”.

O deputado Beto Preto chegou a ter bens bloqueados, junto aos demais réus. Em razão de alteração na Lei de Improbidade Administrativa aprovada em 2021, o juiz do processo determinou o desbloqueio.

Conheça Jenin de perto, casa dos palestinos mortos por Israel

Microdocumentário revela realidade do campo de refugiados de Jenin, símbolo da resistência palestina na Cisjordânia.

Tempo previsto
11/4/2025

Dez palestinos foram mortos e cem ficaram feridos por militares israelenses em uma das maiores operações em anos contra palestinos no campo de refugiados de Jenin.

Israel ocupa ilegalmente a Cisjordânia, onde fica Jenin, deste 1967. São 56 anos de ocupação ilegal, violando o direito internacional.

Palestinos são o maior grupo de refugiados do mundo. Estão há 75 anos em condição de refúgio no exterior e dentro da própria Palestina, sem o direito de voltar para suas regiões de origem e nem mesmo se locomover em seu próprio país.

Os palestinos têm o direito de resistir à ocupação ilegal, à expulsão de suas casas e à violência crônica a que são submetidos.

Nós, escritora e jornalista Cassiana Pizaia, e analista e jornalista Vinícius Sgarbe, produzimos um microdocumentário sobre Jenin há mais de um ano, após duas viagens ao Oriente Médio.

Seminário da Comunicação da UFPR é ágil em temas políticos

Evento acadêmico da UFPR aborda Bolsonaro, Lava Jato e mídia digital com pesquisas aprofundadas e atuais.

Tempo previsto
17/10/2025

A relação entre o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e a desconfiança sobre as urnas eletrônicas é o primeiro trabalho apresentado no Seminário de Dissertação 2023 da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele é realizado pela pesquisadora Isadora Raquel Rupp, sob orientação da Profª. Dra. Luciana Panke. O Seminário é uma apresentação pública anual que começa nesta segunda (26), presencialmente, na sede da Comunicação da Federal, em Curitiba (Rua Bom Jesus, 650), e vai até quarta-feira (28). Nesta terça e quarta, a realização é on-line, pelo canal do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM). O professor Dr. Rodrigo Eduardo Botelho-Francisco é o responsável, junto ao Dr. Carlos Marciano.

Dr. Carlos Marciano faz estágio pós-doutoral na UFPR.

São 14 trabalhos ao todo, das linhas Cultura, e Política. Isso significa bastante variedade de premissas, objetos de pesquisa, e métodos.

Baixe a Caderno de Programação

As investigações "Cultura é política? Política é cultura? Análise do enquadramento noticioso dos temas no período pré ao pós-eleições de 2022", da pesquisadora Sharon Jeanine Abdalla; "Jornalismo de fachada: estratégias retóricas sobre a saúde no programa 'Os pingos nos is'", da pesquisadora Karina Pierin Ernsen Alves; e "A Lava Jato na conversação política: análisede comentários do canal Gazeta do Povo no YouTube", deste repórter, são, junto à apresentação de estreia, da linha Comununicação Política. As orientações são da Profª. Dra. Carla Candida Rizzotto, Profª. Dra. Kelly Cristina de Souza Prudencio, e Prof. Dr. Rafael Cardoso Sampaio, respectivamente.

Baixe as fotos, para imprimir, para redes e para sites

Estudante é morta a tiros no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé (PR)

Tragédia em escola paranaense expõe terror cotidiano da violência armada e seus reflexos em ambientes escolares.

Tempo previsto
17/10/2025
Da estátua de areia,
nada restará,
depois da maré cheia.
—"Areia", Helena Kolody.

Na semana passada, fiz uma pequena pintura de Nossa Senhora, a partir de lápis de aquarela. Usei três cores que combinaram, azul do céu, verde da água, e um tom de pele parecido com o meu, um caboclo. Olhando bem, acho que ela está grávida, e isso surpreendeu a nós dois. Usei aquela mesma tela, o mesmo papel rijo de excelente qualidade, para escrever as instruções do curso que dei sobre reputação na internet. Aquela pintura e aquelas anotações de aula foram minhas maiores contribuições à comunicação nos últimos anos. Isto é, tratamos de uma surpresa plástica a gravidez de uma senhora virgem, e de uma surpresa da sabedoria que o pior dentre os colegas fale de reputação.

Estamos todos cansados do noticiário, senhoras e senhoras. Os números estão aí, para quem quiser ver. Particularmente, aderi aos que evitam saber do que alguém em algum lugar nos quer fazer saber. Todos nós de grande talento editorial e artístico preferimos agora que os pequenos furtos e os abandonos mais cruéis sejam tratados na família de cada um, porque nada temos a ver com isso. Estivemos, bons tempos, iludidos, diante uma sedutora literatura de inteligência e futuro. Mas nossos provérbios muito rapidamente se converteram em correr atrás do vento. Não tivemos tempo de saborear o harém de nossas gostosas, ou de comer e beber de nosso trabalho. Partimos violentamente para correr atrás do vento.

Fracassamos paulatina e miseravelmente. Não fomos vingados de nossos perpetradores, honramos gente que nos deseja matar, fomos vítimas de negociações suspiradas. Enfiam nossas bondades e misericórdias na bunda. Nada somos para nossos inimigos além de seus fodedores, garante o Olavão.

Não nos interessamos na quantidade de mortos na BR, não mais. Jamais se interessaram em nossas verdades sobre violência no trânsito. Queremos que as questões fiscais e que os roubos dos legisladores se mantenham como estão, feridas pútridas para quem os opera. O poder e o dinheiro derreteram gente tão linda, gente que convidaríamos para batizar nossos filhos. Poderíamos ter perdoado tudo, poderíamos ter superado este momento difícil juntos, mas agora mataram Helena Kolody.

'Estruturas digitais condescendentes'

A escritora Cassiana Pizaia registrou, sobre o assunto, nos seguintes termos:

"A escola Helena Kolodi, em Cambé, fica a duas quadras da casa onde eu cresci e morei até acabar a faculdade. Ver os alunos e professores descendo e subindo a rua era parte do cotidiano de uma vizinhança traquila.

Alguém entrar na escola armado, matar uma menina de 16 anos, ferir e ameaçar alunos é a ruptura inconcebível e inaceitável de décadas de normalidade, de tudo o que se acredita ser o espaço escolar.

Não é um caso isolado, consequência apenas de uma mente doentia. É barbárie replicada, estimulada por por práticas e discursos violentos, que precisa ser compreendida e combatida na origem e nas estruturas digitais condescendentes, que a alimentam e recompensam.

Minha solidariedade às famílias das vítimas e à comunidade da escola Helena Kolodi e de Cambé, obrigadas a vivenciar tamanho horror".

1º app do tipo do Brasil, A.dot faz cinco anos com 133 adoções

Aplicativo pioneiro facilita adoções complexas e renova esperanças para crianças sem perspectivas familiares.

Tempo previsto
17/10/2025

O primeiro aplicativo de adoção de crianças e adolescentes do Brasil completa cinco anos. O aniversário é celebrado em uma solenidade no plenário do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR), e reúne fundadores, profissionais, voluntários, e autoridades do Judiciário. A data do lançamento do A.dot, 25 de maio, é também o Dia Nacional da Adoção. Há transmissão pela internet, para que a rede A.dot, hoje em nove estados do país, possa participar. Assista na íntegra.

Presidente da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja) do Paraná e fundador do A.dot, o juiz de direito substituto em segundo grau Sérgio Kreuz é o primeiro a discursar. Ele diz que “o A.dot é um projeto que envolve não só o poder público, como é o caso do Tribunal de Justiça, mas também a sociedade civil. Aliás, como preconiza o Art. 227, que é dever da família, da sociedade, e do Estado assegurar à criança o direito de ter, de viver, de crescer num ambiente familiar”.

Ele explica que “para o aplicativo só vão aquelas crianças, aqueles adolescentes, que não teriam mais nenhuma chance de adoção pelas vias tradicionais. Ou seja, já estão lá porque no cadastro nacional, estadual, local, não encontraram pretendentes. Então, são adoções extremamente difíceis, que normalmente não aconteceriam”.

E celebra que “pelo aplicativo passaram neste período [de cinco anos] 845 crianças e adolescentes, principalmente, muitos deles, com deficiência. Nós temos um dado de adoções confirmadas, são 133 feitas por meio deste aplicativo”.

Pobre dentre os pobres

Kreuz emociona os ouvintes ao afirmar que o Paraná tem mais de quatro mil crianças à espera por adoção, “que buscam ansiosamente por uma família”. E completa: “Sempre digo que a criança que está no abrigo é o pobre dentre os pobres. Porque essa criança perdeu. Ela perdeu os amigos, perdeu os parentes, perdeu até o pai e a mãe. Então, cabe a nós, como sociedade, como Estado, fazer todo o esforço”.

A apresentação da jornalista e idealizadora do A.dot, Adriana Milczevsky, começa com: “quero dizer a vocês que se ouvirem algum barulho durante a minha fala é o meu coração”. Ela comenta a relação entre a produção editorial profissional e o A.dot. “Nós somos muitos comunicadores dentro do grupo, e o Dr. Sérgio acreditou, como nós, que a comunicação é uma ferramenta de transformação. Pelo aplicativo, são mais de cem vidas que viraram filhos”.

Vice-presidente do TJPR

A vice-presidente do TJPR, desembargadora Joeci Machado Camargo, propõe a seguinte reflexão: “todos nós acreditamos que podemos trazer um pouco de felicidade, que podemos trazer um pouco do nosso trabalho. Mas não o nosso trabalho burocrático [...], mas do nosso coração. Nós vemos crianças, aqui que, de uma forma ou de outra, estão abrigadas. E quando nós sairmos daqui, e olharmos na rua? Vamos encontrar crianças desabrigadas”.

À direita, o jornalista Paulo Rosa. Ele é responsável pela direção de arte e edição dos vídeos que criam vínculos emocionais no aplicativo A.dot. E eu do ladinho.
Dallagnol quer que o Brasil resolva um problema dele

Em discurso narcisista após cassação, Dallagnol expõe fragilidade e busca responsabilizar o país por seu revés.

Tempo previsto
11/4/2025

Acerta o noticiário de transmitir ao vivo o pronunciamento do ex-procurador e ex-deputado federal pelo Paraná, Deltan Dallagnol, nesta quarta-feira (17), mas acerta com a ressalva de que pode haver algo sádico em rede nacional. A decisão da perda de mandato saiu ontem, e ele se defendeu hoje. Como é de conhecimento geral, ele foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que divide opiniões de pessoas sérias. Há quem considere que foi um erro jurídico, e quem defenda a interpretação e o voto do ministro Benedito Gonçalves. Neste texto, essa discussão está superada.

Eu tinha acabado de chegar de um compromisso na universidade quando liguei a televisão e dei de cara com Dallagnol junto a um grupo no mínimo intrigante, explicando aos brasileiros que a maldade tinha vencido no Brasil porque ele perdeu na Justiça. Um narcisismo flagrante, uma megalomania, um fundamentalismo protestante, um pouco de cada coisa? Ou, ao contrário, a ausência de qualquer coisa?

Com muita franqueza, eu estava esperando por uma fala marcante, mas não imaginava quanto marcante ela realmente seria. É um vexame histórico para se usar nas aulas de psicanálise e de comunicação política. Se pode funcionar a ponto de devolver a ele um prestígio ridiculamente superfaturado? Pode. Especialmente do povo do meu estado posso esperar que o tornem prefeito da capital (mesmo sem qualquer experiência dele em governar, porém suficientemente branco e rancoroso).

Não tenho por hábito comemorar trapalhadas da vida pública. Fico com vergonha quando nossas autoridades são investigadas ou presas, ou qualquer coisa dessa categoria. Então, não há o que celebrar na cassação desse senhor, tanto quanto não há, pelo menos da minha parte, qualquer lamento. Talvez tenham esquecido de avisar a ele como as coisas funcionam na política. Ou teriam esquecido subitamente todos os políticos da maneira como Dallagnol a eles denominava e desprezava? O que que esse cara estava esperando? Será que foi com essa ingenuidade que ele chefiou a Lava Jato?

Do ponto de vista de alguns amigos que não somente apoiam Dallagnol como também tem pouco ou nenhum apreço pelo Partido dos Trabalhadores ou Lula, que em parte combatem veementemente esses dois últimos, a prática moral também se dá quando é preciso encarcerar (ou matar) um indivíduo perigoso. A contar pela fala do herói, hoje, é absolutamente moral afastá-lo da vida pública enquanto for incapaz de compreender que a política é uma experiência comunitária, e que o que importa é o que o outro pensa. Que é assim que se constrói.

Arrogar-se herói

O discurso desse homem não me ofende, mas me preocupa em termos civilizatórios. Mais uma vez um “irmão”, um igual, um “bostinha que nem nós”, esbraveja: “eu vou salvar vocês”. Meu senhor, eu e o pessoal que eu conheço não vos pedimos nada. O senhor se comparou a José do Egito (uma salva de palmas à novela da Record!), a Jesus. Sabe o que vos falta? Ler um pouco mais os Evangelhos. Tem alguma coisa que o senhor interpretou à Lava Jato no texto bíblico, se é que me entende.

Nas últimas semanas, tenho me inclinado às perspectivas psicológicas das escolhas de líderes. Em linhas gerais, aqueles que são eleitos para governar correm riscos enormes – o de serem assassinados, inclusive (m.q. facada do Bolsonaro). Tornar-se uma paixão da massa requer ofertar a essa massa proteção e assistência. Quando esses elementos se tornam escassos ou cessam, e aquela liderança não tem mais serventia (depois de juntar mais de 300 mil votos para um partido, por exemplo), então é linchado por quem o laureou. Nesse ponto, há uma conexão com Jesus mesmo, porque foi crucificado por quem o recebeu com ramos.

A mesma imprensa que noticiou Dallagnol como a salvação do país o expõe em um papel humilhante de criança chorante. “Mas isso só acontece comigo”, “por que não fazem isso com o Gilmar?”, “até o Beto Richa tem mandato”. Então atravessa para uma criticidade raivosa pela qual ele poderá livrar a todo o Brasil de um mal temido por ele.

Se tomamos por verdade que os indivíduos são responsáveis por seus caminhos, podemos nos perguntar, então, a pergunta da criança: “por que Beto Richa tem mandato e Dallagnol é cassado?”.

Entre fascinação e antipatia, Freud está vivo; assista às aulas

Em meio a admiração e resistência, legado de Freud permanece atual e inspira formação psicanalítica gratuita.

Tempo previsto
11/4/2025

Freud explica? Nem Freud explica? O fato é que o psicanalista de Viena não está mais vivo para dar ele mesmo as explicações que gostaríamos. Esses dias, lendo um dos livros dele, encontrei uma nota de rodapé espirituosa, mais ou menos assim: “casais podem se ligar pelo amor e pela violência. Temos que estar preparados para isso, porque nem todos seremos como aquela camponesa que reclama que o marido não a ama mais porque há duas semanas não a espanca”. A literatura freudiana está distante de ser enfadonha.

O autor é amplamente famoso, desde as comunidades psicanalíticas, passando pela academia científica, ou em projetos de leitura individuais. Para uns, um gênio sincero e generoso, para outros, um “maluco”. Para quem teve qualquer aproximação decente com a psicanálise, sabe-se, sobre o assunto anterior, que tanto faz. Para toda grande luz existe sua igualmente grande escuridão correspondente. E, combinemos, não se deve jogar o bebê com a água do banho. “E tá tudo bem”, diria sorrindo a psicanalista Áurea Moneo (na imagem a seguir). Ela é professora de psicanalistas em formação, e supervisora de quem atua como analista.

Áurea Moneo. Imagem: Reprodução.

Entrevista com Áurea

Vinícius Sgarbe: Querida Áurea, penso que há um poder descomunal na psicanálise, bem como em qualquer outra coisa em que se acredite com firmeza. Às vezes, encontro na internet frases atribuídas a Freud que certamente ele jamais disse ou escreveu. Mas pouco ou nada me afeta, porque não sou tomado por ciúmes. Penso que nesta altura do campeonato toda ajuda é bem-vinda. Além do mais, Freud não me paga para eu ser fiscal da marca dele — risos. Conte-me, minha amiga, que pé que está sua psicanálise?

Área Moneo: Querido Vinicius, acredito que tanto tempo depois e continuar a ser tão lembrado, sendo a ele atribuídas diversas falas, a maioria delas típicas da nossa contemporaneidade, é claro sinal de seu brilhantismo. Talvez um dos poucos ícones que mereça tanta reverência, tanto dos que o odeiam, por não se permitirem admirar, como daqueles que o admiram de fato. Segue, mais vivo do que nunca, em nossa memória. E, em tempos de construção de narrativas, segue alimentando desejos do inconsciente, validando falas de autores anônimos.

Formação do psicanalista

Para se tornar um psicanalista não é preciso muito mais que uma curiosidade irremediável por pessoas. Isto é, o que move uma formação é a investigação da própria vida, onde tudo começa, e depois dos cenários em volta de nós, que frequentemente, senão sempre, estão cheios de “outros”.

Em linhas gerais, Freud é um ponto de partida, uma cartografia para se explorar a sabedoria e a ciência. Se Freud é a última palavra? Óbvio que não. Se outros autores são bem-vindos? Depende do autor — risos —, mas são apreciados, claro.

Aula magna

Nesta quinta-feira (11), e na quinta da próxima semana (18), às 19h30, o Illumen, um centro de formação em psicanálise clínica, promove aulas magnas da formação psicanalítica. A primeira tem o título "Autoconhecimento: visões da psicanálise", apresentada pela professora Anamaria Racy. No dia 18, Áurea Moneo fala sobre “As emoções e o adoecer”. Os participantes devem se inscrever no link abaixo. Vai ser on-line e de graça. Para saber mais sobre o Illumen, acesse o site.

Realize sua incrição

Mal-estar causado pela internet pode superar (e supera) os benefícios

Sobrecarga informacional e impulsos digitais agravam sofrimento psíquico e prejudicam relações humanas reais.

Tempo previsto
17/10/2025

Em meio à discussão sobre “liberdade de expressão”, e na presença de parentes que acreditam que regrar a internet no Brasil tornará o país comunista (seja lá o que isso signifique para eles, a essa altura), penso que, com ou sem legislação, “o calar é ouro”. Básico da sabedoria.

Minha ideia é original, porque escrevi sobre ela em novembro de 2021, sem a atual influência de Byung-Chul Han sobre mim. O fato, logo, inconteste, é que estamos submetidos a um desaforo informacional. Han avança sobre Foucault, argumenta que passamos da bio para a psicopolítica.

À época das linhas de produção, o indivíduo era submetido a uma organização social que o impulsionava, por meio da “ortopedia” biopolítica, a acordar e dormir, comer e gozar, fazer todo o necessário para que o corpo cumprisse o turno. Agora, a produção é imaterial.

Estamos acostumados com, “naturalizamos”, o papel de empreendedores de nós mesmos. Já atualizou o LinkedIn? E o Lattes? Falta-nos a “paz para ler um livro” — célebre enunciado de um artista sobre o quantum de angústia. Quem sabe realmente descansar em 2023?

Se a cultura nos trouxe o benefício do instantâneo, as telechamadas, por exemplo, ao mesmo tempo nos perguntamos se haveria a necessidade de telechamadas se as pessoas que amamos estivessem próximas, se houve realmente qualquer benefício, de certeza houve e há um mal-estar.

Seremos minimamente civilizados para reconhecer que a internet nos causa sentimentos diametralmente opostos à felicidade? Se perdemos a habilidade de encontrar razões comuns entre pessoas e grupos, fracassamos infamemente. As redes, por nossa máxima culpa, são locais sinistros.

As plataformas têm quanto a ver com isso? Como responsabilizar os produtores que se descobriram talentosos na conquista de públicos, e em fazer renda com conteúdo? É admirável e humilhante que influencers tenham dado a volta no jornalismo. Mas essa imprudência está custando caro.

Não acho que seja necessário insistir que o assunto é gravíssimo, urgente, e relevante, porque estou persuadido de que estamos no mesmo barco. O que pode nos diferenciar é a reação ao buraco no casco: uns constroem botes (sou dessa linhagem), outros esperam por um milagre.

O Projeto de Lei mencionado no primeiro parágrafo pode ser lido na íntegra.

Assista à reportagem do Fantástico "Desafios perversos: como o aplicativo Discord virou ferramenta para envolver adolescentes em um submundo de violência extrema".

Gestores atentos à realidade das equipes têm mais sucesso

Conhecer profundamente a própria equipe possibilita comunicação eficaz e impulsiona resultados empresariais reais.

Tempo previsto
14/4/2025

Os apresentadores advogado-sócio da Vanzin & Penteado, Kael Moro, e CEO da Lexnautas, Bruno Nassar, entrevistaram o analista e pesquisador Vinícius Sgarbe, para o videocast Conexão Empreendedorismo. Abaixo estão trechos da conversa convertidos em artigo.

O que é comunicação

Comunicação é uma ciência relativamente nova (quanto à constituição de campo de pesquisa acadêmica), mas está presente em todas as áreas da vida. Nós acreditamos que a definição dela pode variar, pelo papel que o definidor ocupa. Para a medicina, haverá um viés, para o direito, outro, e assim por diante.

Contudo, concordamos que a comunicação ocorre no momento presente, entre seres humanos. Isso se dá por palavras, gestos, e por elementos de um conjunto amplíssimo de expressões. Em nosso ponto de vista, a comunicação não é propriedade dos comunicólogos, mas sim de todos nós.

Além disso, destacamos que a comunicação, embora ciência de criação recente (escrevemos sobre jornalismo no Século 17, e de opinião pública no Século 20), ela é fruto de outros campos aprimorados há séculos, como a filosofia e a ciência política. De toda sorte, consideramos que mais importante que uma epistemologia da comunicação, é o ouvir as experiencias dos usuários da comunicação. Desde o livro, cinema, televisão e rádio, todos da concepção de distribuição de massa, até o interlocutor da inteligência artificial, os usuários são os “donos” da comunicação.

Acreditamos que se trata de uma ciência fundamental para a compreensão das interações sociais, o que inclui as limitações dessas interações. O conhecimento e aprimoramento dessa ciência são essenciais para melhorar os resultados das relações humanas que se convertem em “vida boa”.

Autoconhecimento para o empreendedor

Nós entendemos que uma parte significativa da atividade empresarial está suscetível a comportamentos automatizados. Em outras palavras, o que é comunicado nessa condição foge às inteligências racional e emocional do indivíduo.

Por mais que insistamos – e às vezes com argumentos convincentes, brilhantes em retórica – que estamos agindo de forma livre, muitíssimas vezes não passa de looping de experiencias não assimiladas. É o caso do empreendedor que, no fim do dia, chega à conclusão: “aconteceu de novo exatamente o que eu não queria que acontecesse”.

É nesse contexto que o autoconhecimento entra em cena: ao nos conhecermos, colocamos luz nas áreas escuras de nossa vida. Isso é invariavelmente sair do automático e, com um pouco mais de trabalho, tomar as rédeas do negócio e do sucesso.

Empreendedores autônomos (do ponto de vista da liberdade de vida) são reconhecidos por pares, e capazes gerenciar equipes. Quando nos preocupamos com coisas que não podem ser resolvidas (por serem problemas fantasiosos ou irrelevantes, por exemplo), diminuímos a felicidade e o rendimento das equipes. Quando temos um olhar analítico, em detrimento de uma performance de liderança enfeitada, tornamo-nos capazes de dizer: “todos os meus planos se tornam sucessos”.

Comunicação e filosofia estão próximas pela inclusão do outro

Diálogo produtivo entre comunicação e filosofia enriquece pesquisas científicas e melhora compreensão social.

Tempo previsto
11/4/2025

Apresento algumas considerações à discussão sobre transdisciplinaridade. Elas são sediadas no desenvolvimento de duas pesquisas científicas realizadas em campos diferentes, a saber filosofia e comunicação. O assunto pode ficar interessante.

De um jeito simples, transdisciplinaridade é quando campos distintos da ciência colaboram mutuamente. Mas não somente influenciam ou são mencionados, trabalham juntos e se modificam. Exemplo: é o caso da artista Ana Bellenzier ter pesquisado arte (um campo) na geografia (outro campo). Voltemos as minhas impressões.

Minha primeira pesquisa passa pela recepção da comunicação política na filosofia da psicanálise. Esse acúmulo de palavras pode fazer soar menos simples do que é: estou fazendo uma psicanálise da democracia digital do Brasil (são conclusões preocupantes).

A filosofia contemporânea tem se permitido prestar atenção na vida política, e eu anotaria que a partir de abordagens notadamente pragmáticas. O uso eleitoral da religião no Brasil e a pandemia de Covid-19 são exemplos temáticos. É uma oportunidade para analisar o tempo presente.

Nesse contexto, psicanalisar a relação do eleitor brasileiro com a política é bem-vindo para a filosofia. Até porque há autores comuns da filosofia, política e comunicação, como é o caso de Flusser e de Habermas. Essa fluidez constitui uma ponte para a comunicação.

A conversa dos campos científicos filosofia e comunicação tem se mostrado rica e promissora. São campos conexos, embora suas constituições históricas estejam distantes cerca de dois mil anos.

Minha segunda pesquisa é sobre a comunicação de eleitores críticos do Supremo Tribunal Federal e dos ministros da Corte. Embora a pesquisa em comunicação seja uma consequência da filosofia, da ciência política, etc, ela agora está estabelecida como um campo próprio.

É quando nos perguntamos: o que tem de comunicação nessa pesquisa em comunicação? O que ela tem de diferente de uma pesquisa na sociologia ou na psicologia? As respostas a essas perguntas podem fazer a comunicação e a filosofia se parecerem bastante. Por quê?

A característica mais marcante do campo comunicação é que ele é uma espécie de espaço intermediário, um vão livre, em que todas as contribuições sobre comunicação são bem-vindas (menos a opinião de influencers — risos). E a filosofia se sente muito à vontade em espaços assim.

Moral e ética como sinônimos, visões sobre Kant e Rawls, e outros tópicos

Filósofo explica diferenças e semelhanças entre ética e moral, esclarecendo conceitos tradicionais e populares.

Tempo previsto
11/4/2025

Um "moralista" pode causar frio na espinha. O termo está desmoralizado para alguns de nós. Porém, aquele que é um moralista por ofício, um filósofo moral, não é necessariamente um hipócrita fanático. Veja: para uma linha de pesquisa, "moral" e "ética" são sinônimos. Isso é algo.

Em seu segundo livro, Dr. Gustavo França trata da constituição da moral, ao debater quanto dessa constituição é resultado de rompimentos ou continuidades. Neste episódio de Sgarbe Notícias do Dia, o papo está bom.

Para França, "todas as sociedades tiveram moral. Aliás, uma coisa que as pessoas nunca precisavam foram dos filósofos para ensinar moral para elas. Mesmo eu, nunca precisei disso. A minha moral não vem de Aristóteles, nem de Kant, vem da minha mãe, da minha avó".

Habermas escreve sobre Capitólio e emergências do jornalismo

Aos 93 anos, Habermas analisa o papel das plataformas digitais e reflete sobre desafios da mídia tradicional.

Tempo previsto
11/4/2025

Em artigo recente, Jürgen Habermas escreve "Reflexões e hipóteses sobre a transformação estrutural ulterior da esfera pública política". Ele é autor de uma filosofia que serve a diferentes campos de pesquisa. Aos 93 anos, acrescenta a plataformização às considerações anteriores.

Companheiro de grupo de pesquisa, Dr. Nilton Kleina brinca que, pela idade avançada e ainda escrevendo artigos, "isso é precarização" — risos. Seja como for, o texto defende claramente, categoricamente, que as plataformas devem se responsabilizar pelos conteúdos nelas publicados. A discussão dá pano para manga, e ensaiamos os primeiros pontos da costura.

Habermas (2022) define uma "mídia tradicional" e uma "nova mídia", basicamente, sendo a primeira responsável pelos conteúdos, e com certo compromisso com a cognição e a estética, e a segunda marcada pela internet, fragmentação do palco público, e plataformização.

