Máscaras preservam roteiros e geram ruídos que afastam a confiança mútua
Disfarces protegem da rejeição, porém distorcem o Adulto, alimentam jogos e reduzem a confiança.

A expressão “disfarces” descreve estratégias que as pessoas utilizam para ocultar ou modificar a percepção de sua própria identidade, intenções ou sentimentos. Na Análise Transacional, esse fenômeno surge quando o indivíduo adota comportamentos que não correspondem ao seu Estado do Eu genuíno, mantendo aparências para preservar roteiros e crenças. Tais maneirismos podem causar desencontros na comunicação e perpetuar conflitos internos.
Os disfarces funcionam como mecanismos de proteção. Eles evitam a exposição de vulnerabilidades e impedem a confrontação de medos ou inseguranças. Ao mesmo tempo, criam obstáculos para relacionamentos autênticos, pois a pessoa se afasta de seu verdadeiro modo de agir. Ela recorre a máscaras para manter o controle ou atender expectativas do meio.
A Análise Transacional entende que os disfarces nascem de roteiros de vida armazenados desde a infância. A criança, ao perceber que certas expressões não são aceitas, aprende a ocultá-las. Esse padrão segue na vida adulta, consolidando estratégias para receber carícias, evitar rejeições e cumprir papéis ditados pelo Pai Crítico ou por mensagens parentais internalizadas.
Origem e função dos disfarces
A origem dos disfarces está intimamente ligada à história familiar. Os pais ou cuidadores fornecem pistas do que é desejável ou reprovável, o que molda a identidade em formação. Um elogio excessivo pode incentivar a esconder fragilidades, enquanto críticas severas ensinam a disfarçar impulsos para não receber punições.
Os disfarces também salvaguardam o script de vida. Ao manter aparências coerentes com crenças antigas, a pessoa evita a ansiedade provocada por contradições internas. Ela se convence de que continuar escondendo sentimentos ou características próprias é mais seguro do que correr riscos de mudança.
A intensidade dos disfarces varia. Em alguns casos, eles aparecem de forma sutil na postura corporal ou na escolha de palavras. Em situações mais extremas, desenvolvem-se personalidades artificiais, que se tornam barreiras rígidas entre o indivíduo e o mundo. Quanto mais profunda a máscara, mais difícil é abandoná-la.
Disfarces e Estados do Eu
O Estado do Eu Adulto busca analisar fatos com objetividade. Mesmo assim, sob efeito de disfarces, a pessoa pode distorcer a realidade para manter a coerência com sua imagem idealizada. Ela ignora dados que desafiariam suas máscaras e mantêm no Adulto uma aparência de racionalidade.
O Pai, que carrega regras e valores herdados, frequentemente reforça disfarces que se alinham a crenças transmitidas na infância. Quando o Pai Crítico está ativo, critica qualidades autênticas e força a adoção de atitudes “adequadas”. O Pai Protetor, por outro lado, pode nutrir disfarces para “proteger” aquele que teme rejeição.
A Criança, seja Natural ou Adaptada, também influencia na construção de disfarces. A Criança Adaptada se molda às expectativas dos adultos, lançando mão de mascaramentos para obter aprovação. Já a Criança Natural pode tentar se expressar, mas recorre a disfarces quando encontra forte censura.
Impactos nos relacionamentos
A presença de muitos disfarces afeta a espontaneidade. As trocas ficam repletas de mensagens indiretas, dificultando a comunicação e gerando ruídos. O outro percebe que algo não “encaixa”, mas não sabe exatamente o que. Essa atmosfera de inautenticidade impede vínculos profundos.
Jogos psicológicos encontram terreno fértil em ambientes onde as pessoas vestem máscaras para conseguir carícias ou reforçar scripts. Os participantes se relacionam por meio de mensagens ocultas, perseguem recompensas emocionais negativas e se confirmam mutuamente em sua visão parcial de mundo.
Uma relação afetiva que se baseia em disfarces tende a deteriorar com o tempo. A falta de sinceridade gera insatisfação e promove distanciamento. O indivíduo que não revela quem realmente é não se sente pleno, enquanto o outro não encontra terreno sólido para estabelecer confiança.
Caminhos para superar disfarces
Reconhecer a própria tendência a disfarçar é o primeiro passo para mudança. Isso requer autorreflexão e escuta ativa, muitas vezes realizada em um contexto terapêutico ou em grupos de desenvolvimento pessoal. A perda do medo de rejeição desperta coragem para mostrar partes mais genuínas.
A transição envolve a revisão dos scripts, questionando as mensagens parentais que originaram as máscaras. Exercitar o Estado do Eu Adulto promove a avaliação objetiva dos medos de exposição. Com isso, a pessoa percebe que pode ter apoio e aceitação mesmo quando baixa as defesas.
O suporte de um terapeuta ou de uma rede confiável incentiva a honestidade emocional. As pessoas aprendem a reconhecer os sinais de quando estão encobrindo sentimentos ou adotando posturas que não correspondem ao seu verdadeiro ser. Essa vigilância ajuda a construir hábitos de autenticidade.
A dissolução dos disfarces cria relacionamentos baseados em trocas mais íntimas e livres de manipulação. As comunicações se tornam claras, o respeito se fortalece e há espaço para acolher as diferenças. A vida adquire sentido mais amplo, pois o indivíduo alinha comportamento, valores e emoção.