No cenário analisado por ele, a mídia tradicional espera por cada vez menos leitores de jornais e revistas, desde o aparecimento da televisão. Isto é, não é exatamente uma novidade que o impresso venha encolhendo a cada ano. Ainda assim, a televisão é mídia tradicional.

A internet e as plataformas concedem aos usuários possibilidades de publicarem o próprio conteúdo — idealmente sem censura prévia, e com igualdade de acesso. Esse anunciado já encontra adversidades práticas — por fatos amplamente conhecidos. Agora, algo pode nos incomodar mais.

Sob observação filosófica pelo menos desde 1962 (ano de lançamento de "Mudança estrutural"), Habermas agora vai à depredação do Capitólio. Ele argumenta que, embora os motivos aparentes sejam insuportáveis, o causo é produto de décadas de insatisfação do povo dos Estados Unidos com a política. Desconfiar de políticos e da imprensa também ocorre na Alemanha, e há efeitos similares em toda a Europa.

Mediação é necessária

Por analogia, a crise no jornalismo (evitadores, menos publicidade, má fama) pode ser uma revolta, em resposta às palavras que exageramos, aos atos que não denunciamos, e às omissões cruéis que fizemos em nome do bem.

Público e anunciantes ficaram longes de nossas mesas de pauta, mas isso você também sabe. Longes o suficiente para entenderem que não precisam de nós, ou que de nós querem se vingar, tal qual um soberano imaterial que deixou de os servir. Eles podem, entretanto, querer-nos sem precisar-nos. De todo modo, para a audiência do broadcast, jornalistas e jornalismo não são inculpes.

É urgente para nós explicitar que políticos e jornalismo podem compartilhar do desgosto dos eleitores, mas o Estado banca a política, enquanto o jornalismo é atravessado por necessidades de mercado no mínimo desleais.

Arguimos que o jornalismo esteve e está pronto para produções editoriais (notícias, investigações, debates, opinião, documentários, etc) com valores basais de técnica e de formação humana. É preciso diferenciar: jornalismo é jornalismo, partido político é partido político.

O comportamento das empresas tradicionais de mídia diante do cenário carece de mediação. Poderiam optar por uma cruzada contra as plataformas, o que traria resultados temporários, ou encontrar, em conjunto com as plataformas, um jeito de desatar o nó. E de empregar jornalistas.

'Racismo' em Ponta Grossa é sintoma de cidade adoecida

Discussão sobre ato preconceituoso na UEPG revela dificuldades administrativas e tensões sociais em Ponta Grossa.

Tempo previsto
17/10/2025

Os dez "racistas" da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG, PR) inauguram um tipo de notícia para a qual tenho de abrir mão de minhas restrições ao uso das aspas, para poder comentar em paz. Isto é, o festival do "supostamente" começou com tudo no jornalismo da semana.

Gravei um vídeo sobre dois incômodos maiores em relação à notícia do assunto, não exatamente sobre o assunto em si. Os universitários de jornalismo basicamente assistiam a uma palestra desagradável para eles, e abusaram da confiança do grupo ao postar péssimos stickers.

Se estavam sob a bandeira conservadora da cidade, não sabemos. Em 2017, um vereador ameaçou prender uma drag queen com show marcado lá. Pode ser que a água da cidade esteja contaminada com ignorância, e um tiquinho assim do que chamo "orgulho agro ferido".

Acho possível e provável, porém, que se trate de um  sarcasmo imaturo, uma vez que ao optarem por estudar jornalismo possam ter qualquer apreço por letras. Posso argumentar nos níveis pessoal e psicanalítico (de Wilfred Bion) sobre o humor corroer preconceitos, quem sabe depois.

A principal emissora de TV do estado noticiou o assunto, e se emocionou com a atitude dela mesma ter assinado uma nota conjunta com o Sindicato, contra os estudantes. No papel de espectador, agradeço mas não pedi nada. Eu prefiro um âncora analítico, com os pés no chão.

Quanto à "denúncia" de racismo na UEPG, obrigo-me a perguntar : foi a Ouvidoria que recebeu os prints? Se o processo contra os estudantes é administrativo, qual foi o percurso administrativo da denúncia? Ou tratamos de denúncia sediada em uma moralidade superior aos regimentos?

Outro aspecto é o legal. E a situação fica um pouco pior. Sarney, Cardoso e Lula assinaram leis sobre o assunto. Em linhas gerais, os dez "racistas" de Ponta Grossa precisam i. ter ofendido um grupo étnico, uma raça, cor, ou religião; e ii. ter a intenção de ofender. Qual foi o objetivo da conduta? Qual foi o dolo?

Ponta Grossa está doente

Somados a outros sete indivíduos de agronomia da mesma universidade, são 17 ponta-grossenses com destaque no jornal por serem a boca, o braço, a perna do caipirismo paranaense. Reitero meu argumento de que o paranaense desse estirpe não é fascista, é pior, é caipira.

O caipira que deveria se ofender nestes termos não é o da "Tristeza do Jeca" (filme de Mazzaropi, lançado em 1961). Aqueles 17 não são dignos de carregar as malas de um homem da roça. O caipira que me refiro precisa de Bia de Luna: "A mais bela burrice, e a ignorância por opção".

Em uma psicanálise social, em uma análise transacional organizacional, em termos religiosos da fé cristã, a partir desses papéis que posso ocupar e ocupo, entendo que Ponta Grossa está doente.

Narcisismo: por que Freud é ‘feito’ para nos incomodar?

Entenda por que a visão desconfortável de Freud sobre narcisismo ainda nos provoca e mexe com nosso inconsciente.

Tempo previsto
11/4/2025

Narcisismo é, para uma definição simplificada, a tira-roupa, dependência de provisão do objeto. Ainda para a psicanálise, o narcisista faz dele mesmo o próprio objeto. Quando isso é levado às últimas consequências, o indivíduo pode até mesmo adoecer (a ele, e ao sistema).

Em um mundo de pós-verdade, um mundo pós-moderno, há certo apreço social pelo que é capaz de amar a si mesmo. Hollywood e Instagram são pregadores do “jamais desista dos seus sonhos” (na boa, às vezes, desista). Mas tudo bem.

Lá em Viena, um século atrás, Freud nos deixou a patifaria de relacionar narcisismo e homossexualidade. Iche. Daí se acerta “na rosca”, como nos avisa o escritor Luca Rischbieter sempre que pode.

Você poderá contra-argumentar que “para a sociedade vienense do começo do Século 20, a homossexualidade era tida como uma doença, então Freud não pode ser julgado com os rigores do agora”. Bem. É exatamente isso aí que estou tentando dizer.

Se a leitura de Freud for levada a “ferro e fogo”, o leitor corre o risco de perder o melhor da teoria. Mas como assim? Hipoteticamente, vamos assim para não assustar, o indivíduo tem um mundo submerso dele mesmo, que nem mesmo ele acessa, o inconsciente.

Ocorre, porém, que uma parte significativa, senão tudo, das decisões do indivíduo são tomadas no inconsciente. Eventualmente, mas não raro, aquele que estabeleceu para si mesmo um objeto que é ele próprio pode ter dificuldade de contribuir com a comunidade.

Sem contar que, claro como o cristal, uma vida que mantenha o apaixonamento, vamos chamar assim, apaixonamento, por si mesmo a ponto da incapacidade de reconhecer o outro, termina também em divórcios, misérias, suicídios.

O inconsciente, o Isto, aquelas experiências viscerais, tudo aquilo que está formado ao longo dos anos, e muito bem escondido, precisa de certo esforço para ser conhecido. Uma das técnicas da psicanálise é xingar a mãe (risos).

O narciso do mito, aquele que admira a si mesmo, poderia, então, ser “provocado” pela relação que se faz em Freud entre a turma do “eu mereço tudo, e estou acima de tudo” com “vai procurar uma rola”?

Psicanálise e fundamentalismo protestante não se misturam

Visões opostas sobre a vida e a morte afastam protestantismo fundamentalista e teoria psicanalítica no Brasil.

Tempo previsto
11/4/2025

A psicanálise não reclama uma cadeira na universidade. Isso não quer dizer que não seja assunto de pesquisa. Não à toa, a filosofia brasileira da psicanálise tem escuta em muitas partes do mundo. Agora mesmo, em um seminário sobre teologia pública na Universidade de Edimburgo.

Mas o que tem a ver teologia pública com psicanálise? Bem, essa é uma história que pode ser contada de muitas maneiras. Antes, seria preciso definir o que é teologia pública, ou até mesmo uma teologia democrática. Basicamente, temos de olhar para o uso político da religião.

Sem escrúpulos desnecessários, sejamos diretos já. O caso brasileiro que é destaque na Escócia passa pelo levante evangélico na defesa de Bolsonaro. Entendemos que a religião, muito longe de ter sido substituída por um primado da razão, como queria Freud, é parte inextinguível.

Ocorre que duas coisas, digamos, conflitantes, têm origem mais ou menos na mesma época do pós-Primeira-Guerra. Uma é a versão psicodélica do cristianismo protestante, cujos seguidores acreditam que o mundo vai acabar depois de um "arrebatamento". E outra é a psicanálise.

Essas duas visões de mundo são propostas de solução para o problema da morte. Ambas são motivadas pela mesma coisa, o medo da morte, embora cheguem a conclusões totalmente diferentes, e, repitamos, conflitantes.

Para um evangélico daquela estirpe, é razoável dizer a uma criança sobre masturbação ser pecado, ao mesmo que Freud e a psicanálise são malditos. E, confessemos nossos pecados, irmãos e irmãs, um psicanalista terá dificuldade de levar um evangélico a sério. Preconceito recíproco.

Mas apesar disso, em 2023, é fácil atribuir voto de confiança ao grupo que está menos errado.

'Quanto tu suportas ser um homem inteiro?', em memória do Ideal

Texto memorial reflete sobre rejeição na adolescência como poderoso convite à construção de identidade autêntica.

Tempo previsto
11/4/2025

Quanto tu suportas ser um homem inteiro? Quanto longe vais tu, se te angustias quando rejeitado por teus coleguinhas de oitava série? Quando os leva em conta, repetes-te pequenininho e frouxo. Sentes-te a metade de uma laranja podre. Mais especificamente. Um tanto laranja do Fábio Jr., e outro tanto de fruta podre. Tanto que poucos do Ideal são inteligentes para decifrar.

Quanto aos meninos, Paulo te daria um tapa gratuito no corredor do intervalo. Anos mais tarde, gravaria um clipe de gratidão, sem desconfiar que tinha te atravessado ambos os rins com a mesma flecha; os professores de educação física - dois cretinos - ofenderiam-se por teu desrespeito à perfeição de suas diabetes; o fraco, o feio, bicha! E tu, tendo de dividir teu mundo com aqueles tipos de merda.

Enviaste mensagens ao que consideravas teu amigo, para contar de tua conversão à religião dele, e foste conduzido ao papel de irrelevante. Sequer desejou a ti que fosse para o inferno, fazer-lhe companhia.

Lembras com perfeição do dia em que Fernando te disse: “Convido-te para minha festa, mas contra a vontade da maioria, que quer te esquecer”. Naquela noite, foste a materialização do ridículo. Não somente te arrumaste para ir um lugar onde não eras bem-vindo, como desperdiçaste uma Sprite dois livros com péssimas companhias.

Não sejas tu o Ideal. E agradece.

Prescrição de cannabis movimenta R$ 77 bi em um ano

Alta expressiva na prescrição médica de cannabis evidencia forte expansão no mercado brasileiro em apenas um ano.

Tempo previsto
11/4/2025

Desde 2018, a venda de produtos à base de cannabis aumentou 342,3%. Entre 2021 e 2022, foram movimentados mais de R$ 77 bilhões. Os números são de uma pesquisa do Portal Cannabis & Saúde divulgada pela Agência Brasil.

No ano passado, as prescrições aumentaram 487,8%. Aumentou também o número de médicos que indicaram a compra em farmácias, de 6,3 mil (2021) para 15,5 mil (2022).

A especialidade médica que mais receitou foi a neurologia (33%), seguida da psiquiatria (26%), geriatria (8%), clínica geral (5%), e ortopedia (3%).

Leia a matéria completa no site da Agência Brasil.

5G traz risco de famílias ficarem sem televisão; 33 municipios são do PR

Avanço da tecnologia 5G ameaça sinal aberto de TV em centenas de municípios; Paraná está entre os mais afetados.

Tempo previsto
11/4/2025

Famílias pobres de 439 municípios brasileiros podem ficar sem sinal de televisão, a partir da implementação do 5G. O 5G é uma tecnologia de transmissão de dados que promete trafegar em altíssima velocidade. Nem todos os celulares estão equipados para usar essa tecnologia. Até mesmo modelos caros e nem tão novos estão sucateados. A frequência utilizada para o 5G é a mesma pela qual essas famílias podem assistir à televisão.

O estado com maior número de municípios em risco é São Paulo (163), seguido de Santa Catarina (36), e Paraná (33).

Para as famílias que estão inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), e têm uma antena funcionando atualmente, o governo federal faz entregas gratuitas de parabólicas digitais. De acordo com o Ministério das Comunicações, cerca de 1,5 milhão de brasileiros cumprem esses requisitos.

Projeto de Lei impõe multa se mulher não ganhar igual homem

Nova proposta do governo prevê penalização rígida a empresas por desigualdade salarial entre homens e mulheres.

Tempo previsto
17/10/2025

Um Projeto de Lei (PL),assinado nesta quarta-feira (8) pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula daSilva, prevê multa de dez vezes o maior salário da empresa se as mulheres nãotiverem os mesmos proventos dos homens que estejam no mesmo nível de carreira. Oscritérios são tempo de casa, função, e escolaridade. O texto, sobre igualdadesalarial, foi para análise do Congresso Nacional.

O PL também propõeque as empresas com mais de 20 empregados sejam obrigadas a publicizar suasfaixas salariais, para que a fiscalização pelo Ministério do Trabalho sejapossibilitada. Atualmente, não existe protocolo do Ministério para tal fiscalização.

Religião nas eleições do Brasil é tema filosófico internacional

Seminário internacional debate impacto religioso em eleições brasileiras e relação entre poder político e fé.

Tempo previsto
22/4/2025

Teologia pública é o tema de um seminário internacional da Universidade de Edimburgo. Ele é conduzido pelo Dr. Ulrich Schmiedel. O caso brasileiro do uso da religião para fins políticos é abordado pelos pesquisadores Dra. Magali Cunha e Dr. Rudolf von Sinner. Destaco uma fala dela que combate o preconceito contra protestantes. Tidos por alguns segmentos como operadores principais da contaminação entre estado e religião no Brasil, há registros históricos de que tal contaminação existe antes das igrejas evangélicas.

Professora assistente de estudos religiosos da Universidade das Religiões de Qom, no Irã, a pesquisadora Dra. Fatima Tofigui trata da diferença entre "influência profética" e califado. Para a primeira, a relação com mundo invisível é principal, enquanto para o segundo, embora sediado em palavras proféticas, o resultado da vivência é o poder material.

O debate central da apresentação de Dra. Fatima é legitimação da autoridade política baseada em palavras proféticas. Um dos autores trazidos por ela, Mohammed Iabal, defende o islamismo como “experiência religiosa” similar a outras fora do islã. Seu significado, portanto, estaria restrito a uma experiência individual. Esse ponto tornaria a manutenção de uma democracia inspirada no divino mais difícil.

Nos anos 60, autores chegaram a escrever sobre teologia e a Causa Palestina, o que cessou de lá para cá.

Definição de teologia pública

Minha contribuição para o seminário é a seguinte. Provocado pelo Dr. Schmiedel, experimentei uma definição do que poderia ser “teologia pública”. Traduzo para o português, logo abaixo.

Public theology can be described as the amalgamation of the concepts of State, democracy, and spirituality. Nevertheless, it is crucial to inquire about the aspects that differentiate public theology from a theocratic state. In countries where religion holds a dominant position in the government, the term "public theology" may not be applicable as the prevailing theology is intrinsically associated with a specific religion. Hence, such theology cannot be categorized as public. Consequently, public theology belongs simultaneously to the State and the various spiritual experiences. Moreover, public theology is intimately connected to collective sentiment, which concerns the establishment of communities and the regulations that govern these communities (revisado por Karine Porto Lopes Ono).

A teologia pública pode ser descrita como a fusão dos conceitos de estado, democracia e espiritualidade. No entanto, é crucial indagar sobre os aspectos que diferenciam a teologia pública de um estado teocrático, por exemplo. Em países onde a religião detém uma posição dominante no governo, o termo “teologia pública” pode não ser aplicável, pois a teologia prevalecente está intrinsecamente associada a uma religião específica. Portanto, tal teologia não pode ser categorizada como pública. Consequentemente, teologia pública pertence simultaneamente ao Estado e às diversas experiências espirituais. Além disso, a teologia pública está intimamente ligada ao sentimento coletivo, que diz respeito ao estabelecimento de comunidades e aos regulamentos que governam essas comunidades.

Federal do Paraná

As professoras Dra. Kelly Prudencio e Dra. Carla Rizzoto, em 2017, promoveram o seminário "Mobilização da opinião pública", na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Nele, a Teoria do Reconhecimento e suas derivações levaram a discussões imprescindíveis à pesquisa em comunicação que antecedeu os fenômenos políticos de 2018. Foi uma espécie de último fôlego racional antes da quebradeira que teve inúmeras vezes centralidade na religião.

Qual é a religião de Jair Bolsonaro, por exemplo? É sabido que o ex-presidente tomou um lado para si, e o salientou pela performance da ex-primeira-dama Michelle.

Em tempo

De quem é a responsabilidade pela contenção da violência contra a mulher senão dos homens? De quem é a responsabilidade contra o racismo senão dos brancos? De quem é a responsabilidade contra o fascismo senão dos fanáticos? E como persuadir homens, brancos, e fanáticos senão falando com eles? Esse é, para mim, o dilema do meu século.

Considero os seguintes versos de Vinicius de Moraes apropriados para este artigo.

Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso reconquistar a vida.
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso1.

Há alguns dias, ouvi de um bolsonarista: "estou para acreditar que o bolsonarista é pior que o petista". Ao que respondi, "com certeza o petista é pior".

A.dot chega a 120 adoções realizadas no Brasil

Primeiro aplicativo brasileiro para adoção alcança marca histórica, facilitando encontros e formando famílias.

Tempo previsto
17/10/2025

O A.dot chega à marca de 120 adoções concretizadas. O número vem do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR), na última edição do relatório oficial. O A.dot é o primeiro aplicativo de adoção de crianças e adolescentes do Brasil, lançado em maio de 2018. Por questões burocráticas, como o modelo de notificação emitido pelas comarcas, estima-se que o número possa ser maior.

Disponibilizado para as plataformas iOS e Android, o acesso é restrito para quem está habilitado no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Nesta última versão do aplicativo, a verificação é realizada de maneira automatizada, o que custou praticamente todos os recursos financeiros do projeto. Hoje, mais de 12 mil usuários estão autorizados a entrar.

Nos primeiros anos de funcionamento, o TJPR destacou equipes para que a autorização para acessar os perfis tivesse verificação manual. Os envios de códigos individuais foi uma grande dor de cabeça à época, porque, dentre outras razões, a comunicação era feita por e-mail.

Entre 2021 e 2022, o número de solicitações de aproximação, quando um pretendente quer conhecer a criança pessoalmente, teve aumento de 68%, de 138 para 232. Agora em 2023, são realizados 46 estágios de convivência.

O A.dot ficou conhecido nacionalmente em uma edição do Globo Repórter.

Experimentação responsável

Criado como “a última chance” para perfis que fogem do recorrente em solicitações de adoção (pessoas com deficiência e grupos de irmãos, em especial), o projeto encarou revezes. Mesmo internamente, havia a preocupação de que o aplicativo pudesse expor as crianças desnecessariamente. Essa questão foi totalmente superada, e o A.dot ganhou a atenção do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Paraná.

Dois desafios principais estavam em mente, quais sejam a lealdade ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e à Lei Geral de Privacidade de Dados (LGPD). Nesses e em outros casos, o A.dot se mostrou adequado não somente aos requisitos como também respondeu com sucesso em termos de efetivação de adoções.

Grupo de Apoio Adoção Consciente

O aplicativo foi criado em uma parceria do Grupo de Apoio Adoção Consciente com o TJPR. O Grupo também promove a formação para pretendentes de adoção, que é obrigatória para adotantes. Atualmente, essa formação também passa pelo processo de digitalização, com o uso da plataforma Microsoft 365.

Herótodo Barbeiro abre série de entrevistas do Lab Jornalismo 2050®

Ícone do jornalismo brasileiro fala sobre desafios e perspectivas da profissão em projeto que debate futuro da mídia.

Tempo previsto
17/10/2025

Em entrevista ao projeto Lab Jornalismo 2050®, o jornalista Heródoto Barbeiro responde à pergunta: “o que é jornalismo?”. A live foi transmitida pelo canal da produtora Outras Terras Filmes, na última sexta-feira (3). Ele foi entrevistado por mim, Sgarbe. As dez perguntas e respostas estão também cortadas nesta playlist.

Heródoto foi professor de história do Brasil por mais de duas décadas, antes de se tornar uma mente brilhante do jornalismo. Ele foi um dos fundadores da primeira rádio all-news do Brasil, a CBN. Apresentou também, dentre outros programas, a sabatina Roda Viva, da TV Cultura.

Nota de um fã

A voz de Heródoto soa familiar para mim, e provavelmente para uma maioria de leitores desta matéria. A admiração perene e serena que tenho por ele completa a maioridade, neste ano. Em 2005, eu o ouvia diariamente no noticiário nacional, enquanto preparávamos o jornal estadual da CBN. Ainda hoje, ele conta que faz dez entrevistas por dia. Quer dizer. Entrevistá-lo é como rezar a Missa para o Papa.

O espirito de Heródoto me lembra o de Luiz Geraldo Mazza, antigo comentarista de política da CBN local. Mazza dizia, sobre tecnologia, que tinha pouco, que tinha que ter mais pessoas fazendo lives de acontecimentos. Ambos parecem, de um modo vitoriano e heróico, não se perturbar com os progressos das plataformas.

‘Direto ao Ponto’ completa um mês em cinco emissoras FM do Paraná

Apresentado por Ogier Buchi e Vinícius Sgarbe, programa promove conversas transparentes e estimula reflexão política.

Tempo previsto
14/4/2025

Hoje, o programa Direto ao Ponto faz aniversário de um mês. De segunda a sexta-feira, das 18h as 19h, Ogier Buchi e eu falamos de política "nas ondas do rádio" (Curitiba FM 92,9; Londrina FM 95,7). O programa é simples e honesto. A gente vem criando um ambiente gostoso de ouvir.

Ogier e eu temos muito mais pontos de convergência que de divergência: consideramos que, sobretudo, quem acompanha o programa merece nossa atenção máxima com as informações e opiniões. Raramente chegamos a uma "palavra final" sobre um assunto, o que deixamos para o ouvinte.

Existe pouca ou nenhuma utilidade em apagar as luzes para figuras públicas. Quanto mais luz melhor. É claro que eventualmente *aquela* pergunta pode ser esquecida, mas nosso exercício, hoje, é prestar  atenção a falas mais longas, dar atenção às sutilezas.

No fim do dia, o que temos é um programa que parece ter voltado à academia depois de uma temporada de férias e sobremesas. Estamos nos acostumando aos aparelhos, e ainda levantamos menos peso do que vamos conseguir em um mês.

Nossa audiência, predominantemente conservadora (entendemos assim até agora), reage bem a estímulos contrários, com uma ou outra exceção. Quem sabe seja nosso jeito de incluir o outro (para ser habermasiano). Brigar não. Se é para ver o pau comer, tem sites bons desse conteúdo.

Na última edição, entrevistamos o vereador de Curitiba Pastor Marciano Alves. Ele é famoso no site da Câmara, por projetos no mínimo provocativos: proibição do gênero neutro, lei contra a cristofobia, etc. O convidado disse que estava com medo da impresa. A que ponto chegamos!

Primeiro, Pastor Marciano trouxe chimarrão (e um muito bom), e, depois, a conversa ao vivo revelou que aquele homem pode pensar a seu próprio modo, que inclusive ganhou um mandato por pensar exatamente como pensa, sem perseguir ninguém, do ponto de vista comunicacional.

Considero que esse resultado seja fruto de uma obstinação de Ogier e minha, qual seja a de que é preciso voltar a abrir o microfone, desfazer fantasias e imaginações, para voltar a tratar do que é efetivamente público. Daí até chegarmos ao "bem comum" tem muito chão.

A esquerda abandonou a pauta moral, e a entregou a seus detratores

Reflexão crítica sobre como a esquerda abriu mão das pautas morais e criou um vácuo preenchido pelos opositores digitais.

Tempo previsto
14/4/2025

Por que a "extrema direita", como convencionado por parte da impresa chamar praticamente qualquer pauta desagradável, tem tanto mais sucesso na internet que a esquerda? Quanto nós, esquerdistas, já nos tornamos as pessoas insuportáveis que antes queríamos converter?

Contemple 'Trapo', de Fernando Pessoa, em uma experiência sonora

Clássico poema do autor português agora ganha ambientação auditiva, explorando sentimentos e sensações íntimas.

Tempo previsto
14/4/2025

O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, estava bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação? Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.

Bem sei: a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.

Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.

Carinhos? Afectos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.

Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...

O dia deu em chuvoso.

(PESSOA, 2016, p. 269)

Usar uma simples agenda aumenta a confiança profissional

Entenda como agendas simples evitam atrasos e esquecimentos, melhoram produtividade e transmitem confiança no trabalho.

Tempo previsto
14/4/2025

Você pode ter ouvido alguém dizer que queria o dia tivesse 48 horas. Quem fala assim, geralmente está correndo para chegar atrasado ao próximo compromisso. Essa pessoa pode até mesmo viver para se desculpar.

Isso porque entrou por último em uma reunião, porque não conseguiu chegar no começo de uma aula importante, porque precisa de mais prazo para entregar um trabalho combinado há muitos dias.

Ser pontual pode parecer um talento dado a alguns, e que falta a outros. Mas pontualidade não depende só de talento. Pelo contrário, o que faz a pontualidade é a ordem dada as coisas do dia. E é algo que se pode aprender e ensinar.

O que você acha de chegar a um compromisso marcado para as 9h, e ser recebido uma hora depois? Vai ser difícil encontrar alguém que goste de ter o tempo abusado por outra pessoa. E quando deixamos alguém nos esperando? Por mais que nosso convidado diga que “tudo bem, não tem problema. Não tem problema nenhum você ter se atrasado, eu entendo”, ele deve ter se perguntado se nosso tempo é realmente mais importante do que o tempo dele. Desprezar o próprio tempo já é uma coisa bem ruim. Que dirá o tempo dos outros, especialmente aqueles que nos ajudam em nossos projetos.

Ter uma agenda é importante para controlar os compromissos, as tarefas e os prazos.

Uma agenda bem escrita ajuda a priorizar as atividades, a evitar esquecimentos, e a aumentar a produtividade. Além disso, ajuda a organizar uma rotina diária que se converta em objetivos de longo prazo. Uma agenda também pode ser usada para registrar ideias, e anotar insights importantes durante reuniões e conversas. Em resumo, ter uma agenda no trabalho é essencial para alcançar a confiança dos outros.

Desde as agendas em papel, até os calendários eletrônicos, ou agendas de grupos na internet, as agendas são cada vez mais fáceis de usar, e têm integração com celulares, e serviços como a Alexa da Amazon. Sendo assim, como os lembretes ficam sempre por perto, fica difícil, quase impossível, perder um compromisso. Uma simples agenda pode reescrever uma vida profissional.

Na próxima coluna, vamos falar sobre um jeito elegante, e assertivo, de interromper um compromisso que passou do horário combinado.

Análise Transacional como estilo de vida tem a ver com verdade

Método desenvolvido por Eric Berne auxilia pessoas e empresas no desafio de se reinventar encarando suas verdades internas.

Tempo previsto
17/10/2025

Quando Eric Berne tornou a Análise Transacional popular, apresentou, dentre uma porção de novidades teóricas e práticas, a possibilidade de acelerar processos voluntários de mudança. Isto é, diante de uma posição ok para o cliente e ok para o analista, tornar reais intenções de melhoria. Há alguns dias, ouvi de um mentor: “você jamais vai se arrepender de ser amável”. Ou, ainda, de um supervisor: “no fim das contas, fica a relação entre duas pessoas, entre dois seres humanos”.

Mas apesar disso, sessões de Análise Transacional podem e provavelmente vão bagunçar um pouco as coisas antes de ajudar a solucioná-las. Minha perspectiva sobre esse assunto é de que a simples ação de ordenar o pensamento e a ação; o simplíssimo movimento de reposicionar o que é mais ou menos importante; olhar para a divisão de um dia como um retrato de como se está a dividir a vida; esses elementos já dão bastante trabalho. Mexer na ordem das coisas é parecido com bombardear nuvens e provocar chuva. A verdade, essa que nos impulsiona a ser a melhor versão de gente, é uma força da natureza, tal qual a chuva.

Não se pode dialogar com enchentes e desmoronamentos, pedir ao vulcão que espere mais um pouco porque não terminamos de construir a barreira. Não se combina com o vendaval que demore mais um pouco, para que recolhamos as roupas do varal. Não se pode segurar o choro diante da criança yanomami com as costelas famintas à mostra. A verdade tem a índole das tragédias naturais. Ela não pede licença para ser verdade. Ela nos mostra a vida tal qual ela é, o mundo tal qual ele é, mostra você e eu tal qual somos quando estamos sozinhos em nossos caminhos. Aquela treva toda que são os medos do abandono, da agressão, das palavras vis, toda aquela treva que nos faz menos divinos na relação com o próximo, toda aquela escuridão é dissipada pela verdade.

Ao longo da vida, conheci alguns criminosos (do ponto de vista legal). Uma vez, perguntei a um deles: “por que você decidiu ir para a cadeia?”. Ele ficou atento, respondeu que precisava achar essa resposta. Nossa amizade começou naquele momento. A mim não mentem, e eu a eles tampouco. Com isso, estamos protegidos um do outro. A verdade força da natureza muda a paisagem, limpa o “rastro viscoso e sujo que deixaram os semeadores impuros do ódio” (ESCRIVÁ DE BALAGUER, 2019, p. 25).

Quando a verdade se manifesta, sobre ela se pode esperar uma quantidade impressionante chuvas ácidas e trovões, tal qual uma violenta erupção, ou uma sereníssima brisa junto ao voar de um dente de leão. Mas, seja como for, ela ocupará o espaço apropriado e mudará a paisagem de maneira definitiva. Melhorar é encarar essa força, amá-la, fazer novena pedindo que ela venha logo.

Quer saber mais sobre como sessões de Análise Transacional podem ajudar você, sua família e seus negócios a encontrar finalmente o que estão procurando? Se este for realmente seu momento de coragem, agende um horário para falarmos do assunto.

Veja a distribuição dos presos em Brasília por sexo e idade

Dados oficiais mostram panorama detalhado da população carcerária do DF, coletados entre 8 e 11 de janeiro de 2023.

Tempo previsto
14/4/2025

Os presos em Brasília listados pela Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal estão separados, no gráfico a seguir, por sexo e por idade. Na primeira linha do gráfico, você pode selecionar que dados prefere visualizar em particular. Três presos homens foram retirados da amostra, por imprecisão no relatório da Secretaria. Os dados se referem ao período entre 8 e 11 de janeiro de 2023.

Fonte: Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal.

Sétimo dia / parte um

Cenário de desolação doméstica e lembranças torturantes revelam as batalhas íntimas do protagonista nos anos noventa.

Tempo previsto
14/4/2025

Os demônios do sábado viriam irrefragavelmente para fazer lembrar a calamidade dos anos passados, quando tempestades de areia, dragões e bestas passaram pela cidade deixando um rastro inconfundível de desastre. Desde o Grande Tormento, em meados de noventa, todo sétimo dia da semana virou um calo na bunda da alma, de modo que, aos sábados, Xavier crescia eternamente para dentro de si e se deixava envergonhar por sua fraqueza extrema, para o deleite de seus adversários: demônios fajutos, aos quais destinou respeito mais por misericórdia de si mesmo do que por medo.

O cenário da tragédia única, a casa, era um cubículo popular feito do acúmulo de tijolos e telhas de barro, com as paredes recobertas de concreto, cal virgem e demãos sobrepostas de tinta brilhante. Para o norte, uma das duas águas do telhado corria até o beiral em um desenho sustentado por três janelas de ferro oxidado e vidros ambíguos, para barrar o vento e com seus desenhos matelados esconder as entranhas da casinha.

Para o lado que enxergava primeiro a luz do dia, duas portas de pinus vestidas de cinza abriam a cozinha e a sala de estar, que mais era uma continuação. O fogão, o armário suspenso, uma mesa judiada pelos anos, o pavimento pigmentado vermelho sangue. Mais uma porta da cozinha para a sala e lá estavam, evidentemente, móveis betumados, envernizados, lixados, novamente betumados, envernizados, lixados, pagos em prestações.

A estante segurava o telefone, porta-retratos baratos e bibelôs presenteados por amizades brejeiras. Em seus armários estavam caixas e dentro destas mais caixas e ainda dentro destas mais caixas e pastas com papéis, contas a pagar, comprovantes, boletins, recortes de jornal, diários, cartas de amor e lixo, e pó, e memórias gravadas, pois importantes apenas para seus proprietários. Ao seu lado, a mesa de seis lugares para as refeições festivas, para a leitura, para o escritório improvisado de uma casa administrada por uma mãe sistemática, detalhista, contabilizada a cada palavra.

Então o corredor de onde fluía o que se chamava de três quartos e um banheiro. O recôndito de um casal unido apesar dos amores controvertidos, a despeito dos desencantos da vida regular, o quarto de Xavier e seu irmão menor, as camas paralelas, o guarda-roupas, o lugar da televisão. O quarto da televisão. A família: pai, mãe, dois filhos e a televisão.

Para o sul, um puxado de fibra de amianto criava a lavanderia, ou uma porta dos fundos coberta, com uma máquina de lavar roupas, e também onde estava o terceiro umbral de acesso à cozinha. Tantas portas a perfazer o caminho suntuoso das inversões domésticas.

A edícula nascia do quintal de grama crescida e mato rasteiro, pois em meados de noventa ainda havia muitos quintais e cento e vinte e três pomares na cidade. Careciam daquele amontoado esdrúxulo de vigas podres e telhado de fibra castigado pelas chuvas de granizo apenas para proteger o carro das amoras que caiam da árvore do terreno vizinho e também das merdas de pássaro. Depois de alguns meses de treino, as aves ficaram tão meticulosas que raramente erravam o carro, mirando o cu para que a merda atravessasse os rombos feitos pelo gelo na cobertura e acertassem o veículo.

O muro de tijolos vistos na última limitação do terreno era a escada pela qual Xavier e seu irmão subiam para apanhar amoras e brincar em cima da podridão, arriscando suas vidas no mais instável solo daquele habitáculo melindroso.

No outro extremo, para o qual a fachada se exibia para a rua, passava a mureta e em um trecho dela o portãozinho de madeira velha. Tudo baixo, para qualquer criança atravessar sem o auxilio dos adultos. Esses elementos todos, cozinha, televisão, merda, fundos, estavam plantados atrás dos pés de ipê amarelo e bracatinga, duas árvores pobres, inabaláveis, esguias, perdidas na forma imóvel e vegetal. Árvores impressas no solo tal qual um selo, garantindo o trânsito das correspondências e eternamente se despreguiçando com seus galhos longilíneos, repletos de pequeninas folhas. O retângulo onde cabiam as explicações anteriores juntamente a outros retângulos formava um bairro de novos trabalhadores potencialmente controlados pela significação adequada em cada fase e que nesta última tinham comprado a casa própria.

Quando tudo estava assim, exatamente assim em cada detalhe expandido pelo repertório e índole de significação de meus leitores, era sábado, meados de noventa e o desastre se anunciou quando havia passado o dia. Pelo deslocamento absurdo dos signos e trópicos, Xavier se achou sozinho quando fendas baforentas de enxofre, iluminadas pelo plasma incandescente, vomitavam insetos desconhecidos, mutações de lobos selvagens e répteis peçonhentos. O calor derretia cada paz que tivesse havido, a estiagem secava cada rio, cada veia de sangue, até petrificar as vísceras.

(Continua)

Massas ignorantes estragam Brasília; Ratinho e Barros divergem

Enquanto governador repudia atos violentos em Brasília, deputado defende motivações dos manifestantes; veja detalhes.

Tempo previsto
14/4/2025

Às 18h44 deste domingo, (8) é de se comemorar que as manchetes não tragam qualquer número de mortos durante os atos em Brasília. As sedes dos Três Poderes foram ocupadas e danificadas por pessoas cujos adjetivos são numerosos e imprecisos. Do ponto de vista da política básica, anarquistas. Do ponto de vista da psicanálise, primitivos, ou massas ignorantes. Seja como for, nenhuma condição concede àquelas pessoas os nobres títulos de patriotas ou nacionalistas.

Essas massas ignorantes estão particularmente feridas pela derrota que tiveram nas urnas, em uma clara manifestação de fraqueza. Isto é, a restrição cognitiva operada por forças como o fundamentalismo religioso protestante e a miséria da representatividade política culminam nesta tristeza: “no passado, eu não era ouvido, tive um presidente que eu amava, mas ele perdeu as eleições apesar de meu apoio irrestrito, esse apoio me custou amizades e relacionamentos familiares, não tenho mais energia para justificar a fuga de Bolsonaro para os Estados Unidos, e não sei o que fazer com meu tempo”.

Dados os fatos sobre as omissões de poderes da Segurança do Distrito Federal, as investidas contra policiais e jornalistas em trabalho – com registros em vídeo – , o saldo calculado por depredação de patrimônio público é algo mínimo para se lidar. Argumento que quebrar vidros seja um prejuízo menor que pessoas mortas.

Sobretudo, porém, o dano é moral, e de modo anterior ao conceito da legislação. Trata-se de um dano ao cerne do que nos identifica como seres racionais, um atentado ao primado da razão. É grave, e capilarizado para além das fronteiras tupiniquins.

Nem para todos

O secretário de Estado da Indústria, Comércio e Serviços do Paraná, Ricardo Barros, defendeu os atos. Em entrevista ao vivo pela CNN, ele argumenta da seguinte maneira.

“O Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Alexandre de Moraes, tentou impor a credibilidade da urna eletrônica. Ele fez uma resolução do TSE proibindo criticar a urna eletrônica. Ele calou parlamentares. Ele calou vários jornalistas que queriam criticar. Ele não convenceu a sociedade de que a urna era confiável. Se ele tivesse convencido a sociedade que a urna era confiável, e não imposto à sociedade a confiança nas urnas, não teríamos essas pessoas, que são brasileiros, que estão aí de cara limpa”.

Interpelado pela jornalista que o entrevistava, foi constrangido no ar. Considero a atitude dela imatura profissionalmente, uma vez que deveria ter a perspectiva de quem entrevista um deputado de carreira que era líder do governo Bolsonaro.

O governador do Paraná, Ratinho Junior, publicou no Twitter que repudia os atos.

Quanto ao Paraná, não se sabe se postura de aparente neutralidade do governador Ratinho Junior, recentemente elogiada pelo arcebispo Dom José Antonio Peruzzo em um vídeo, vai continuar a ser neutra ou se autorizará o discurso de Barros.

Philomena Cunk é uma documentarista ignorante, porém equipada

Sucesso no humor britânico, Philomena Cunk expõe com ironia a fragilidade intelectual presente até no jornalismo sério.

Tempo previsto
17/10/2025

Há alguns anos, Dra. Cida Stier me levou com ela a um treinamento de comunicação para policiais rodoviários federais. Ao fim de uma das fases teóricas, ela propôs um roleplay (uma espécie de “teatro” que simula situações). O “elenco” era um policial com um repórter, em sendo eu o repórter. E o caso era: “um motorista de caminhão morreu em um tombamento, há interrupção de trânsito”. Em frente a uma turma numerosa, seguimos assim:

—Bom dia, tudo bem o senhor? Meu nome é Vinícius, sou repórter. Qual é seu nome?

Papo vai, papo vem, ele chega ao ponto de me contar:

—Uma carreta tombou. Mas temos poucas informações, porque estamos a caminho. — Eu pergunto: —O motorista está bem? — Ao que ele responde: —Ele não está morto? — Nem mesmo o policial conseguiu concluir a frase sem uma gargalhada honesta. A partir disso, todos rimos, porque, digamos, os atores se bateram um pouco com o texto.

Lembro desse episódio quando assisto à personagem inglesa Philomena Cunk (Diane Morgan), produdiza pela BBC. Philomena é uma documentarista ignorante, porém equipada. Como é apresentadora de televisão, tem os diálogos com os entrevistados gravados em vídeo. A postura dela é absolutamente exemplar: voz, roupa, gestos. Mas apesar disso, é burra como uma porta. Os episódios são memoráveis.

Em um deles, ela confunde “Camelot” de Rei Artur com “cum a lot”. Em outro, ela grava em volta de Davi de Michelangelo e se pergunta se, pela ausência na escultura, as pessoas daquela época tinha ânus. Neste a seguir, ela fala sobre as previsões de George Orwell no livro “1984”. Ela reforça que tais previsões foram feitas no livro usando “nada além de palavras” – risos.

Ao que pese a BBC ser uma das mais proeminentes marcar de jornalismo do mundo, junto à ABC dos Estados Unidos, à TV Globo do Brasil, à Deutsche Welle da Alemanha, ao Franceinfo da França, a existência de Philomena a mim não parece mero formato cômico. É, sobretudo, um convite à aprendizagem de rir de nós mesmos.

Há alguns anos, em visita a uma agência de Goiânia, o publicitário Renato Monteiro me contou que a primeira coisa que faziam diante da chegada de um novo projeto de anúncio era passar dias criando as mais óbvias intervenções. Se campanha para um seguro fúnebre, “os preços estão pela hora da morte”, “compre antes que seja tarde”, “quem vai se preocupar os pregos da chuteira”. Naquela ocasião, o trabalho que devia ir à TV era a venda de um plano de saúde para pequenas empresas, com no mínimo sete empregados. Depois do processo de criação, fizeram a Branca de Neve contratar o plano. Uma peça genial!

No jornalismo de televisão há muitas variáveis, como é comum em todos os empregos sujeitos a enormes pressões e instabilidades. Considero que um dos grandes desafios quanto à atração e retenção de talentos seja a habilidade de organização dos repórteres. O que consegue acordar diariamente às 4h, para uma hora depois começar a preparação de um jornal que vai ao ar às 6h, e repete essa atividade diariamente por meses ou anos, tem grande chance de ocupar o posto de âncora. Só por esse motivo já se teria encontrado um funcionário exemplar. Por outro lado, quando a variável ordem está dura demais, o trabalho criativo pode ficar minguado às vezes. “Jornalismo é metade negócios, metade show”, defendia o jornalista Gladimir Nascimento.

Sem penúria, sem narcisismo demasiado, sem jogos de poder ou psicológicos fora de controle, com humor para rir de si, o jornalismo de televisão pode ter sobrevida intelectual.

Você pode assistir à Philomena no site da BBC, e em uma série que acaba de estrear na Netflix. A hashtag #philomenacunk no Instagram tem trechos bons.

Adeus, Professor, e um sábio a menos

Referência no jornalismo paranaense, Aroldo Murá deixa legado de inteligência, generosidade e compromisso ético.

Tempo previsto
11/4/2025

Aroldo Murá, um tipo puro sangue do jornalismo, era pontiagudo com as questões da inteligência, sem qualquer paciência para erros de lógica ou de português. Foi implacável nesses pontos, até o último momento. Quando no jornal Indústria & Comércio, desprezava voluntariamente a habilidade jornalística dos novatos, a fim de construir histórias marcantes. Um ponto alto daquela trama foi ter contratado imediatamente um estagiário que escreveu um bom bilhete. O estagiário era Gladimir Nascimento.

Convencionou-se chamar o jornalista de Professor Aroldo Murá. Ele mesmo, não raro, chamava-se de “Professor”. “Não deixe o Professor na mão”, dizia ao encomendar alguma publicação para o blog. Em mais de 60 anos de prática de notícias, junto ao dom de si, era admirado por alunos, colegas de profissão, e guardava em seus editoriais desafetos clássicos e cômicos. O homem soube provocar muitas vezes, e muitas outras se consertou em público.

Aos colaboradores do próprio blog, dos quais se destaca o jornalista André Nunes, um escudeiro e amigo presente, costumava reclamar de absolutamente todos os textos que levavam crítica explícita ou sutil a qualquer figura pública. E postava os textos mesmo assim, sem nenhuma modificação, ainda que aos gritos de “você vai me fazer perder todos os meus anunciantes!”.

No fim dos anos 2010, juntou-se às forças do administrador e ex-secretário do Planejamento do Estado Dr. Belmiro Valverde, do arquiteto Manoel Coelho, da jornalista Michelle Thomé, do fotógrafo Felipe Pinheiro, e outros nomes, e ajudou a erguer o Centro de Educação João Paulo II, em uma região vulnerável de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba. A escola, à época, era uma provocação institucional levada às últimas consequências, com educação de altíssimo nível, e em período integral. O custo por aluno era o mesmo da rede pública, mas com financiamento da filantropia dos Estados Unidos.

Uns anos atrás, ligou para uma lista grande de jornalistas e convidou: “vamos sabatinar Luiz Geraldo Mazza”. Recebeu a todos com uma fartíssima mesa, e naquela tarde as entranhas de Curitiba e do Paraná se abriram. Está tudo gravado em vídeo. Ficou comprovado que a capital é mesmo uma cidade pequena, com vivências muito nobres e muito infames, como convém a qualquer cidade habitada.

Durante a pandemia de Covid-19, por meio do Instituto Ciência e Fé, promoveu uma série de palestras on-line com representantes de diversas crenças religiosas. Teve de tudo, do menos conhecido ou popular, até o Santíssimo Sacramento. O respeito com que Professor tratou cada convidado e cada pergunta é uma lição de ética profissional e de sensibilidade humana.

O jornalismo do Paraná perde um sábio também generoso. Pai de uma infinidade de filhos, despedia-se deles sempre com uma bênção em forma de cruz. Agora, espera-se que, dadas as vantagens da proximidade, peça a Deus ajuda para o Paraná e o Brasil. E que interceda ao Criador pela vida do jornalismo.

Sgarbe para 2022; Carta seis

Reflexões pessoais revelam pessimismo sereno, coragem diante do desejo e busca por autoconhecimento em ano monotônico.

Tempo previsto
11/4/2025

Em 2022, tive a experiência da mais deliciosa monotonia. É como se. Justamente. O “como se” da literatura. É como se eu tivesse aplicado filtros de cor, de redução de ruído, tivesse baixado a luz, diminuído o contraste. Foi um ano deliciosamente normal, o que, para mim, significa que aprendi muitas habilidades novas, e poderia dizer: se não nos vemos há muito tempo, é possível que eu tenha mudado muito.

Eu me ocupei prioritariamente da política, para a qual dedico duas dissertações (uma pior que a outra). Também assentei em mim o que chamo de “pessimismo sereno”. Acho graça no tanto que, humanos que somos, somos capazes de errar por mera burrice (por ignorância menos, mais por burrice). Nem mesmo um gato falando pode ser mais engraçado.

Discordei de praticamente tudo que li no Instagram. Levados às últimas consequências, aqueles conselhos podem destruir anos de processo civilizador. O mundo, pelo menos no meu ver, precisa de mais gente conversando, mais gente se atrevendo, mais gente dizendo que sim ou não sem medo. É bem o contrário da vida narcísica.

Não existe cultura ou civilização em vidas que vivem para si mesmas. Estão ainda na onipotência do pensamento animal. Às vezes, são nossos colegas de trabalho, às vezes um amor, um amor da família, que pena para todos nós. A simplificação dos memes quase sempre me remete ao riso da forca.

No fim das contas, o que vale é uma certa coragem diante do próprio desejo. Não conheço uma única alma que tenha obtido sucesso sem confessar a si mesma que pode pouco e sabe menos ainda. Tem uma potência enorme nessa conversão à gente mesmo. “Mas não tem revolta não, só quero que você se encontre”. Conheci o homem que ajudou Peninha a escrever essa letra. Ficamos sentados em um banco de madeira, lembrando que a vida é também amor, se é que não é só amor.

Diante de Deus e seus anjos, diante de Satanás e seus demônios, diante da Igreja e da Grande Nuvem de Testemunhas, diante da mais pérfida viela de um bairro tomado pelo tráfico, diante das prostitutas da Visconde de Guarapuava, diante dos sacerdotes de todas as religiões, diante do mundo sem fé e da Santa Sé, diante de Nossa Senhora e São José, e de todos os apóstolos vivos ou mortos, diante dos carros da rápida, das pedras do Passeio Público, diante dos bolsonaristas em frente ao quartéis, diante dos bolsonaristas com sinal trocado nas universidades, diante da foto de Patryck impressa em PVC, diante da pior coleção de livros que uma casa pode ter — a da Tag —, diante de mim, confesso: eu não posso mudar o mundo no grito (embora eu seja excelente de grito).

Eu sei no fundo e na superfície do meu espírito que podemos ser muito felizes, antes de morrer. Que a vida humana pode valer a pena quando damos o primeiro beijo, ou quando fazemos planos eternos. A mensagem é:

“Sabe o que acontece quando a ganância toma o controle: quanto mais você tem, menos você é. A sabedoria sai à rua e grita, e no meio da cidade, faz seu discurso”.

As infinitas ajudas que recebo não têm parado em mim, elas, abundantes que são, têm corrido rios glamurosos e fios de vida em valetas podres. A vida que resiste a água de bateria, a viagens espaciais no vácuo, e a profundezas salgadas e sem oxigênio dos oceanos também dá as caras nas sessões de análise. Quanto mais encontro recursos para destruir as ideias dos outros, mais me aposso da misericórdia que é recorrentemente oferecida a mim.

Quem eventualmente pensa que faço parte de uma grande trama está redondamente enganado. Quem eventualmente pensa em me envolver em uma grande trata está perdendo tempo. Minha vida é realmente indiferente para coisas humanas que não sejam ligadas à grandeza de nossa divindade. Se eu morresse agora, e o julgamento final fosse uma única pergunta, qual fosse “você foi feliz?”, minha aprovação viria da resposta “veja bem, apesar do Senhor não ter sido exatamente claro a maior parte do tempo, eu fiz tudo que sabia”. E pronto. Vocês poderiam imprimir fotos minhas junto à “Novena de São Sgarbe”. Do primeiro ao último dia de minha Santa Novena, vocês terão de rezar:

“Eu não sou o Bono Vox, nem a Madonna, sou uma pessoa essencial para as pessoas em volta de mim. Para eu alcançar [coloque aqui sua intenção], preciso acordar cedo e dormir cedo, ter uma agenda organizada, e me desviar ao máximo de jogos psicológicos. Pela intercessão de São Sgarbe, que Deus deixe de ser um pai autoritário e vingativo, e passe a ser alguém que faço feliz. Amém”.

Pouca coisa pode resistir a uma certa insistência. Se a porta não abre de jeito nenhum, nem com reza, nem com feitiço, nem com todos os efeitos lúdicos e especiais, ali não está o nosso caminho. “A benção de Deus enriquece e não traz dores”. Se aquele senhor mudou de ideia em relação a manter a própria palavra, é uma questão dele rever os próprios princípios.

Conheço cada vez menos de Deus, mas isto eu sei: ele dá preferência a quem se entrega. É melhor dizer “eu não vou” e ir, do que ser o primeiro da fila e não aparecer para o trabalho. Esses dias, disse a ele, “e o Senhor é o mais hipócrita de todos”. Como de costume, eu estava errado. Mas acho que ele entendeu o recado.

Em 2050, Lab quis viver também fora do jornalismo

Laboratório inicialmente jornalístico expande atuação para apoiar empresas em mudanças organizacionais e pessoais.

Tempo previsto
11/4/2025

Quando pensamos no nome “Lab”, inicialmente ele tinha a ver com jornalismo experimental. Mas não um tipo experimental descompromissado com os padrões de mercado. A ideia era fazer conversar estas duas coisas: as linhagens intelectuais do jornalismo, e as práticas nas emissoras. Ainda pensamos nisso, porque somos crentes em formas de fazer, como jornalismo de precisão, jornalismo de soluções, etc. Mas o Lab pediu para ele mesmo uma mudança irreversível.

Passamos a perceber que as transformações que nos são tão caras em termos pessoais, sempre na direção da felicidade, eram também possíveis em projetos de vida pessoais, marcas e empresas.

Que tipo de experimentos são possíveis em um laboratório tão amplo? Bem, essa conversa poderá levar uma vida. Então, vamos ao nosso mais ortodoxo teste laboratorial, que é historiográfico. Quem nos trouxe até este momento?

A começar pelos pais dos fundadores, depois pelos fundadores, pelos herdeiros, pelas pessoas que passaram pela firma — o que a história dessas pessoas tem a ver com o que se vive atualmente, ou ainda que relação tem com os desafios a serem superados? Uma empresa é estritamente as pessoas que nela trabalham.

Nesse contexto, surgem recorrentemente questões como fluxos de liderança adoecidos, crenças imprecisas, pequenas e grandes autoridades com o papel confundido. O preço da transformação é altíssimo. Isto é, eventualmente, com novas músicas batendo o ritmo, pode ser que alguém se atrapalhe na coreografia organizacional.

A transformação é o caminho natural da vida, além de algo lucrativo. Impedi-la ou retarda-la não tem efeito duradouro. É melhor que estejamos minimamente preparados.

Conheça um pouco mais sobre nossas soluções em Análise Transacional Organizacional. Agende uma reunião.

Caio Dib: 'o que é uma escola inovadora para você?'

Inovação escolar vai além da tecnologia: método japonês Soka aposta em cidadania global e relações humanizadas.

Tempo previsto
11/4/2025

O que é uma escola inovadora para você? Ainda existe um imaginário consolidado de um espaço cheio de tecnologia e, muitas vezes, com o uso de cores expressivas e móveis diferentes das tradicionais carteiras escolares. Mas acreditamos que a inovação está muito além desta visão.

Inovar é resolver problemas com criatividade e usando os recursos disponíveis, sejam eles tecnológicos e "modernos" ou não. Inclusive, iniciativas inovadoras na educação acontecem muito antes da ascensão tecnológica. Um dos exemplos mais interessantes sobre isso é o educador japonês Tsunessaburo Makiguti (na foto). No início de 1900, ele começou a aplicar conceitos com educação para a felicidade, educação para uma vida criativa e a importância de desenvolver cidadania global com suas turmas. “Em vez de incentivar os alunos a apropriarem-se dos tesouros intelectuais descoberto pelos outros, devemos capacitá-los a realizar por conta própria o processo de descoberta e da invenção”, defendeu o educador.

Essas ideias disruptivas para a época fizeram com que ele fosse punido e precisasse deixar seu cargo de professor. Mas isso não fez com que ele desistisse do jeito que acreditava que a educação deveria ser. Anos depois, criou a organização Soka Gakkai, que hoje tem colégios espalhados em várias partes do mundo.

Atualmente, os colégios Soka usam sim tecnologia e aproveitam de recursos como carteiras escolares com rodinhas para alterar a organização da sala a partir do objetivo de cada aula. No entanto, a tecnologia ainda não é a estrela principal. Em todas as idades, os estudantes têm disciplinas e momentos específicos para desenvolverem outras competências:

Ensino Fundamental — Anos Iniciais

A disciplina “Hábitos da Mente” desenvolve a autoestima e a capacidade de pensamento positivo dos estudantes.

Ensino Fundamental — Anos Finais

Alunos estudam com a orientação de educadores e apoio de colegas no momento “Study Skills”.

Ensino Médio integral

Integra diversas disciplinas. Política Global, Gestão de Negócios, Sistemas Ambientais e Sociedades, Teoria do Conhecimento e Proficiência Internacional da Língua e Literatura Portuguesa estão na lista. Todas são ministradas em inglês. A educação Soka tem foco principal na formação de um cidadão global e na disseminação da cultura de paz.

O que a escola Soka nos ensina é que precisamos ir além da tecnologia para inovar. Estar baseado em relações humanizadas pode ser mais revolucionário para um mundo com mais cidadãos que transformam suas realidades.

Cervi: 'Quando a religião foca no poder material [...] já perdeu a essência'

Em diálogo com Sgarbe, Cervi analisa papel do jornalismo e afirma que religião pautada por bens materiais perde propósito.

Tempo previsto
17/10/2025

Fiquei feliz todas as tardes de segundas-feiras, neste semestre. Em uma disciplina optativa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), numa turma de pouquíssimos alunos, tive de Dr. Emerson Urizzi Cervi o impulso que me é caro para discutir jornalismo. Cervi tem um jeito sóbrio de jornalista que me lembra as redações que não sucumbiram ao deslumbre da internet.

Sgarbe: Querido professor Cervi, os leitores deste site se aborreceriam se eu não contasse a eles que escrevi ao senhor quando eu ainda estava no Ensino Médio e sonhava ser jornalista. Lembro de me interessar em comunicação política. Bem, tal qual é do feitio dos autocontratos, cá estamos em via de eu escrever o primeiro artigo para sua apreciação. Em tendo superado o principal aspecto afetivo desta conversa, caio no próximo. Isto é, o afeto frio que me causa assistir ao jornalismo de televisão. É que não se trata, evidentemente, de um gosto pessoal, mas de uma dimensão colegiada, coletiva, comunitária, do jornalismo. Apesar de minha convicção de que não é possível fazer jornalismo de massa tal qual o concebemos décadas atrás, é possível e necessário, é justo e necessário, que o jornalismo de televisão recorra à literatura básica do que é notícia. Refiro-me diretamente à “nova geração”, que tem à disposição repórteres de excelente qualidade, e pelos quais, via relações intrapessoais, o DNA do jornalismo se pode transferir. Desconfio muito seriamente de qualquer jornalismo que não traga claramente o dilema “comercial-editorial”. E minha primeira pergunta é: o que veio primeiro? O ovo ou a serpente? O jornalismo molenga é fruto de uma comunidade molenga?

Cervi: Sgarbe, o jornalismo é uma atividade humana, constrangida, limitada e potencializada pelo contexto social em que se encontra. O jornalismo do século XXI não será igual ao do século XX, que não pode ser comparado com o do século XIX simplesmente porque a sociedade de cada momento em que está inserido o jornalismo é específica.  Precisamos evitar alguns exageros se quisermos entender o papel do jornalismo na sociedade do século XXI. O primeiro é o do determinismo tecnológico. Não é a tecnologia que molda o jornalismo, mas, sim, o jornalismo que faz uso das tecnologias disponíveis para se moldar. O segundo é o excesso da centralidade do jornalismo no mundo.

O jornalismo é uma atividade profissional e uma instituição social que integra as chamadas instituições intermediadoras. Jornalismo, por natureza, intermedia a relação entre pessoas e pessoas, pessoas e instituições, pessoas e conceitos sociais mais abstratos.

Então, jornalismo faz bem seu papel quando consegue intermediar relações sociais de forma relevante, ou seja, de forma consequente. Historicamente o jornalismo de massa é uma instituição intermediadora para a estabilidade social. Ele apresenta as regras e comportamentos esperados (claro que existem os casos de jornalismo usado para fins revolucionários, mas, essa não é a regra). Porém, e aqui está um elemento importante, a boa consequência do papel de intermediador não depende apenas que quem intermedia, mas das expectativas daqueles que estão nas "pontas" dos processos de intermediação  - fora do âmbito direto do jornalismo - as fontes, de um lado, e o público, de outro. Se quisermos respostas sobre o jornalismo do século XXI precisamos, necessariamente, perguntar às fontes e ao público o que eles esperam do jornalismo do século XXI e não aos jornalistas diretamente.

Sgarbe: Quando li seu parágrafo, pensei “tenho de voltar com pelo menos algumas entrevistas, nas quais pergunto às pessoas sobre o que elas esperam do jornalismo”. Evidentemente não é o caso, mas tive o impulso de repórter. Entendo que para manter o jornalismo vivo, tal qual se fez em outras épocas, teremos de lidar comunidades absurdamente diferentes das que tivemos há dez ou vinte anos. Essas mudanças rápidas, justificadas às vezes pelo aporte tecnológico ou, até mesmo pela gravidade de uma pandemia, pouco tem a ver com efetivamente celulares e vacinas – itens que muito mais são sintoma do que causa. Depois do levante fascista e da Covid-19, estamos em um pós-guerra. Voltemos um pouco. Depois da Primeira Guerra Mundial, nós experimentamos as vanguardas de arte, dentre outros efeitos menos singelos. A psicanálise e o fundamentalismo religioso também saíram de lá. Ocorre que, no caso desses dois últimos, os resultados foram completamente diferentes. Para o primeiro, a conclusão é que o fim é inevitável e desejado, enquanto para o segundo se agarra à dureza de umas poucas frases que incentivam à espera pela volta do Messias. Entendo que, tal qual é esperado da história que se repita, nosso agora tem traços daqueles desenhos. É utópico, mas seria muito bom, que os indivíduos fossem capazes de lidar com seus problemas internos antes de ir ao palco público. Quem sabe daqui a mil anos. Há muitos cenários e microcenários na tela, então tenho consciência de que o recorte a seguir é impreciso. Nós nos polarizamos mais ou menos assim: de um lado, a cátedra, o culto à investigação científica (há poucas horas, disse que ao se crer na ciência sem restrições tornamos a ciência religião – caiu mal ao grupo, mas não me importo, nesse caso); do outro, o Deus poderoso que se vingará dos maus, e que nos distinguirá dos perversos. Acho que ambos estão viajando na maionese, por este motivo aqui: a que serve tudo isso se o que se busca não é a paz? Vai ser muito difícil obter respostas dessa gente quanto ao jornalismo. Enquanto isso, minha aposta é no jornalismo de precisão e em uma brilhante capacidade de diálogo e bom humor – seja com quem for.

Cervi: Bem, se te entendi bem, ampliamos a discussão, saindo do jornalismo propriamente dito. Se for isso, concordo com a sua proposta. Se tomarmos o jornalismo pelo que ele é: uma atividade profissional com impacto coletivo como fim, perceberemos que ele só pode ser entendido se colocado frente a outras instituições, grupos e normas sociais.

O fim coletivo do jornalismo é  o atendimento a demandas da sociedade por informação.

Quando esse fim é bem sucedido, a informação jornalística serve como amálgama social, que dá forma e une outras instituições sociais. Em outras palavras, a informação jornalística tem como fim a coesão social e não a distensão. O fenômeno típico do século XXI é que o jornalismo como fim enfrenta a concorrência da difusão de conteúdos e informações com o objetivo oposto ao da coesão social. Uma discussão interessante seria a da liberdade como direito. Assim como qualquer outro, não existem direitos absolutos em qualquer sociedade. No limite, até o direito à vida não é absoluto em muitas sociedades. O que acontecia no século XX é que as lutas pelo direito à ampliação e democratização da informação, que são meios, deixaram os fins, que é a coesão social, em segundo plano. É preciso recolocar a discussão sobre os fins da liberdade de expressão no debate público. Entendo que não foi o que você propôs, então paro por aqui. Sua proposta foi olhar para os conflitos sociais contemporâneos a partir do nível micro, o individual. E, nesse caso, você aponta quais são as instituições com mais impacto sobre o comportamento social a partir do indivíduo: a igreja, notadamente. A religião tem a capacidade de transpassar da esfera privada para a pública sem a necessidade de nenhum filtro. Só entenderemos os conflitos pessoais no início do século XXI no momento em que pensarmos como as religiões estão abordando as diferenças entre o poder espiritual e o poder material. Quando a religião foca no poder material é porque ela já perdeu a essência, que é o controle espiritual. A partir daí ela tende a estar cada vez mais envolvida em temas mundanos e menos nos espirituais. A sociedade toda perde, mas, principalmente, a religião é a principal derrotada. Tratar as crises dos indivíduos, os conflitos, as dissensões, a formação de bolhas sociais a partir do papel das instituições tem uma capacidade explicativa maior do que cair no determinismo tecnológicos, que tende a ser um beco sem saída.

Lab Digital 2050 é apresentado à comunidade intelectual paulistana

Lab Digital 2050 estreia em São Paulo com laboratórios de mídia, análise de dados e foco na comunicação humana.

Tempo previsto
11/4/2025

A empresa Lab Digital 2050 é lançada na sede do ISE Business School, em São Paulo. Em uma reunião discreta, depois de um café da manhã com donuts de frutas vermelhas, são apresentados oito laboratórios de mídia para a comunidade intelectual paulistana.

O presidente do Conselho do ISE, professor Dr. Carlos Alberto Di Franco, passou para nos cumprimentar pela amizade e pela data. O laboratório de análise de dados utiliza, a título de demonstração de lançamento, um corpus com os comentários deixados no canal de YouTube do professor nos últimos seis meses. É realizada análise de sentimentos com uso de inteligência artificial da Microsoft.

Na foto de destaque, Ágata Soares, professor Dr. Carlos Alberto Di Franco, e eu.

Abre de respeito

Dra. Ana Brambilla e Raphael Müller. Foto: Vinícius Sgarbe.

Os professores do ISE e mentores do Lab Dra. Ana Brambilla e Raphael Müller fazem apresentações, ocupam os papéis de patrocinadores organizacionais. Müeller acaba de voltar de Barcelona, em atividade do IESE Business School da Universidade de Navarra. Ele defende que uma vitória na vida se dá quando os recursos do indivíduo são utilizados. “Davi, quando lutou contra Golias, por exemplo, não usou as armas dos outros. Ele nem saberia o que fazer com elas”, argumenta.

Dra. Ana mergulha no sentido profundo que é a gênese e o desenvolvimento de um negócio, do ponto de vista da filosofia. “A realização do potencial de um empreendedor é que se torne empresário”, instrui. Para ela, “é um orgulho ver um projeto gestado em nossa escola ganhando vida e chegando ao mercado com tanta solidez. O entusiasmo dos gestores, Vinícius e Ágata, é claramente o combustível maior de uma proposta que surge com o objetivo nobre e raro de aperfeiçoar a comunicação humana em suas múltiplas perspectivas”.

Sócios

A sócia-fundadora do Lab, a linguista Ágata Soares, explica assim: “fazemos o lançamento da linha de produtos de 2023. A apresentação marca, oficialmente, o início da empresa. Convidamos pessoas que fazem parte de nosso desenvolvimento, muitos deles são porta-vozes de marcas que gostamos de trabalhar, além de representantes de delegações internacionais, e a mãe do Sgarbe”.

O empresário curitibano Oberdan Pallu, a psicóloga Janine Sgarbe, e a diretora de relações institucionais do Master: Negócios de Mídia, Dra. Glaucia Noguera. Foto: Vinícius Sgarbe.

A diretora de relações institucionais do Master: Negócios de Mídia, Dra. Glaucia Noguera, escreve assim: "o [curso] Empreender no Jornalismo foi criado em 2020, para aprimorar os conhecimentos dos profissionais de mídia que já empreendiam ou tinham o desejo de montar seu próprio negócio. O Sgarbe se encaixava nas duas categorias: há alguns anos, vinha tocando projetos próprios, mas cultivava, entusiasmado, outras tantas boas ideias que permaneciam no papel. O Lab Digital 2050 era uma delas, e foi sendo modelada ao longo das aulas e das sessões de mentoria. Sediar o lançamento oficial em São Paulo é, para Master: Negócios de Mídia, um motivo de grande alegria e satisfação. Empreender envolve grandes riscos e, nesta manhã de festa, Sgarbe e Ágata provaram que, com estratégia e paixão, os sonhos vão se fazendo realidade".

Para mim, Sgarbe, a empresa nasce de uma profunda consciência de que o trabalho deve ter uma serventia ampla, e de que os “verdadeiros valores da vida” que deixaram de ser apreciados, como Freud nos convida a observar, tendem a ser retomamos pela singeleza.

Sou veterano da primeira turma do curso Empreender no Jornalismo do ISE. Uma espécie de “escola dominical” frente ao prestigiadíssimo Master de mídias. Que seja público e notório: poucas vezes um trabalho profissional é tão bem cuidado como é no ISE. Algo assim vivi por quando me tornei sócio da jornalista Cassiana Pizaia em nossa produtora Outras Terras Filmes.

Conversar com todos é formação do jornalista

Após polarização eleitoral, jornalistas são desafiados a superar bolhas sociais e dialogar com realidades diversas.

Tempo previsto
11/4/2025

Diante daquele presidente eleito, seja ele quem for, daqui a duas semanas, teremos superado uma das “desculpas” para procrastinar talvez a mais importante prática jornalística, a de conversar com absolutamente todos que nos apareçam. Do jeito que o país está dividido – o que não se aplica ao Paraná, haja vista a reeleição do governador, e a votação do antipetismo para a Presidência –, caímos fácil na falácia de que é melhor deixar aquele assunto controverso para lá, para depois disso, para além daquilo.

Nós, jornalistas, talvez nos tenhamos dado ao luxo de escolhas elitistas. Quando a palavra “elite” emerge nos artigos científicos de comunicação política, um pequeno demônio sussurra em nossos ouvidos de gatekeepers: “você venceu na vida, fez por merecer, você é elite”. Não necessariamente o demônio está errado, frequentemente nos diz coisas mais razoáveis que o psiquiatra. Fazer-se ou ser-se elite, porém, conferiria a nós um papel pouco flexível, mais de Rainha Elizabeth que de Winston Churchill. De qualquer modo, quem vai falar com os que não entram no palácio?

Durante as eleições, coberturas de desastres, de carnavais, e toda sorte de assuntos falsamente urgentes, somos tentados ou coagidos a sacrificar o trabalho antropológico, de investigação, de perguntar “como isso que você está me contando acontece?”.

As perguntas do lead, o famoso “o quê, quem, como, quando, onde e por quê”, podem ser respondidas por inteligências artificiais bem treinadas. Algumas atividades da redação são tão mecanizadas que sites avançados substituíram repórteres por robôs – o que acho muito bom. Bem tensionada, a teoria Newsmaking pode dar conta dessa mudança. Mas isso não atende a necessidade de reconhecimento e participação das pessoas que nos leem ou assistem. O palco público que nos esforçamos para manter em pé não tem pernas que não sejam as nossas, ouvidos e inteligências que não sejam as nossas.

A primeira tarefa a ser concluída, depois das eleições, como queiram, é visitar todos, todos, aqueles tios do zap do grupo da família, insuportáveis no digital e amáveis feito a Santa Maria quando presentes em carne. É preciso atender aos telefonemas deles, deixá-los nos explicar por que acreditam que o Supremo Tribunal Federal trabalha para destruir a vida, por que acreditam que aquele terreninho mixuruca a dezessete quadras da praia vai ser “invadido” pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), mas, principalmente, por que não acreditam mais no que você e eu escrevemos, gravamos ou apresentamos. E quando nos disserem que é porque “a mídia está toda comprada”, perguntaremos: “não fique chateado, tio, mas como isso acontece?”.

Deixem-me escrever um pouco em tom solene de Bíblia.

Filhinhos, não pratiquem culto à falta de tempo. Isso é próprio de profissões menos importantes e menos prestigiadas que a de vocês. Jamais respondam “hoje, não posso ir ao Basset Lanches com os amigos dos meus amigos”, e jamais evitem ouvir pela quinquagésima vez a mesma história. Se uma história resiste a cinquenta repetições é poque deve ser boa. É abominável, de qualquer modo, que o sucesso profissional termine em indisponibilidade para se ir à universidade, à exposições de arte, ou para sentar em uma roda diferente onde não se é o dono da verdade.

Fim do desafio bíblico.

Daí complica, sentar em uma roda diferente onde não se é o dono da verdade, porque, em alguma medida, somos obrigados a ampliar nossos quadros de referência. E isso nos faria perder o papel de “juiz da notícia”. É preciso reconhecer o pequeno Sergio Moro que mora em cada um de nós, para impedi-lo de errar a mão, impedi-lo de se alimentar e realizar a Operação Lava Jato 2. Temos de nos proibir terminantemente de comer o Estado com farinha. No fim, o tio do zap e nós jornalistas temos pelo menos isto em comum: não gostamos de nos sentir enganados ou subestimados.

Quando me refiro a jornalistas, escrevo sobre o grupo que considero minha comunidade profissional. Escrevo, pelo testemunho de sobriedade, a partir de mim. Porque eu somente poderia criticar no “outro” (para ser um pouco habermasiano) o que tivesse consciência de ser criticável, ou, ainda, minha crítica poderia partir de meus defeitos pessoais. Ou várias outras variações. Mas com ou sem autocrítica, sem ou com o melhor jeito de comunicar aos pares que essas críticas são um remédio amargo para nosso futuro profissional, estamos no mesmo Titanic do noticiário.

No lá e no então do passado, dizia-se a cada geração de repórteres: “lugar de repórter é na rua”. A ideia era de que a notícia estava onde havia vida, onde tinha ônibus e postes atrapalhando as vidas dos contribuintes, nas muvucas das manifestações políticas ou sindicais. A gente sai para escrever sobre uma colônia de férias, e volta sujo de barro fazendo vivo de enchente. Que demais essa profissão!

No aqui e no agora, reforço: lugar de repórter é em todas as ruas, em qualquer espaço que se possa entrar. Por que o cachorro entrou na igreja? Porque a porta estava aberta. Onde houver gente, onde houver conversas sobre dificuldade para dormir, sobre níveis de colesterol, onde se estiver falando sobre pintura em aquarela, sobre a influência das medidas das ondas do mar na formação das conchas, bem ali onde estiverem os “extremos” (amáveis como Santa Maria), na discussão acadêmica, na internet, claro, nas festas de família, há de haver um jornalista que se interessa pela vida humana. Se um apresentador consegue resolver um imbróglio familiar, aguenta qualquer coisa no ar.

Este texto é um convite a um dos fundamentos da formação de jornalistas, às relações interpessoais. É ouvindo sem preconceitos que a gente rearranja o caleidoscópio do mundo, que sentimos aquele ar fresco e perfumado do que é novo, que nos livramos das bolhas com cheiro de jaula. É entre pares que testamos as ideias em nossas cabeças, encontramos as primeiras resistências ou oposições claras, amadurecemos o que não está maduro o suficiente.

A paz exige muitas renúncias e muitas conversas com nacionalistas

Reflexão propõe diálogos necessários, denunciando perigos do nacionalismo exacerbado e buscando caminhos para a paz.

Tempo previsto
17/10/2025

Tivemos, pelo menos eu tive muita, esperança de que um milagre nos fosse concedido (haja fé, meu bem!), a saber: viver sem guerra, sem derramamento de sangue. Da parte da história do mundo científico, há um registro especial (para mim) dessa esperança, quando Einstein e Freud trocaram cartas sob o título “Por que a guerra?”. Em linhas gerais e específicas, concluíram, a partir de uma provocação da Liga das Nações (que viria a se tornar a Organização das Nações Unidas – “comunistas malditos!”), que a origem da guerra é o patriotismo.

Quando falo desse assunto, de uma escolha por ser pacifista, encontro resistência da parte de pessoas de diferentes linhas de pensamento. Quer seja um homem simples, quer um esclarecido, é trabalhoso sustentar o argumento de que a paz depende de uma porção numerosa de renúncias pequenas e grandes, e de que hastear uma bandeira de país e chamá-lo de maior que os outros é um risco.

Mais que rapidamente surge o dado de realidade Ucrânia-Rússia, pelo qual se poderia perguntar “mas e se um país invade o seu território?”, e caímos no que chamo “mirar no bispo para acertar o padre”, que é continuar a afirmar: o patriotismo é a origem da guerra. Ou não foram sob alicerces nacionalistas que cometemos erros vergonhosos contra a vida? Alemanha acima de tudo! Judeus abaixo da terra! Quantos milhões de mortos na Europa durante a Segunda Guerra? Em uma conta simples, foram cerca de três bilhões de quilos de carne humana que apodreceram.

Na Ucrânia de hoje, vocês também viram pela televisão corpos sendo jogados em valas comuns? Cheguei a pensar, nessa ocasião, “deve ser imagem de arquivo da Segunda Guerra”.

No Brasil, um “nacionalismo” mais sofisticado, e com a anuência da medicina psiquiátrica, assassinou sessenta mil pessoas em Barbacena (MG). Três milhões de quilos de carne humana que apodreceram. Dos mortos no hospital Colônia, cerca de 70% sequer tinham diagnóstico de doença mental. Morreram porque eram pobres, porque eram rebeldes, porque engravidaram de alguém que não podia decepcionar a própria família conservadora. Os corpos eram vendidos para faculdades de medicina, depois de falecerem sobre feno sujo de urina e fezes humanas.

Mas apesar de todas essas coisas, teremos de conversar todos os dias (inclusive com os nacionalistas).

No início deste texto, eu me referi a uma esperança. Eu tinha em mente o que foi um tipo de fantasia coletiva, provavelmente há um nome apropriado para o ocorrido, mas eu não sei qual, de que o primeiro turno das eleições nos livraria do ultraje que é o palco público brasileiro de 2022.

Aí com seu pessoal, conte-me, tem encontrado deprimidos, ansiosos, pessoas perdendo cabelos? É consequência da pandemia? É consequência da polarização política? O fato é que “as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo / A saudade de seus homens”. Fosse lá o que fosse, ou quem tivesse sido mais ou menos responsável, a gente queria que tivesse terminado. Essa era a nossa esperança sincera.

Ocorre que não foi assim. Nós do jornalismo havemos de conversar diariamente sobre as mudanças substanciais no palco público. Lição básica de filosofia: se uma mudança é substancial, azedou mesmo a marmita para quem esperava reviver a grandiosidade plástica dos noticiários de antigamente. Agora, meu bem, “pega lá” o que vai ser divertido: nós obrigatoriamente vamos superar este momento difícil.

'A opinião é livre, mas a burrice é imperdoável', argumenta Pedro Ribeiro

Jornalista analisa papel crítico da opinião na democracia e alerta que radicalismo e burrice são riscos imperdoáveis.

Tempo previsto
17/10/2025

Sgarbe: Pedro, nós conversamos há tanto tempo, e há tanto tempo jamais nos vimos pessoalmente, que tenho a impressão que voltamos aos anos 90, com a ideia do web-amigo — risos. Algo que nos une frequentemente, de volta à realidade deste um artigo de opinião, é o jornalismo, especialmente, que ironia, os artigos de opinião. Isso me faz lembrar do ídolo Gladimir Nascimento. Ele nos impedia, iniciantes que éramos, de colocar opiniões de ouvintes no ar sem um critério de respeito ao indivíduo que emitiria a opinião e ao que a ouviria. Algo como os filhos de Noé cobrindo o velhinho que tinha se passado com bebida. Em tendo introduzido o assunto da pior maneira, pergunto se você acha que a imprensa de 2022 faz bem ou mal de deixar passar tanta gente jegue no papel de colunistas, entrevistados, etc. Não seria o caso da gente evitar expor esses irmãos ao ridículo?

Pedro Ribeiro: Caro jornalista Vinícius Sgarbe. Ao falar com você, este velho sobrevivente das letras, ou da pena, como diz Nilson Monteiro, se sente gratificado e na certeza de que sairá daqui com aprendizado e conhecimento. Ao ser homenageado como uma das “Vozes do Paraná”, na coleção de personalidades paranaenses do professor Aroldo Murá, e agora falando com você, até acho que tenho um pouco de importância ou história no nosso jornalismo, onde comecei na Gazeta do Povo há 45 anos. Um pouco. Só.Artigos de opinião! Você não tem ideia de quantos chegam para mim por dia no Paraná Portal. Cada um de arrepiar. Por isso, depois de um filtro, os que acho interessante, coloco no rodapé: este artigo não representa, necessariamente, a opinião deste jornal e é de pura responsabilidade de seu autor. Hoje, caro Sgarbe, com as redes sociais e o chamado jornalismo cidadão, todo mundo tem contribuído, de uma forma ou outra, com “opinião”, para a construção da democracia e na esfera pública. Cada um tem sua razão. São artigos que, em muitos casos, suscitam debates, radicais ou não, e geram muitas polêmicas. Cada um que escreve um artigo, tem plena confiança de que a sua opinião está correta e, as vezes, temos exemplos dogmáticos. Não podemos, jamais, confundir artigos de opinião com reportagens jornalísticas, pois, para mim, o jornalismo, embora seja um espaço de contraponto, seu compromisso é com a verdade, com a reportagem dos fatos, devidamente investigados. É neutro. Tem seus valores de liberdade, dignidade, respeito e abertura ao contraditório. Jornalismo, para mim, meu caro amigo, é o pilar da democracia. Sem jornais não existe democracia. É difícil você ter que, por exemplo, dizer a um colega, que o artigo dele não passa de um release de interesse pessoal ou patronal. Ele pode se ofender. Prefiro, dizer que “o conselho de redação vai avaliar” (risos).

Sgarbe: Hoje, eu encontrei um desses cortes de podcast em que um homem diz “burro é quem não muda de opinião”. Até me lembra o anúncio do cigarro Free. Penso que aquele homem está certo. Podemos redecidir uma opinião com base em novos fatos. Estou lendo um livro ótimo do Bion, “Aprender da experiência”, um texto psicanalítico. Eu me pergunto frequentemente, diariamente, o que aprendi, afinal. Uma das coisas e que o sarcasmo pode fazer muito mal às relações interpessoais. Com essas relações prejudicadas, fica mais difícil transferir conhecimento. Considero que o sarcasmo pode até mesmo ser um empecilho para quem está procurando por uma verdade. O que argumento é que não podemos, nós, jornalistas, suportar o peso de um único ponto de vista, temos de sair da escravidão da “lacrolândia”. Uma opinião forte é bem-vinda — muito diferentemente dos comentários bobos que âncoras podem fazer porque não têm o que dizer. Para uma opinião forte se requer um indivíduo forte, uma “mulher inteira”, um “homem inteiro”. Parece difícil para o jornalista de 2022 entender que ele não precisa, que continua não precisando, salvar a lavoura da mídia, que os papéis comerciais e editoriais estão muito bem sedimentados. Ele tem de fazer o trabalho dele, ser amado pelas pessoas da própria família, pelos amigos, mas que não precisa implorar por sucesso quando noticia.

Pedro Ribeiro: Deixar um pensamento radical, intolerante e mudar com convicção, não é vergonha, pelo contrário, é saber reconhecer que a terra é redonda e não plana, que a fila anda. É saudável, faz bem para a alma. Fazer uma reflexão e autocrítica sobre pontos de vistas oxigena nosso cérebro e nos faz seguir um caminho verdadeiro. Nosso país, uma das maiores democracias do mundo, exige isso. É um país que experimenta e respira liberdade, pelo menos no jornalismo pós-ditadura. O que vemos são algumas coisas pontuais como intolerância sobre urnas eletrônicas, tentativas de golpe, coisas pequenas que não chegar a arranhar o sistema democrático. Nada violento. A opinião é livre, mas a burrice é imperdoável, porque você tem tempo para aprender e inovar. Como jornalista que escreve editoriais (artigos de opinião própria e da linha de pensamento do jornal), eu erro e procuro corrigir meus erros e, às vezes, mudando de opinião. Isto não é vergonhoso para mim. Muitos amigos me perguntam: você vai votar no ladrão? Respondo com peito estufado de jornalista não engajado que voto em quem é o melhor e, no nosso caso, hoje, em quem é menos ruim. O ladrão, pode ter aprendido no pau de arara, com chicotadas nas costas, mas o burro, o radical é pior. Esta é minha “opinião” e posso mudá-la se alguém me provar que teremos, do outro lado, um programa econômico e social para nosso país que privilegie a camada fina da sociedade e não os poucos mais de 500 congressistas e outros 55 mil autoridades que tem foro privilegiado. Orçamentos secretos, dinheiro a rodo do Fundo Eleitoral. Isto não combina com minha linha de pensamento jornalístico. Neste caso, sou até radical e as vezes exagero na mão. Mas não dobro os joelhos. Vejo muitos colegas jornalistas de hoje que têm uma linha correta e rezam pela cartilha do bom jornalismo como aquele que jura com a mão na Bíblia ou diante da Justiça, em dizer a verdade, somente a verdade. Nosso país está carente de lideranças. O Brasil, hoje, é o retrato do seu próprio retrovisor, ou espelho. Um abraço, Sgarbe.

Sgarbe: Obrigado pela aula, Pedro! Abraço.

Recomendamos assim: cuidado com os bajuladores

Caso Beto Richa ilustra perigos da bajulação na política e alerta sobre consequências do isolamento no poder.

Tempo previsto
11/4/2025

Em janeiro de 2009, poucas semanas depois da reeleição de Beto Richa à prefeitura de Curitiba (77,2%), uma mulher caiu de um ônibus superlotado e morreu na hora. O jeito que a reportagem soube do assunto é dos piores. Um ouvinte ligou para a produção da rádio e disse “uma mulher morreu na BR”. Ao que o jornalista perguntou “o senhor tem certeza de que ela está morta?”. “A menos que possa viver sem a cabeça, está”, treplicou.

No noticiário, o assunto foi uma comoção. Tratava-se de uma trabalhadora dos serviços gerais, de uma linha que dava sinais de estafa há bastante tempo, porque foi violento demais até para os padrões da capital. Eu mesmo estive no sepultamento. Foi em um cemitério simples da Região Metropolitana, com as colegas da morta uniformizadas, tal qual tinham ido direto da copa para o enterro.

Quando o assunto chegou à ancoragem de José Wille, na CBN Curitiba, o comentarista ídolo Luiz Geraldo Mazza saiu com algo mais ou menos assim: “a morte dessa mulher é resultado dos 77%”. Não muito longe dali, da felicidade peessedebista de uma votação recorde, de uma aprovação considerada gloriosa, Richa foi ao governo do Paraná e, para além dali, para o banco de trás de um camburão.

Até hoje não me apresentaram razões plausíveis para a prisão de Richa (escrevi para O Globo sobre o assunto, por mais de uma vez, o que me dá a dimensão de imprensa nacional sobre o assunto). Seja lá o que tenha feito, ofendeu a alguém que não se ofende. Uma jornalista que assessorou Richa à época da prefeitura explicou assim: “as pessoas em volta de Richa o encastelaram. Ele ficou sem referências, e caiu fácil no que queriam dele”. Faz sentido, porque ouvi algo similar de Euclides Scalco. Aliás, naquela manhã Scalco estava tão mal, mas tão mal, que Hélio Pugliesi disse a ele: “não fique tão triste, meu amigo”.

Penso que o remédio amargo seja evitar os bajuladores.

Tem um tanto de espaço numa campanha eleitoral

Reflexões sobre bastidores das eleições trazem questionamentos sobre propósito político, amizade e futuro digital.

Tempo previsto
11/4/2025

Que campanha fizemos, pelo que “lutamos”, o que aprendemos? Meu pessimismo sereno me leva a fazer essas e outras muitas perguntas que levam ao livro de Eclesiastes. Quando Salomão, hypothetically speaking, concluiu que não havia nada novo debaixo do sol, tinha se cansado da glória da sabedoria. Logo, fizemos mais do mesmo, lutamos coisa nenhuma, aprendemos mais jeitos de manter nosso ponto de vista. Mas, um minuto, senhoras e senhores. Não é assim que vejo, hoje, apesar das evidências.

Nesta sexta-feira, terminamos as jornadas de propaganda partidária, de alianças partidárias, de formação de grupos políticos, de distribuição de fundos, de propaganda eleitoral, de impressão de papéis. Partimos, até domingo, para o momento que se está no ar depois de um pulo olímpico. O que se deu de impulso, o que se deu de movimentos corporais, o que se deu de preparação, deram-se. Agora, tem o vento do noticiário, a gravidade das igrejas, uma ou outra sinapse destinada à proteção dos órgãos vitais.

Encontrei, no conjunto eleitoral de 2022, mais especificamente nos candidatos e correlatos, um homem inteiro, uma mulher inteira, quem sabe mais alguns, mas muitos mortos-vivos. Isto é, gente que precisa de um amigo. Há alguns anos, há quase vinte, diante de uma reunião formal com artistas da cidade, ri tanto de uma piada que cuspi vinho tinto em cima de pessoas bem-vestidas, móveis, e até no cachorro. Foi quando Dudson disse “você precisa de um amigo” enquanto me ajudava a limpar a sujeira me tirava rapidamente de circulação por um instante.

Não julgo que eu tenha deixado de precisar de um amigo. Não somente preciso como tenho o suficiente para ser esse amigo a outros. Vocês podem me perguntar “o que cuspiram em você, Sgarbe?”. E não foi nada ácido ou mortal, mas um hálito de talco de velha. Particularmente, adoro o cheiro de velhas bem-cuidadas, meu Deus, como uma coroa arrumada me inspira! Mas me refiro a um certo cheiro de guardado, a mofo grosso, a uma colônia de bactérias que pode suceder a um pedaço velho de beterraba, a cada ideia do tempo do êpa. Esse foi o trecho ruim de correr. Mas, então, olhei para cima.

Poucas horas depois do Webb nos enviar imagens de estrelas, eu passava no breu da fazenda de Fabio em direção à beira do Rio Ivaí. Por incentivo do amigo, olhei para cima. E me senti totalmente sozinho diante do Universo, a não ser pela profunda consciência de Deus. Os pontos brilhantes e multicoloridos do telescópio estavam reproduzidos bem ali, diante de um pescoço flácido que se espichava para o céu, a olho nu. Foi quando entendi qual seria meu papel na comunicação eleitoral deste ano. Fabio propõe, dentre outras coisas, que o Paraná incentive e patrocine a abertura de lojas de produtos regionais no metaverso. Da velha política fétida ao futuro digital, em uma ida despretensiosa para o Norte.

Reformar o povo é autoritário, e reformar as eleições é necessário

João Arruda defende reforma política ao invés de tentar "reformar o eleitor" e critica atuais mecanismos eleitorais.

Tempo previsto
17/10/2025

Sgarbe: João, a gente se conheceu falando mal do MDB. Ambos eram (são) filiados. Algo que me ligou a você foi a capacidade de autocrítica, tenho chamado essa disposição de “pessimismo sereno”. Mas, eu olho as candidatas e os candidatos à Câmara dos Deputados e à Assembleia, e penso assim: não conseguem sequer criticar a si mesmos, que dirá o próprio partido, ou a política nacional. Onde temos errado na “seleção” de pessoas para a vida pública? Não lhe parece que o pessoal é curva de rio?

João Arruda: O problema está em quem escolhe. Dirigentes de partido se perpetuam à frente das agremiações, e, com o controle dos delegados e do fundo eleitoral, fica praticamente impossível tira-los do poder. É um cartório! Hoje, o presidente de partido ganha um bom salário e exerce a função como profissão. Poderia aproveitar a oportunidade para melhorar a qualidade dos seus quadros, capacitar e formar líderes capazes de transformar o país, mas não é o que acontece na prática. Outro problema é o desinteresse da população. O que dá retorno eleitoral? Uma boa proposta ou fakenews nas redes sociais? Um projeto ou dinheiro? Ideais ou popularidade a qualquer custo? Princípios ou um prefeito no cabresto? Sem votos, o maior quadro da política mundial não sobrevive, e não coloca nada do que aprendeu em prática. Vai, no máximo, escrever e debater com amigos e outros quadros. Tudo que escrevi aqui, dirigentes de má qualidade, desafios para que o eleitor preste mais atenção, só se resolve de uma maneira: uma reforma eleitoral radical, e bem pensada, através de plebiscito. Toda reforma que seja aprovada no Congresso só vai beneficiar senadores e deputados que já estão lá, que querem permanecer pra sempre.

Sgarbe: Temos uma advogada conhecida em comum, mas esqueci o nome dela, que defende a “reforma do povo”. Uma reforma no eleitor. Comentei o assunto em um grupo de jornalistas, e logo alguém disse que a ideia é de Bolsonaro. Bem, finalmente chegamos a uma ideia nem tão ruim do presidente. Quando me refiro ao “povo”, tem a ver com um tipo de mudança que não se pode ter de uma eleição para outra. Na Itália, a primeira mulher a governar o país é apaixonada por Mussolini. Supondo que Mussolini não tivesse matado aproximadamente um milhão de pessoas, deveria haver pelo menos um constrangimento em dar apoio a um homem que supostamente matou um milhão de pessoas. Mas não há. É quando penso no seu último parágrafo, nos “caciques” que escolhem bandeiras do entretenimento sádico para garantir a cadeira, concluo que a política está muito cheia de “indivíduos”, de histórias pessoais mal resolvidas, de dores de alma agarradas à vingança, à autodestruição, à poluição. Quando eu for o Líder Supremo do Brasil, vou decretar pelo menos seis meses de terapia para os candidatos antes do registro de candidatura.

João Arruda: Tem doido pra tudo! Outro dia, minha irmã me disse que quem vota no Bolsonaro é fascista, racista, e não gosta de pobres. Perguntei a ela: “você já parou para pensar que é julgada como corrupta porque vota em Lula? Cada pessoa faz a escolha que quer, e encontra suas razões pra votar. Você acha existe má intenção quando fazem isso, mesmo quando votam em um bandido?”. Já me decepcionei muito no passado, mas,hoje, procuro compreender as razões pelas quais alguém vota num canalha. Reformar o eleitor é mais ou menos o que alguns tentam fazer. Talvez o Mussolini, Hitler, e outros ditadores pensariam em uma alternativa como essa.  Ou quem sabe a alternativa mais moderna seria “a cura do eleitor que não sabe votar”, algo como a “cura gay” do Feliciano. Mas, investigando as razões por que uma pessoa boa vota em alguém que não presta, chego à conclusão de que a reforma tem que ser eleitoral, e não pessoal. Tudo tem a ver com acesso a informação e conhecimento, com as bolhas da internet (fakenews), estruturas de divulgação (grana de campanha), desvios nas responsabilidades constitucionais de quem exerce o mandato, imprensa, pesquisas, tempo de TV, produção de material, tempo de campanha, reeleição, e muito mais... Ah! Mas você não fala da empatia do eleitor pelo candidato? A relação eleitor-candidato é construída pelo sistema, ou,melhor, pelos erros do sistema. Vamos evoluir, e ter muito mais consciência política, quando nos interessarmos de verdade. Um sistema decente poderá, inclusive, despertar mais interesse pela política. Enquanto isso, vamos continuar com canalhas explorando a ignorância alheia. Ou você acha que o voto da pessoa que não tem conhecimento ou é facilmente manipulada vale menos do que o voto do intelectual politizado? O debate é duro e precisamos evoluir, mas aceitando nossas falhas e agindo com ações revolucionárias.

A imprensa se divorciou dos conservadores, entende jornalista

Cândido Machado analisa relação entre mídia e conservadores, criticando distância da imprensa das pautas populares.

Tempo previsto
15/10/2025

O jornalista Cândido Machado Neto e eu nos formamos na PUCPR, à época de descobrir a política. Nas eleições para o Centro Acadêmico de Comunicação e para o Diretório Central dos Estudantes, encontramos corrupções. Urnas fraudadas inclusive. Cândido, a quem minha família e amigos próximos chamamos Kiko, é reconhecidamente uma opinião conservadora. Tem um alcance notável entre jovens conservadores. Jamais paramos de conversar sobre política, e não entendemos por que as pessoas brigam por causa dela. Nesta publicação, experimentamos um formado do jornal americano The New York Times para colunas de opinião.

Sgarbe: Kiko, poucos homens no mundo são mais carinhosos comigo que você. Talvez o Padre Paulo. Há anos, discutimos política. Lembro de falarmos sobre o papel do homem no mundo, se maior, menor, ou igual ao do golfinho. Isso lá no DCE da PUCPR. Você tem ideia do quanto você modifica meu ponto de vista?

Machado Neto: Nem imagino, meu querido amigo. Continuo tendo problemas com golfinhos. O meu ponto nestes textos pró-democracia é que eles não são democracia de verdade. Vou falar uma frase bem chula, mas que explica bem o que é a “democracia” na boca de tanta gente. “Democracia é igual piroca, todo mundo que tá com ela na boca, uma hora ou outra enfia na bunda”. Sou autor dessa bela reflexão que explica bem. As cartas pró-democracia são assinadas por pessoas que não só defendem ditaduras, mas agiram ativamente no financiamento delas. Com dinheiro público. Como é que essas pessoas podem falar de democracia? Mas não precisamos ir ao extremo, vamos falar dos coleguinhas jornalistas. Falam de democracia, mas aplaudem prisões arbitrárias, inquéritos fora de qualquer regra jurídica, perseguições e cancelamentos. Todos os dias algum apoiador do Bolsonaro ou tem conta bloqueada, ou leva alguma multa pelo simples motivo de ser apoiador. Você conheceu a Érica, que era uma professorinha de escola municipal e foi protestar em Brasília. Acabou presa por cinco meses na Papuda. Enquanto isso, em 2014 (pode pesquisar), o MST tentou invadir o STF durante uma sessão, com foice e facão, e nada, nada, aconteceu com qualquer líder. Posso citar o deputado que dentro da prerrogativa de foro foi preso. Algo inadmissível na nossa Constituição. Uma ex-presidente impeachmada que não teve os direitos políticos dela suspensos (como diz a Constituição) porque o presidente do STF na época não quis. Isso é democracia? Juízes ditando como agricultores devem plantar a soja. Aconteceu semana passada. Quem o presidente deve ou não nomear para a PF. Juízes derrubando decretos de impostos. Mexendo em matéria econômica de prerrogativa do Legislativo. E eu nem comento a pandemia, onde literalmente pessoas foram arrancadas a força das ruas, lojas soldadas com chumbo para não abrirem. Passaporte vacinal etc. Não vivemos em uma democracia mais. Quem fala isso, quem defende esta “democracia”, está apenas defendendo a sua própria ditadura. Que um dia vai morder eles também, porque o monstro do autoritarismo jurídico é insaciável.

Sgarbe: Entendi que está reagindo ao texto do Pedro Ribeiro sobre democracia e a minha pergunta. Vou deixar claro, então. Você me modifica. Acho que tem a ver com nosso grau de sinceridade. Há alguns meses, entrevistei uma mulher que hoje é candidata a deputada federal. Tem um currículo fodão. Mas ela me disse algo do tipo “a gente tem de estudar para poder tomar meia garrafa de vinho e duvidar de tudo que fez”. Ela combina com a gente. Sobre a Érica. Tive a oportunidade de falar sobre ela durante uma aula na universidade. Contei a história de um jeito que até mesmo eu me surpreendi. Você sabe que estou ao lado da liberdade. Mas voltando à política. Bolsonaro é uma espécie de Tiririca? Ele é computado como um palhaço? É razoável que alguém o veja como “um voto contra o sistema”. Parece coerente para mim. Mas uma parte da comunicação fica interrompida, logo inservível para “todos”, quando se defende que tem o suficiente para ser um presidente.

Machado Neto: Entendo seu ponto. Lembro que você falou que contou sobre a Érica na Federal. Bolsonaro não é Tiririca, nem palhaço. Bolsonaro é teu pai, meu pai, uma pessoa comum. Ele não é, e é por isso que a imprensa tem nojo dele, um social-democrata, um socialista. Porque o fetiche do socialismo é o maior fetiche da nossa imprensa. Eu vou dar um exemplo para você. Toda a imprensa disse que ele imitou, tirando sarro, uma pessoa morrendo sem ar, de Covid. Inclusive a Renata falou isso. Qual a verdade? Então assim. Temos uma mídia que é fetichista. Que acha que presidente não é o que é, mas é o que parece. A não ser que este presidente seja um simulacro de líder esquerdista como é o Lula. Uma imprensa que caga e anda para o que o povo pensa. Esses dias, olhe o absurdo. O Paulo Martins, candidato do Bolsonaro ao Senado aqui do Paraná, foi à RPC. Aí pergunta vai, pergunta vem. Uma jornalista lá falou que no referendo de 2005 o povo votou contra o comércio de munições e armas de fogo. O Paulo disse que não, que o povo votou a favor, e foi uma votação alta ainda. Ela contestou e ficou brava. No outro dia estava fazendo errata, dizendo que o [candidato a] senador estava certo. Errar não é problema aqui. O problema é a repórter ser tão descolada da realidade, tão absurdamente fora de qualquer discussão política. Enfiada em uma bolha elitista tão grande. Que ela não sabia que o povo foi a favor das armas. Sabe por que ela não sabia? Porque ela não consegue conceber na mente do Shopping Novo Batel dela uma sociedade que é conservadora. Que defende famílias, armamento civil, é contra aborto. “É um absurdo isso ser assim, são apenas extremistas”. Logo, o povo só poderia votar contra as armas, ué. Entende? O tamanho do divórcio que nossos colegas têm da população real?

Sgarbe: Acho Bolsonaro um parlamentar. Ele tinha de ter continuado no Legislativo, no meu jeito de ver. É bem o palco para muitos temas dele. Mas considero que a Presidência tenha uma função dupla, a chefia do Estado e o “coach“ do povo — risos. Eu não tenho vontade de “lutar” pelo Brasil de Ciro Nogueira, de Silas Malafaia, eu sequer acho que o Brasil seja tão importante assim, desde que Bolsonaro é presidente. Uma jornalista não soube entrevistar o Paulo Martins? Não me surpreende. O jornalismo de televisão está um tipo de morto-vivo, não sabe se é Story do Instagram, se é a maior emissora do país, se é diário de uma vida que saúda a “belíssima foto” ridícula de uma telespectadora que achou a lua bonita. Até os repórteres experientes estão perdendo a paciência com “âncoras” medíocres. Mas é esse jornalismo que estava ok com a Lava Jato. A cada flato de Moro no gabinete se fazia uma manchete. 😂

Machado Neto: Acho que Bolsonaro não é ideal em nada. Não é líder de massa, nem parece com aqueles líderes de massa intelectuais dos anos 30 tanto no fascismo quanto no comunismo. E é exatamente a vantagem dele. Bolsonaro, se fosse uma pessoa maliciosa com o tamanho da influência que ele tem sobre uma gigantesca parcela da população, se ele fosse uma pessoa ruim como diz o jornalista do sobrenome gringo genérico, ele já teria feito deste país uma ditadura. Mas quem tem feito deste país uma ditadura são justamente aqueles que dizem querer proteger a democracia. “Vamos proteger a democracia nem que tenhamos de implantar uma ditadura”, dizem.

Mulher morre ao tentar mudar o mundo no grito

Reflexão associa fatalidade por estresse emocional à política contemporânea, alertando para limites das paixões.

Tempo previsto
11/4/2025

Uma mulher que conheci morreu por não conseguir controlar os nervos. Na noite mórbida, discutiu até perder o fôlego, gravou a briga com o celular, foi para o hospital em uma ambulância, e o coração parou. O nome dela virou uma lápide. Por uma vida, não pôde se curar da neurose.

Sinto uma pena triste quando lembro dela, e do papel que ocupa nesta história. Ser lembrada, imaginem, pelo grau mortífero de obstinação, por levar às últimas consequências a pertinácia de conformar o mundo fora dela ao mundo dentro dela. Fracassou miseravelmente.

A política me faz lembrar desse comportamento, em um bom sentido e em um mau. Bom quando se quer que padrões individuais melhores sejam expandidos para nossas famílias, e comunidades. Muito mau quando o mundo da gente é uma porcaria e o queremos validar a qualquer preço.

As eleições não vão nos trazer a paz que buscamos tão incansavelmente (ainda que aparentemente ajamos em sentido contrário a maior parte do tempo). Lula e Bolsonaro são, digamos, porta-vozes de mensagens que seguramos para ter o que dizer, defender, indignar. E depois?

Nosso vórtice político precisaria deixar de ser um vórtice, para se tornar um ar fresco que nos alivia a vida em comunidade. A vida cultural, na qual está a política, existe para nos protegermos das forças da natureza, e para constranger os preguiçosos.

Quanto a nós que trabalhamos, haveria pouco que nos interessasse na vida dos outros que não a escolha de personagens psíquicas, matrimoniais, ou variações. Porém, fazemo-nos reféns de nossas violências, e não temos solução para o fenômeno. Somos iguais a um Deus controverso.

Esse pequeno animal que vive dentro de cada um de nós, essa memória primitiva quer morder, estraçalhar, matar, quer discutir até morrer do coração. Nossa paz não pode depender de política, tampouco de medicina, ou de filosofia. A paz, eu acho, é muito parecida com a fé.

'Pela saúde' de quem, candidato novo rico?

Reflexão crítica sobre políticos e a situação da saúde pública: destaca o descaso dos candidatos com a realidade dos hospitais superlotados e a necessidade de focar nas necessidades dos mais vulneráveis, como os idosos negros em um pronto socorro no Paraná.

Tempo previsto
11/4/2025

Aos fatos, duros e inegociáveis como a força da natureza. A imagem é de um pronto socorro no interior do Paraná, tirada na última sexta-feira (2). Há 19 leitos — equipamentos e profissionais para 19 leitos —, porém mais de 70 pacientes dividem o espaço ocupado predominantemente por idosos negros. Uma das gestoras: “nessas condições, eles vivem menos”.

É quando tenho vontade de, ao ouvir candidatos “pela saúde”, jogar neles um tomate bem podre e um ovo bem podre. Fortemente, para machucar, bem na cara de pau dessa gente superficial e irresponsável. Sabem pouco ou nada da realidade objetiva de um sistema de saúde público.

Para a maior parte dos candidatos ao legislativo federal que tive conhecimento, especialmente, pobres não passam de incômodo. Outro gestor do hospital: “pacientes de planos de saúde reclamaram ao passar pelas alas do SUS”. Pobres doentes e machucados não combinam com novos ricos.

Aquela “gente” candidata acha que alcançou a elite do mundo ao comprar uma casa com arcos, um carro cafona, um celular que mascara a péssima qualidade da pele. Votemos bem, meus amigos, nos que recebem o pedido de São Pedro a São Paulo, descrito em Gálatas: “lembre dos pobres”.

Notícia chega à TV atrasada 4 bilhões de anos

Texto critica superficialidade e clichês no telejornalismo atual, questionando perda de relevância e credibilidade.

Tempo previsto
11/4/2025

Existem muitos dados de realidade para sustentar minha hipótese de que o mundo está mais cretino. Um repórter disse, nesta semana, que “o sol brilha em Cascavel” (faz mais de 4 bilhões de anos que isso acontece). Mas vocês também estão aqui. Talvez já tenham percebido.

Não temos mais nenhum degrau para descer.

Vamos deixar esse assunto resolvido de uma vez por todas, então. Esse mesmo repórter falou que “a prefeitura precisa de uma ação mais latente” na limpeza da praça. Eu começo o meu bom dia com muita alegria! 😂

O que “conquistamos” é a percepção de que o jornalismo de televisão é retrógrado, quando não ridículo. Travestido de Instagram, consegue ser mais ridículo ainda — para parafrasear Fernando Pessoa. O arquiteto Fernando Camargo acaba de sair da universidade. Temos grau zero de influência sobre ele, no que tem a ver com notícias. O texto dele, no print, é de arrepiar os ossos.

Apresentadores de televisão, voltem à literatura do jornalismo

Texto critica exageros emocionais de âncoras na TV e sugere retorno às boas práticas clássicas do jornalismo.

Tempo previsto
11/4/2025

Sou audiência de um canal francês, o Franceinfo, que, para mim, supera a BBC em termos visuais, quando não editoriais. Fico atento ao que estão fazendo (inclui terem usado para uma vinheta a mesma trilha que eu no projeto da graduação).

Aqui no Paraná, a RPC inovou, durante a pandemia, ao exibir todas as tentativas de contato com a fonte que não respondeu: algo para se usar como padrão internacional de qualidade. José Wille na Band é um alívio. O canal Paraná Turismo está cada vez melhor em cenas de pontos turísticos do interior. O que ficou um pouco ruim nestes dias foi o narrador dizer “própia” em vez de “própria”.

Mas algo que me perturba nos canais locais é a carência dos apresentadores — salvo raras e nomináveis exceções. Reservo-me, porém, a escrever que os que se mantêm bons em jornalismo pertecem a escolas mais “conservadoras” (lead, análise razoável, comentários pertinentes).

Como integrante da comunidade de jornalistas, longe do meu gosto pessoal, reafirmo a carência dos apresentadores.

É claro como o cristal que as linguagens se modificam, e que é preciso falar o idioma fluente de cada ano. Por essas razões, passamos a apresentar o jornal em pé, passamos a falar “clica lá” no lugar do correto “clique lá”. E também passamos a implorar para sermos aceitos pelo espectador.

O repórter mencionar o que “sente" em relação a um assunto deve ser uma vez a cada morte de papa. Um episódio da natureza, uma multidão faminta, o estado de alerta depois de um bombardeio. Mas informar que se tem uma “triste notícia” para algo inevitável, como um acidente de carro, é apelação detectada pela audiência, e que envergonha a construção histórica do jornalismo.

Para onde ir

Presumo que haja influências de múltiplas direções. Uma é do jeito da internet de criar novos “famosos”. Mas, querido repórter, o senhor já tem a marca da emissora. E fazer toda a encenação de ser um “cara legal” não tem ajudado a marca, e nem mesmo a percepção da audiência sobre o jornalismo. Logo, voltemos à recomendação de Ivor Yorke.

Para Yorke, o jornalista apresentador de televisão tem de “ostentar certa soberba”. A tradução é uma tragédia, porque a palavra “soberba” pega mal. Arrisco, porém, esta paráfrase: “o jornalista de televisão não pode perguntar à audiência o que ela quer saber. Ele é que deve saber o que a audiência precisa saber”.

Vou poupar os “jornalistas” de um determinado canal de terem um diálogo ao vivo transcrito neste post que prova por A + B que a televisão — embora não precisasse — está deixando a desejar no assunto repertório, inteligência e comportamento.

Sgarbe chega ao céu

Em texto bem-humorado, autor imagina encontro final com Deus e questiona mistério e falta de objetividade divina.

Tempo previsto
11/4/2025

Em 2088, finalmente estou morto por causas naturais. Chego ao “outro lado” e encontro com Deus (parece que é). Com o perdão da indiscrição, é uma “energia” (risos) mais jovem, bonita, magra, e sorridente do que eu imaginava. Quando nos olhamos, ficamos ambos com um sorriso de canto de boca, um segurar a gargalhada.

Fui falando:

—Senhor Deus, muito obrigado por me receber, eu presumo que o senhor seja o Senhor Deus. Mas, se não for, fica meu registro de respeito. — Em posição de sentido, curvo minha cabeça. Seguro as laterais da minha calça, na altura da cintura, e flexiono os joelhos. Explico. — É assim que a gente tinha que fazer para a Sra. Regina. — Ele sorri, e leva uma das mãos à boca. — Muito interessante seu espaço, está de parabéns. Os maçons vão pirar quando descobrirem que o Arquiteto é fã de minimalismo russo! — Faço uma arminha com a mão. Eu smile Hidiotamente. — De qualquer modo, eu tenho de fazer uma pergunta, porque eu me comprometi em vida que o faria. — E o clima todo muda, porque tínhamos finalmente chegado ao único assunto da conversa. — Por que diabos o senhor não é mais objetivo?

O ex e o presidente representam nosso desejo de felicidade

Refletindo sobre Lula e Bolsonaro, autor sugere que escolhas políticas revelam desejo humano por felicidade.

Tempo previsto
11/4/2025

Penso na “realização da meta”, no alcance do objeto desejado, e de como a psicanálise sugere que isso jamais é de modo completo — o que não é necessariamente ruim. Mas. Penso também que Lula e Bolsonaro são realizações tangentes, próximas da ideia de algo. E qual é a ideia?

Minha intuição diz que, bem no fundo, às vezes demasiadamente e inservivelmente no fundo, no geral, todos queremos ser felizes. A política, como efeito da cultura, tem a serventia clara de nos proteger das forças da natureza: furacões, inundações, aridez da fome. Passou disso?

A parte mais curiosa, a “farsa” que sucede a “tragédia”, é que o incesto, o canibalismo e o homicídio sequer deveriam estar em debate fora das cabeças primitivas de cada um, tratados com os requintes das tecnologias em psicologia. Mas um político come o outro, e vai por aí.

Nos últimos anos, vivemos a inflação de culturas artificiais: “sertanejo, aquela coisa abjeta”, como define o pesquisador Bruno Nichols, esquerda e direita, progressista ou conservador. Balela! A mais pura balela!

Um dos tipos mais naturais, sábios e inteligentes sempre é o pacifista. É no cara “em cima do muro” que o futuro se constrói. É do que “cultiva as próprias lavandas”, como escreve a professora Stella Siqueira Campos, que haverá um amanhã. E haverá um amanhã depois de outubro, de novo, e de novo.

Livro 'Atores coletivos em tensão' é lançado em Curitiba

Obra organizada por pesquisadores da UFPR aborda desafios contemporâneos da comunicação política no Brasil.

Tempo previsto
11/4/2025

Os professores e pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Kelly Prudencio (ao centro), Carla Rizzoto, e Rafael Cardoso Sampaio publicam o livro “Atores coletivos em tensão”. Nos últimos anos, os três doutores revesam papéis proeminentes na Federal, dentre eles os de coordenadores de programas de pós-graduação. Nos prédios do Juvevê e da Reitoria são figuras recorrentes.

O prefácio do “Papa” da comunicação política, Wilson Gomes, traz: “Como sempre digo, vivemos um laboratório a céu aberto de experiências políticas inovadoras, de grande impacto (para o bem e para o mal) e aceleradas. Prestar atenção em tudo, manter a mente aberta e reforçar as convicções são atitudes essenciais (…)”.

Há textos dos jornalistas e pesquisadores Helen Anacleto (colega de mestrado), Nilton Kleina (colega de CBN), e do cientista social Bruno Nichols (amigo de leito de morte), e de uma lista memorável.

No conselho científico está a coordenadora do curso de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Suyanne Tolentino de Souza.

Suyanne foi minha professora de televisão na graduação, Kelly e Carla de Teoria do Reconhecimento, e Rafael é meu orientador na comunicação política. Para a dissertação, preparamos algo sobre ameaças de assassinato contra juízes.

Adorador da ignorância, Milton Ribeiro está preso

Prisão de Milton Ribeiro revela crise moral no governo e fragilidade ética em parte das lideranças evangélicas.

Tempo previsto
11/4/2025

A fala de Bolsonaro sobre a prisão de Milton Ribeiro que a GloboNews exibe agora é excelente. Presidencial. Ele diz, basicamente, que se a Polícia Federal prendeu é porque deve ter uma razão. Mas minha reflexão não tem muito a ver com isso.

Que torrada na imagem do governo e dos pastores esse Ribeiro causou. Não o conheço, pouco me interessei pelo Ministério da Educação desde Weintraub, entendi que essas tragédias intelectuais tinham tempo para passar, tipo febre.

Diferentemente da maioria dos evangélicos que conheço, alguns são lideranças, essa gente de Ribeiro me enoja pelo desprezo ao que é humano. Messiânicos, alecrins-dourados da criação, fantasiam que a religião que têm cobre a ignorância que vivem e que defendem.

Ainda sobre essa gente de Ribeiro, são “feios, fracos e remelentos” (SERAINE, G., correspondência pessoal). Nunca vi megalomania mais ridícula: nas igrejas, ouvem que Deus dará a eles nações, que serão reconhecidos como servos do Altíssimo, que enriquecerão. Não passam de bobos.

Quanto aos novos na fé ou aos pequenos, temos diante de nós um escândalo difícil de superar. Se a “igreja mais tradicionais”, digamos assim, como é a Católica, passa a pensar um jeito de avançar por mais dois mil anos, que dirá essas plaquinhas de bairro.

Fazei-me coçar de vontade de ser nacionalista, presidente

Artigo cobra postura firme de Bolsonaro frente à violência na Amazônia após mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips.

Tempo previsto
11/4/2025

Os assassinatos de Bruno e Dom podem ser circunstanciais? Podem. As prisões podem ser uma farsa do crime organizado? Podem. Tudo “podem”, tem potencial de ser. Até o que o que a gente não gostaria. Mas não pode, presidente Bolsonaro, a gente infundir covardia no brasileiro.

Fiquei barbarizado — e veja que é preciso uma dose grande de barbárie para que eu me admire, sou um “pessimista sereno” — ao ouvir uma senhorinha que é tudo amor é serviço se questionar: “mas o que que [os mortos] tinham que fazer na Amazônia?”. O que primeiro, ovo ou galinha?

Entendo, da parte de amigos bolsonaristas (que são muitos e amigos de verdade) que o “brasileiro médio”, na interpretação deles, é o que pergunta essas coisas. Mas, presidente, o senhor não é um brasileiro médio. O senhor é o presidente da República. Por mais quatro anos?

Sou frequentemente cético dos rancores comuns contra o senhor — isso é fato. Eu não vos odeio, sequer tenho um motivo para isso (sou um jornalista analisado), mas me oponho a qualquer ação presidencial que não seja na direção de desfazer fechamentos com derramamento de sangue.

Não se pode culpar pesquisadores por pesquisar. Aliás, é “justo e necessário” que façam. Ainda não entendo por que o jornalismo (ainda que corroído de defeitos de ordem básica, de ordem lexical, de ordem sintática) não pode servir a um governo (mesmo assim).

As mortes desses caras me levam a um cenário em que as luzes se apagam, o silêncio se instala, e vêm um bando de amputados nos segurar a canela para decidir se seremos devorados pelas doenças deles. Os maus nos plantam verrugas horríveis na face.

Quem se oporá a uma brilhante investigação? Quem se oporá a uma rigorosa pena aos assassinos ou mandantes? Quem se oporá a um governo que desbarata a incivilidade da exploração humana? Quem se ofenderá por um “não!” ao mercado de almas?

Presidente Bolsonaro, temos nossas diferenças, porque sou muito pior que o senhor em praticamente qualquer assunto, mas vos convido a me dar prova governamental e social do que é uma “nação”, afinal de contas. Fazei-me coçar de vontade de ser nacionalista.

Em Curitiba, Moonshot é exercício para a consciência

Evento Moonshot em Curitiba desafia educadores a repensar práticas tradicionais com metodologias ativas inovadoras.

Tempo previsto
23/4/2025

A Jornada Moonshot Educação Sala Dos Professores, realizada neste sábado (21), em Curitiba, está nomeada adequadamente. É uma jornada, um “acontecimento ou circunstância notável”. Cerca de 30 pessoas, de diferentes formações e cidades do Brasil, assistem aos professores Marlon Brunetta, Paulo Tomazinho e José Motta. Os três, sócios da Moonshot, estão juntos desde a metade da década de 2010, quando entenderam que “a educação, às vezes, cheira naftalina”. A frase provocativa é de Motta. Ele foi o último a falar.

Objetivamente, entregam estes conteúdos, Jigsaw Classroom, Team Based Learning e Design Thinking. E muito se ouve sobre “metodologias ativas”. O que chama atenção é que essas tecnologias em educação não necessariamente dependem de software ou hardware que não sejam uma mente disponível e, quem sabe, um pedaço de papel que possa ser anotado. É de longa data que “uma sala de aula cheia de computadores pode ser muito antiga”, como nos repete o pedagogo e escritor Luca Rischbieter.

Há problemas reais a serem solucionados em sala de aula. Haveria, até mesmo, problemas suficientes para que as inteligências da educação se ocupassem por uma vida. Um deles é a segregação. Embora estejamos habituados a ler no noticiário sobre as consequências das crueldades infantis do bullying, o tema se torna mais dramático neste cenário: a inclusão de crianças pretas em escolas de histórico racista. Os “meninos da Moonshot”, como são carinhosamente chamados por mim, olham para isso.

Engajamento

E nisto a educação e a comunicação política se encontram: no desafio do engajamento. “A criança pode estar na escola, ela sai de casa, entra no ônibus e chega à escola, mas a atenção pode não estar com ela”, explica Tomazinho. Fazer com que os alunos “think, pair, share” (algo como pense, verifique com os colegas e compartilhe) é um método para que participem da construção do conhecimento. Ao sentirem-se parte de tal construção, aumentariam as chances de retenção do conhecimento e de criação de soluções para o mundo da vida.

O físico e professor de Harvard Eric Mazur, segundo a história contada na Jornada, passou a ouvir o que os alunos falavam sobre os conteúdos dele. E se deu conta de que não era o que tinha escrito no plano de aula, o que o levou a mudar o jeito de trabalhar. Esse professor é uma das referências teóricas e de prática para os meninos.

Pessoal

Quanto a mim, experimentei um papel para o qual eu busco consciência. Depois de horas agradáveis e inteligentes, nós, participantes, fomos desafiados a executar uma atividade x. Ao fim, percebi o quanto posso ser arrogante em minhas presunções de “quem precisa desse conteúdo”. Algo muito semelhante aconteceu comigo durante a leitura dos evangelhos. Antes, eu pensava: “Isso mesmo, Jesus, dê uma dura nesses fariseus!”, até que entendi que o fariseu sou eu.

A beleza está no jeito leve da Jornada trazer consciência.

No Brasil, Amco apresenta plano para felicidade

Empresa internacional Amco traz ao Brasil método bilíngue inovador que vê felicidade como base da aprendizagem.

Tempo previsto
17/10/2025

“A finalidade da educação é a felicidade. Todo percurso é realizado para que se chegue à felicidade. Entendemos que seja possível encurtar o caminho”, afirma o CEO da Amco, Guillermo De León, ao Lab Jornalismo 2030. O principal produto da empresa é um sistema educacional bilíngue que está em 14 países, chegou ao Brasil um pouco antes da pandemia.

Com um suntuoso estande branco na feira Bett Brasil, em São Paulo, a Amco recebe os visitantes com óculos de realidade virtual. As experiências de apresentação do programa pedagógico são autônomas e individuais. Mas apesar disso, estão disponíveis e atentos professores, gestores e técnicos.

“Uma das características mais marcantes do mercado brasileiro, na comparação com os outros países onde a Amco está, é a curiosidade quanto à pedagogia. De qualquer modo, estamos prontos para essas discussões”, pontua o country mananger para o país, Mekler Nunes. “O que a Amco faz ao se apresentar nesta feira é antecipar possibilidades de aprendizagem bilíngue para a realidade brasileira”.

Nunes considera que quem chega ao estande “descobre que a Amco tem a maturidade, a experiencia e, mais que isso, uma cultura educadora de grande inspiração”.

Felicidade

Com slogan“Happy to learn, a Amco desperta curiosidade quanto à tradução de tal slogan para o português. Da parte deste repórter, há mais de uma versão possível, como “feliz para aprender” ou “feliz em aprender”. Seja como for, felicidade é palavra central, parte do cânone organizacional.

“Cientificamente e academicamente existem ferramentas que medem e indicam tendências socioemocionais intrapessoais e interpessoais de maneira bem concreta. Isso é complexo, sofisticado, no entanto esses estudos têm apontado direções para competências. Temos 45 minutos [de tempo de aula] para aterrissar, para tirar as coisas do plano das ideias e trazer para a prática. E nossa prática oferta possibilidades nesse sentido”, finaliza Nunes.

Experiência de imersão

A gerente de implantação no Brasil, Ágata Soares, informa que a participação da Amco na feira (realizada entre 10 e 13 de maio, no Transamerica Expo Center) serve para “a gente se apresentar. A empresa chegou ao Brasil um pouco antes da pandemia, o que adiou nossa participação em um encontro público”.

 “A Amco tem uma estruturação que viabiliza desde a apresentação do produto até a entrega da sala de aula em um tempo recorde. Afinal, é um modelo aperfeiçoado nos último 25 anos”.

Serviço

Em linhas gerais, a Amco faz barba, cabelo e bigode de escolas, levando-as ao ensino bilíngue (com inglês) desde o ensino fundamental até o médio. Mais informações são encontradas neste endereço: falecomigo@agatasoares.com.br.

Foto: o diretor comercial global da Amco, Daniel Kahan, a gerente de implantação no Brasil, Ágata Soares, e o CEO, Guillermo De León.

Sermos inteligentes não nos proíbe de rezar um pouco

Reflexão aborda relação equilibrada entre fé e razão, propondo espiritualidade saudável além das instituições.

Tempo previsto
11/4/2025

A gente conversava na aula de tópicos de filosofia sobre o cientista que sai do laboratório e passa na Missa antes de voltar para casa. E penso no jeito respeitoso que tratamos desse assunto. Freud foi também respeitoso o bastante para escrever sobre religião.

Embora nosso querido psicanalista de Viena tenha olhado para a relação da religião com o homem como uma “neurose universal”, são inúmeros, para mim, os indícios de que não tenha colocado as mãos no Espírito mais do que podia ou deveria.

Ser inteligente, racionalizar o que tem serventia de ser racionalizado, não proíbe ou contradiz a vivência da fé. Até porque, e sabemos todos nós, Deus está por aqui e por aí, fora do tempo, fazendo o trabalho dele que não é pouco.

Uma coisa é a religião étnica, o impasse humano diante do outro que pode saber o que não sabemos, ter o que não temos, uma coisa é a “placa da igreja”. Outra coisa absurdamente diferente é uma vida com Deus. “Para isso o filho de Deus se manifestou”.

Trago também a péssima notícia de que a eternidade já começou, e que vamos ter de resolver as coisas detalhe a detalhe até que estejamos na Glória desta experiência terrena. Cedo ou tarde, meus irmãos, estaremos em um projeto totalmente diferente. E ainda juntos um do outro.

Há riscos na indignação, e o principal é não sermos ouvidos

Indignação sem equilíbrio pode comprometer comunicação eficaz e reduzir nossas chances de ser realmente ouvidos.

Tempo previsto
11/4/2025

A indignação é um motor importante, embora eu chegue à conclusão pela vida prática. Quando estou diante de uma injustiça ou de uma desqualificação, fico puto da cara. É o “convitão” (DE ALMEIDA, Maku) para cair na posição existencial “menos-mais”, e sair jogando psicologicamente.

Embora a psicanálise e a comunicação política tenham alguma razoabilidade quanto aos temas do mal-estar, desilusão e formulação de ameaças, é na análise transacional que encontro o primeiro mapa para entender o que é a indignação. Minha intenção é nos desindignar um pouco.

A posição existencial “menos-mais”, descrita por Berne, tem a ver com o indivíduo que acha que está em prejuízo nas relações. “O outro ganha mais!”, “Mas é porque ele é mais bonito!”, “O trabalho pesado sempre fica comigo!”, e por aí vai. E se o outro é “mais”, então sou “menos”.

Pergunto: por que a gente “odeia” uma “ideologia” contrária ou a corrupção? Tudo bem, há vários erros possíveis. Diante de um flagrante equívoco dos outros, a gente faz o quê? Grita? Impõe violentamente? Ora, claro que não. E esse é o “problema” da indignação.

Indignados, pensamos estar com um passe-livre para a baixaria. E é aí que o “perseguidor” dos jogos psicólogos entra em cena, para “falar a verdade!”, “Mandar uma real!”, “Vocês vão ter que me engolir!”. Qual a chance de um “indignado” ser ouvido? Baixa. Bem baixa.

Pouco importa quanto a mensagem é importante, se ela não tem o jeito certo de chegar ao outro. Aliás, o “jeito certo” é o jeito que o outro vai entender. “Comunicação é o que o outro entende”.

Contra ou não o assunto a, elegeu como causa o assunto b, foi chamado a clarear o c? É possível e necessário. Por favor, não pare de participar. A gente pode falar sobre absolutamente tudo sem erguer a voz, nem fazer mal para os irmãos achando que estamos fazendo o bem.

A começar pela limpeza dos vidros

Crônica usa bom humor para ilustrar como percepções equivocadas distorcem a visão sobre ações alheias.

Tempo previsto
11/4/2025

Pela manhã, assim que chega à cozinha para o café, o marido encontra a mulher dele atônita diante da janela.

—Mas que vizinha porca! Como que pode ser tão relaxada? Veja os lençóis no varal dela, são muito sujos! — ela diz.

E ocorre de novo, no dia seguinte. E no seguinte.

—Meu amor, você já viu o tanto que a vizinha é porca? Os lençóis estão todos manchados, que sujeira! — ela insiste, com reprovação.

E a banda toca desse jeito vez após vez.

Até que o marido uma hora pega um pano e limpa os vidros da casa deles. E aqueles lençóis ficam limpos na mesma hora.

Sgarbe para; Carta quatro

Carta íntima de Sgarbe explora angústia existencial, memórias de luto e a busca por sentido em meio à dor.

Tempo previsto
11/4/2025

Porteiras gripadas, caminhos guiados por pinheiros impávidos, silêncios tão ambíguos e uma lua fria. Cheguei ao Limoeiro seis anos depois da primeira visita, quase sem lembrar de quanto esse deslocamento é capaz de me acolher para me colher.

Perdi a conta das palavras que deixaram de me expressar nesses anos. Passaram-se tantos anos desde a enorme prevenção que era me garantir com palavras. Hoje, não me garanto com nada. Um certo correr por fora de todas as coisas vai me dando a sensação de que me mantenho vivo, e com alguma pulsação fora do corpo. Mas sempre daquele jeito.

Chove bastante, todas as janelas escorrem daquele jeito, meio triste, meio brega. Estou sem sinal para garantir o trânsito de minhas epifanias ridículas. Aliás, o ridículo, o cruzar o ridículo tem sido um tema em particular. Deus falou comigo sobre isso no começo da semana, fazendo um seguro comigo.

Sempre vivendo escondido, amando escondido, como se a minha natureza não fosse apropriada. Ora. Como pode a natureza não ser apropriada, se natural, se natureza. Essa constante, imutável, invencível luta contra a permanece condição havia chegado ao fim. Foi quando me dei conta de que tantas convicções tinham chegado ao fim. A luta por si mesma era uma engenharia para a vida, era algo ao qual eu tinha me agarrado para viver e que agora tinha se desmontado feito uma carroça velha. Era possível ouvir o barulho das peças se amontoando umas sobre as outras na irrecuperável sinfonia da calamidade. Tinha chegado ali a hora de morrer em definitivo para aquelas expectativas falsas de transformar o mundo ou o mundo dentro de mim. Eu estava cansado em definitivo, tinha concluído que um plano para morrer a carne seria mais útil que um plano para viver a alma – muito embora tentativas anteriores de tanto um coisa quanto da outra tivessem falhado antes, agora, um tipo de resignação sobre a vida e determinação sobre a morte me seguiam continuamente. Eu estava disposto a colocar um fim em tudo aquilo, como de fato o fiz.

Aos 30 anos, a realidade tinha se demonstrado assustadoramente dura para mim, porque qualquer devaneio malsucedido traria consequências terríveis. Era preciso pensar doentiamente com foco na destruição completa, sem que as estruturas do entorno fossem prejudicadas. Um tipo de implosão. Difícil de acontecer quando se é um executivo de comunicação e correspondente do noticiário internacional. Ter pensado nesse texto em uma fantasia autobiográfica, testemunhal, fez cair drasticamente a qualidade dramática deste relato. Em vez de relatar a flagrante angústia destes dias, fiz o que estava apegado a fazer nas últimas horas, contar títulos e afazeres a fim de esquecer as principais razões. Aliás, é atrás delas que me arremessei frente a todas as misérias que me vesti, que me alimentei, que passei a noite. Atrás das razões é que estive maior e menor, é que estou agora. Atrás de uma razão é que morri. Minha mente se perturbou quando finalmente deitou na cama, viu-se novamente sozinha, lembrou que pretendia escrever um pouco antes de morrer. Lembrou que o desejo que tem é de morrer. Que a morte está à espreita e Deus observa de perto, guarda, salva, uma hora dará um sinal. Ontem ou hoje, repetiu, uma resposta está a caminho.

A resposta me encontrará prostrado. Mesmo segurando no braço do Eterno, sinto a demora no levantar. Senti saudade do dia em que me chamaram de mulher. Em que me fizeram sentir que eu era outra coisa que não essa aqui. Não esconderei nada do Eterno, esse é meu acordo com ele, assim ele manterá um novo trato comigo. Ao mesmo tempo, isso me devasta, silencia cada sinal que eu possa emitir. Poe-me morto. Põe-me, sobretudo, com vontade de morrer.

Voltou a angústia, mas transformada. Analisada, penteada, limpa, de cara limpa. Antes se apresentava embriagada, de pernas trançando e sugerindo ininteligências. Agora vem só, feito uma viúva sóbria na manhã do enterro, sem máscaras.

Era necessário localizar aquilo tudo, uma vez que as principais prisões estavam estabelecidas. Quero dizer, o tempo estava estabelecido, a condição mais irreversíveis, mais estável – preocupantemente, mais preocupantemente estável – estava estabelecida. Então as normas de descrição se aplicavam de dentro para fora, de cima para baixo. Era possível ver a professora de português em pé, em minha frente, gesticulando lentamente, no esforço de me tornar um redator menos estúpido na hora de desenhar a localização exata da minha tristeza. Ela certamente teria alguma compaixão por mim, boa que era, ao descobrir que fui engolido pela mediocridade das tentativas mais simples, e que quase não arrisquei para dizer que o coração da minha tragédia pulsava de um beijo roubado.

Ainda não tinha me dado conta de em que pé estava minha recuperação, ou se havia ainda alguma recuperação rolando. Aliás, termos como esse, recuperação, eram os últimos que me interessavam. Tantas recaídas – aliás, uma sucessão tão amarga, recorrente e fatigante que me tinha deixado à morte – tinham-me tirado qualquer perspectiva de que eu ainda vivia para viver. Era como se eu estivesse jogando para cumprir a tabela sabendo do rebaixamento iminente. Nunca gostei de futebol e não faço a menor ideia de por que fiz essa analogia pobre com um esporte que não me interessa em nada.

Do dia em que enterrei tia Josmara lembro de poucos detalhes. Tinha mantido pouca coisa no primeiro plano, para que a superficialidade fosse aquele tipo muito apropriado de anestesia. Era o jeito de aguentar um funeral católico. Inicialmente, tentei evitar minha ida, mas as obrigações cívicas me tiraram da cama perto das três da manhã. A voz do meu irmão rasgou a noite fria dizendo com uma euforia de manchete “a tia Josmara morreu”. Que sorte a minha não ter o destino dela, o de estar sem ninguém que a amasse naquele momento. Levantamos da cama e fizemos um memorial, uma foto e velas de festa boiando sobre a água rasa e lenta de uma decoração. Teria sido suficiente aquela macumba. Mas era preciso, não por mim, mas pela vida dos outros, que eu sofresse publicamente. Não passou muito tempo até que meu pai passasse de carro me pegar. Ele não quis ir comigo. Então, o caixão dela se arrastou no chão da cova, fazendo um som pesado, o último do corpo inerte. Madeira esfregando sobre cimento, terra, areia. Então eu aprendi qual o som da morte.

Sgarbe para Ualid; Carta três

Carta breve e peculiar de Sgarbe reflete sobre culpa, felicidade e um encontro inusitado com um "canibal curitibano".

Tempo previsto
11/4/2025

Meu medo mais recente é estar sentenciado a uma felicidade maior que a de meus irmãos. Ironicamente, sinto culpa. E culpas católicas não se dissipam em cem anos. Além do mais, acho que não tenho mais cem anos, porque abusei de remédios na adolescência, e a saúde hepática, ah, que piada.

Nas mesmas horas que recebo notícias suas que chegam de Paris, conheço em Curitiba um homem que tem vontade de comer carne humana. Estive, meu amigo, todos esses anos, sendo preparado para ler tal coisa antropofágica no quinhentismo. Mas, agora, assim, um canibal do Portão, não sei.

Sempre que lembro de ti e de Cassiana me sinto religioso — In a good way.

Até depois.

Sgarbe para Ety; Carta um

Carta confessional de Sgarbe revela tristeza profunda com reflexões pessoais sobre felicidade e autodestruição.

Tempo previsto
11/4/2025

Querida amiga Ety, escrevo com o coração partido. Há poucas horas, tomei o cuidado de fechar a boca do impulso quando me perguntou: “O que é felicidade?”. Qualquer resposta parece ser, por mera necessidade da linguagem, da palavra, uma tristeza em si mesma e, logo, um tipo de contradição para a pergunta. Gosto da ideia de que príncipes materializados se tornam menos capazes de nos governar – uma ideia roubada da literatura francesa quando se atreveu a classificar os persas. Estamos, nestes dias, com calor fora do corpo.

O copo é um problema para alguns amigos chegados. As bebedeiras sem fim terminam quase que invariavelmente em grosserias semeadas à sorte, e trabalho para quem está em volta – recolher desafetos, cacos e garrafas pela metade. Isso está me consumindo – porque não gostaria de ver gente que se poderia salvar destruindo o próprio corpo e, junto a isso, todas as relações que direta ou indiretamente estão ligadas a tal corpo. Pensei, sobre a autodestruição desses, na expressão “pérfido”, porque preferem derrubarse-se a tão somente deixar-se em pé.

Adeus.

Umas palavras comuns

Livro de Jean Tirole e ações no Paraná ilustram benefícios reais quando indivíduos priorizam interesses coletivos.

Tempo previsto
11/4/2025

A ideia de bem comum tende a ser comumente um incômodo para os que nela se inspiram. De um jeito bom. Antes de pensar sob o ponto de vista econômico (totalmente integrado à biologia e às ciências humanas, tal qual definido por Jean Tirole), penso no excelente nome de editoria que “bem comum” escreve. Em vez de “cotidiano” ou “todo dia” – este último, um clássico da minha produção –, poderíamos chamar as notícias sobre buracos de “bem comum”, bem trivial, bem humano.

Quando argumento que “bem comum” incomoda, é porque, seja qual for o papel que ocupamos, somos convidados a suspender – ainda que de modo limitado – nossos entendimentos sobre o mundo. Leia devagar o que vem a seguir. Se é o que eu penso, é o que eu penso e é meu. Se é o que você pensa, é o que você pensa e é seu. A pegadinha está aqui: se é meu ou seu, não é nosso, não é bem comum.

Economia do bem comum é o título do livro de Tirole, ganhador do Nobel de Economia de 2014. A cópia que me chegou é da editora Zahar, com selo da República da França. Sustentado pela pesquisa econômica, o texto me esclareceu algo lindo: pelo menos em laboratório, somos mais frequentemente honestos e generosos do que egoístas (exceto quando temos exemplos muito ruins por perto). E mais: tendemos a nos engajar em causas que não nos trazem recompensas que soem troca, porque não gostamos de parecer gananciosos.  Pulo do gato: ao mesmo tempo, quando vamos às urnas e somos vistos na cabine de votação, temos prazer. O voto por correio nos Estados Unidos diminuiu a participação. O pessoal queria mesmo encontrar os vizinhos na calçada, usar um adesivo no peito.

Há alguns anos, o professor Belmiro Valverde Jobim Castor (autor de Tamanho não é documento, dentre outros títulos) procurou qual era a localidade mais pobre de Curitiba e região metropolitana. Usou por parâmetro os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Deu de cara com um bairro paupérrimo de Piraquara. Lá, instalou uma escola de primeiro mundo, com dinheiro da filantropia dos Estados Unidos. Nomes como os do arquiteto Manoel Coelho e dos jornalistas Aroldo Murá e Michelle Thomé assinaram projetos. Em funcionamento, o Centro de Educação João Paulo II passou a oferecer educação em período integral, com três refeições por dia, ao mesmo custo que o governo gastava por criança na rede pública.

Quem me recomendou a leitura sobre o bem comum foi o secretário de Planejamento e Obras Estruturantes do Paraná, Valdemar Bernardo Jorge. Ele e uma equipe do estado identificaram os municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e criaram o programa Paraná Produtivo. Nisso o programa se assemelha ao centro de educação de Belmiro, pelo nivelamento por cima: uma plataforma de business intelligence passou a funcionar com dados coletados de fontes diversas, como tabelas do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), para tornar claras e mensuráveis as fraquezas e fortalezas das regiões. Só funciona se os atores locais quiserem participar, e se estiverem dispostos a dividir as vantagens e riscos. Isso é bem comum.

Filosofia contemporânea: o que gente real escreve sobre o real

Pesquisadores da PUCPR lançam livro com reflexões incisivas que conectam filosofia, psicanálise e vida cotidiana.

Tempo previsto
11/4/2025

Em via de ser publicado, o livro Filosofia, Psicanálise & Contemporaneidade (vol. II) é uma leitura que tende a surpreender os que se habituaram a certa pasteurização cultural. E nos referimos diretamente a uma tendência de simplificação que chega a ser comovente, de tão banal. Mas, no nosso livro, não!

Nós, pesquisadores da linha Filosofia da Psicanálise da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), escrevemos ensaios com análises, interpretações, tensionamento de teorias prestigiadas, e oferecemos (com excessão do texto do Sgarbe, do meu próprio) uma experiência literária deliciosa.

A seguir, alguns trechos do que está por vir.

‘Desviados’ da igreja

A começar pelo trabalho do pesquisador Jeferson Costa. Ele é a força propulsora do livro. É quem não somente teve a ideia da publicação como também é a peça que liga os autores. Quanto ao uso filosófico da palavra “libertinus”, ele explica, “partimos da hipótese de que este sentido libertário se conservou, ao menos no interior dos contextos que abordaremos no escopo deste trabalho”. Jeferson Costa, coautor de “Filosofia, Psicanálise & Contemporaneidade (vol. II)”:

Libertinus é uma palavra de origem latina que indicava a condição de uma pessoa alforriada, ou seja, de alguém que trabalhou forçadamente para outra pessoa. Libertinus era uma categoria, sendo assim, que fazia referência às pessoas que se tornavam livres depois de terem sido escravizadas ou servilizadas por pessoas consideradas livres por nascimento. A categoria utilizada para indicar tais pessoas livres por nascimento era ‘Ingenuus’. Portanto, a categoria libertinus passou a definir a ação que visava metaforicamente a quebra das correntes ou a resistência às normas. Era assim que cristãos regrados definiam os desviados. Trata-se de um combate à ingenuidade, tanto em sentido lato como em sentido corrente.

‘Matam o pai’

Julio Fachini descreve uma relação peculiar do ato fundador da civilização. Ele trata da cumplicidade dos irmãos de sangue que assassinaram o próprio pai. Julio Fachini, coautor de “Filosofia, Psicanálise & Contemporaneidade (vol. II)”:

Os irmãos, unidos pelo ódio comum, matam o pai, e celebram o feito com uma refeição, na qual o cadáver do pai é o alimento, devoram-no ‘cru, carne, sangue e ossos’ (FREUD, 2012, p. 214), em um rito canibalístico que sela o espírito de igualdade através da cumplicidade pelo ato.

‘Humano comum’

Quanto a mim, fui a Freud com novas perguntas sobre o mal-estar vivido na democracia contemporânea, com a generosa orientação de Dr. Francisco Verardi Bocca.

Escrevi coisas que, francamente, devem divertir a maioria de nós. Minha contribuição:

Podem ser estranhos os graus de segurança factual nas ciências humanas, porque relativas, incontidas, carentes de pequenos e grandes caminhos escolhidos unicamente por quem escreve. No fim do dia, tem-se um humano comum, que acredita em coisas que até Deus duvida, que pode não estar nem aí para a técnica científica, que dirá para Freud e uma concepção de universo que não considere a necessidade de Nosso Senhor Jesus Cristo para o que é unicamente humano e terreno.

Aviso

Há muito mais autores, que logo chegam. Assim que o livro estiver prontinho para ser lido, criticado, negado, citado, e outras coisas da índole dos livros, eu aviso.

Defender a infância é uma ação de todo dia, não de memorial

Documento paranaense reforça que proteção à infância deve partir da prática política cotidiana, não só do papel.

Tempo previsto
11/4/2025

Caiu no meu colo o Plano Decenal dos Direitos da Criança e do Adolescente do Estado do Paraná (2014-2023), com 450 páginas. Minhas impressões começam pelo revés: antes de dar nomes às pessoas que realmente colocaram a mão na massa, vem uma lista infinita de políticos. Chato!

Em tendo superado esse trecho, o que se lê é um deleite para acadêmicos, gestores públicos e defensores da infância. São informações claras a ponto de se anotar: “sobre tal assunto não temos informações”. Mas me permita contar o motivo do meu comentário.

Embora a tal lista de políticos me cause certa náusea (pela hierarquia invertida das coisas, o mérito é dos técnicos que escreveram, primeiro vem o nome do autor!), a assinatura deles é essencial.

Não somente a assinatura, mas um comprometimento que passe por isto: a legislação não muda a realidade, planos não mudam a realidade, mas a ação diária muda, sim.

Internet 7 x 1 em 5 séculos de pesquisa em jornalismo

Autor critica perda de rigor jornalístico, apontando fragilidade técnica e linguística influenciada pela internet.

Tempo previsto
11/4/2025

Dou-me por vencido quanto ao “manual de redação” da internet, pelo qual o robô, burro que é, não entende português com voz passiva. “Um caminhão de maconha foi apreendido” virou “A polícia apreendeu um caminhão de maconha”. 5̶ ̶s̶é̶c̶u̶l̶o̶s̶ ̶d̶e̶ ̶p̶e̶s̶q̶u̶i̶s̶a̶

Mas não somente isso, infelizmente. Parei de implicar com os “detalhes” que me oferecem nos telejornais. Os âncoras dizem “agora todos os detalhes”. E eu pensava “mas não são ‘informações’?”. Agora, assisto aos “detalhes” e deixo passar batido.

Sem contar ainda a péssima conjugação do imperativo. É “acesse” o site. E não “acessa”. A menos que haja mudança de tempo verbal. “Você acessa o site para saber quando o mundo vai acabar de vez”, por exemplo. Mas quer falar errado? Beleza. Fale mascar chicrete também.

O ‘mal-estar’ estava aqui antes de Freud; nem tudo vira post

Sgarbe reflete sobre Freud, sugerindo que o mal-estar precede teorias e que nem tudo precisa virar conteúdo.

Tempo previsto
11/4/2025

Na primeira terapia que frequentei na vida, com o psicólogo e professor de logoterapia Guilherme Falcão, acreditei que “uma aproximação com a ciência pode ser muito perigosa, enquanto um mergulho profundo nela não”. Eu tomei esse conselho por verdade.

Faço esse “abre” para defender que Freud e a visão unilateral, vienense, eurocêntrica e centenária dele podem soar estanhos quando vistos de longe. No fundo, acho que a psicanálise serve a alguns tipos de mulheres e homens como servem a pornografia e a conspiração a outros.

Encontro na literatura freudiana um contorno em palavras para coisas que eu já tinha descoberto por experiência própria. Não tem nada de novo, “não nos surpreende em nada”, como ele gosta de escrever. Mas é, sim, um alívio em um mundo que insiste em simplificação.

Falar idiomas, clareza no discurso, lead jornalístico, até mesmo os pitches de startups, tudo isso serve à comunicação social, mas não necessariamente à comunicação. Defendo que para certos aspectos da vida, o que não é publicado especialmente, um tanto de repertório é bem-vindo.

O azedume de Freud em “O mal-estar na cultura”, por exemplo, seria capaz de gerar mal-estar no leitor? Claro que não. Acreditar que esse tipo de leitura “dá ideias” ruins é uma ideia ruim. O fato é que é uma biblioteca plural, rica, dá conta de desfazer eventuais excessos.

Semana passada, um amigo próximo me disse para não dar tanta importância ao que se defende não somente a ciência, mas na racionalização como um todo. E faz sentido, porque a vida pode ser um pouco mais gelatinosa, no excelente sentido de molinha, doce, colorida.

Há de se respeitar o indivíduo

Artigo analisa importância do respeito mútuo e alerta sobre perigos dos jogos psicológicos nas discussões políticas.

Tempo previsto
14/4/2025

“Acredito que haja uma história no mundo, e somente uma. Os humanos são aprisionados – em suas vidas, pensamentos, fomes e ambições, em suas avareza e crueldade, e em suas bondade e generosidade também – em uma trama do bem e do mal. Não existe outra história. Um homem, depois de limpar a poeira e os fragmentos de sua vida, terá deixado apenas as perguntas duras e claras: foi bom ou foi mau? Eu me saí bem ou mal?”

“Por que nos metemos em jogos psicológicos?”, pergunta a análise. Ao que responde “para manter os quadros de referência”. Esmiuçemos, com outras palavras. O mal-estar que se pode sentir durante uma discussão sobre política é indício de que houve, para dizer o mínimo, uma triangulação nos papéis a que frequentemente recorremos para manter nossa visão de mundo: de herói, de vítima (a arte inclinará até a “submissão ao absurdo”), ou a que se vê favoritada, de “dizer a verdade na cara, doa a quem doer, eu falo mesmo!”. Jogou, perdeu. No jogo não há nenhum vencedor. Trazemos, porém, a notícia de que é possível se expressar, seja qual for o assunto, sem perder a paz. Ainda mais com a paz no preço que está.

Evidentemente, a filosofia, a comunicação política e a psicologia se fazem emergencialmente necessárias à mediação do conflito que se estabelece nas redes sociais digitais, nas conversas de corredor, ou, poxa, que inconveniente, nas refeições em família. Quando escrevemos sobre tal emergência, nos referimos a duas coisas: o reforço na prática da suspensão, para se tentar, pelo menos, entender o outro segundo o mapa dele (é uma das coisas que um terapeuta faz durante uma sessão); e também uma boa dose de remédios intelectuais contra o que não se pode superar pela razão.

Acontece que, embora tal razão remeta – que coincidência – a uma ideia de racionalidade, ou seja, de possibilidade de sustentação razoável, e que tal razoabilidade costume ter por gramática a ciência, ou seja, um sistema que se possa auditar, não é, e se poderia lamentar por isto, suficiente para cobrir uma parte significativa do eleitorado – o que pode nos incluir.

Achamos curioso quando nos dizem “o eleitorado pensa tal coisa”, como se pesquisas acadêmicas ou de intenções fossem suficientes para explicar coisas que hoje são uma grande bandeira do “Tio do Zap”, mas que amanhã, para esse mesmo querido Tio, valem menos que a água da louça. O que insinuamos é que existem coisas além dos algoritmos, coisas que são mais antigas que a linguagem, mais antigas que falar português.

Entender os outros, no sentido de combinar, ajustar as partes, é uma chave para a discussão política profícua. Dadas as temerárias condições das plataformas digitais nas quais ocorrem as conversas, a não radicalização seria um grande avanço.

Quando abrimos este artigo com o tema “jogos psicológicos”, é porque o resultado mal-estar é que se poderia evitar. E se poderia evitar da seguinte maneira: não vamos às relações com a intenção de nos proteger, e geralmente empregamos uma força descomunal para essa finalidade, mas para transitar para um estado de graça, de intimidade, que é o oposto de jogar psicologicamente, onde se pode ser quem é sem medo. É conhecer sem impor.

A estranheza que sentimos tem a ver com uma “visão de cima” ofegada pela altitude. Gosta de preto, de azul, de colorido? Pode se expressar, não tem problema. Independentemente de quem seja seu ou nosso favorito, ou de qual diretor de cinema é a obra relevante, não importa do que se trate, a dignidade do indivíduo é princípio basilar.

Não se deveria, por razões muito simples de reciprocidade, violentar o espaço do brasileiro contribuinte – que há anos faz piadas inoportunas, que eventualmente se excede no álcool, que tem no som da brasa da churrasqueira e no apito do celular a grande trilha do fim de semana – com acusações de menor ou maior inteligência, ou até o absurdo de tornarmos nossos antepassados deuses do extermínio.

Além do mais, há o trabalho. Isto é, há coisas a serem pensadas, resolvidas, implementadas. Há muito serviço a ser feito e, se o indivíduo não puder ser quem é, estamos perdidos. Daí é fechar a lojinha.

No futuro tem paz

Reflexão sobre experiência alemã sugere combater intolerância e extremismos para garantir um futuro pacífico.

Tempo previsto
11/4/2025

Temos o assunto dos abusos para conversar – os abusos às nossas comunidades que não podem e não vão passar despercebidos. Eu convido o leitor a deixar as reservas de lado, porque somos maiores que o PT ou o PSL. No último domingo, o presidente Jair Bolsonaro foi eleito democraticamente e, se estivermos atentos, será sempre assim: voto depositado em urna confiável concede mandato a quem o povo escolhe. Mas também convido o leitor a olharmos para uma fala da professora alemã Hanna Knapp que ouvi recentemente. Escrevo sobre a Alemanha para que possamos nos comparar a um país melhor que o nosso, e não pior.

É um panorama. A Alemanha – além da importância histórica – mantém o protagonismo na União Europeia e é uma das maiores economias do mundo. Esse país, que daqui para a frente engrossa a nossa conversa, está atento às políticas para refugiados e à violência de grupos neonazistas. O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, na figura do ministro Heiko Maas, pede ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma atitude cordial. Tal atitude é ampla e futurista, passando por acordos econômicos e direitos humanos.

A contar pelas falas de professores – a historiadora brasileira Francielly Barbosa pesquisa a os desdobramentos do nazismo em Curitiba – e pelo conteúdo das notícias, entendemos a preocupação alemã: eles trabalham para evitar que os acontecimentos trágicos da Segunda Guerra sejam repetidos. Apesar de a Alemanha ser um país democrático e de imprensa livre, grupos favoráveis a crimes são impedidos de propagar ideias. Daí é que vem o “paradoxo da intolerância”. Paradoxo é uma “opinião contrária à comum”. Um exemplo nos ajuda. Hipoteticamente, um grupo que agride e mata (ou que acredita que agredir e matar são caminhos para o mundo) – neste exemplo, um grupo neonazista – deve ser combatido para que não agrida e não mate. A Alemanha e outros países entenderam que se deve oferecer intolerância para os intolerantes. Daí a expressão “paradoxo da intolerância”.

A experiência alemã é a de que, passo a passo, se pode chegar à morte de milhões de pessoas. Para quem entende a matança de humanos como atrocidade irreparável, grupos violentos – de direita, de esquerda, abusadores disfarçados de #lulalivre ou #B17, e uma lista enorme – devem ser alvos próximos de nossas polícias e nossas lideranças comunitárias.

Bem acima da eleição, a retirada de um faixa antifascista de uma universidade é um alarme – e isso aconteceu, de fato, no Brasil. Um degrau, depois outro, depois outro. Ora, se alguém é efetivamente fascista, essa pessoa tem problemas com a polícia. Que há uma crise ética nas universidades, disso ninguém tem dúvida – poderíamos mencionar a instalação de comitês eleitorais dentro delas, por exemplo. Universitários chegam ao mundo do trabalho frequentemente perdidos. Mas, se universitários não podem ser antifascistas, a crise ética está também nas famílias, nos governos e nas polícias. No ano passado, realizei entrevistas com professores, historiadores, delegados e psicólogos para falarmos, jornalisticamente, sobre os grupos violentos – mas os editores a quem ofereci o material não consideraram a pauta suficientemente relevante.

Apagão expõe dependência de veículos ao monopólio

Problema global no Facebook, Instagram e WhatsApp evidencia vulnerabilidade da mídia ao monopólio das big techs.

Tempo previsto
11/4/2025

Na tarde da última segunda-feira (4), três aplicativos de comunicação ficaram fora do ar em todo o mundo. Difícil que tenha passado despercebido a alguém. Facebook, Instagram e WhatsApp, que atingiram as marcas de segundo, terceiro e quarto lugares, respectivamente, dos mais baixados globalmente em abril deste ano, pararam repentinamente – e levaram cerca de sete horas para voltar a funcionar.

O noticiário trouxe – até mesmo na televisão – uma explicação técnica, e que representa uma parte do problema. Quando os repórteres escreveram ou falaram sobre o “DNS”, ofertaram ao público uma justificativa da engenharia para o apagão. Perguntamos se tal informação poderia efetivamente se juntar ao entendimento do indivíduo sobre o funcionamento da rede.

Embora a questão do “DNS”, do endereço digital, resuma, talvez precipitadamente, o motivo do problema, é pertinente que a imprensa discuta o aspecto da responsabilidade da big tech na vida rotineira. Em que medida os indivíduos e empresas passaram a depender de serviços digitais para as práticas de relacionamento pessoal e de negócios?

Algumas manchetes destacaram o declínio da fortuna de Mark Zuckerberg diante do problema com os acessos. Tal fortuna pode ser colocada à prova diante da intenção de pedidos de indenização. Para o advogado Kaique Yohan Kondraski Servo, entretanto, “seria difícil vencer sobre o Facebook, dada a condição de caso fortuito ou de força maior com o que se parece o defeito nas plataformas”.

Para alguns, ficar sem esses programas representou ficar “sem Internet”. Com a falha do Facebook, houve crescimento no número de reclamações contra as operadoras de telefonia e de conexão. Há quem tenha mexido no roteador, para recobrar o acesso perdido.

Jardins murados

Em alguns planos de telefonia, o acesso a determinadas plataformas não é cobrado. Mesmo que o cliente não tenha créditos, ele pode continuar a navegar. É o “zero-rating”, que contribuiu para a ideia de “jardins murados”.

Para o pesquisador-responsável pelo Grupo de Pesquisa em Comunicação Política e Democracia Digital (Compadd) da UFPR, Rafael Sampaio, “uma mudança começa a ser sentida a partir da Web 2.0, quando as plataformas passam a criar muros digitais. As pessoas passam a maior parte do tempo dentro dessas plataformas. Então, se aquela rede específica para de funcionar, a Internet como um todo também para, na experiência do usuário”.

Quais riscos essa percepção levanta? O quanto nós, da indústria da comunicação, contribuímos para que estes “jardins murados” se mantenham e, até, se fortaleçam?

Resiliência das coisas próprias à reportagem

Pandemia impõe ao jornalismo desafios inéditos, acelerando digitalização e ampliando rotinas remotas das redações.

Tempo previsto
11/4/2025

O processo de transformação digital se impôs às redações jornalísticas com mais força desde o início da pandemia. Gestores enfrentam mudanças empresariais junto ao desafio de noticiar um período político e sanitário singular.

A plataformização como estratégia de negócio, em substituição ao antigo pipeline, vinha sendo implementado, ainda que com outros nomes, desde a criação dos sites de notícias dos jornais e emissoras. Os publishersentenderam com razoável rapidez que as redes digitais populares tinham, do ponto de vista dos negócios, um comportamento parasita, e que não seria possível distribuir a partir delas. Além disso, o orçamento da publicidade mudou de tabela, em desfavor das publicações tradicionais. Isso levou a uma mudança significativa na maneira de oferecer conteúdo.

Quando chegou a Covid-19, no começo de 2020, as variáveis do fazer jornalismo oscilaram violentamente. A partir daí, além da necessidade de levar a audiência à condição de assinante, houve um chamado à resiliência das coisas próprias da reportagem. Máximas ao estilo “lugar de repórter é na rua”, que vinham perdendo força, tombam completamente. O desafio é manter o negócio, entregar uma cobertura com periodicidade, continuidade e plástica coerentes com os padrões da emissora, com praticamente tudo feito no home officedos jornalistas.

Em entrevista ao Orbis Media Review, a diretora de redação do grupo RPC, do Paraná, Luciana Marangoni, diz que “certamente é a cobertura mais desafiadora do jornalismo desde a invenção da televisão”. A rica discussão dos editores com repórteres em meio às baias da firma já não acontece. Aliás,as instalações estão isoladas e as equipes, divididas por cores, com contato físico restrito ao essencial do essencial, com trocas de turno marcadas pela assepsia de superfícies e equipamentos.

Redação familiar

Na vida digital, são estabelecidos contratos de convivência de muitas pontas ou, mais recentemente, discutem-se “campos de convivência”. A ideia passa pela permeabilidade das relações. “Já contamos histórias muito sensíveis, como a queda de um prédio em Guaratuba, ou os desmoronamentos e enchentes em Antonina e Morretes. Mas a Covid-19 tem a ver com nossas famílias, com riscos para a saúde de todos”, anota Luciana. Antes, o ofício de jornalista  bem que poderia ficar da porta do lar para fora, mas agora não.

A editora-chefe do jornal e do portal Bem Paraná, Josianne Ritz, sente falta do fuzuê da redação. “Estou bem adaptada. O que era ruim no começo não é mais. Eu me sinto segura. E, assim, não montei espaço especial, para manter o clima de fuzuê. Fico na sala, com todos”.

Nos veículos editados por Josianne, a produção aumentou desde as medidas de isolamento, resultado que também é consequência, para ela, do tempo de casa dos profissionais. “Eu temia que a parte do fechamento do impresso, por causa da diagramação, poderia complicar [pelo trabalho on-line]. Mas estamos fechando até mais cedo. O entrosamento é meio atípico, porque trabalhamos há muito tempo juntos. A maioria [está] há mais de 20 anos”, registra.

Questões da vida não deixaram de existir

O G1 Paraná foi a primeira extensão do portal da TV Globo em uma afiliada. Em fevereiro, fez aniversário de dez anos, com a marca de mais de um bilhão de pageviews. A editora-executiva Bibiana Dionísio, que está lá desde o primeiro dia de operação, organizou um escritório na sala de casa. “Entendi que a vida continua, que é preciso cuidar da alimentação, dos exercícios, da cabeça. Esta é a realidade do mundo agora, e o que eu posso fazer? Cuidar da minha família, trabalhar, claro, mas eu me matriculei em um curso de comunicação e marketing da USP, para aprender coisas novas”.

Segundo Bibiana, a necessidade por notícias cresceu por ocasião da praga, mas também porque o G1 ganhou relevância e protagonismo. “Todos os dias fazemos o exercício de eleger prioridades. Tal notícia é melhor que a outra? Quando decidimos por temas que fogem da tragédia, temos boa resposta da audiência. É um jeito de colaborar com outros aspectos da vida as pessoas”.

Quando a pandemia começou, a bebê de Bibiana, Luísa, tinha um ano e três meses. “A força vem de maneira esparsa. Tem semanas em que é possível imprimir um ritmo satisfatório, que as coisas andam mais leves. Mas há também momentos de esgotamento físico e emocional”. Luísa requer uma lista de acompanhamentos especializados, como fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia, “e isso é vivido junto com o trabalho, com as questões da família, da vida, que não deixaram de existir”.

Em um ano de medidas extremas, não houve um contágio sequer a partir da sede da RPC.

Longe de ser simples ou fácil, a resiliência no exercício do jornalismo durante a pandemia tornou-se uma forma de sobrevivência.

História que corre devagar

Da derrota à presidência, trajetória política de Lula expõe dilemas da esquerda brasileira desde 1989.

Tempo previsto
14/4/2025

Finalmente, já se sabe que eles não comem criancinhas nem são devotos de Satanás. Em tese, é o proletariado organizado. Filhos bastardos do pensador Karl Marx, os comunistas acreditam no estabelecimento da igualdade social – por isso são contra o capital privado. Perseguidos durante os anos de delírios autoritários Terra afora, hoje estão bem escondidos. Aliás, nem eles mesmos sabem onde estão.

Estudos antropológicos certificam que a política do “para todos” existe desde as civilizações mais remotas. Por isso, é impossível determinar a data do nascimento da ideologia socialista. É como tentar datar o nascimento da religião, por exemplo.

Mas, vamos aos fatos verde-amarelos.

1989. Esporte Clube Bahia ainda é o campeão brasileiro, Angela Visser é Miss Universo, morre Paulo Leminski, cai o Muro de Berlim e Collor é presidente do Brasil.

Nas primeiras eleições diretas do Brasil em 29 anos, os 22 candidatos à presidência e todos os outros brasileiros da República assistiram ao início da novela do Partido dos Trabalhadores (PT) para tomar o poder. Fundador e representante do PT, o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva fica em segundo lugar no primeiro turno e perde o segundo para o jornalista Fernando Affonso Collor de Mello. O sonho esquerdista lula-lá, uma estrela brilha, fica resumido a sonho por mais 13 anos.

O engomadinho fluminense/alagoano sobe a rampa do Planalto e dois anos e meio depois é rechaçado de lá por impeachment, sob acusações de corrupção. Nesse país de gente bronzeada não cabia mais grito para compensar a imbecilidade das castas políticas. E da irrefragável sucessão estúpida vem o baiano do topete. Premiado ‘melhor objeto inanimado’ nesta reportagem, chega Itamar Franco com a URV do homem da Fazenda.

Parece que esta história está indo muito devagar.

O Itamar faz as malas e se despede do Alvorada para dar lugar ao sociólogo estudado no estrangeiro Fernando Henrique Cardoso. Por quatro anos foi o FHC nosso de cada dia. (Nessas eleições, o Lula ficou em segundo lugar, mais uma vez.)

Com um presidente do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), vulgo tucano, brasileiros mais velhos assistiram à derrocada nacional promovida pelo neoliberalismo – que defende com unhas e dentes o capital privado, aquele repudiado pelos comunistas – e os brasileirinhos mais jovens aprendiam como as coisas não deveriam ser feitas em seu país. Se FHC é a direita, logo “o que resta é a esquerda”: é o pensamento, capenga, que assalta a politização dos filhos caras-pintadas.

Cada novo simpatizante dessa esquerda subjetiva teve sua ideologia promulgada por uma barbárie pátria. Tiros neoliberais que saíram pela culatra. As privatizações encabeçam a lista. Quando em 1997 a companhia Vale do Rio Doce foi vendida a preço de bananas para o Consórcio Brasil (e com subsídio do Banco Nacional de Desenvolvimento), alguns milhares de jovens apátridas atentaram para os negócios escusos do governo. As estatais de eletricidade, telefonia, dinheiro… foram graciosamente entregues ao capital privado, quando não externo. É claro que qualquer esquerdista que se prezasse não podia concordar com isso.

Letra A. No instante máximo de revolta contra as privatizações, os recém-nascidos nacionalistas vão às ruas e exigem a reapropriação dos bens públicos – não.

Letra B. O Movimento Estudantil fecha universidades, professores fazem greves. Secundaristas bloqueiam escolas e exigem a volta do estudo técnico – não.

Letra C. Cada brasileiro cuida de seus afazeres cotidianos enquanto FHC toma um avião para viajar em mais uma missão diplomática secreta. Quando volta, advoga a reeleição no Brasil, faz campanha chantagista azul e amarela, ganha o pleito e estende seu mandato por mais quatro anos. (Nessas eleições, o Lula ficou em segundo lugar, mais uma vez.)

A onda de privatizações alcança o Paraná. Também serviços fundamentais dos municípios. Os itens do estado ficam à mercê dos grandes conglomerados econômicos.

Aqui, o ex-PDT, então PFL-comparsa-de-tucano Jaime Lerner promove o sucateamento mecânico e midiático da Copel, para convencer de uma suposta crise pela qual a estatal passava. A ladainha não se sustentou.

A tolerância dessa tímida e anômala nova esquerda em relação aos desequilíbrios nacionais acaba com as eleições presidenciais de 2002. Serra negava o apoio de FHC à sua candidatura e a estrelinha brilhando, mais uma vez. A Regina Duarte dizendo “eu tenho medo” do Lula na televisão serviu para afundar mais as coisas. O apelo veio berrante. Veio ridículo. Neoliberal.

Comoção nacional. Os jornalistas mais herméticos reportam a vitória com uma empolgação excedida. O tucano caiu e se ergueu a estrela. Finalmente, Lula-lá subindo a rampa.

Os quatro anos que se seguem são desenhados pela expectativa da população a respeito das ações de Lula.

Uma comedida estagnação econômica é o preço de uma rarefeita redistribuição de renda no país através de ações afirmativas em programas sociais e cotas em universidades. Mas logo o politicamente legitimado PT recebe acusações de corrupção. Valerioduto, mensalão, e com os companheiros parlamentares também sanguessuga. Mas não ouve escândalo suficiente para impedir a reeleição do presidente Lula. A esquerda (de Lula) não era ruim.

Então, encontrou-se nas campanhas para presidência de 2006 um momento de reflexão nacional. Por que o Lula estava na frente nas campanhas? O adversário juvenil de Lula, Geraldo Alkmin, dizia “vou manter o Bolsa-Família”. As classes C, D e E, que aumentaram seu poder de compra nos quatro anos que haviam se passado pensavam em qual seria o benefício da mudança. E não havia. Razão pela qual ainda estavam com Lula. O país inteiro sabia da corrupção que havia existido, mas ajustou o foco nisto: “desde sempre ouve sujeira na política, compra de parlamentares”… e isso não era o mais importante naquele momento. O mais importante era que a dona de casa estava com um carnê para pagar a geladeira nova e pensava “a vida está melhorando”. A esquerda (de Lula) não era ruim.

Aquela nova, jovem e empírica esquerda recebe as classes economicamente subjugadas pelo neoliberalismo. E no segundo mandato o presidente Lula diz que esquerda, não. Equilíbrio. Mal-interpretado pelos profetas do caos, o presidente ainda trata de explicar com palavras. Nem era necessário.

A América Latina ruma avessa. Venezuela e Colômbia são os exemplos mais radicais da ideologia esquerdista que nos precedeu. Enquanto estabelecem regimes autoritários são duramente criticados pelo mundo. Não que a crítica do mundo seja uma máxima, mas até mesmo o cristianismo advogado por Hugo Chávez ensina algo como “fazer-se de tolo, para ganhar os tolos”. Já o Brasil, com sua esquerda peculiar, é listado com Rússia, Índia e China para se desenvolver amplamente nos próximos anos. Inflação controlada (nada de 80% como a Regina Duarte disse), risco-país caindo gradativamente, moeda forte, aumento do poder de compra das classes que ganham menos de cinco salários. Tem mais coisa, mas agora com certeza essa história está indo muito devagar.

Vida e morte de João Ninguém

Crônica revela burocracia e alto custo por trás da morte anônima de um cidadão comum em Curitiba.

Tempo previsto
11/4/2025

A morte mexe com o imaginário das pessoas. Talvez por essa razão haja tantos leitores assíduos dos obituários nos jornais. Por descuido ou por maldade, na edição de hoje morreu um quase homônimo do mestre trágico Nelson Rodrigues. “Nelson Rodrigues Chaves, aos 72, casado com Teresa da Silva Rodrigues. Deixa filhos.” (Folha de S. Paulo, 17/06/07, pág. C6)

Era brasileiro? Qual sua profissão? Seria médico, engenheiro ou pipoqueiro? Talvez nem trabalhasse e ocupasse todas as tardes na janela, junto a uma máquina de escrever, reportando a desgraça alheia e guardando os papéis em uma caixa de papelão, em cima do guarda-roupa. Ou ainda estivesse há vários meses convalescendo, depois de uma cirurgia no intestino, quando descobriu ser portador de uma doença degenerativa que o levou à morte três meses depois.

Terá traído a mulher? E se o fez, gostou e repetiu ou se arrependeu e confessou? Roubou algo, atirou em alguém, voou para a Europa, gostava de maçã do amor, comprou algodão-doce para as crianças, teve um vira-lata chamado Bob? Colecionava selos, consertava tudo com Durepox, pintava à mão uma coleção de miniaturas de navios piratas?

Mas a notícia é que o corpo do querido Nelson repousa no cemitério da Vila Nova Esperança, em São Paulo, e por aqui, na terra das Araucárias tem gente que morre também.

Foram 38 para o saco no domingo enquanto Curitiba dormia no sofá depois do almoço. Donas de casa, epiléticos, afogados e indigentes, todos “dessa para uma melhor”, como reza a cartilha da condolência. O dado é do Serviço Funerário Municipal (SFM) da Prefeitura.

Para enterrar João Ninguém

Morrer é trabalhoso e caro. Melhor é continuar vivendo. A reportagem do Comunicare saiu para enterrar João Ninguém. João Ninguém, 23 anos, drogado e prostituído.

A primeira labuta é conseguir o atestado de óbito. Se morrer com assistência médica é de um jeito, se morrer sozinho é de outro, e é diferente de for morte violenta. Repetimos, melhor é continuar vivendo. Como João morreu atropelado, seu corpo foi levado ao Instituto Médico Legal. Depois disso, com o atestado na mão, é a vez de ir ao Serviço Funerário. De lá sai a guia de liberação de sepultamento, documento obrigatório para a inumação em qualquer cemitério da capital. Subtotal: a primeira dor de cabeça.

João Ninguém agora precisa de uma urna funerária – bem, quem precisa é a família. E quando a família não existe ou se preocupa, quem precisa é o Estado. O preço desse produto mórbido é tabelado pelo Serviço Funerário. São 13 modelos e os preços variam de R$ 171 a R$ 3.840. Fora da tabela, existem ataúdes de até R$ 12 mil, em imbuia maciça, cetim, renda e alças douradas. Vai do gosto do cliente, ou do antigo gosto do cliente. Tem para crianças, gordos demais, altos demais.

Vale a pena orientar que se morra sem ultrapassar os 80 quilos, senão é necessário comprar urna especial e isso encarece tudo. Sejamos muito econômicos. A compra do caixão mais barato inclui o transporte do corpo até a funerária, o tamponamento – como se chama encher o sujeito de algodão -, a ida para o velório e finalmente para o enterro. Mas o corpo de João precisa de uma tanatopraxia – um tipo de embalsamento – que custa R$ 470. Subtotal: R$ 641 e algum choro.

Mas João Ninguém foi um homem muito bom e merece ser floreado para receber as últimas homenagens de seus parentes e amigos. Crisântemos de odor pouco agradável a R$ 144, coroa de flores murchas a R$120, e um veuzinho de tule a R$ 15. Subtotal: R$ 279 e uma noite maldormida em cima do defunto.

Campos santos

Em 1790, ouviu-se pela primeira vez sobre a criação de cemitérios públicos em Curitiba. Antes disso, os clérigos eram sepultados em suas capelas, os ricos juntos com os clérigos e os pobres (incluindo os que construíram as capelas) ficavam a sete palmos do chão no lugar que o corpo incomodasse menos. Já o sepultamento suburbano – longínquo da vila e em cova rasa – carecia de autorização na qual a família se comprometia a transladar os ossos dos seus para um campo santo posteriormente.

E nosso querido vai ser enterrado onde? Se nosso amigo fosse indigente, o Estado dá uma lugar no Cemitério Santa Cândida e três anos depois o que sobrou dele vai para o ossário. Se não pudesse pagar, também. Como não é o caso, por R$850 ele tem uma gaveta em cemitérios paroquiais. Mas existem jazigos de até 14 mil para sepultar até três pessoas simultaneamente. Como João Ninguém terá uma despedida modesta do mundo dos vivos, vamos colocá-lo em algum cemitério São ou Santo Alguma coisa. Subtotal: R$ 850 mais taxas burocráticas.

Adeus, João Ninguém. Saudade do dinheiro gasto com sua partida. Total: R$ 1.770, sem nenhum luxo.

Seminário de família alerta para uso que pais fazem do celular

Evento em Curitiba discute impacto das telas no ambiente familiar e alerta para responsabilidade dos pais.

Tempo previsto
11/4/2025

Os impactos das tecnologias, das telas, na formação familiar e na educação infantil são destaque no 6º Seminário Internacional Família e Educação, agora mesmo, neste sábado (23). Em Curitiba, a lotação máxima permitida no Auditório Poty Lazzarotto do Museu Oscar Niemeyer está ocupada por participantes, e há também quem acompanhe pela internet.

Cinco falas são esperadas ao longo do dia. A primeira (Angela, já realizada) e a segunda (Ana Maria, em andamento) contornam o mundo pré-pandemia, quando se experimentava uma etapa de digitalização sem precedentes.

Para Ana Maria Araujo de Venegas (doutora em filosofia pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, Roma), os equipamentos e as conexões em rede criam uma nova relação do indivíduo com o mundo, pela qual um celular é capaz de nos ordenar: “encontre um Wi-Fi agora!”.

Em se tratando do que vivíamos antes do coronavírus, “a medicina desafiou a morte muitas vezes. A cada nova descoberta, passamos a viver por mais tempo”, relembra a palestrante.

Responsabilidade dos pais

Em entrevista ao Lab Jornalismo 2030, a secretária nacional da Família, Angela Gandra Martins (doutora em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul), considera que os pais devem assumir responsabilidades em relação à educação dos filhos, porque são protagonistas na educação. Não se trata, porém, de controle hierárquico. Angela Gandra Martins, secretária nacional da Família:

Estamos falando de um projeto de vida que os filhos livremente escolhem, e para o qual têm apoio dos pais.

No que tem a ver com o uso das tecnologias e com o eventual desequilíbrio em termos de tempo dedicado a elas, Angela pega alguns pais no contrapé. Angela:

Quando falamos do problema das telas, não falamos somente do que as crianças assistem, mas da preferência de alguns pais pelo celular em detrimento do convívio familiar.

Para informações sobre o conteúdo completo, se há vagas ou não para hoje, ou outros assuntos de serviço, use o WhatsApp, neste link. A agenda do Seminário está aqui.

Arthur do Val parece com você e eu, exceto por assumir que errou

Caso Arthur do Val provoca reflexão sobre desejos primitivos e dificuldade masculina em reconhecer erros publicamente.

Tempo previsto
11/4/2025

Estou sem vontade de cair de pau em cima do deputado estadual de São Paulo Arthur do Val (escrevo o partido? Podemos?). Mais que isso, fico incomodado com o jeito que as coisas aconteceram (ou foram realizadas) com (ou por) ele. Eu deveria ter um senso de coletividade suficiente para atacar uma pessoa que errou? Não tenho. E não acho que esse senhor seja pior que o tipo de homem que se encontra nesta cidade. E não me refiro à intenção de um tour sexual presencial pelo do leste europeu, porque somos tão pobres que não concebemos a ideia de um voo internacional para fazer sexo, mas a duas coisas que se parecem bastante.

Uma delas é a imaturidade quanto aos desejos primitivos que temos. Isso poderia converter praticamente qualquer experiência de vida em mera questão de "tubos e conexões", como descreve Patrícia Melo no brilhante Gog Magog. A maior parte de nós, à exceção de variações graves de saúde e doença mental, vive desse jeito pelo menos em algum momento. Quais são as circustâncias de Arthur para que ele pense como um animal? O que ele viu que o colocou refém dele mesmo? E quando acontecer com a gente?

Outra coisa é que mulheres ucranianas podem ser prostituídas também em vídeos da internet, se é que me entende.

Resultado ou não de um excelente gerenciamento de crise, o deputado Arthur consegue fazer algo que é muito difícil para um homem: assumir que errou.

Workshop em Curitiba aborda arquétipo 'criança interior'

Dra. Célia Souza explora em workshop como acolher e entender a criança interior pode superar bloqueios na vida adulta.

Tempo previsto
11/4/2025

Em celebração ao mês da mulher, a doutora em educação Célia Souza promove o workshop "A criança interior & o feminino". Em entrevista ao Lab Jornalismo 2030, Célia explica a escolha do tema.

Sgarbe — Do que trata seu workshop?

Dra. Célia — É sobre a criança interior e o feminino. É sobre algo que descobri depois de adulta. A criança interior é uma teoria da psicologia analítica. A criança é um arquétipo, e as ideias dela são transpostas para o coletivo. Há muitas facetas, mas vamos tratar da criança ferida, o que é uma experiência pessoal. A minha criança ferida me bloqueava em muitas ações.

S. — O que isso tem a ver com empreendedoras negras?

C. — Sou educadora parental, e há uma discussão enorme sobre a vida da criança. Muitos de nós vivemos experiências em que a criança não tinha razão, foi tolhida na criatividade, e por aí vai. Há paradigmas que a neurociência, a psicologia infantil, a filosofia, a sociologia, que tem até uma área exclusiva, a sociologia infantil, têm enfrentado. Há traumas que podem ser suavizados. Você foi uma criança e sua criança que fica com você para toda a vida. Ouvimos coisas como:

—Cale a boca!
—Você não pode falar!
—Criança só tem que obedecer!
—Criança tem que comer tudo!
—Criança não faz ciência!

E então o adulto vive com problemas infantis.

Existe também o adulto que não cresceu, e há um boom dessa questão. Muitas pessoas tem mais de 30 anos e não conseguem sair da casa do pais, não conseguem trabalhar.

Essa criança interior precisa ser acolhida, precisa ser informada que não é necessário que a jornada seja marcada por traumas.

Serviço

O workshop é uma parceria com a mobilização Afroempreender & Crescer. É nesta sexta-feira (11), às 18h30, na Rua Marechal Deodoro, 450, sala 808. O ingresso custa R$ 30. Para informações, o WhatsApp é +55 96 98135-3284.

Burraldos no ar e o risco de grave acidente no jornalismo

Autor alerta sobre banalização e emocionalismo excessivo no jornalismo diário, risco que pode enfraquecer a profissão.

Tempo previsto
11/4/2025

Quando fui jovem, ouvi falar de gerentes que chutavam portas, gritavam com subordinados, levavam emoção e personalidade demais para o trabalho. Não fui gerenciado por ninguém assim. E torço (e me preparo) para não ser esse cara horrível, embora às vezes aconteça na forma de sarcasmo, de ridículo.

Acredite, porém, que quando estou sendo ridículo não deixo nenhuma dúvida, contorno o ridículo bem contornadinho, com pouca ou nenhuma chance de ruído. É o caso, neste post. Confirmo a ideia do psicanalista Wilfred Bion: a risada tem um poder corrosivo (no excelente sentido de enfraquecer as ferrugens de preconceito e ódio, por exemplo).

No papel de jornalista, encaro inúmeros dilemas morais e éticos, o que não me abala. Fui treinando para isso na universidade, no trabalho, no desenvolvimento profissional que jamais parou. Uma notícia precisa ser realmente muito ruim para me deixar fora de prumo. Quando é o caso, tendo a resolver na terapia individual. Faço perguntas a mim mesmo, tais como "como isso é importante para mim?" (e evito o "por que é importante para mim", na ideia de melhorar a qualidade da investigação). Essas são minhas credenciais de repórter e documentarista.

Agora, voltemos ao ridículo. Há alguns anos, lembro de uma repórter da televisão ofegantemente fazer uma "entrada ao vivo" para contar do horror que tinha vivenciado na rua. Ela tinha visto um homem descer do carro para ameaçar outro com uma barra de ferro. Não sei em que mundo a repórter vivia para se estarrecer com "mais um dia de trabalho".

No jornal matinal desta manhã, e veja que agora estou fazendo um exercício para não ser esnobe, para não perseguir, para não, sei lá, chutar cachorro morto?, em um jornal desta manhã o apresentador parou o noticiário para dizer que as notícias eram muito ruins, que era muito difícil viver em um mundo tão cruel, e que eles (a pior parte é esta: ele estava falando em nome da marca, em nome de uma equipa inteira que madruga) estavam fazendo o trabalho incrível de aliviar o peso daquelas notícias terríveis. Eram informações sobre acidentes de carro.

Aproveito esta oportunidade de texto para perguntar: o que define um "grave" acidente? É um acidente com morte? É um acidente com mais de um ferido? É um acidente que congestiona o trânsito por x tempo, por y distância? Se todo acidente é "grave", nenhum é grave.

É brincadeira!

Jornalismo e psiquiatria: uma abordagem para comunicação

Artigo explora ligações entre jornalismo, psiquiatria e comportamentos sociais, abrindo novas perspectivas na comunicação.

Tempo previsto
3/9/2025

Aceitei o desafio feito pela Dra. Ana Babrilla para conversar estes dois assuntos: jornalismo e psiquiatria. A comunicação política na América Latina tem se inclinado à essa interseção, por exemplo o livro que o  jornalista chileno Dr. Felipe Vergara Maldonado escreve com uma amiga europeia da psicologia.

Na ocasião do “I Seminário Avançado de Comunicação Política”, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), perguntei a Maldonado sobre qual abordagem da psicoterapia se incluía na pesquisa dele. Ele não soube responder, o que é uma resposta.

Da psicanálise que não dá pé (de tão profunda) à simplificação das teorias comportamentais, é difícil ligar jornalismo de lead americano a questões psíquicas. Não é impossível. Mas é difícil porque a vastidão convida a conclusões precipitadas, como conferir a alguma figura pública o diagnóstico de presidente fraco da cabeça.

As metodologias herdadas das ciências sociais, tal qual as análises do conteúdo e do discurso, não seriam suficientes para explicar fenômenos comunicativos? Sim e não. Se fosse exclusivamente sim, este artigo seria inútil.

Sim, porque com tais recursos se pode descrever uma multidão de emoções e  sentimentos. Não, porque pode faltar às pesquisas de comunicação aspectos ainda mais profundos, capazes de tornar os contornos dos objetos mais nítidos.

Quando Sigmund Freud traça um paralelo entre as visões de mundo registradas na história e a formação da psiquê individual [do neurótico], ele nos faz olhar para animatismo, animismo, religião e ciência.

Embora o animatismo ganhe um nome exclusivo, ele é frequentemente entendido como fase pré-animismo. Do pré-animismo até a religião, tratamos, em maior importância, de explicar o mundo sob a “onipotência do pensamento”. Aliás, o que, justamente, divide as duas primeiras fases é a terceirização de entendimentos do indivíduo, na figura dos espíritos, quais sejam anjos e demônios. Feitiçaria e magia ficam neste parágrafo.

Quando são evocadas essas visões de mundo,  Freud usa os registros que o antropólogo James Frazer fez dos povos totêmicos, os aborígenes da Oceania.

Julio Fachini, pesquisador de filosofia da psicanálise:

Como observação, cito que Freud identifica o totemismo em povos melanésios, polinésios, africanos e americanos, além de traços do totemismo em diversas outras culturas ao redor do planeta. Para Freud, assim como para Frazer, e outros dos antropólogos citados em Totem e Tabu (1913), os traços, vestígios e heranças do totemismo parecem possuir um caráter mais próximo do universal do que limitado à povos aborígenes australianos.

É mais ou menos assim: o que a espécie humana vivenciou no cruzar da história, serve de metáfora para a formação pessoal. Quer dizer, existe um “pequeno aborígene” em cada pessoa, assim como existe um “religioso” e um “cientista”. Bem bem mais ou menos assim. Os neurocientistas de best-sellerexplicam com reptiliano, límbico e neocórtex. A análise transacional tem uma ideia genial com Estados do Ego Pai, Adulto e Criança.

Mas é somente na fase científica, na última, que se percebe a realidade ao redor e se conforma com ela. É quando deixa-se de fazer o Sol girar em torno da Terra.

A partir daqui se poderia discutir o que é pós-verdade. O termo tem sido vulgarmente explicado como o interesse emocional e sentimental associado a uma palavra ou a um texto. Pelo viés psicanalítico, não se trata de absolutamente nada novo. Triste do jornalismo que não prestou atenção antes.

Falta ainda mencionar que a audiência do noticiário está drogada, como se pode comprovar pelos traços de cocaína no esgoto de Londres ou de antiinflamatórios e antidepressivos na latrina curitibana.

A França discute dia-sim-dia-não a “pedopsiquiatria”. À época de pandemia de Covid-19, o governo de lá deu dez sessões de terapia para cada criança ou jovem entre três e 17 anos.

Tem algo a se pensar sobre comportamento do público, não?

Profunda trama do seriado WandaVision vai além dos efeitos gráficos

WandaVision surpreende com narrativa profunda ao explorar luto, fantasia pessoal e conflitos emocionais universais.

Tempo previsto
11/4/2025

O seriado WandaVision me pegou de surpresa positivamente. Isso que tenho contra os filmes de herói (coisa de conservador), porque me exigem ter um conhecimento que não tenho sobre as personagens e por frequentemente aderirem ao lobby da epilepsia, com flashes luminosos e efeitos sonoros retumbantes.

Gostei da entrega semanal, o que me faz esperar pelo próximo episódio, contra a tendência do maratone indefinidamente. Toda sexta sai um novo no Disney+. Essa quebra de padrão me faz prestar mais atenção na trama.

Resumidamente, um mundo é criado por Wanda, com base nas experiências dela criança. Tudo está em função da criadora, ela vive na fantasia das próprias vivência e crenças. Ora, a provocação é que o indivíduo não-herói faz a mesma coisa, ou não?

Ou mais. Ela é estimulada a desfazer a ficção que vive porque afeta não somente a própria vida mas as de quem está próximo dela. Chega a ser doído pensar nisso, ou não?

Uma das emoções que a televisão pode provocar é o choro. Chorei abundantemente, molhadamente, silenciosamente, ao assistir Monica Rambeau (Teyonah Parris) atravessar uma tigela magnética e se desfazer em inúmeras dela mesma, uma metáfora visual que me aproxima da realidade dos Estados do Ego, dentre outras percepções da quantidade de tempos dentro de uma única pessoa.

WandaVision me traz um olhar sobre o Universo Marvel que nenhuma outra obra tinha tido sucesso de trazer. Arte que é, caminha pelo sombrio, pelo luto, pela despedida.

Repórter, neste teu dia te lembro que aqui tá tudo mato

No Dia do Repórter, reflexão crítica alerta sobre empobrecimento da linguagem e desafios futuros da profissão.

Tempo previsto
17/10/2025

O post do jornalista Fernando Rodrigues é um belo de um refluxo no Dia do Repórter. Daqui para frente, integra meu cânone sagrado da profissão, tal qual uma carta paulina que tem lá suas dissonâncias.

O jornalismo, ainda que não se valha da Teoria Crítica, a partir da qual se pode nomear inúmeros fenômenos e comportamentos, ou de qualquer outra teoria, tem nele um olhar para o mundo que faz perguntas objetivas, dentre as quais “por que existimos?”.

O repórter do futuro, ao contrário do pornográfico (HAN, 2017), terá de, antes de discussões muito elaboradas, voltar-se para o vocabulário. É como se os icônicos vícios “veranistas” ou “foliões” tivessem saído do controle.

O acesso a produtos culturais modestos, como os oferecidos por influenciadores digitais, ou mesmo programas bem produzidos de televisão com hipérboles que não terminam jamais, ou as paupérrimas rimas sertanejas sobre um amor obstinado quando não violento, deve integrar o repertório. Mas, quando esses elementos são os únicos óculos para se ver o mundo, não há boa comunicação, que dirá jornalismo.

Quando U2 lançou o álbum “No Line On The Horizon“, comentei com uma amiga compositora que o tinha considerado triste, mais triste que o anterior, lá em 2008. A resposta dela me marcou: “não estamos melhorando”. "O dia da criação", de Vinicius de Moraes:

Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade

Nosso ofício requer de nós mais profundidade, e não menos. Requer mais empatia verdadeira, não uma fala superficial sobre um assunto que eu até nem concordo tanto mas te entendo (na verdade não entende nada).

Suicídio de idosos, superação do luto, depressão infantil, pornografia como doença, violência bancária são alguns dos temas que vão estar no agenda-setting, amanhã. E não devem ser tratados com trocadilhos bobos.

Mais assim: “Agora que sou um homem completo, estou cheio de vazios”.

Força, repórteres. Aqui continua tudo mato.

Eleições do Congresso são sinal da saúde da democracia

Eleições no Congresso trazem à tona limites e desafios para a democracia do país em cenário político polarizado.

Tempo previsto
11/4/2025

Discordo da opinião da Folha de S. Paulo que considera a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para presidente da Câmara dos Deputados “retrocesso intolerável” (1º.fev.2021, A2, “Risco de servilismo“). Os legisladores escolherem tal presidente é, ao contrário, avanço dos limites que somos capazes de suportar na vida pública.

Para o contribuinte, que não teve nos impostos diminuição na proporção da escassez de serviços de saúde e das possibilidades de trabalho, resta votar nas eleições que compõem o Congresso.

Os movimentos sociais como compreendidos pelos estudos da comunicação política da Europa e dos Estados Unidos têm foco no legislativo. A glória desses movimentos é alcançar a legislação. Ou seja, a Câmara e o Senado seriam, pelo menos na teoria, o grande palco para as questões da vida cotidiana.

Não tem sido assim. O ódio coloca o Executivo no centro da atenção e imobiliza causas urgentes.

Atualmente, 16 requerimentos de comissões parlamentares de inquérito (CPI) tramitam na Câmara, três relativos a exploração sexual infantil, turismo sexual e tráfico de pessoas.

O deputado André Figueiredo (PDT-CE) propôs a criação de CPI “destinada a investigar a violação dos princípios constitucionais e do Estado Democrático de Direito, em razão da suposta articulação entre os Membros da Procuradoria da República no Paraná e o então Juiz Sergio Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba, tornada pública pelo site The Intercept [sic]”. O último despacho vai fazer aniversário de um ano amanhã.

Que o Congresso se apequena ao presidido nas duas casas por desconhecidos — por reis do baixo clero — era de se esperar. Os deputados e senadores são do nível de Jair Bolsonaro.

A vida política vem ladeira abaixo, com pautas de costumes que lembram uma igreja evangélica pentecostal, mais pela disputa de cargos do que pelo comprimento da saia.

Objetividade marca redação do ‘Bem Paraná’, no teletrabalho

Editora-chefe do Bem Paraná relata eficácia da equipe com teletrabalho e crescimento da demanda por pautas de saúde.

Tempo previsto
11/4/2025

Ao ensinar que “lugar de repórter é na rua“, a professora de comunicação social Nadia Fontana abriu a primeira aula do curso de jornalismo da PUCPR, no segundo semestre de 2005. Os alunos que foram trabalhar em redações, especialmente as de rádio, logo perceberam que ela tinha razão. Não raro, as pautas estavam no caminho, não anotadas anteriormente.

Um dos prazeres da prática jornalística é, entretanto, a volta para a emissora. É quando se pode contar, da maneira mais simples e genuína, a experiência de campo. As percepções dos colegas contribuem para a escolha do que é principal.

A pandemia de Covid-19 mudou um pouco as coisas também para jornalistas, uma vez que alguns atuam de casa.

A editora-chefe do jornal Bem Paraná para as versões impressa e digital, Josianne Ritz, concedeu entrevista ao Lab Jornalismo 2030.

Vinícius Sgarbe: Quero entrevistar um jornalista em home que não esteja deprimido. Conhece algum (risos)?

Josianne Ritz: Olha, eu sinto falta do fuzuê. Mas tô bem adaptada. O que era ruim no começo não é mais. Eu me sinto segura. E, assim, não montei espaço especial, para manter o clima de fuzuê. Fico na sala, com todos.

Vinícius: Além dos assuntos da pandemia, tem algum tipo de pauta que você nota que entra agora e que não entrava antes?

Josianne: Acho que, de modo geral, a demanda de reportagens de saúde cresceram. Mas tudo meio acaba em pandemia, tipo dicas de home office, volta às aulas.

Vinícius: Alguma coisa mudou na sua relação com os repórteres?

Josianne: Transferimos o contato para online. Eu diria que o engajamento e produção aumentaram no home office. Não sei bem o porquê. Geralmente combinamos tudo on-line. Só em alguns casos mais complicados chego a ligar. Eu temia que a parte de fechamento do impresso, por causa da diagramação, poderia complicar. Mas estamos fechando até mais cedo. O entrosamento é meio atípico, porque trabalhamos há muito tempo juntos. A maioria há mais de 20 anos. O Rodolfo Kowalski, mais jovem, está há oito anos, entre estágio e reportagem. Isso facilita muito. Temos objetividade, entrosamento total.